Evangelhos Apócrifos
Apocalipse de Baruch
Capítulo 1
ANÚNCIO DA Ruína de Jerusalém Ao vigésimo quinto ano do rei de Judá, Jeconias, foi anunciada a palavra de Deus a Baruch, filho de Nérias. Ela assim rezava:
“Tu presenciaste tudo o que esse povo cometeu contra mim; os pecados das duas tribos, que ainda sobraram, são mais numerosos do que os das dez que já se foram para o cativeiro. As tribos anteriores foram coagidas por seus reis ao pecado; porém, estas duas forçaram os seus reis nos caminhos do mal.
“Por isso, eu determinei a desgraça para esta cidade e os seus cidadãos; por algum tempo, ela deverá ser repudiada por mim, e eu dispersarei este povo entre os pagãos. Os pagãos hão de viver em prosperidade, mas o meu povo deverá ser castigado. Virá então o tempo em que eles ansiarão pelas suas épocas de paz.
Capítulo 2
Ordem de Abandonar a Cidade
“Digo-te o quanto segue, e transmite-o a Jeremias e a todos os vossos pares: Abandonai estacidade, pois o vosso comporta-mento a bem dela é como uma coluna firme e vossas orações são como uma muralha forte!”
Capítulo 3
Queixa de Baruch
Eu disse: “Senhor, meu Senhor! Teria eu vindo ao mundo para presenciar a desgraça da minha Mãe? Ah, não meu Senhor! Se por acaso encontro eu graça aos teus olhos, retira o meu espírito, para que eu possa ir junto aos meus Pais, e não seja obrigado a assistir à destruição da Mãe! Pois duas coisas me acabrunham profunda-mente: por um lado, não posso contrariar a tua vontade, por outro, não posso suportar a vi-são da ruína da minha Mãe.
“Uma coisa porém, Senhor, eu digo na tua presença: Que irá acontecer depois? Porque, se Tu deixas a tua cidade cair na desgraça e entregas tua herança aos inimigos que nos odeiam, como poderá ainda ser lembrado o nome de Israel?
“A quem poderá ser anunciada a mensagem de tua Lei? Deverá a constituição do mundo voltar ao seu início? Deverá o mundo de novo recair no silêncio primitivo? Deverá a massa dos viventes ser mais uma vez extirpada? Não se falará mais da natureza humana?
“Onde fica tudo aquilo que a nosso respeito disseste a Moisés?”
Capítulo 4
A Nova Jerusalém
Falou-me então o Senhor: “Sim, esta cidade será abandonada por algum tempo, e temporariamente será castigado o seu povo; contudo, o mundo não terminará. Pensas tu por acaso que é esta a cidade da qual eu falei: `Trago-te inscrita nas minhas mãos’?, não, esta vossa cidade, com as suas edificações, não é a cidade futura que eu anunciei, já anteriormente preparada, desde o tempo em que decidi criar o Paraíso. Eu mostrei-a a Adão antes da queda em pecado; ela foi-lhe tirada juntamente com o Paraíso, depois que ele se rebelou contra a proibição.
“Mostrei-a também ao meu servo Abraão, naquela noite, entre as oferendas partidas ao meio. Mostrei-a a Moisés sobre o monte Sinai, onde lhe expliquei a imagem do tabernáculo e de todos os seus utensílios. Assim, ela continuará preparada na minha mente, juntamente com o Paraíso. Vai, pois, e faz o que eu te ordeno !”
Capítulo 5
Deus Mesmo Destrói Sião Eu disse: “Dessa forma, também eu serei culpado com respeito a Sião, por permitir que aqueles que Te odeiam pisem esta terra, que conspurquem teu Templo, que arrastem tua herança ao cativeiro, que saqueiem tudo o que Te é caro, e voltem para os domínios dos seus ídolos e lá, diante deles se vangloriem: ‘Que foi que eu cometi contra o teu santo Nome’?”
Falou-me então o Senhor: “O meu Nome permanece, e permanece a minha glória por toda a eternidade; todavia, o meu Julgamento guarda a sua Justiça para o tempo devido. Deves ver com os teus olhos que não são exatamente os inimigos que destroem Sião e que incendeiam Jerusalém; eles são apenas o instrumento temporário do Juiz. Avia-te agora! Cumpre tudo o que eu te ordenei!”
Assim, eu parti; levei comigo Jeremias, Iddo e Seraja, Jabes e Gedalja, bem como todas as pessoas honradas do povo, e conduzi-os à torrente do Cedron. Disse a eles tudo quanto me fora anunciado. Todos eles choraram em alta voz. Lá nos assentamos e permanecemos em jejum até o anoitecer.
Capítulo 6
Os Anjos Põem Fogo à Cidade Santa
No dia seguinte, as tropas dos cal deus sitiavam a Cidade. Então, ao cair da tarde, eu abandonei o povo, afastei-me e aproximei-me do carvalho. Eu estava muito aflito por amor a Sião e suspirava por causa do cativeiro em que o povo era lançado. Nesse instante, um vento forte elevou-me no ar e transportou-me sobre os muros de Jerusalém. E eu vi: quatro Anjos estavam sobre os quatro cantos da nossa cidade, tendo cada um uma tocha de fogo nas mãos.
Do céu apareceu outro Anjo e falou a eles: “Empunhai as vossas tachas! Mas não ateeis o fogo antes que eu vos ordene! Fui enviado para anunciar à Terra, e deixar registrado com antecedência, aquilo de que o Senhor altíssimo me incumbiu”.
Eu vi então como ele desceu sobre o Santíssimo e lá recolheu o véu, o sagrado manto umeral, o propiciatório, as duas tábuas, as vestes sagradas dos sacerdotes, o altar dos incensos e quarenta e oito pedras preciosas que o sacerdote portava e todos os vasos sagrados do tabernáculo.
Com voz potente, ele dirigiu-se à Terra: “Terra! Terra! Terra! Escuta agora a palavra do Deus Todo-Poderoso! Recebe estas coisas que à tua guarda confio! Conserva-as contigo até os tempos novíssimos e restitui-as quando te for ordenado, para que elas não sejam roubadas pelos estranhos! Chegado é o tempo em que Jerusalém será abandonada, por um prazo, até que seja determinada a sua reconstituição, e aí será para sempre”.
Então a Terra abriu a sua boca e engoliu-as.
Capítulo 7
A Invasão dos Caldeus
Os anjos executaram suas ordens conforme ele mandou. Enquanto eles punham abaixo os ângulos das muralhas, ouviu-se, após a queda dos muros, mais uma voz, procedente dos véus do Templo. Ela exclamou: “O inimigos, irrompei! Vós, odientos, vinde adentro! Pois Aquele que guardava a casa abandonou-a”.
Então eu, Baruch, parti. E a horda dos caldeus iniciou a invasão. Ocuparam o Santuário e tudo o que havia nos seus arredores. Depois levaram o povo feito prisioneiro e mataram muitos; também o rei Sedecias foi enviado, acorrentado, ao rei da Babilônia.
Capítulo 8
O Luto de Baruch
Então eu, Baruch, voltei para junto de Jeremias, cujo coração foi achado isento de pecados, e que na queda da cidade não fora aprisionado. E nós rasgamos as nossas vestes, choramos, cobrimo-nos de luto e jejuamos sete dias.
Capítulo 9
Canto de Lamentação de Baruch
Passados sete dias, chegou a mim a palavra de Deus; e falou-me: “Dize a Jeremias que vá junto com o povo à Babilônia, para cuidar dos seus prisioneiros. Tu, porém, permanece aqui junto às ruínas de Sião. Depois destes dias, eu te revelarei o que acontecerá no fim dos tempos”.
Transmiti a Jeremias o que o Senhor me ordenara. Assim, ele partiu com o povo; eu porém, Baruch, encaminhei-me até as portas do Templo e ali sentei-me para lamentar a sorte de Sião. Feliz daquele que não chegou a nascer! Feliz daquele que, embora nascido, morreu cedo! Ai de nós, que ora vivemos, que presenciamos a aflição de Sião, o destino de Jerusalém!
Eu invoco as sereias do mar; O vós, Lilin, espectros da noite, vinde do deserto! ó vós, Shedim e vós, dragões das florestas! Vinde! Cingi os vossos lombos para o gemido de dor e entoai comigo os cantos de luto! Gemei comigo! O vós, agricultores! Abandonai as vossas sementeiras! Tu, ó Terra, por que produzes os frutos da colheita? Retém no teu seio os alimentos saborosos! E tu, videira! Por que continuas a produzir o vinho? Dele nada mais será aproveitado por Sião, nem mais serão distribuídas as primícias dos frutos.
Vós, ó céus! Suspendei o vosso orvalho! Fechai as bicas dos reservatórios da chuva! O sol! Apaga a luz dos teus raios! Por que deveria ainda resplender a luz lá onde escureceu a luz de Sião?
Noivos! Afastai-vos do tálamo nupcial! Donzelas! Desfazei as vossas tranças! Vós, mulheres, não supliqueis a graça da maternidade. As estéreis devem antes alegrar-se, e exultem aquelas que não geraram filhos! Cubram-se de tristeza as mães de família. Por que ainda deverão dar à luz com dor? Só para preparar a sepultura com suspiros? Por que motivo os homens ainda deverão ter filhos? Por que ainda falar da geração humana, quando esta Mãe aqui foi completamente destruída, e os seus filhos arrastados ao cativeiro? Doravante não faleis mais da beleza, nem relembreis vaidades.
Vós, sacerdotes! Tomai as chaves do Templo! Arremessai-as ao alto, entregai-as ao Senhor, dizendo: “Guarda Tu a tua casa! Nós fomos considerados guardiões inconfiáveis”.
Vós, virgens, que teceis fios de linho e seda, com ouro de Ophir, juntai tudo rapidamente! Lançai tudo isso ao fogo, devolvendo essas coisas Aquele que as produziu! As chamas as enviarão Aquele que as criou! Assim os inimigos nunca mais poderão roubá-las.
Capítulo 10
A Tristeza Sem Par de Sião
A ti, Babilônia, eu, Baruch, digo o seguinte: Se tu ainda estivesses em vias de alcançar o florescimento, estando Sião em seu pleno esplendor, grande tristeza seria para nós se chagasses a igualar-te a ela.
Mas agora é incomensurável a nossa aflição, uma calamidade sem fim, por vermos que tu estás na glória e Sião jaz desolada. Quem fará justiça sobre tudo isso? A quem deve-remos queixar-nos da nossa desgraça? Senhor! Por que permitiste isso tudo?
Nossos pais deitavam-se tranqüilamente para o sono e os justos repousavam em paz sobre a terra. Pois eles nunca experimentaram tamanha aflição e jamais ouviram falar do que agora nos atingiu.
Ah, Terra, tivesses tu ouvidos! Tu, ó pó, tivesses um coração! Ide e anunciai ao mundo inferior e dizei aos mortos: “Vós sois imensamente mais felizes do que nós que ainda estamos em vida”.
Capítulo 11
O Tempo da Ira
Terra, eu falo exatamente o que penso, e a ti eu digo o seguinte, hoje que estás no esplendor: O calor do meio-dia não aquece constantemente e não brilham sem cessar os raios do sol! Não acredites! Não te iludas, como se pudesses gozar o florescimento sem fim! Não te sobreponhas! Não te vanglories! A seu tempo, voltar-se-á também contra ti a ira, que agora, por bondade, é mantida a distância, como por uma cerca.
Depois de ter dito essas palavras, jejuei por sete dias.
Capítulo 12
O Castigo de Deus
Eu, Baruch, fui ao Sião e ouvi uma voz que vinha do alto do céu, dizendo-me: “Baruch, põe-te sobre os teus pés! Escuta as palavras do Deus Todo-Poderoso! Admiras-te do que aconteceu a Sião; por isso tu serás conservado até o final dos tempos, em plena condição de dar testemunho.
“Se as cidades agora tão florescentes perguntarem: ‘Por que o Deus Todo-Poderoso fez cair seus castigos sobre nós’?, dizei-lhes então, tu e os teus pares que experimentastes a presente desgraça: `Esta é a desgraça e o castigo que agora sobrevêm a vós e ao vosso povo, no tempo que foi determinado, para que os povos sem exceção sejam punidos, e nessa punição permaneçam’.
“E se nesse momento perguntarem: ‘Quanto tempo durará isso?’, dizei-lhes: ‘Vós que bebestes vinho limpo, bebei-lhe agora também a borra! Pois é eqüitativa a Justiça do Altíssimo. Por isso, no princípio, Ele não poupou nem os seus próprios filhos; castigou-os muito mais, como a seus próprios inimigos, porque pecaram contra Ele. Foram outrora castigados dessa maneira, para que igualmente pudessem ser purificados.
