1273
Tomás de Aquino completa sua Suma teológica
O homem, cujo sistema teológico se tornaria o guia de sua igreja, era chamado de “boi mudo” por seus colegas em Colônia. Embora o apelido pudesse se adequar tanto ao seu porte corpulento e lerdo quanto à sua conduta bastante séria, de modo algum refletia a agilidade mental por trás da aparência.
Tomás de Aquino foi o maior teólogo da Idade Média. Nasceu em 1225, numa família de nobres abastados. Aos cinco anos, já era conhecido por sua piedade, e seus pais o enviaram para a escola de uma abadia. Aos catorze anos, foi para a Universidade de Nápoles, onde Tomás ficou tão impressionado com seu professor dominicano que decidiu tornar-se também monge dessa ordem.
A família de Tomás se esforçou bastante na tentativa de mudar sua decisão, chegando até mesmo ao extremo de seqüestrá-lo, e, além de tentá-lo, chegaram a confiná-lo por um ano; por fim, desistiram. Tomás foi para Paris a fim de estudar com Aberto Magno.
Naquela época, os filósofos não-cristãos atiçavam a mente dos pensadores cristãos. As obras de Aristóteles, do muçulmano Averróis e do judeu Maimônides foram traduzidas para o latim. Os estudiosos ficaram fascinados por esses filósofos que explicavam todo o universo sem qualquer referência às Escrituras do Novo Testamento.
Dando continuidade à tradição do escolasticismo, Tomás tentou reconciliar as correntes da teologia e da filosofia, aparentemente diferentes. Fazia distinção entre as duas, às quais se referia como razão e revelação, apesar de enfatizar que elas não se contradiziam, necessariamente. Ambas eram fontes de conhecimento, dizia ele, vindas de Deus, mas “na teologia sacra, todas as coisas são tratadas da perspectiva de Deus”.
Tomás entendia as limitações da razão. Ela é baseada somente no conhecimento sensorial e, conforme dizia, embora possa nos levar a acreditar em Deus, somente a revelação pode apresentar o Deus trino da Bíblia. Somente a revelação pode mostrar plenamente as origens e o destino do homem. Ao usar a revelação e as deduções lógicas baseadas nela, o homem pode construir uma teologia que explica a si mesmo e ao universo.
Os complexos argumentos da Suma teológica mostram a habilidade de Tomás de Aquino com relação ao desenvolvimento de um raciocínio bastante intrincado. Em um primeiro momento, houve bastante oposição às suas idéias. Muitas pessoas não aprovavam a ênfase que os escolásticos davam à razão. Não demorou muito, porém, para que essa e outras obras, como a Suma contra os gentíos — que já causara discussão anteriormente —, se tornassem parte de grande destaque da doutrina da igreja. No Concilio de Trento, o catolicismo usou as obras de Aquino quando dispôs suas forças contra o surgimento do protestantismo.
Embora ele tenha se tornado um dos teólogos, um dos mestres e um dos pregadores da igreja mais proeminente, Aquino continuava sendo um homem humilde. Três meses antes de sua morte, em 1274, anunciou que uma visão celestial lhe mostrara claramente que sua visão teológica “era simplesmente um monte de palha”. Ele desistiu de produzir obras teológicas, e a Suma teológica nunca foi concluída.