1215
O IV Concilio de Latrão
O papa Inocencio IV, que governou de 1198 a 1216, criou o mais poderoso papado da historia medieval. Esse homem influente e talentoso buscou trazer ordem e disciplina à igreja. Reformou e centralizou a administração eclesiástica, além de ter se envolvido nos casos políticos de sua época.
Inocencio queria que o papado controlasse tanto as questões da igreja quanto os assuntos do Estado. Ao passo que os papas anteriores haviam atribuído a si mesmos a designação “Vigário de Pedro”, Inocencio reivindicou o direito de ser chamado “Vigário de Cristo”. Ao afirmar que era o representante de Cristo na terra, declarou que o papa era um “mediador entre Deus e os homens, abaixo de Deus, mas acima dos homens”. Com grande vigor, assumiu as tarefas de seu ofício, quer excomungando príncipes rebeldes, quer expulsando hereges.
Em 1215, no IV Concilio de Latrão, a igreja adotou muitas das idéias de Inocencio. Em sessões que chegaram a durar até três dias, foram estabelecidos centenas de decretos.
Como Inocencio estava preocupado com o fato de que todo cristão batizado deveria mostrar alguma aparência de cristianismo, o concilio estabeleceu que, anualmente, toda pessoa deveria fazer uma confissão a um sacerdote e tomar parte na comunhão.
Nesse Concilio, a doutrina da transubstanciação tornou-se oficialmente parte da igreja. De maneira não oficial, a idéia de que o pão e o vinho da comunhão eram realmente o corpo e o sangue de Cristo já circulava havia vários anos. A igreja via a participação na comunhão como parte importantíssima da salvação. O fato de a comunhão ser negada a alguém, como no caso da excomunhão, representava um grande perigo para a alma. Ao ter acesso ao sangue e corpo de Cristo, o sacerdote desempenhava um papel vital na autoridade da igreja. A excomunhão exercia grande poder, porque negava às pessoas o acesso ao próprio Cristo.
Cônscio da ignorância de muitos sacerdotes, Inocencio encorajou o Concilio a decretar que toda catedral deveria ter um professor de Teologia. Desse modo, alguém daria aos sacerdotes a instrução necessária.
Em anuência à visão de Inocencio, referente à autoridade do papa, ou seja, sua crença de que somente havia uma igreja verdadeira e, portanto, apenas um repositório de verdade espiritual, estabeleceu um papado mais poderoso. Discordar da igreja não era mais uma questão de opinião; o here-ge colocava em risco tanto sua alma quanto a de outros. O Concilio deu ao Estado o direito de punir os here-ges e confiscar suas propriedades. As autoridades que não removessem o herege enfrentariam a excomunhão, e os que cooperassem com a igreja receberiam perdão completo.
Uma vez mais, a igreja enfrentou a questão da indicação secular das autoridades da igreja. Ela negava o direito aos governadores seculares de apontarem bispos em seus reinos. Somente o papa poderia colocar ou remover bispos, de acordo com o Concilio. Inocencio já se recusara a aceitar o arcebispo de Cantuária, indicado pelo rei inglês John. Para forçar John a obedecer, o papa o excomungou. Diante da possibilidade de perder seu trono, o rei teimoso terminou por se submeter.
O Concilio também declarou que os judeus deveriam usar uma identificação especial. Os cristãos ficaram proibidos de fazer qualquer tipo de negócio com eles. Com o tempo, isso levaria à criação dos guetos.
Por meio desse e de outros decretos, Inocencio criou uma instituição que teria influência dominante em toda a Europa até a época da Reforma.