“Agora, porém, nações e povos, sois submetidos ao castigo, pois durante todo o tempo nada mais fizestes do que piso-tear a terra, e vos aproveitastes da Criação de uma forma que não convinha. Eu sempre vos indiquei o bem; vós, porém, sempre o contrariastes’.”
Capítulo 13
Reflexões de Baruch
Eis o que eu disse em resposta: “Tu me revelaste o curso dos tempos, bem como aquilo que acontecerá após os dias de hoje. Tu disseste: ‘Aos povos sobrevirão os castigos de que falaste’. Agora eu sei que na realidade muitos pecaram, mas assim mesmo viveram em felicidade, e já passaram deste mundo. Só alguns poucos sobraram nestes tempos, para que neles se cumprissem tuas palavras. Onde nisso tudo permanecem os méritos? Haverá ainda algo pior à nossa espera, além daquilo que já nos atingiu?
“E mais ainda tenho eu a dizer na tua presença: Que vantagem tiveram aqueles que diante de Ti viveram em obediência e atenção, e que não se entregaram a frivolidades, como outros povos, e não falavam aos mortos: ‘Proporcionai-nos a vida’, mas que, muito mais, viveram em temor diante de Ti e não se desviaram dos teus caminhos? Eles agora são arrastados para longe, e nem por causa deles Tu Te compadeces-te de Sião.
“Se outros prevaricaram, Sião deveria ter sido poupada, por causa das suas obras, pois praticou o bem. Não deveriam antes ser arruinados aqueles que viveram em delitos? Meu Senhor e meu Deus! Quem pode entender tua Justiça, ou escrutar a profundidade dos teus desígnios, ou imaginar a fadiga dos teus caminhos? Quem? Quem é que pode compreender tua decisão inconcebível, ou quem dentre os nascidos do pó pode perceber o princípio e o fim da tua Sabedoria? Nós somos como um sopro de vento. Pois como o sopro do vento, que sem causa própria surge e vai, assim é também com os filhos dos homens: não caminham pela sua própria vontade e ignoram qual será o seu destino final.
“De bom grado os justos aguardam o seu fim e deixam esta vida sem temor. Pois eles possuem um penhor de boas obras, guardado na câmara dos teus tesouros. E por isso que eles saem deste mundo sem medo algum e esperam receber, com alegre confiança, aquela morada que foi por Ti prometida firmemente. Mas, ai de nós, que neste momento sofremos a ignomínia e que só a desgraça nos está reservada ao final deste período! Tu sabes muito bem o que acabaste de fazer com os teus servos; o bem que fizeste, este não podemos avaliar como Tu, nosso Criador.
“Mas ainda mais coisas desejo dizer na tua presença, Senhor meu Deus. Ainda não existia o mundo e nem os seus habitantes. Mas Tu deliberas-te, pronunciaste uma Palavra, e imediatamente apareceram diante dos teus olhos as obras da Criação. Então, conforme tua Palavra, quiseste colocar todas as criaturas à disposição do homem no mundo, a fim de que se reconhecesse que o mundo foi criado por amor dele, e não ele para o mundo. Agora, porém, devo constatar que o mundo, que foi criado por amor a nós, permanece, enquanto que nós, para quem ele foi feito, somos eliminados.”
Capítulo 14
Resposta às Reflexões
Falou-me então o Senhor: “Tu te admiras, e com razão, de como os homens perecem dessa forma; no entanto, não julgas com acerto a respeito das desgraças que atingem os pecadores, porquanto dizes terem sido os justos arrastados, ficando os prevaricadores em felicidade, e mais, que `ninguém conhece tua Justiça’.
“Por isso, ouve! Eu te explicarei. Presta-me toda a atenção! Faço-te ouvir as minhas palavras. O homem nunca teria conhecido corretamente a minha Lei, caso não a tivesse recebido, e caso eu não o tivesse instruído com toda a diligência. Todavia, por tê-la conscientemente transgredido, conscientemente deverá sofrer a pena. E quanto ao que dizias sobre os justos, que por amor a eles foi criado o mundo presente, digo que por seu amor será também instaurado o mundo futuro.
“E se este mundo é para eles apenas fadiga, trabalho e muito esforço, o mundo futuro será uma coroa cheia de esplendor.”
Capítulo 15
Nova Reflexão
Eu falei: “Senhor, meu Deus! Os anos que agora estão em curso são poucos e maus. Quem pode, neste seu tempo limitado, esperar que ocorra o que lhe é imprescindível?”
Capítulo 16
Indiferença dos Períodos
Então falou-me o Senhor: “Para o Altíssimo não conta o muito tempo, nem os poucos anos. De que serviu a Adão ter vivido 930 anos, após ter transgredido aquilo que lhe fora proibido? De nada lhe adiantaram os longos anos de vida; ao contrário, a contribuição dele foi mais para a morte, encurtando os anos de vida dos seus descendentes. Ou em que foi prejudicado Moisés pelo fato de ter apenas vivido 120 anos? Por ter sido obediente ao Criador, ele trouxe a Lei aos filhos de Jacó e acendeu uma luz para a geração de Israel”.
Capítulo 17
Nova Reflexão
Eu disse: “Aquele que acendeu a luz produziu obras luminosas; mas poucos foram os que seguiram o seu exemplo. A maioria daqueles para os quais ela foi acesa mais buscaram as trevas de Adão, e não se alegraram com a luz do facho”.
Capítulo 18
Ensinamento
Ele falou-me: “Foi por isso que naquele tempo ele (Moisés) estabeleceu o Pacto, dizendo: ‘Eu apresento diante de vós a vida e a morte’, e conclamou o céu e a terra como testemunhas. Pois ele sabia que o seu tempo era curto, enquanto que a terra e o céu persistem para sempre. Os homens, porém, pecaram e prevaricaram após a sua morte, embora soubessem que tinham uma Lei que os chamava à responsabilidade, como também a Luz, da qual nada ou ninguém podia ocultar-se, também tinham as Esferas, que dão testemunho, e finalmente tinham a mim. Tudo o que aí está encontra-se sob o meu controle. Tu porém não penses mais sobre isso! Não te deixes mais acabrunhar pelo que aconteceu!
“Pois agora é o final dos tempos, e é isso que deve ser meditado, seja na fadiga, seja na felicidade, seja na vergonha; não se pensa mais no começo. Pois, se o homem vive o seu primeiro tempo em felicidade, mas chega à velhice no opróbrio, ele se esquece de toda a felicidade que usufruiu. Mas, ao contrário, se um homem vive o seu primeiro tempo na vergonha, mas no tempo seguinte chega à felicidade, então já não mais se lembra da antiga vergonha.
“E escuta, mais ainda! Se alguém, ao longo desse tempo todo foi apenas feliz, desde o dia em que a morte foi imposta àqueles que no período caíram em pecado, mas no final caiu na desgraça, de nada valerá todo o tempo anterior.
Capítulo 19
Admoestações
“Por isso dias virão em que os tempos correrão mais velozes do que antigamente; em que as estações fluirão mais depressa do que pelo passado; em que os anos passarão mais ligeiros do que os de hoje. E esse o motivo pelo qual eu esmaguei Sião no intuito de, a seu tempo, poder revisitar o mundo, o mais depressa possível. Guarda agora em teu coração tudo quanto eu te ordeno! Sela isso nas câmaras do entendimento! Revelar-te-ei também a minha poderosa Justiça, bem como os meus desígnios, que são profundamente inescrutáveis.
“Vai, pois! E purifica-te durante sete dias! Não comas pão, não bebas água, nem fales com ninguém! Volta depois para este lugar! Então eu me desvelarei a ti e contigo falarei a verdade, e dar-te-ei uma incumbência, em vista do curso dos tempos. Eles virão agora, e já não tardam.”
Capítulo 20
Dúvida de Baruch
Afastei-me daquele lugar e fui sentar-me numa caverna da torrente de Cedron; lá purifiquei-me; não comi pão, e apesar disso não senti fome; não bebi água, e apesar disso não senti sede. Lá permaneci até o sétimo dia, conforme Ele me ordenara. Depois disso, voltei ao lugar onde Ele havia falado comigo. Na hora do pôr-do-sol entrei em profunda meditação, comecei a falar diante do Altíssimo, dizendo:
“Escuta-me, ó Tu que criaste a terra, que pela Palavra assinalaste as posições no firmamento, fixando-as pelo espírito das alturas do céu; Tu, que no princípio do mundo chamaste à existência o que até então ainda não era, tudo Te obedece; Tu, que por um aceno ordenas ao vento, que vês como presente as coisas futuras; Tu, que com grande sabedoria conduzes as coortes dos Anjos que estão na tua presença, e diriges com rigor os inumeráveis corpos sagrados que criaste desde a eternidade, flamejantes e ardentes, que estão ao redor do teu trono; Tu, o único capaz de realizar de imediato a tua vontade, que banhas a terra com inumeráveis gotas de chuva, que és exclusivo no conhecimento do fim dos tempos, antes da sua chegada, volve teus ouvidos para a minha súplica!
“Pois só Tu tens o poder de conservar todos os seres: os presentes, os passados, os futuros, os maus e os bons. Unicamente Tu és o Vivo, o imortal e inescrutável. Tu conheces o número dos filhos dos homens, e sabes também se, no seu tempo, muitos pecam e se outros, não poucos, vivem em virtude. Tu conheces também o lugar derradeiro que preparaste para os pecadores e o fim novíssimo daqueles que praticaram o bem. Pois que, se houvesse apenas esta vida que cada um possui aqui, nada haveria de mais amargo.
“De que serve a força que se converte em fraqueza; o alimento que sacia e amortece a fome; a beleza que se torna fealdade? A todo instante a natureza humana está em transformação, ou torna ao nada. Pois não somos mais hoje o que éramos no passado, e não permanecerá no futuro a forma que temos agora. Na realidade, se todas as coisas não tivessem um fim, não haveria para elas também um princípio.
“Permite-me conhecer tudo o que de Ti procede! Esclarece-me, é isso que eu Te suplico! Até quando persistirá o transitório? Quanto dura o tempo cheio de felicidade dos mortais? Até quando seguirão contaminando-se com muita maldade os que vão morrer? Ordena agora, em nome da tua piedade! Faze cumprirem-se todas as tuas ameaças, para que experimentem a tua força também aqueles que tomam a tua paciência por fraqueza! Dize-o àqueles que o não sabem! Tudo o que até agora aconteceu conosco e com a nossa Cidade ocorreu por obra da bondade do teu poder; pois Tu nos escolheste como povo predileto, por amor do teu Nome.
“Assim, retira a mortalidade dessa natureza mortal! Coíbe também, por isso, os Anjos da morte! Faze visível a tua majestade e conhecida a tua glória divina. Seja lacrado o mundo inferior, para que doravante não receba mais nenhum morto! Que as câmaras das almas devolvam todos aqueles que lá estão encerrados!
“Eles se tornaram numerosos, nesses anos que passaram, desde os dias de Abraão, Isaac e Jacó, todos eles dormindo no seio da terra, junto com os outros. Por amor deles Tu criaste a terra, segundo tuas próprias palavras. Revela depressa a tua majestade, e não tardes a tua promessa!”
Com esses dizeres, encerrei a minha oração; eu estava exausto.
Capítulo 21
Baruch é Admoestado
Então abriram-se os céus; e nesse momento foram-me restituídas as forças, e uma voz do alto fez-se ouvir; e ela falou-me: Baruch, Baruch! Por que estás tão intranqüilo? Se alguém caminha pela estrada mas não alcança o seu fim; ou se viaja pelo mar mas não chega ao porto, poderá ele estar em paz?
“Ou se um homem promete a alguém um presente mas não o entrega, não é isso uma usurpação? Ou quando um homem semeia um campo mas a seu tempo não colhe o fruto, não fica ele privado da sua safra? Ou quando alguém planta uma árvore mas esta não cresce no tempo devido, pode o plantador dela esperar frutos? Ou se uma mulher grávida dá à luz fora do tempo, não priva ela da vida o fruto do seu ventre? Ou, ainda, se um homem edifica uma casa e não a cobre com um telhado, não terminando assim a construção, pode isso ser chamado uma casa? Responde-me isso, antes de tudo!”
