1093

Anselmo é escolhido arcebispo de Cantuária

Um dos maiores teólogos da Inglaterra nasceu na Itália e brigou com dois reis.

Anselmo nasceu nos Alpes italianos por volta de 1033. Ele não realizou o desejo de seu pai de entrar para a política, optando por viajar pela Europa durante vários anos. Como muitos jovens brilhantes e inquietos de seus dias, entrou para um mosteiro. Em Bec, na Normandia, sob a supervisão do notável professor Lanfranc, Anselmo daria início a uma carreira notável.

Em 1066, o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, invadiu a Inglaterra. Nos anos que se seguiram, o novo rei trouxe muitos professores e clérigos normandos para a Inglaterra. Entre eles Lanfranc, que se tornou arcebispo de Cantuária, em 1070. Anselmo assumiu o lugar de seu mentor como abade de Bec.

Em 1093, Guilherme n, filho do conquistador, escolheu Anselmo para ser o arcebispo de Cantuária, mas esse movimento não melhorou as relações da igreja com o Estado. O rei, obstinado e agressivo, desejava o direito de indicar os clérigos de todo o reino. Anselmo, homem humilde que queria proteger a igreja, suas terras e seus bens das mãos de reis gananciosos, recusou-se a aceitar isso. Durante algum tempo, o arcebispo viveu exilado na Itália. Guilherme confiscou todos os recursos da igreja que iam para Cantuária.

Quando Guilherme morreu, seu irmão Henrique I ο sucedeu. Embora ele tenha pedido a Anselmo que retornasse, as batalhas entre a igreja e o Estado não terminaram. Henrique era tão mau quanto seu irmão, e Anselmo foi mais uma vez para o exílio.

Anselmo, durante o tempo que passou na Inglaterra, mostrou ser um pastor compassivo e administrador capaz. Quando foi exilado para o continente, ele se revelou um grande teólogo, pois foi ali que compôs sua maior obra.

Em Por que Deus se fez homem?, Anselmo lançou uma teoria sobre a maneira pela qual a morte de Cristo na cruz reconcilia o homem com Deus. Anselmo disse que Deus é o Senhor do cosmo, um ser cuja honra é ofendida pelo pecado humano. Embora deseje perdoar o homem com o objetivo de manter a ordem moral no universo, Deus não pode simplesmente “negligenciar” o pecado. Alguma satisfação deve ser dada, o que seja equivalente à ofensa. Uma vez que o pecado é coisa do homem, a justificação deve ser dada pelo homem. Contudo, o homem não pode atender à exigência de maneira adequada. Desse modo, Deus se torna homem, e aquele que cumpre as exigências é tanto Deus quanto homem: Cristo.

A idéia de Anselmo ficou conhecida como a teoria da satisfação da expiação e, provavelmente, ainda é a explicação teológica mais usada da obra expiatória de Cristo. Ela possui fontes bíblicas como “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens…” (2Co 5.19).

Anselmo foi um dos componentes do movimento chamado escolasticismo, formado por estudiosos cristãos que tentavam colocar a lógica a serviço da fé. Embora Anselmo conhecesse a Bíblia muito bem, estava disposto a testar o poder da lógica humana e, até mesmo, a colocar de lado a fé baseada na Bíblia para tentar provar suas doutrinas. Porém, a fé sempre foi fundamental. Na obra Proslogium, originariamente intitulada Fides quaerens intellectum [Fé que busca compreensão], Anselmo faz a famosa afirmação: “Creio para poder entender”. Ao declarar isso, ele queria dizer que todos os que buscam a verdade devem primeiramente ter fé, e não o oposto. Ele lançou o argumento ontológico para que acreditemos em Deus. De maneira resumida, disse que a razão humana exige a idéia de um Ser perfeito e que, portanto, esse Ser deve existir. Essa idéia fascina os filósofos e os teólogos de todas as eras.

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