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EVANGELHO DE TIAGO – APOCRIFO


 

PROTO-EVANGELHO DE TIAGO

A INFÂNCIA DE CRISTO SEGUNDO TIAGO

A Natividade de Maria

 

Segundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim, que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo:

Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos. Rubem se pôs à frente de Joaquim, dizendo-lhe:

Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel, com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido prosperidade em seu povoado.

Examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se, por exemplo, de como o Senhor deu Isaac ao patriarca Abraão, em seus derradeiros anos de vida.

Joaquim ficou muito atormentado, não procurou sua mulher e se retirou para o deserto.

Ali armou sua tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo:

Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo:

Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada:

Disse Ana:

Replicou Judite:

Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo:

Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo:

 

 

 

Não às bestas da terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim! A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e te bendiz, Senhor.

Eis que se lhe apresentou o anjo de Deus, dizendo-lhe:

Ana respondeu:

Então vieram a ela dois mensageiros com este recado:

Tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha.

Disse ele:

Mandou, então separar doze novilhas de leite, dizendo:

Ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo:

Então Joaquim repousou naquele dia em sua casa.

No dia seguinte, ao ir oferecer sua dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo:

Ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de Deus, e, não encontrando pecado algum em sua consciência, disse:

Desceu Joaquim justificado do templo e foi para casa. O tempo de Ana cumpriu-se e no nono mês deu à luz.

Perguntou à parteira:

Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e pôs-lhe o nome de Maria.

Dia a dia a menina ia robustecendo-se. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se sustentava-se de pé. Ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe. Esta levantou-se, dizendo:

 

 

 

Fez-lhe um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebréias, todas virgens, para que a entretivessem.

Quando a menina completou um ano, Joaquim deu um grande banquete, para o qual convidou os sacerdotes, os escribas, o sinédrio e todo o povo de Israel. Apresentou a menina aos sacerdotes, que a abençoaram assim:

Ao que todo o povo respondeu:

Apresentou-a também Joaquim aos príncipes e aos sacerdotes e estes a abençoaram assim:

Sua mãe levou-a ao oratório de sua casa e deu-lhe o peito. Compôs, então, um hino ao Senhor Deus, dizendo:

Tendo deixado a menina para que repousasse na câmara onde havia o oratório, saiu e pôs-se a servir os comensais. Estes, uma vez terminada a ceia, saíram regozijando-se e louvando ao Deus de Israel.

Entretanto, os meses iam-se passando para a menina. Ao fazer dois anos, disse Joaquim a Ana:

Ana respondeu:

Joaquim respondeu:

Ao chegar aos três anos, disse Joaquim:

Assim fizeram enquanto iam subindo ao templo de Deus. Lá recebeu-a o sacerdote, o qual, depois de tê-la beijado, abençoou-a e exclamou:

Fê-la sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre a menina, que dançou cativando toda a casa de Israel.

Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia olhado para trás. Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de um anjo.

Ao completar doze anos, os sacerdotes reuniram-se para deliberar, dizendo:

 

 

 

não chegue a manchar o santuário?

Disseram ao sumo sacerdote:

O sumo sacerdote, cingindo-se com o manto das doze sinetas, entrou no Santo dos Santos e orou por ela. Eis que um anjo do Senhor apareceu, dizendo-lhe:

Saíram os arautos por toda a região da Judéia e, ao soar a trombeta do Senhor, todos acudiram.

José, deixando de lado sua acha, uniu-se a eles. Uma vez que se juntaram todos, tomaram cada qual seu bastão e puseram-se a caminho, à procura do sumo sacerdote. Este tomou todos os bastões, entrou no templo e pôs-se a orar. Terminadas as suas preces, tomou de novo os bastões e os entregou, mas em nenhum deles apareceu sinal algum. Porém, ao pegar José o último, eis que uma pomba saiu dele e se pôs a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse:

Então tornou o sacerdote:

Ele, cheio de temor, recebeu-a sob proteção. Depois, disse-lhe:

Os sacerdotes, então, reuniram-se e concordaram em fazer um véu para o templo do Senhor.

O sumo sacerdote disse:

Os ministros se foram e, depois de terem procurado, encontraram sete virgens. Então o sacerdote lembrou-se de Maria, a jovenzinha que, sendo de estirpe davídica, se conservava imaculada aos olhos de Deus. Os emissários foram buscá-la.

Depois de as terem introduzido no templo, disse o sacerdote:

O escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, foi para casa.

Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel, até quando pôde falar novamente. Maria tomou em suas mãos o escarlate e pôs-se a tecê-lo.

Certo dia, pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Eis que ouviu uma voz que lhe dizia:

Tremendo, voltou para casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e pôs-se a tecê-la. Logo um anjo do Senhor apresentou-se diante dela, dizendo:

 

 

 

por Sua palavra!

Ela, ao ouví-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma:

Ao que lhe respondeu o anjo:

Concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo:

la, Isabel largou o escarlate, correu para a porta, abriu-a e, vendo Maria, louvou-a dizendo:

Maria havia se esquecido dos mistérios que o anjo Gabriel lhe comunicara, elevou os olhos aos céus e disse:

Passou três meses em casa de Isabel. Dia a dia seu ventre aumentava e, cheia de temor, pôs-se a caminho de casa e escondia-se dos filhos de Israel. Quando sucederam essas coisas, ela contava dezesseis anos.