Capítulo 22
A Proximidade da Salvação
Eu respondi: “Não, Senhor meu Deus!” Então ele falou-me:
“Por que te preocupas, pois, com aquilo que não sabes? Por que te angustias com o que não conheces? Se tu tens conhecimento dos homens de hoje, e dos que já se foram, eu conheço os que hão de vir. Quando Adão pecou, atraindo a morte sobre os seus descendentes, foi então contada a grande massa daqueles que haveriam de nascer; e foi preparado um lugar para aquela multidão, tanto para morada dos vivos como para a guarda dos mortos. Enquanto aquele número predeterminado não for preenchido, as criaturas que morreram não revi verão. O meu Espírito é o de Criador da vida; e o mundo inferior continuará a receber os mortos.
“Porém, mais coisas ainda ser-te-á permitido ouvir sobre o que irá acontecer após esses tempos. Em verdade, a Salvação que vos preparei está próxima, e já não mais tão distante como anteriormente.
Capítulo 23
A Paciência de Deus
“Pois saibas, dias virão em que serão abertos os livros nos quais estão anotados os pecados dos malfeitores, bem como descerradas as câmaras onde está depositada a retidão de todos aqueles que no mundo criado se comportaram com justiça. Nesse tempo verificar-se-á, e tu verás — e contigo muitos — a paciência do Altíssimo, que se prolonga de geração em geração; grande é a sua magnanimidade para com todos os nascidos sobre a terra, quer cometam pecados, quer pratiquem boas obras.”
Eu falei: “Vê, Senhor! Ninguém conhece a proporção das coisas futuras e das coisas passadas. Mas bem sei o que aconteceu a nós. Mas o que acontecerá aos nossos inimigos, isso eu não sei; também não sei quando levantarás contra eles a tua mão”.
Capítulo 24
O Julgamento do Mundo
Ele falou: “Também tu serás mantido até aquele dia, como testemunha da ação do Altíssimo sobre os habitantes da terra. E este será o sinal: os habitantes da terra, acometidos de espanto terrível, cairão em muitas privações e em profundíssimos sofrimentos. E quando disserem entre si, na sua necessidade extrema: `Que o Altíssimo zele constantemente pela terra’, então o novo tempo se inaugurará”.
Capítulo 25
Duração das Tribulações
Eu falei: “Permanecerá então por longo tempo aquela calamidade? E durará muitos anos aquele tempo de privações?”
Capítulo 26
Doze Períodos de Calamidades
Ele falou-me: “De doze partes se compõe aquele tempo; cada uma delas está reservada para o que lhe foi previsto. O primeiro período marcará o início das inquietações; no segundo acontecerá a matança dos poderosos; no terceiro, a morte de muitos; no quarto, o desembainhar das espadas; no quinto, fome e dilúvios de chuva; no sexto, terremotos e horror; no sétimo, (…) no oitavo, aparições e encontros com espíritos; no nono, queda de fogo do alto; no décimo, muitos saques e opressões; no undécimo, crimes e devassidão; no duodécimo, mistura e superposição de todos os precedentes. “No princípio, esses períodos serão separados, depois eles se misturarão e se completarão entre si […] Pois uns não se exaurem de uma só vez, e terão como acrescentar aos outros; outros, completam-se a si mesmos e complementam ainda os demais, de sorte que os habitantes da terra não perceberão de que se trata do fim dos tempos.
Capítulo 27
Nova Reflexão
“Mas aquele que perceber estará de sobreaviso. No que se refere porém à medida e números do tempo, haverá dois períodos, que são semanas de sete semanas cada uma.”
Eu falei: “Será bom que um homem experimente e presencie isso; mas melhor seria que não alcançasse esse tempo, para não sucumbir ao horror. Agora pergunto ainda o seguinte: porventura aquele que vai sobreviver terá desprezo pelo que é condenado e pelo destino que lhe é reservado? Será ele o único a usufruir a imortalidade? Meu Senhor, se efetivamente chegará aquilo que agora me antecipaste, e se porventura encontrei graça aos teus olhos, revela-me ainda o seguinte: acontecerá isso só num país, talvez numa única região, ou se estenderá a toda a terra?”
Capítulo 28
O Messias
Ele falou-me: “O que vai acontecer atingirá toda a terra; dessa forma, experimenta-lo-ão todos os que estiverem em vida. Mas naquele tempo eu protege-rei apenas aqueles que nesses dias se encontrarem neste país. Uma vez cumprido aquilo que deve acontecer nos períodos do tempo, o Messias começará a sua revelação. Também Behemoth virá dos seus domínios, e Leviatã se levantará do mar; os dois imensos monstros marinhos por mim criados no quinto dia da Criação, e que reservo para aqueles dias; eles servirão de alimento para todos os que sobreviverem.
“Então a terra produzirá os seus frutos ao cêntuplo; numa cepa de videira haverá mil ramos, um ramo carregará mil racimos, e um racimo mil bagos, e um bago dará até quarenta litros de vinho. Os que sofreram fome comerão regia-mente, e a cada dia lhes estão reservadas novas maravilhas.
“Pois de mim procederão ventos que trarão todas as manhãs o perfume de frutos saborosos, e farão gotejar ao final do dia o orvalho salvífico. Do alto cairá de novo grande quantidade de maná; dele comerão eles naqueles anos, por haverem participado do final dos tempos”.
Capítulo 29
Ressurreição dos Mortos
“Terminado o tempo vigente do Messias, Ele voltará de novo à glória do céu. Então haverão de ressuscitar todos aqueles que outrora adormeceram na sua esperança. Naquele tempo acontecerá que se abrirão as câmaras onde se demoram as almas dos piedosos; elas sairão, e todas essas numerosas almas, como legião de um só coração, aparecerão todas juntas, abertamente. As que foram as primeiras, alegrar-se-ão; as que foram as últimas, não estarão tristes.
“Cada uma delas sabe que foi chegado o tempo, previsto como o fim de todos os tempos. As almas dos pecadores perder-se-ão em angústia, ao presenciarem tudo isso. Pois elas já sabem que o tormento as atingirá, e que a hora da sua condenação é chegada.”
Capítulo 30
Nova Destruição de Sião
Então dirigi-me ao povo e falei: “Que os mais velhos se reúnam ao meu redor! Muitas coisas quero dizer-lhes”.
Eles juntaram-se no vale do Cedron. Então levantei-me e falei a eles: “Ouve, ó Israel! Desejo agora dirigir-te a palavra. Povo de Jacó, presta atenção! Quero dizer-te uma palavra de exortação. Não vos esqueçais de Sião! Conservai a lembrança das aflições de Jerusalém! Pois vede, dias chegarão em que todo o criado será entregue à ruína, de tal forma como se nunca tivesse existido.
Capítulo 31
Reconstrução de Sião
“Mas preparai os vossos corações e semeai neles os frutos da Lei, para estardes protegidos no tempo em que o Todo-Poderoso haverá de abalar toda a Criação. Pois as edificações de Sião dentro de pouco tempo serão aniquiladas, mas logo em seguida reconstruídas.
‘Todavia, essa reconstrução não durará muito; após algum tempo, Sião será arrasada uma vez mais e permanecerá em destroços por um período. Depois será renovada em todo o esplendor, e, uma vez plenamente reconstruída, permanecerá para todo o sempre.
“Não devemos perturbar-nos excessivamente com a desgraça que aconteceu, mas muito mais com aquela que ainda há de vir. Pois, maior ainda do que ambas essas calamidades será o embate em que o Todo — Poderoso renovará a sua Criação. Agora, porém, não me procureis mais por alguns dias! Não vos preocupeis comigo, até que eu volte para junto de vós!”
Após essas palavras, eu, Baruch, segui o meu caminho. Mas quando o povo percebeu que eu desejava afastar-me, levantou a voz em lamentos, exclamando: “Aonde vais tu? Por que, Baruch, nos abandonas, como um pai que vai embora e deixa os filhos na orfandade?
Capítulo 32
A Queixa do Povo
“Lembra-te das incumbências que Jeremias, o Profeta, e teu par, a ti recomendou quando te dizia: “Vela, pois, por esse povo, pelo tempo em que eu devo permanecer na Babilônia para reagrupar os nossos outros irmãos, aqueles sobre os quais correu a sentença do arrasto ao cativeiro’. Se também tu, nesta hora, nos abandonas, melhor seria então para nós morrermos logo de uma vez; aí poderias abandonar-nos!”
Capítulo 33
A Oração de Baruch
Eu falei ao povo: “Longe de mim abandonar-vos e de vós afastar-me! Eu somente me encaminho para junto do Santíssimo, e junto ao Todo-Poderoso intercederei por vós e por Sião, procurando receber ainda maiores esclarecimentos”.
Capítulo 34
A Queixa de Baruch
Assim eu, Baruch, fui até os lugares sagrados e sentei-me sobre os escombros. Oxalá os meus olhos se convertessem em fontes e minhas pálpebras em vertentes de lágrimas! Como poderei eu suspirar o bastante por Sião e entristecer-me por Jerusalém? Aqui, onde agora deixei-me cair ao chão, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios de dons sagrados e deitava incenso de espécies olorosas e agradáveis. Agora, porém, o nosso orgulho converteu-se em pó, e em areia o suspiro ardente das nossas almas.
Capítulo 35
A Visão da Floresta, da Videira, da Fonte e do Cedro
Após essas queixas, adormeci. Já noite, tive uma visão. Havia uma planície, e nela uma floresta de árvores, circundada de montes rochosos, altos e inóspitos; e aquela floresta era muito grande. A sua frente crescia uma videira de grande altura, e aos pés desta uma fonte fluía suavemente. Aquela vertente, porém, ia até a floresta, tornando-se uma torrente poderosa, cuja enchente inundou aquela floresta. E as suas ondas arrancaram muitas árvores da selva e devastaram todas as montanhas ao redor.
Assim, o cume da floresta abaixava cada vez mais, o mesmo acontecendo também com o cimo dos montes. E tão forte era a torrente que das numerosas árvores da floresta nada mais restou a não ser um único cedro. Quando as águas também a este derrubaram, assim aniquilando e erradicando completamente a grande floresta, até que dela nada mais tivesse sobrado, nem fosse mais possível reconhecer o seu lugar, eis que inesperadamente aquela videira e sua fonte movimentaram-se calma e suavemente. Chegaram a uma posição não muito distante do cedro. Então as águas da torrente arrastaram aquele cedro, que jazia ao chão, para junto da videira.
Eu observei como a videira abriu a sua boca e, dirigindo-se ao cedro, disse: “Por acaso não és tu o cedro que sobrou da destruição da floresta? Por tuas mãos, em todos esses anos, foi constantemente promovido o mal, nunca o bem. Sempre te sentiste forte em face daquilo que te não igualava; também nunca tiveste compaixão para com o que te pertencia. Estendias a tua dominação sobre aqueles que se encontravam à distância; mas aos que se aproximavam prendias nas tuas garras com a rede da tua maldade. Assim, tu te orgulhavas todo o tempo, como se não pudesses um dia ser erradicado.
“Agora, porém, precipitou-se o teu tempo, e as tuas horas foram contadas. Agora vai-te também tu, ó cedro, atrás daquela floresta que antes de ti foi arrastada, e com ela converte-te em areia; e que o vosso pó se misture! Dorme agora na tristeza e permanece no lamento, até que venha o teu tempo derradeiro, em que te será dado voltares, para padeceres ainda maiores sofrimentos.”
Capítulo 36
O Fim da Visão
Então eu vi como aquele cedro incendiou-se e ardeu em chamas, enquanto a videira se exaltava, soberana, tendo ao seu redor um campo cheio de flores que não murchavam; eu despertei e levantei-me daquele lugar.
Capítulo 37
Pedido de Explicação
Eu supliquei e disse: “Senhor, meu Deus! Sempre iluminas aqueles que procuram o entendimento. E a tua Lei é vida e tua sabedoria é norma segura. Dize-me, que significa aquela visão? Pois Tu o sabes. Eis que a minha alma sempre viveu segundo a tua Lei. Jamais, em toda a minha vida, afastei-me da tua sabedoria”.
Capítulo 38
O Significado da Visão
Ele falou-me: “Baruch! E o seguinte o significado da visão que presenciaste. A grande floresta que os teus olhos viram e as montanhas altas e íngremes ao seu redor significam o quanto segue.
“Dias virão em que esse reino que destruiu Sião será destruído e subjugado por outro que lhe sucederá. Mas também este, decorrido algum tempo, será destruído; e então virá um outro, um terceiro. Mas também este, após exercer o seu reinado, será aniquilado. Depois virá o quarto reino, e o seu império será muito mais duro e cruel que os anteriores, e reinará por um longo período, como a floresta sobre a planície, e conservará o poder por largo tempo e elevar-se-á mais alto que os cedros do Líbano.
“Nele a Verdade ficará aba-fada, e a ele confluirão todos aqueles que se comportaram com violência, como os animais selvagens, que em disparada se refugiam na mata. Virá então o tempo do seu fim, em que acontecerá a sua queda fatal, e então revelar-se-á o reino do meu Ungido; isso ocorrerá como a fonte e a videira. Uma vez chegado, Ele exterminará toda aquela grande multidão. O grande cedro que viste resistindo à destruição da floresta, e as palavras da videira a ele dirigidas, e que ouviste, significam o seguinte:
Capítulo 39
O Último Príncipe Será Morto pelo Messias
“O último rei permanecerá com vida, mesmo tendo perecido a multidão dos seus súditos. Então ele será acorrentado e conduzido ao monte Sião, e ali o meu Ungido lhe pedirá contas de todos os seus atos de prepotência, e, juntamente com as obras de toda a sua multidão, o aniquilará na sua presença.
“Depois disso, Ele o dará à morte, e assim protegerá o restante do meu povo, que se encontra na terra por mim escolhida. E o seu reino durará para sempre, até o final do mundo perecível, quando então completar-se-ão os tempos predeterminados.
“Foi essa a tua visão e o seu significado.”
Capítulo 40
Considerações de Baruch
Eu perguntei: “Para que isso irá acontecer? E para quantos? Ou quem será digno de viver naquele tempo? Falo agora na tua presença sobre aquilo em que reflito sem cessar, e pergunto o que vai no meu pensamento. Vejo a muitos do teu povo que se afastaram dos preceitos da tua Aliança e lançaram fora o jugo da tua Lei.
“Vi, porém, outros que também já se despojaram das vestes da vaidade e se refugiaram sob as tuas asas. Que caberá àqueles? Como os colherá aquele tempo final? Será aquele tempo colocado na balança e serão julgados segundo o peso justo?”
Capítulo 41
A Explicação
Ele falou-me: “Outra coisa vou revelar-te. Perguntaste a quem e a quantos aqueles eventos se aplicarão. Somente aos fiéis caberá aquele galardão; mas quanto aos que o desprezaram, o contrário. Tu falaste também daqueles que se aproximaram e daqueles que se afastaram; com estes dar-se-á o seguinte: para os que primeiramente se submeteram, e só mais tarde se afastaram, misturando-se com as raças que por sua vez já estavam misturadas, valerá o seu tempo primitivo, que será considerado muito valioso.
“Para aqueles que de princípio ignoravam a Vida, e que só mais tarde a conheceram, e se integraram à geração do povo escolhido, valerá o seu tempo recente, como algo de grandioso. Alguns tempos herdarão outros, alguns períodos herdarão outros períodos, integrando-se mutuamente. O final de tudo será compensado de acordo com a medida dos tempos e de acordo com as horas dos períodos.
“Recairá a perdição sobre os que à perdição pertencem; mas caberá a Vida aos que desta participam. O pó será suscitado e ser-lhe-á dito: `Devolve o que te não pertence! Deixa que ressuscite tudo quanto por tempo determinado conservaste’!
Capítulo 42
Exortação a Baruch
“Tu porém, Baruch, prepara o teu coração para o que te foi anunciado! Entende o que te foi revelado! Grande e permanente será o teu consolo. Parte desta terra e afasta-te dos lugares que acabaste de ver. Esquece o que é transitório, já não penses mais naquilo que acontece aos mortais. Vai, pois! Cuida do teu povo! Toma em seguida a este lugar! Jejua durante sete dias. Eu virei de novo para junto de ti e falarei contigo.”
Capítulo 43
Baruch Exorta os Anciãos
Eu, Baruch, saí daquele lugar e fui para junto do meu povo. Chamei então meu filho primogênito, bem como meu bom amigo Gedalja, e outros sete dos mais velhos dentre o povo. E falei-lhes: “Eu irei para junto dos meus pais segundo a lei de toda carne. Não vos afasteis dos caminhos da Lei! Observai-a e exortai o povo que ainda restou a não abandonar os Mandamentos do Todo-Poderoso.
“Vede que o nosso Criador é imparcial na sua Justiça, a qual nós respeitamos. Vede o que aconteceu a Sião e o que atingiu Jerusalém! A sentença do Todo-Poderoso deve ser claramente enunciada, e reconhecidos devem ser os seus caminhos que, embora inescrutáveis, são santos. Permanecei pacientemente no seu temor, não esqueçais nunca a sua Lei, pois os tempos haverão de mudar e conduzir à Salvação; vereis a consolação de Sião.
“O que aconteceu nos presentes dias não é nada; mas o que virá no futuro será algo portentoso. Pois tudo o que é corruptível passará, e o mesmo caminho segue tudo o que é mortal. Por isso, desapareça da memória o tempo atual, e não se pense nunca mais no tempo presente, contaminado de pecado. Quem agora corre, corre em vão; e quem vive em felicidade logo cairá e será humilhado.
“O que há de vir será algo ardentemente desejado; estamos preparando agora o que virá depois. O tempo que há de vir não passará. Eis que virá o período que há de permanecer para sempre; o mundo novo, que não permitirá a perdição dos bem-aventurados que o alcançarão. Aquele período não terá compaixão pelos que se condenarem às penas; mas não permitirá que pereçam os que nele viverem.
“Haverão de herdar o referido tempo, cuja promessa lhes foi assegurada, aqueles que assimilarem a riqueza da Sabedoria, que guardarem o tesouro do entendimento, que não se afastarem da graça e que sempre seguiram a verdade da Lei. Sim, a esses será dado o mundo vindouro; enquanto que aos numerosos outros será reservada uma morada de fogo.
Capítulo 44
Instrução ao Povo
“Exortai o povo, o quanto vos for possível! Pois esse é o nosso dever. Se o instruirdes, transmitir-lhe-eis a Vida.”
Capítulo 45
Exortação ao Cumprimento da Lei
Então falou o meu filho, juntamente com os anciãos do povo: “Terá o Altíssimo decidido a tal ponto nos oprimir, arrancando-te tão depressa do nosso convívio? Teremos nós de ficar realmente na escuridão, e deverá o povo que restou ficar privado de qualquer luz? A quem nos dirigiremos daqui por diante para obter esclarecimentos sobre a Lei? Quem nos haverá de mostrar a diferença existente entre a morte e a vida?”
Falei a eles: “Eu não posso opor-me ao trono do Altíssimo; mas não faltará a Israel um sábio, nem ao povo de Jacó um discípulo da Lei.
Deixai unicamente preparados os vossos corações para serdes obedientes à Lei e para submeter-vos àqueles que são sábios e esclarecidos! Não vos afasteis deles de forma alguma! Se isso cumprirdes, alcançareis aquelas promessas que por mim vos foram anteriormente anunciadas. Nunca sereis vítimas da desgraça; disso agora mesmo eu vos asseguro. O fato da minha partida, isso eu vos omiti, bem como ao meu filho.”
Capítulo 46
Jejum de Baruch
Enquanto eu saía, e os deixava, afastando-me daquele lugar, disse-lhes ainda: “Agora eu irei até o Hebron; para lá me envia o Todo-Poderoso”. Assim, cheguei àquele lugar no qual uma palavra me estava reservada; ali eu me sentei e jejuei por sete dias.
Capítulo 47
Oração de Baruch
Depois do sétimo dia, falei em súplica diante do Todo-Poderoso: “Meu Senhor! Tu ordenas que venham os tempos, e eles de imediato se apresentam diante de Ti. Tu estabeleces o regime dos astros, e eles não se Te opõem. Tu ordenas o suceder das estações, e elas Te obedecem. Unicamente Tu conheces a duração das gerações; mas não revelas teus segredos à multidão.
“Tu regulas a intensidade do fogo e equilibras a velocidade dos ventos. Tu exploras os confins do firmamento e sondas os abismos das trevas. Tu determinas o número dos que perecerão, o número dos que hão de permanecer e preparas uma morada para os que ainda virão. Tu conheces o princípio das coisas por Ti criadas e tens presente a destruição futura. Com ameaças terríveis e coerção, Tu comandas o fogo que se propaga ao vento. Por tua Palavra chamas à existência aquilo que não é. Com grande poder Tu imperas sobre as coisas que ainda não são.
“Com o teu olhar orientas as criaturas, tomas sábias as esferas, para que obedeçam à ordem estabelecida. Legiões de coortes estão na tua presença, e ao teu aceno atendem alegremente com os seus cânticos. Ouve agora o teu servo e dá atenção aos meus rogos! Num curto espaço de tempo nascemos; em curto espaço de tempo desaparecemos. As horas para Ti são como anos, e os dias iguais às gerações.
“Não lances tua ira sobre o homem! Ele não é nada. Não leves em consideração as nossas obras! Que somos nós, enfim? Chegamos ao mundo por graça tua e dele partimos não por vontade nossa. Nós não dissemos aos nossos pais: ‘Gerai-nos’!, nem ordenamos ao mundo inferior, dizendo: ‘Recebe-nos!’ Qual é a nossa força para atrair tua ira? Quem somos nós, afinal, para merecermos um julgamento? Julga-nos segundo tua misericórdia, socorre-nos na tua mansidão!
“Olha para os poucos que a Ti se submeteram! Salva todos aqueles que de Ti se aproximaram! Não tires a esperança do nosso povo! Não diminuas os períodos do nosso amparo! Este é o povo que Tu escolhes-te e não encontraste outro iguala ele. Desejo agora falar na tua presença e dizer o que vai no meu coração. Nós confiamos em Ti; tua Lei está conosco. Sabemos também que não haveremos de cair, enquanto permanecermos nos Mandamentos da tua Aliança. Salva-nos por todo o sempre! Nunca mais nos misturaremos com outras gentes! Nós somos um povo que traz um nome glorioso e que de Alguém recebemos uma Lei. E a Lei que entre nós persiste é o nosso arrimo; a Sabedoria que prezamos, por excelência, é o nosso amparo.”
Após essa oração, eu estava profundamente exausto. E Ele falou-me: “Tu oras, Baruch, com honestidade; todas as tuas palavras encontraram ouvidos atentos. Todavia, o meu Julgamento segue o seu curso e a minha Lei exige o seu cumprimento. Eu darei resposta às tuas indagações e, em vista de tua oração, falarei contigo. Presta atenção e entende a realidade: aquilo que é perecível é como se não existisse; contudo, se o perecível praticou a impiedade, é como se fosse capaz de algo. Não levou em consideração a minha bondade, tornando inútil a minha magnanimidade. Por essa razão, tu serás apartado, por minha determinação, como anteriormente anunciei. Chegado é o tempo que eu te havia predito.
“Eis que é chegado o momento da tribulação. Ela virá e o seu ímpeto será avassalador; ela propagará o desespero em meio a constantes ataques de ira. Naqueles dias, todos os habitantes da terra revoltar-se-ão uns contra os outros, pois não saberão que é chegada a hora do meu Julgamento. Naqueles dias será pequeno o número dos sábios, e poucas serão as pessoas conscientes do que se passará. Os que souberem, preferirão ficar em silêncio. Muitos serão os boatos e grande será a profusão de novidades; e darão asas à imaginação. Muito se falará de previsões; umas, totalmente vãs, outras se cumprirão.
“A honra converter-se-á em vergonha; o poder será reduzido ao desprezo; a força verdadeira desaparecerá; a beleza não passará de futilidade. Naqueles dias uns dirão aos outros: ‘Onde está o grande entendimento? Onde se escondeu a muita Sabedoria?’ E enquanto se entretiverem com esses pensamentos, nascerão ciúmes naqueles que por si próprios não possuíam nada. As paixões acometerão os pacíficos e muitos serão arrebatados pela cólera e ferirão a muitos. Exércitos incitar-se-ão ao derramamento de sangue e finalmente todos conjuntamente perecerão. A mudança dos tempos será, naqueles dias, clara e patente para todos, porque nos dias passados encheram-se de contaminação, praticaram a fraude, seguindo cada um os seus caminhos, relegando ao esquecimento a Lei do Todo-Poderoso.
“Por isso, as chamas devorarão os seus intentos; os seus pensamentos secretos serão provados pelo fogo. O Julgador virá, e Ele não hesitará. Cada um dos habitantes da terra poderia saber quando se comportou com arrogância; mas o seu orgulho impediu-os de conheceu a minha Lei. Em verdade, muitos chorarão bem mais pelos vivos do que pelos mortos.”