Ao chegar Maria ao sexto mês de gravidez, voltou José de suas construções e, ao entrar em casa, deu-se conta de que ela estava grávida. Então, feriu seu próprio rosto, jogou-se no chão sobre uma manta e chorou amargamente, dizendo:

Levantando-se, José chamou Maria e disse-lhe:

Ela chorou amargamente dizendo:

José encheu-se de temor, retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela. Dizia consigo próprio:

Enquanto isso, caiu a noite. Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos,

 

 

 

dizendo-lhe:

Ao despertar, José levantou-se, glorificou a Deus de Israel por haver-lhe concedido tal graça e continuou guardando Maria.

Por essa ocasião, veio à casa de José um escriba chamado Anás, que lhe disse:

Então, correu ao sacerdote, dizendo-lhe:

Disse o sacerdote:

juntamente com José, ante o tribunal.

O sacerdote iniciou, dizendo:

Ela se pôs a chorar amargamente, dizendo:

Então o sacerdote dirigiu-se a José, perguntando-lhe:

José guardou silêncio.

José ficou com os olhos marejados em lágrimas. Acrescentou ainda o sacerdote:

Tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha, de onde voltou são e salvo. Fez o mesmo com Maria, enviando-a também à montanha, mas ela voltou sã e salva.

Toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.

 

 

 

Disse o sacerdote:

Então despediu-os. Tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvado ao Deus de Israel.

Veio uma ordem do imperador Augusto para que se fizesse o censo de todos os habitantes de Belém da Judéia.

Disse José:

Selando sua asna, fez com que Maria se acomodasse sobre ela. Enquanto um de seus filhos ia à frente, puxando o animal pelo cabresto, José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância de Belém, José virou-se para Maria e viu que ela estava triste.

Disse consigo mesmo:

Ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo e indagou-lhe:

Ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José:

Encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado seus filhos com ela, foi buscar uma parteira na região de Belém.

Eis que José encontrou-se andando, mas não podia avançar. Ao levantar seus olhos para o espaço, pareceu lhe ver como se o ar estivesse estremecido de assombro.

Quando fixou vista no firmamento, encontrou-o estático e os pássaros do céu, imóveis. Ao dirigir seu olhar à terra, viu um recipiente no solo e uns trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha.

Os que pareciam comer, na realidade não mastigavam, e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato. Finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos voltados para cima.

Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo. Estavam paradas. O pastor levantou sua destra para bater-lhes com um cajado, mas parou sua mão no ar.

Ao dirigir seu olhar à corrente do rio, viu como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.

Então uma mulher que descia da montanha disse-lhe:

Ao que ele respondeu:

 

 

 

Ele respondeu:

Insistiu a parteira:

Então a parteira se pôs a caminho junto com ele. Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava sombreada por uma nuvem luminosa.

Exclamou a parteira:

Ao sair a parteira da gruta, veio ao seu encontro Salomé.

Uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana.

Salomé replicou:

Havendo entrado a parteira, disse a Maria:

Salomé, pois, introduziu seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito, dizendo:

Dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo:

Apareceu um anjo do céu, dizendo-lhe:

Acercou-se Salomé e o tomou, dizendo:

De repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia:

 

 

 

José dispôs-se a partir para Judéia. Por essa ocasião, sobreveio um grande tumulto em Belém, pois vieram um magos dizendo:

Herodes, ao ouvir isso, perturbou-se. Enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os sacerdotes, fazendo-lhes esta pergunta:

Replicou Herodes:

Naquele instante, a estrela que haviam visto no Oriente voltou novamente a guiá-los, até que chegaram à caverna e pousou sobre a entrada dela. Vieram, então, os magos a ter com o Menino e Sua mãe, Maria, e tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.

Depois, avisados por um anjo para que não entrassem na Judéia, voltaram a suas terras por outro caminho.

Ao dar-se conta Herodes de que havia sido enganado, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a missão de assassinar todos os meninos de menos de dois anos.

Quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho em fraldas, colocou-o numa manjedoura.

Quando Isabel inteirou-se de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha. Pôs-se a ver onde haveria de escondê-lo, mas não havia um lugar bom para isso. Entre soluços, exclamou em voz alta:

Nesse instante, abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Acompanhou-os uma grande luz, pois estava com ele um anjo de Deus para guardá-los.

Herodes prosseguia na busca de João e enviou seus emissários a Zacarias para que lhe dissessem:

Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo mesmo:

Zacarias respondeu:

 

 

 

será recolhida pelo Senhor, ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário. Ao romper da aurora, foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.

Os sacerdotes se reuniram à hora da saudação, mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume, para abençoá-los. Puseram-se a esperá-lo para saudá-lo na oração e para glorificar o Altíssimo.

Ante sua demora, começaram a ter medo. Tomando ânimo, um deles entrou, viu ao lado do altar sangue coagulado e ouviu uma voz que dizia:

Ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes que, tomando coragem, entraram e testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a baixo.

Não encontraram o corpo, somente a poça de sangue coagulado. Cheios de temor, saíram para informar   a todo o povo que Zacarias havia sido assassinado. A notícia correu em todas as tribos de Israel, que o choraram e guardaram luto por três dias e três noites.

Concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar. Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo Espírito Santo, havia sido assegurado de que não veria a morte até que lhe fosse dado contemplar o Messias Encarnado.

Eu, Tiago, escrevi esta história. Ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém, por ocasião da morte de Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus, que me concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.

Que a graça esteja com todos aqueles que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a glória por todos os séculos dos séculos.

Amém.

 


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