Eu disse: “Que fizeste, Adão, a todos os que de ti procederam? E o que diremos da Eva primeira, por ter dado ouvidos à serpente? Toda a grande multidão será entregue à ruína; inumeráveis aqueles que serão devorados pelo fogo. Na tua presença, ainda desejo dizer o seguinte: O Tu, Senhor, meu Deus! Conheces perfeitamente o que existe na tua Criação. Pois no princípio ordenas-te ao pó que formasse Adão! Conheces também o número de todos aqueles que dele se originaram, e como até agora se comportaram e como pecaram contra Ti, não Te reconhecendo como seu Criador. Por isso, impõe-se o seu fim, castiga-os com a tua Lei, que foi por eles transgredida”.
Ele disse: “Mas agora esqueçamos os pecadores e rezemos pelos justos. Desejo falar da felicidade destes, não calar mas enaltecer a glória que para eles já está preparada. Da mesma forma como vós, neste curto espaço de tempo, neste mundo efêmero em que viveis, tendes suportado muitas fadigas, assim muita luz vos está reservada naquele mundo que não terá fim”.
Capítulo 48
Pergunta sobre a Ressurreição
“O Todo-Poderoso! Ainda mais Te suplico e peço clemência ao Criador de todas as coisas. Como sobreviverão aqueles que no teu Dia ainda se encontrarem em vida? Como será a sua aparência futura? E aqueles que agora vivem em pecado, que são instrumento de pecados, assumirão a sua atual forma e revestimento, com os seus membros fortemente articulados? Ou, com a transformação do mundo, transformarás a todos os que nele viveram?”
Capítulo 49
A Ressurreição dos Mortos
Ele falou-me: “Escuta, Baruch, as seguintes palavras, e escreve no íntimo do teu coração o que estás a ouvir! Com certeza, a terra devolverá os seus mortos, aqueles que ela recebeu sob sua guarda, sem em nada mudar-lhes a aparência. Da forma como os recebeu, assim os restituirá; como eu lhos entreguei, assim os deixará reaparecer. Então será necessário revelar aos vivos que esses mortos foram reavivados e que retomaram aqueles que outrora haviam partido. E os que se reconhecerem é porque já se haviam conhecido antes, de sorte que será grandioso o Julgamento, realizando-se o que fora prenunciado.
Capítulo 50
A Transfiguração
“Passado o dia preestabelecido, a aparência dos peca-dores será mudada. Mas os que se comportaram de acordo com a Justiça, resplenderão de glória. A face dos malfeitores se turvará, porque deverão suportar sofrimentos. A aparência gloriosa daqueles que se comportaram corretamente, segundo a minha Lei, que em vida tiveram prudência, e que no seu coração plantaram a raiz da Sabedoria, irradiará um brilho multiforme. O seu rosto se cobrirá de esplendorosa beleza. Assim eles entrarão na posse daquele mundo há muito prometido, imortal.
“Por isso, aqueles que outrora desprezaram a minha Lei, e que deverão apresentar-se, aqueles que de tal forma obturaram os seus ouvidos para não ouvir a Sabedoria, impedidos assim de alcançar a luz do entendimento, estarão particularmente em grandes tribulações. Eles hão de ver que serão enaltecidos aqueles aos quais se julgavam superiores, e que maior glória receberão do que estes. Então todos, tanto estes como aqueles, serão transfigurados: uns ao esplendor dos Anjos, enquanto que os outros mergulharão ainda mais fundo em aparências espantosas e em formas horrendas. Tendo estas presenciado isso tudo, encaminhar-se-ão para a dor e o sofrimento.
“Coisas maravilhosas, porém, serão desveladas, oportunamente, àqueles que forem salvos por suas obras, aqueles para os quais a Lei era esperança, o entendimento seu anseio, a fé sua sabedoria. Então eles verão o mundo que ainda havia pouco lhes era invisível; verão também o tempo que agora lhes é oculto. O tempo não os envelhecerá. Eles habitarão as esferas mais altas daquele mundo e serão iguais aos Anjos, iguais às estrelas. E poderão transmudar-se em todas as formas possíveis, segundo o seu desejo, da beleza à gala, da luz ao esplendor da glória. Ser-lhes-ão abertos os vastos espaços do paraíso. Ser-lhes-á dado ver também os Seres vivos de superior beleza, os Seres que estão próximos ao trono, bem como todas as coortes dos Anjos. Estes permanecem firmemente atentos à minha Palavra, para antes de tudo tomarem-se invisíveis; observam também rigorosamente as minhas ordens, para permanecerem em seus lugares, até chegar o tempo em que de novo se mostrarão.
“A glória dos justos será ainda maior do que a glória dos Anjos. Os primeiros receberão os últimos, por eles esperados; os últimos saberão que foram precedidos pelos que primeiro partiram. Eles encontrarão a Salvação fora deste mundo de sofrimento e lançarão fora o fardo pesado das suas tribulações. Por que os homens puseram sua vida a perder? Que receberam em troca da alma na terra? Não preferiram esse tempo livre de toda aflição, e que não terá fim; mas, em vez, escolheram o tempo cujo fim é apenas feito de muitos suspiros e sofrimentos; abdicaram do mundo que não permite que envelheçam os que nele ingressam, desprezaram o tempo que é cheio de esplendor, e assim nunca alcançarão a glória de que há pouco eu te falava.”
Capítulo 51
O Fim dos Justos e dos Pecadores
Eu disse: “Como poderíamos nós esquecer aqueles a quem está reservado o sofrimento? Mas também por que haveríamos de lamentar os mortos? Por que pranteamos os que desceram ao seio da terra?”
Ele disse: “Poupai as lamentações para o início do sofrimento que virá! Derramai vossas lágrimas somente na iminência da ruína. Mas também o contrário desejo agora exprimir: Que devem fazer hoje os justos? Tende vossa alegria no sofrimento que agora suportais! Por que motivo ainda estais atentos a que os vossos inimigos caiam na desgraça? Preparai-vos, em vez disso, para o que vos foi destinado e tornai-vos dignos da recompensa que vos foi reservada”,
Capítulo 52
Nova Visão
Após essas palavras, ali mesmo eu adormeci. Então tive uma visão na qual uma nuvem levantava-se de um mar imensamente grande. Eu a observava. Ela era cheia de águas claras e de águas negras, e muitas cores apareciam nessas águas. Na borda superior da nuvem via-se algo parecido com um imenso relâmpago.
Eu vi como a nuvem tempestuosa levantou-se com rapidez e cobriu toda a terra. Então a nuvem fez chover sobre a terra a água nela contida. E eu vi que não era sempre a mesma água que dela se despejava. De início, ela era muito negra, e isso durante algum tempo; depois vi que a água diminuiu, mas era mais clara. Em seguida vi de novo água escura, depois água clara; depois escura e depois de novo clara.
Essa alternância repetiu-se por doze vezes; mas a água escura sempre era em maior quantidade do que a clara. Antes de dissipar-se, a nuvem despejou água negra, e esta era ainda muito mais escura do que toda a anterior. E fogo misturava-se a ela. Essa água, ao despencar, provocou ruína e destruição. Então eu vi como o raio que estava na borda superior envolveu a nuvem e fulminou a terra. E era tão fulgurante o raio a ponto de iluminar a terra inteira, chegando também a restabelecer aquelas áreas onde caíram as últimas águas, que provocaram a devastação. Ele assoberbou toda a terra, dominando-a como sua propriedade. E depois disso, eu vi do mar levantaram-se doze torrentes que circundaram aquele raio, e a ele ficaram submissas.
Então eu despertei, e estava muito amedrontado.
Capítulo 53
Pedido de Explicação do Sonho
Eu supliquei ao Todo-Poderoso, dizendo: “Tu Senhor, somente Tu conheces antecipadamente os arcanos da terra; pela tua Palavra conduzes o que no tempo acontece. Por causa das obras dos habitantes da terra, apressas o início dos tempos; e o término dos períodos somente Tu conheces.
“O Tu, para quem nada é difícil e que com um aceno tudo realizas com facilidade, e de quem estão próximas tanto as profundezas como as alturas, e a cujas palavras o começo dos mundos obedecem, e que também desvelas, aos que Te guardam temor, o que lhes está preparado, para dessa forma trazer-lhes consolo! Tu que mostras teus poderes admiráveis àqueles que não sabem, que abres uma fresta para os iniciantes, que clareias as coisas obscuras e que manifestas o que é oculto aos puros de coração, que em fé se consagram a Ti e à tua Lei. Tu propiciaste ao teu servo aquela visão. Re-vela-me agora o seu significado!
“Eu sei que de Ti recebi explicação sobre aquilo que eu havia solicitado; esclareceste o que Te implorei. Revelaste-me também com que tom de voz eu devia louvar-Te e por meio de quais’ membros expressar a honra e o louvor que sobem à tua presença. Fosse cada um dos meus membros uma boca e os cabelos da minha cabeça outras tantas vozes, nem assim poderia eu louvar-Te e dar-Te graças na medida que Te cabe. Também, não tenho capacidade de e narrar o teu esplendor e traduzir o brilho da tua Majestade. Quem sou eu dentre os homens? Que valor tenho junto àqueles, melhores do que eu, pelo fato de ter ouvido do Altíssimo tais maravilhas, promessas inúmeras do meu Criador? Ave minha mãe, entre os nascidos; bendita seja entre as mulheres aquela que me trouxe ao mundo!
“Mas não posso calar-me e não cesso o meu louvor ao Todo-Poderoso; com o meu canto de louvor enumero Tuas maravilhas. Pois quem, ó Deus, medita o bastante sobre tuas maravilhas? E quem compreende teus planos profundos, cheios de vida? Pelo teu pensamento reges todas as criaturas, nascidas por tua destra; puseste ao teu serviço toda a fonte de luz e depositaste os tesouros da tua Sabedoria ao lado do teu trono. E com razão que ficam arrasados aqueles que não amam tua Lei; e recebem o castigo do teu Julgamento aqueles que se não submeteram ao teu império. Se Adão foi o primeiro a pecar, trazendo a todos a morte por antecipação, assim cada um dos filhos também atraiu sobre si o sofrimento vindouro, e cada um deles excluiu-se da glória futura.
“Em verdade, obtém a recompensa aquele que tem fé. Agora, porém, encarai apenas a perdição, ó vós que hoje sois malfeitores! Sereis castigados com severidade, porque anteriormente desprezastes as luzes do Altíssimo. Jamais aprendestes o que ensinam as suas obras nem até agora vos convenceu a maravilha da sua Criação. Se Adão carrega única e exclusivamente a sua culpa, nós todos, por nossa vez, e cada um por si, tornamo-nos um Adão.
“Esclarece-me as tuas revelações, Senhor! Dá atenção às minhas perguntas! Os malfeitores receberão a paga por seus atos no fim dos tempos, e Tu glorificarás os crentes por sua fé. Tu conduzes aqueles que são do teu lado, e do teu lado eliminas os pecadores.”
Capítulo 54
Excitação de Baruch acerca do Julgamento
Essa foi a minha oração. Sentei-me então debaixo de uma árvore sob a sombra dos seus ramos. Admiro-me e espanto-me ao considerar como os pecadores sobre a terra repeliram de si esse grande bem, e como avaliaram mal aquele grande sofrimento, embora soubessem que eram obrigados à pena por seus pecados.
Eu meditava sobre isso e sobre coisas semelhantes, quando foi enviado a mim o Anjo Rarniel, orientador veraz das visões. E ele falou-me: “Por que, Baruch, se intranqüiliza o teu coração? Por que se excita o teu sentimento? Se já agora estás agitado, quando apenas tiveste notícia do Julgamento,que farás ao vê-lo diante dos teus olhos clara e abertamente? Se já estás tão fora de ti pela expectativa do Dia do Todo-Poderoso, como então poderás presenciar sua chegada? E se estás espantado com as palavras que te anunciam as penas dos pecadores, que será quando o seu cumprimento tornar presentes tais acontecimentos? Se já estás aflito por teres ouvido os nomes das bênçãos e os nomes dos sofrimentos futuros, que será quando vires a sua Majestade desvelar-se ao claro, declarando a uns como culpados, a outros fazendo exultar de júbilo?
Capítulo 55
O Significado da Visão
“Uma vez mais suplicaste ao Altíssimo que se digne revelar-te o que significa a visão que tiveste; assim, fui enviado para dar-te a explicação. Eis que o Todo-Poderoso fez-te revelação dos tempos do seu mundo, tanto dos que já passaram como dos que ainda virão, desde o começo da sua Criação até o seu fim, uns transcorrendo em tumultos, outros de maneira ordenada. Viste a grande nuvem que se levantou do mar e cresceu a ponto de cobrir a terra; ela representa o vasto mundo, efetivamente criado pelo Todo-Poderoso quando planejava dar existência ao universo.
“Assim aconteceu de fato: apenas pronunciada a Palavra da sua boca, o mundo apareceu na sua duração; ele era bem pequeno, mas perfeitamente conforme à grande Sabedoria do seu Criador. Viste primeiro na borda superior da nuvem a água escura, que se derramava sobre a terra; pois ela significa a transgressão do primeiro homem Adão.
Após a sua queda, introduziu-se prematuramente a morte, e o luto recebeu o seu nome; preparada estava a tristeza; foi criada a dor, e estava pronta a fadiga; as desventuras começaram a instalar-se. O mundo inferior exigia renovação pelo sangue; assim, foi inaugurado o enxoval de crianças e criada estava a volúpia dos genitores; a grandeza dos homens foi rebaixada e o bem retraiu-se.
“Que poderia ser mais negro e tenebroso do que isso? Foi o início, com as águas escuras que viste. Dessa escuridão, mais escuridão procedeu; foi produzida assim a treva mais profunda. Pois ele (Adão) tornou-se perigoso primeiro para si mesmo mas logo em seguida também para os Anjos. Estes também gozavam da liberdade no tempo em que ele foi criado. Assim, alguns deles desceram e misturaram-se com as mulheres. Mas esses réus foram então acorrentados e entregues às penas.
“A maioria inumerável dos outros Anjos manteve-se afastada disso. Mas todos os habitantes da terra pereceram pelo dilúvio.
“Isso foi a primeira água escura.
Capítulo 56
A Água Clara
“Então viste água clara. Isso é o aparecimento de Abraão, como também a vinda do seu filho e do seu neto, juntamente com todos os seus. Naquele tempo, a Lei ainda não estava escrita mas no seu todo ela lhes era conhecida. Dessa forma, já eram praticadas naquele tempo as obras dos mandamentos. Já havia nascido a crença no Juízo futuro. A esperança da renovação do mundo já existia; também já estava fundada a promessa de uma vida que viria depois.
“Isso foi a água clara que viste.
Capítulo 57
A Água Escura
“A terceira água que viste, escura, é o acúmulo de todos os pecados cometidos pelas gerações seguintes, após a morte daqueles homens piedosos, bem como as injúrias da terra do Egito praticadas com violência na subjugação dos seus filhos. Mas finalmente também isso foi eliminado.
Capítulo 58
A Quarta Água, Clara
“A quarta água, clara, que viste é o aparecimento de Moisés, Aarão e Miriam, bem como do filho de Nun, Josué, de Caleb e de todos os seus semelhantes. O facho da Lei, válido para todo o sempre, brilhou nesse tempo para todos os que jaziam nas trevas. Aos que têm fé ela anuncia a promessa da recompensa e aos ímpios, as penas do fogo. Naquele tempo, quando Ele chamou Moisés para junto de si, os próprios céus abalaram-se nos seus fundamentos, e os que estavam junto do trono do Todo-Poderoso tremeram.
“Ele fez-lhe muitas advertências e deu-lhe orientações sobre a Lei e sobre o fim dos tempos, assim como as deu a ti; já naquele tempo, o projeto de Sião e suas dimensões estavam definidos para a sua realização segundo o plano do atual Santuário. Ele mostrou-lhe então o volume do fogo, as profundezas dos oceanos, o peso dos ventos, o número das gotas da chuva, a contenção da ira, a paciência incomensurável, a fatalidade do Juízo, a raiz da Sabedoria, o império do entendimento, a fonte do conhecimento, a altura dos oceanos atmosféricos, o tamanho do paraíso, o fim dos mundos, o início do dia do Juízo Final, o número das oferendas sacrificiais, os mundos que ainda haveriam de vir, a boca do inferno, o lugar das recompensas, os domínios da fé, o sítio da esperança, o espetáculo da tribulação futura, a multidão inumerável dos Anjos, a vastidão das chamas, o fulgor dos coriscos e o ribombo do trovão, a hierarquia dos Arcanjos, os reservatórios da luz, a mudança dos tempos, os aprofundamentos da Lei.
“Essa é a quarta água, clara, que viste.
Capítulo 59
A Quinta Água, Escura
“A quinta água, escura, que viste chover são as obras dos amorreus, a verbosidade dos seus vaticínios, seus mistérios execráveis e suas miscigenações impuras. Ao tempo dos Juízes, também Israel contaminava-se com pecados, embora tendo presenciado tantos sinais maravilhosos do seu Criador.”
Capítulo 60
A Sexta Água, Clara
“A sexta água, clara, que viste é o tempo de Davi e o nascimento de Salomão. Naquele tempo foi edificada Sião, inaugurado o Templo, derramado o sangue de muitos povos infiéis e muitos foram os sacrifícios oferecidos na consagração do Templo. Reinava então o bem-estar e a paz. Ouvia-se muita sabedoria na comunidade e o dom do entendimento era enaltecido. As festas sagradas eram celebradas com grande alegria e satisfação.
“A justiça dos príncipes era sem falsidade, e a retidão, segundo os Mandamentos do Todo-Poderoso, era efetivamente praticada. Assim o país, que então era muito agradável, foi glorificado acima dos outros povos, em virtude da religiosidade dos seus habitantes; e a cidade de Sião detinha a soberania sobre todos os povos e sobre todas as províncias.
“Isso foi a água clara que viste.
Capítulo 61
A Sétima Água, Escura
“A sétima água, escura, que viste é o projeto perverso de Jeroboão da construção de dois bezerros de ouro, e os atos sacrílegos dos reis que lhe sucederam, a excomunhão de Isabel, a adoração dos falsos deuses que naquela época eram cultuados em Israel, a contenção das chuvas, as privações da fome, de tal sorte que as próprias mulheres devoravam o fruto do seu ventre, o tempo da deportação, que atingiu nove e meia tribos, porque viviam em muitos pecados.
“Assim, veio o rei dos assírios, Salmanassar, e levou-os prisioneiros. E muitas coisas poderiam ser ditas também dos povos pagãos, dos muitos delitos e violências por eles sempre praticados, nunca se comportando com retidão.
“Isso é a sétima água, escura, que viste.
Capítulo 62
A Oitava Água, Clara
“A oitava água, clara, que viste é a retidão e a probidade do rei de Judá, Ezequias, e a benevolência divina com que foi agraciado. Eis que Senaquerib, cheio de raiva, planejou aniquilá-lo, e, arrebatado pela cólera, procurou arruiná-lo, fazendo alianças com as muitas nações que a ele se uniram. O rei Ezequias teve conhecimento dos planos do rei dos assírios, da sua intenção de atacá-lo e de levá-lo prisioneiro, e de exterminar o seu povo, composto das duas e meia tribos que restaram. Tencionava, além disso, arrasar a própria Sião. E Ezequias, apoiado em sua boas obras, pôs a sua esperança nos méritos da retidão. Dirigiu-se então ao Todo-Poderoso: Vê, Senhor, Senaquerib já está às portas para nos arruinar; ele se levantará com arrogância para aniquilar Sião’.
“E o Todo-Poderoso ouviu a sua voz; pois Ezequias era homem prudente e depositava esperanças na sua oração, por ser um justo. Então o Todo-Poderoso convocou seu Anjo Ramiel, o mesmo que agora fala contigo. E eu fui e exterminei a grande multidão deles; só os seus chefes chegavam a 185000, e cada um deles tinha um número determinado de comandados.
“Queimei seus corpos; mas deixei intactos suas armas e seus instrumentos, para que os prodígios do Todo-Poderoso ficassem mais ainda em evidência, e para que no mundo inteiro se falasse do seu Nome. Dessa forma, Sião foi salva, Jerusalém libertada e Israel livrado dos seus temores. Rejubilavam-se todos os que estavam na Terra Santa, o Nome do Senhor era louvado e pronunciado por todos.
“Isso é a água clara que viste.
Capítulo 63
A Nona Água, Escura
“A nona água, escura, que viste é toda a maldade que ocorreu nos dias de Manassés, filho de Ezequias. Ele portou-se de modo infame; mandava executar os piedosos, distorcia o direito, derramava o sangue inocente, violentava mulheres honradas, derrubava os altares; aboliu as oferendas do sacrifício, expulsou os sacerdotes para que não mais servissem ao Templo; mandou fazer uma estátua de cinco faces: quatro delas olhavam na direção dos quatro ventos e a quinta encontrava-se no topo da imagem, como para desafiar o Todo-Poderoso. Então o Todo-Poderoso encheu-se de cólera; Sião devia ser completamente destruída, e isso aconteceu nos vossos dias.
“A sentença recaiu também sobre as duas e meia tribos, devendo elas também ser arrastadas ao cativeiro, como tu viste. A maldade de Manassés foi tão grande que a majestade do Altíssimo afastou-se do Templo. Por isso, Manassés foi nesse tempo por todos reconhecido como um celerado, e o seu destino final seria o fogo. Todavia, quando sua oração encontrou ouvidos junto ao Altíssimo, foi-lhe finalmente concedido um sinal de prodígio, pois no momento em que ia ser lançado no interior do cavalo de bronze, este derreteu-se. Levou uma vida iníqua e não era digno desse prodígio; mas, por esse sinal, ele devia finalmente reconhecer por obra de quem ser-lhe-iam infligidos sofrimentos. Aquele que pode conceder o bem, pode também castigar.
Capítulo 64
Manassés
“Assim, Manassés comportou-se insensatamente, julgando que o Altíssimo, a seu tempo, não exerceria sua vingança.
Isso foi a nona água, escura, que viste.
Capítulo 65
A Décima Água, Clara
“A décima água que viste, clara, é a pureza e retidão da vida de Josias, senhor de Judá; unicamente ele, naquele tempo, era de todo o coração e de toda a sua alma submissa ao Todo-Poderoso. Ele expurgou o país dos ídolos, consagrou de novo todos os utensílios sagrados e restituiu ao Altar as oferendas. Elevou o poder sagrado, exaltou os justos e honrou prudentemente todos os sábios. Restabeleceu os sacerdotes no seu serviço, expulsou do país os bruxos e feiticeiros, bem como os conjuros da morte. Não apenas exterminou os ímpios que ainda sobreviviam, como mandou também que fossem retirados das suas sepulturas os ossos dos mortos, para serem queimados. Reinstituiu as Festas e os Sabbaths e as oferendas sagradas; fez lançar ao fogo os impuros, os videntes e impostores que ao povo corrompiam; a todos eles entregou às chamas; e aos que naquele tempo ainda eram seus adeptos mandou arremessar no vale do Cedron, e sobre eles fez acumular pedras.
“O seu zelo pelo Todo-Poderoso era do íntimo da sua alma. Naquele tempo, apegou-se firmemente à Lei, não deixando ninguém incircunciso e não permitindo, pelo tempo que viveu, que ninguém em todo o país deixasse de praticar a religião. Assim, ele se tornou merecedor da recompensa perene e de honra sempre renovada junto ao Todo-Poderoso, como acontecerá a muitos, nos últimos dias. Para ele, bem como para todos os que se lhe comparam, foram preparados e criados os esplendores da glória, como anteriormente foi-te revelado. “Essa foi a água clara, que viste.
Capítulo 66
A Undécima Água, Escura
“A décima primeira água, escura, que viste é a desgraça que presentemente atinge Sião. Pensas por acaso que não se entristecem os Anjos diante do Todo-Poderoso pelo abandono de Sião, e por verem os gentios no seu próprio coração se vangloriarem, e as hordas inimigas proclamarem diante dos seus ídolos: Aquela que por tanto tempo pisava está agora esmagada, aquela que subjugava está agora subjugada’? Pensas que o Altíssimo se alegra com isso, e que com isso o seu Nome é altamente glorificado? Mas também o que seria feito da sua tão justa sentença?
“O tormento atingirá igualmente aqueles que estão dispersos entre os povos e aqueles que em cada país vivem na vergonha. Quanto mais Sião estiver abandonada, e Jerusalém devastada, tanto mais florescem os ídolos nas cidades dos gentios. E o perfume balsâmico da Justiça, que da Lei emana, evolou-se completamente em Sião. Em toda parte, na terra de Sião, reina o cheiro do pecado.
“Então, levanta-se o rei da Babilônia, que agora arrasou Sião, jactando-se diante do povo e concebendo arrogâncias em seu coração diante do Altíssimo. Mas finalmente, ele também cairá.
“Isso corresponde à undécima água.
Capítulo 67
A Duodécima Água, Clara
“A décima segunda água, clara, que viste significa o seguinte: Virá em seguida o tempo em que a tribulação que se abaterá sobre o teu povo será de tal ordem que ele correrá o risco de perecer inteiramente. Mas, na realidade, ele será salvo e então os seus inimigos se prostrarão aos seus pés. E, por longo período, o povo estará em júbilo.
“Naquele período, Sião também será rapidamente reconstruída e serão restabelecidos os sacrifícios; os sacerdotes tomarão ao ministério sagrado e os próprios pagãos haverão de se aproximar, reverentes, mas não na mesma medida de antigamente. Então acontecerá a queda de muitas nações.
“Isso é a água clara, que viste.
Capítulo 68
A Água Mais Escura de Todas
“A última Água que viste era de fato mais escura do que as anteriores. Ela veio depois das doze precedentes. Atingiu o mundo inteiro. O Altíssimo separou essas águas de antemão, pois somente Ele sabe o que vai acontecer. Pois, dos pecados e das provocações que acontecerão sob os seus olhos, Ele discerne com antecedência seis espécies. Das boas ações dos justos, que diante d’Ele se realizarão, Ele igualmente distingue seis espécies, independentemente de tudo aquilo que ainda realizará no fim do mundo.
“Por isso é que das águas escuras não resultou a escuridão, nem das águas claras a claridade. Então será o fim.
Capítulo 69
O Sentido da Mais Escura das Águas
“Ouve agora o significado dessa última água negra, que virá após as águas escuras anteriores! E o seguinte o sentido: dias virão em que os tempos estarão maduros: próxima estará a colheita da boa e da má semeadura. Então o Todo-Poderoso espalhará a confusão da mente e as angústias do coração sobre a terra, sobre os seus habitantes e os seus príncipes. Então eles se odiarão mutuamente e armar-se-ão uns contra os outros para a guerra; os que estiverem em inferioridade intrometer-se-ão com os próceres e os exíguos considerar-se-ão iguais aos potentados. Muitos serão entregues nas mãos de poucos, e os que não eram nada dominarão os poderosos. Os pobres terão superabundância, no lugar dos ricos; os malfeitores se sobreporão aos heróis.
“Os sábios se calarão; os néscios terão a palavra. Não se realizarão os pensamentos dos homens nem as reflexões dos príncipes. Nem se cumprirá a esperança dos que esperam. Ao chegar o que agora foi anunciado, a confusão se estabelecerá entre todos os homens. Muitos cairão na guerra, muitos perecerão de tristeza e muitos deixarão os seus no desamparo.
“Então o Altíssimo fará levantarem-se aqueles povos que ele havia preparado; eles virão e moverão batalha contra os príncipes que ainda restarem. Mas todo aquele que sobreviver à guerra perecerá por um terremoto. Quem se salvar do terremoto morrerá pelo fogo e quem se salvar do fogo morrerá pela fome. Quem então ainda puder encontrar salvação, e a tudo isso escapar, seja vencedor ou vencido, cairá nas mãos do meu Servo, o Messias. A terra toda devorará os que nela habitam.
Capítulo 70
A Proteção na Terra Santa
“A Terra Santa, porém, compadecer-se-á dos seus; naquele tempo, ela protegerá os seus habitantes. E esta, portanto, a visão que tu contemplas-te, e esse o seu significado. Eu vim para revelar-te isso, porque a tua súplica encontrou ouvidos junto ao Altíssimo.
Capítulo 71
O Messias
“Toma conhecimento também daquele raio, que deverá vir ao final, após a água negra! Ele representa o seguinte: depois dos sinais prodigiosos, que há pouco foram mencionados, quando os povos forem lançados na confusão, e chegar o tempo do meu Ungido, este convocará a todas as gentes. A umas conservará em vida, a outras eliminará. Aos povos por Ele poupados acontecerá o seguinte: todos aqueles que não chegaram a conhecer Israel, e que nunca oprimiram a raça de Jacó, serão conservados em vida e separados dentre todos os povos, submeter-se-ão ao teu povo. Mas todos aqueles que outrora vos dominaram, ou que inutilmente vos conheceram, cairão em conjunto sob a espada.
Capítulo 72
O Reino da Paz
“Depois que no mundo Ele tiver tudo submetido a si, e em paz duradoura se assentar sobre o seu trono real, instalar-se-á o bem-estar e sobrevirá a paz. Então, como o orvalho, descerá a saúde e as doenças se afastarão. E na vida dos homens desaparecerão as preocupações, os suspiros e as tribulações; a alegria se estenderás sobre toda a terra. Ninguém morrerá antes do seu tempo e nenhuma adversidade ocorrerá repentinamente. Litígios, queixas, desavenças, atos de vingança, derramamentos de sangue, cobiça, inveja, ódio e coisas semelhantes, dignas de conde-nação, tudo será extirpado por completo. Pois foram essas coisas que encheram o mundo de maldades, e por causa delas é que sobreveio toda a desordem na vida dos homens.
“Os animais selvagens virão da floresta e colocar-se-ão a serviço dos homens; serpentes e dragões sairão das suas tocas e deixar-se-ão conduzir pelas crianças. As mulheres não sentirão as dores do parto e não mais se queixarão quando trouxerem ao mundo o fruto do ventre materno.
Capítulo 73
Descanso e Paz na Era do Messias
“Naqueles dias, os ceifadores não se exaurirão de cansaço e os que constroem não ficarão escorchados. O trabalho chegará naturalmente ao seu resultado para aqueles que dele se ocupam com tranqüilidade. Aquele tempo significará o fim das coisas efêmeras e o começo das coisas perenes. E o que foi dito, será cumprido. E por isso aquele tempo significará o afastamento do mal e a aproximação daqueles que não hão de perecer.
“Isto foi o clarão do raio que apareceu depois da última água escura.”
Capítulo 74
A Bondade de Deus
Eu falei: “Senhor, quem pode fazer uma idéia da tua bondade? Ela é inescrutável. E quem pode penetrar a tua graça, que é sem limites? Ou quem pode conceber os teus desígnios? Ou quem poderia enunciar os pensamentos do teu Espírito? Ou, ainda, quem dos nascidos sobre a terra poderia ter esperança de chegar ao seu entendimento, se a ele não concedes a tua graça, e se para ele bondosamente não Te inclinas?
“Pois, se não fosses Tu que concedes a graça aos homens, ela não seria alcançada nem por aqueles que se encontram à tua direita, e que foram segregados, e destinados a pertencerem àquele número mencionado. Mas se nós, que ainda nos encontramos em vida, sabemos por que viemos; e nós, que nos submetemos àquele que do Egito nos trouxe até esta terra, podemos rememorar o passado e alegrar-nos com tudo o que aconteceu. Contudo, se não entendermos, e se não reconhecermos o poder daquele que nos conduziu para fora do Egito, então é que ficamos indagando sobre o que agora aconteceu e nos preocupando com a grande dor sobre os eventos atuais.”
Capítulo 75
Anúncio do Arrebatamento de Baruch
Ele falou-me: “Por ter sido revelado a ti o significado da visão, de acordo com tuas súplicas, ouve então a palavra do Altíssimo, a fim de que conheças o futuro que te espera! Com certeza tu te separarás desta terra, mas não para a morte; tu serás conservado para o fim dos tempos. Sobe ao topo desta montanha, e todas as regiões desta terra passarão diante dos teus olhos: a forma dos quadrantes do mundo, o cimo dos montes, a baixada dos vales, a profundidade dos mares, a quantidade dos rios! Haverás de ver o que deixas para trás no caminho que vais percorrer.
“Isso acontecerá daqui a quarenta dias. Vai agora, nestes dias. Instrui o povo na medida do que estiver ao teu alcance, para que ele saiba que não perecerá nos últimos dias! Que ele saiba, enfim: viverá nos dias derradeiros.”
Capítulo 76
Palavras de Exortação de Baruch ao Povo
Eu, Baruch, parti daquele lugar e cheguei junto ao povo e reuni desde os maiores até os menores. E falei-lhes: “O vós, filhos de Israel, prestai atenção! Vede quantos de vós sobraram das doze tribos de Israel! A vós, porém, bem como aos vossos pais, o Senhor deu acima de todos os povos a Lei. Mas por terem os vossos irmãos transgredido os Mandamentos do Altíssimo, Ele lançou o castigo sobre vós e sobre eles. Assim como não poupou aos primeiros, assim também entregou os últimos à deportação, e não deixou deles nenhum resto. Agora estais aqui comigo.
“Se em vossos caminhos andardes com retidão, não precisareis mais exilar-vos, como foram exilados os vossos irmãos; mas ao contrário, eles tornarão para junto de vós. Pois Aquele a quem prestais louvor é clemente; é rico de amor Aquele em quem tendes esperança, e solícito em fazer-vos o bem e não o mal. Acaso não semeastes aquilo que agora atinge Sião? Ou pensais porventura que somente o chão pecou, sendo por isso assolado? Ou que o reino da terra se desencaminhou, e por isso foi castigado? E por acaso não sabeis? Por vossa causa, por vossos delitos foi agredido o que era isento de pecado. Por causa dos prevaricadores foi entregue aos inimigos o que era sem culpa.”
Então o povo todo dirigiu-se a mim e falou: “Nós procuramos, na medida das nossas forças, voltar o nosso pensamento para o bem que outrora nos foi indicado pelo Todo-Poderoso. E daquilo que não mais cogitamos Ele tem conhecimento, na sua grande misericórdia. Todavia, rogamos-te a seguinte providência por nós, teu povo: manda aos nossos irmãos na Babilônia uma carta de instrução e uma carta de alento! Assim tu os fortalecerás, antes de nos abandonares. Eles sentem a falta do pastor de Israel; apagaram-se as luzes que outrora brilhavam e secaram as fontes das águas das quais bebíamos. Fomos abandonados na escuridão, na floresta espessa, no deserto, cheios de sede.
Eu falei a eles: “Os pastores, as luzes e as fontes, todos eles procederam da Lei. E mesmo que tenhamos de ir embora, a Lei permanece presente. Tende pois olhos atentos à Lei e prestai atenção na sabedoria, então não vos faltará a candeia, o pastor não irá embora, a fonte não secará. Todavia, atendendo ao vosso pedido, eu enviarei à Babilônia uma carta aos vossos irmãos, e esta manda-rei por mãos humanas. Mas outra carta mandarei também às nove e meia tribos, e essa transmitirei através de um pássaro”.
Aos vinte e um dias do oitavo mês, eu, Baruch, retirei-me e assentei-me sob um carvalho, à sombra dos seus ramos, e ninguém estava junto de mim; eu estava só. Ali eu escrevi as duas cartas; uma remeti às nove e meia tribos, através de uma águia, a outra encaminhei aos da Babilônia por intermédio de três homens. Chamei a águia para junto de mim e disse-lhe: “O Criador te fez de forma tal a seres superior às outras aves. Assim, agora, alça vôo! Não baixes em lugar nenhum! Não vás a ninho algum! Não pouses em nenhuma árvore até que não sobrevoes o grande e largo rio Eufrates e tenhas chegado junto ao povo! Lança-lhes esta carta! Lembra-te de como no tempo do dilúvio Noé recebeu da pomba o fruto da oliveira, após tê-la soltado da Arca.
“Da mesma forma, os corvos serviram a Elias, trazendo-lhe alimentos, como lhes fora ordenado. Também Salomão enviava um pássaro sempre que desejava mandar alguém a algum lugar, para obter uma informação; em cada missão, o pássaro obedecia. Agora portanto não esmoreças e não te desvies, nem à direita nem à esquerda! Voa diretamente ao destino, para cumprires a ordem do Todo-Poderoso, de acordo com a minha incumbência.”
Capítulo 77
Carta às Nove e Meia Tribos
Assim rezava a carta que Baruch, filho de Nérias, enviou às nove e meia tribos que habitavam do outro lado do Eufrates; e tinha o seguinte conteúdo: “Baruch, filho de Nérias, assim fala aos irmãos prisioneiros. A graça e a paz estejam convosco! Meus irmãos, eu penso no amor d’Aquele que nos criou e que nos tem amado desde os tempos antigos, e que nunca nos desprezou. Mas Ele agora nos impõe um terrível castigo. Na verdade, eu sei que nós todos, as doze tribos, fomos arrastados em um único cativeiro, porque de um mesmo pai procedemos todos. Por esse motivo, tanto maior é o meu zelo em deixar-vos esta carta antes da minha morte, a fim de que tenhais consolo na desgraça que vos atingiu, e novamente lamentais a infelicidade que se abateu sobre os vossos irmãos. Deveis pois reconhecer a justiça da sentença do vosso cativeiro, sendo ainda em menor medida o que sofreis, em comparação com o que cometestes! Deveis ser julgados dignos para os tempos últimos dos vossos pais.
“Considerai, portanto, que estais padecendo por vossa salvação, para no fim não serdes julgados e condenados ao sofrimento, mas fortalecidos de firme esperança. Mas antes de tudo é preciso que extirpeis do vosso coração as crenças frívolas e enganosas; foi por causa delas que tivestes de partir. Se isso puserdes em prática, Ele pensará em vós sem cessar, Ele que, por causa nossa, sempre prometeu aos homens, que eram outrora melhores do que nós, que nunca iria esquecer a nossa estirpe, nunca iria deixá-la no abandono, mas, ao contrário, na sua misericórdia, haveria de reunir novamente os dispersos.
Capítulo 78
O Cerco de Jerusalém
“Pois sabei, primeiramente, meus irmãos, o que aconteceu com Sião, para merecer dessa forma ser atacada pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor. Nós havíamos pecado contra o nosso Criador e não observamos os Mandamentos que Ele nos deu. Mas ainda não nos castigou da forma que merecíamos. O que vos atingiu nós também tivemos de sofrer. Fomos atingidos igualmente.
Capítulo 79
A Tomada de Jerusalém
“Agora, meus irmãos, eu vos dou notícias: os inimigos já haviam sitiado a cidade, quando então pelo Altíssimo foram mandados Anjos, os quais aniquilaram os contrafortes da sólida muralha e puseram abaixo as potentes fortalezas angulares de ferro; de outra forma não poderiam ter sido abatidas. Em contrapartida, eles esconderam alguns dos vasos sagrados, para que não fossem profanados pelos inimigos. Então aos inimigos eles entregaram a muralha arrasada, a casa espoliada, o Templo incendiado, junto com o povo. Tudo ficou arrasado, para que o inimigo não pudesse jactar-se, dizendo: ‘Na batalha chegamos a devastar o próprio Templo do Altíssimo!’ E eles acorrentaram os vossos irmãos e os deportaram para a Babilônia, e lá os acamparam. E nós aqui restamos em número bem pequeno. E essa a tribulação sobre a qual eu desejei agora escrever-vos. Eu sei, em verdade, que as tribulações dos habitantes de Sião vos trazem consolo. Mas vós deveis saber que elas são bem maiores de que as vossas de outrora, quando fostes obrigados a abandonar Sião.
Capítulo 80
Consolo de Sião
“Ouvi agora as palavras de consolo que vos tenho a dizer! Eu lamentava por Sião e supliquei clemência ao Altíssimo com as seguintes palavras: Quanto tempo durará esta aflição? Essas desgraças nos oprimirão para sempre? E o Todo-Poderoso, o Altíssimo, agiu segundo a sua grande indulgência, na plenitude da sua misericórdia. Ele revelou-me uma palavra que serviu-me de consolo; e mostrou-me visões, para que eu não mais me lamentas-se. Anunciou-me os segredos dos tempos futuros e deu-me a conhecer a sua vinda.
Capítulo 81
Consolação dos Exilados
“Meus irmãos, eu desejei escrever-vos para trazer-vos consolo nos vossos muitos padecimentos. Deveis saber que o nosso Criador certamente nos há de vingar de todos os nossos inimigos, pelo que eles nos fizeram! Sabei também que esse fim, preparado pelo Altíssimo, está muito próximo, como também está próxima a sua graça; e não está longe o dia do seu Ultimo Juízo. Presenciamos agora a abundância e a prosperidade dos povos que agem tão impiamente; não obstante, eles não passam de um sopro. Vemos a grandeza do seu poderio, enquanto cometem toda sorte de delitos, mas apesar disso eles não são mais do que um pingo. Vemos a persistência da sua força, enquanto ano após ano ofendem o Todo-Poderoso, no entanto eles são como uma cusparada.
“Observamos a magnificência do seu esplendor, enquanto não observam as Leis do Altíssimo, no entanto, eles se esvairão como fumaça. Consideramos como é faustoso o seu esplendor, enquanto vivem impuramente, mas eles secarão como a grama que murcha. Refletimos sobre a sua duríssima crueldade, enquanto não se preocupam com o fim, e no entanto eles se diluirão como uma onda que passa. E consideramos o seu poder arrogante, enquanto renegam os bens que de Deus receberam, e no entanto eles passarão como uma nuvem que se vai.
Capítulo 82
O Juízo Final
“O Altíssimo apressará os seus tempos; os seus tempos estão próximos. Com certeza, Ele julgará os habitantes do seu mundo, e a todos provará em verdade, segundo as obras de cada um, mesmo as mais secretas. Com certeza, Ele escrutará também os pensamentos ocultos e tudo o que se encontra no mais íntimo do coração dos homens. Ele o desvelará abertamente diante de todos, à luz do dia, com severa repreensão. Mas vós não deveis ter nenhuma preocupação com esse grande evento! Aguardemos muito mais em paz, pois a promessa que nos foi feita se aproxima. Não nos fixemos agora nas delícias desfrutadas pelos povos; consideremos muito mais as promessas dos últimos dias. Eis que se desvanecem os derradeiros tempos e períodos, e com eles tudo o que neles está contido. O fim dos mundos desvelarão grande poder daquele que os governa; pois tudo será levado a julgamento. Por isso, volvei os vossos corações para a vossa antiga fé para não serdes colhidos pelos dois mundos; aqui o cativeiro, lá as penas. Nas coisas que agora existem, que passam e que acontecem, o mal não é completamente mau, nem o bem inteiramente bom.
“O que hoje é saúde converter-se-á em doença; o que agora é vigoroso, será frágil. O que agora é força, será fraqueza. E todo o vigor da juventude se transformará em debilidade senil e em morte. E toda a admirável beleza de hoje será flacidez e feiúra. O poder arrogante tornar-se-á humilhação e vergonha. Toda a celebridade orgulhosa de hoje converter-se-á em opróbrio e olvido. Toda a vanglória e toda a pompa de hoje serão ruína e mudez. O que agora é gosto e delícia será roedura de traças, e nada mais. Toda a ruidosa gabolice de hoje converter-se-á em poeira e silêncio.
“O que agora é posse e riqueza será tragado pelo mundo inferior. O que agora é gozo da concupiscência converter-se-á em morte inevitável. Toda a cupidez das paixões de hoje será convertida em pasto do tormento. A astúcia refinada de hoje será objeto de franco escárnio. E todo o doce perfume dos ungüentos dissipar-se-á na sentença e na condenação. E toda a amizade falsa passará a ser injúria verdadeira. Quando isso tudo acontecer, pensas tu por acaso que não estará cumprida a vingança? O Fim tornará isso tudo uma realidade.
Capítulo 83
Palavras de Exortação
“Isso eu vos anuncio agora, enquanto ainda estou em vida; isso eu digo, para que seja melhor o vosso entendimento. Pois o Altíssimo encarregou-me de vos exortar. Assim, antes da minha morte, eu desejei alertar-vos sobre a ordem da sua Justiça. Lembrai-vos que outrora Moisés invocou o céu e a terra como testemunhas contra vós: ‘Se não observardes a Lei, sereis dispersados. Mas se a cumprirdes, permanecereis agregados’. E ainda mais outras coisas ele vos disse, quando vossas doze tribos estavam no deserto. Após a sua morte, pouco caso fizestes delas; por esse motivo atingiu-vos a ameaça que outrora foi feita.
“Agora vede! Moisés vos dizia que isso não haveria de acontecer-vos, e no entanto vos aconteceu; na realidade, nunca vos importastes com a Lei. Se acolherdes de boa vontade o que vos foi ordenado, então ser-vos-á concedido pelo Todo-Poderoso aquilo que com zelo fiel vos foi reservado. Entre mim e vós, sirva a presente carta como testemunho da vossa lembrança dos Mandamentos do Todo-Poderoso, e que ela me justifique junto Aquele que me enviou! Lembrai-vos da Lei, de Sião e da Terra Santa, de vossos irmãos e da Aliança dos vossos pais! Também não vos esqueçais das Festas e dos Sabbaths.
“Entregai esta carta aos vossos filhos e transmiti-lhes a Lei, como esta vos foi transmitida por vossos pais. Pedi sempre e constantemente, e rezai com toda a vossa alma para que o Todo-Poderoso seja pleno de misericórdia para convosco e não leve mais em conta os vossos muitos pecados, mas ao contrário se lembre apenas da lealdade dos vossos pais! Se Ele nos não julgar segundo a sua grande misericórdia, então ai de nós todos, os nascidos sobre a terra.
Capítulo 84
Exortações
“Sabei ainda que os homens piedosos e os santos profetas foram o apoio dos nossos pais nos tempos antigos e o arrimo das gerações passadas. Nós, naquele tempo, habitávamos livremente em nossa terra, e eles nos ajudavam quando caíamos em pecado; intercediam por nós junto ao nosso Criador, porque eles podiam ter confiança nas suas orações, e o Todo-Poderoso escutava as suas preces e apagava os nossos pecados. Agora, porém, os piedosos se foram e os profetas adormeceram; além disso, nós fomos transladados da nossa terra. Sião nos foi arrancada; nada mais nos resta agora serão o Todo-Poderoso e a sua Lei. Preparemos agora os nossos corações para recuperar o que perdemos, que é superior em larga medida ao que foi por nós desperdiçado. Aquilo que perdemos foi passageiro; o que em contrapartida alcançaremos é perene.
“Com iguais palavras eu escrevi aos nossos irmãos na Babilônia, na intenção de a eles também dar testemunho. Tende sempre diante dos olhos o que foi dito, porque até agora ainda dispomos de espírito e vontade livres! A magnanimidade do Altíssimo está aqui conosco; Ele revelou-nos o futuro e não escondeu de nós o que acontecerá no final. Antes que o Julgamento reivindique o que é seu, aquilo que lhe é próprio, isto é, a verdade, preparemo-nos, para que possamos receber e não sermos entregues; para que possamos ter esperança e não sermos cobertos de vergonha; para que possamos gozar das delícias com os nossos pais e não padecer tormentos com os nossos inimigos.
“A juventude do mundo já passou, a plenitude das energias da Criação há muito chegou ao fim; a vinda dos tempos últimos está quase presente, e quase já passou. Pois o cântaro está próximo da fonte, o navio próximo do porto, a caravana próxima da cidade, a vida próxima do fim. Preparai-vos, para que possais estar tranqüilos quando fordes embarcados no navio, para não serdes sentenciados depois de partir! Porque, quando o Altíssimo tudo isso tornar realidade, não haverá nova oportunidade de arrependimento, nem um novo fim dos tempos, nem duração das horas, nem mudanças de caminho, nem ocasião para orações ou para súplicas, nem busca do entendimento, nem doação por amor, nem mais ocasião de compunção da alma, nem a intercessão pelos pecados, nem a interpelação dos Patriarcas, nem as lamentações dos Profetas, nem o auxílio dos Justos.
“Naquela hora, verificar-se-á a sentença da condenação, o caminho para o fogo, a trilha do inferno. Por isso é que existe uma Lei transmitida por alguém (Moisés), e um mundo, e um fim para todos os que a Ele pertencem. Então, Ele vivificará aos que puder perdoar; mas no mesmo momento eliminará aqueles que estiverem manchados pela culpa.
Capítulo 85
A Utilização da Carta
“Quando esta carta chegar às vossas mãos, lede-a com toda a diligência, em vossas reuniões, e meditai sobre eles, especialmente nos dias dos vossos jejuns! E pensai em mim, ao ler a presente carta, assim como eu pensei em vós, ao escrevê-la, e ainda sempre penso.”
Capítulo 86
O Envio da Carta
Depois de haver completado esta mensagem, tendo-a escrito com todo o cuidado até o fim, dobrei-a, lacrei-a cautelosamente e dependurei-a ao pescoço da águia. Então eu a soltei e a despedi, com a presente carta. Fim
Ok ! Muito interessante. Mas achei que falaria do momento do arrebatamento de Baruch. Isto foi meio vago ao meu ver