1549
Cranmer produz o Livro de oração comum
Uma igreja surgida com a Reforma foi a que passou por menos reformas. Sob a liderança de Henrique viu, a Inglaterra se afastou da Igreja Católica, mas as poucas mudanças que o rei fez para construir a Igreja Anglicana de modo algum produziram uma igreja verdadeiramente protestante. O homem que levaria a Inglaterra na direção da Reforma foi Tomás Cranmer, arcebispo de Cantuá-ria, que declarou que o primeiro casamento de Henrique estava invalidado. O calmo homem, que fora grandemente influenciado pelo lute-ranismo, era genuinamente devoto e leitor dedicado das obras dos pais da igreja. Ele chamou a atenção de Henrique quando expressou sua posição diante do futuro divórcio do rei.
Cranmer não poderia instituir muitas mudanças na Igreja da Inglaterra enquanto Henrique vm estivesse no trono. Contudo, após a morte do monarca, Eduardo VI, seu filho de nove anos de idade, tornou-se rei. Cranmer foi um de seus regentes.
Apoiado pelo estudioso Nicholas Ridley e pelo pregador Hugh Latimer, Cranmer deu continuidade à Reforma inglesa. As imagens foram removidas das igrejas, e as confissões particulares aos sacerdotes foram interrompidas. O clero teve permissão para se casar e usar tanto o vinho quanto o pão na comunhão. Estudiosos calvinistas da Europa — Martin Bucer, João à Lasco e Pedro Mártir, entre outros — tornaram-se professores em Oxford e em Cambridge.
Porém, a forma de culto ainda não fora alterada. A missa ainda era celebrada em latim e o povo já começava a protestar quanto a isso.
Cranmer tinha um excelente conhecimento da língua inglesa, além de profunda erudição e bom senso com relação ao que era adequado para o momento de adoração. A luz da volátil situação política e religiosa da Inglaterra, o arcebispo teve de liderar um comitê, que criaria uma liturgia que fosse agradável tanto a protestantes quanto a católicos. A adaptação apresentada no Livro de oração comum usava os rituais já estabelecidos, mas removia os elementos católicos que ofendiam a muitos protestantes. O Ato de Uniformidade — que se tornou lei em 1549, ano em que o livro foi publicado — exigia que as igrejas usassem essa liturgia.
O Livro de oração comum dava à igreja uma forma de adoração clássica que era um meio-termo entre o catolicismo e protestantismo, mas muitos reclamaram que ela não era suficientemente protestante. Em 1552, foi publicada uma versão revisada e mais protestante.
Além disso, Cranmer produziu os Quarenta e dois artigos, um credo assinado pelo jovem rei. Como o Livro de oração comum, os artigos serviram para reunir todo o clero.
Quando o rei morreu, a primeira filha de Henrique, Maria, tornou-se rainha. Ela, em um reinado curto e severo, que lhe rendeu a alcunha de “Maria, a Sanguinária”, tentou levar a Inglaterra de volta ao catolicismo. Cranmer, devido à pressão excessiva, cedeu às exigências de Maria para que retornasse à fé católica e assinou declarações que revogavam as crenças protestantes. Em seu último julgamento, em 1556, porém, afirmou publicamente suas crenças e negou as afirmações que assinara. Como muitos outros líderes protestantes — incluindo Ridley e Latimer, que foram queimados no ano anterior — ele foi condenado. Diante da fogueira, colocou em primeiro lugar a mão com a qual havia assinado as declarações, de modo que ela pudesse ser a primeira parte do seu corpo a ser reduzida a cinzas.
O livro pelo qual o mártir Cranmer foi grandemente responsável voltaria à vida sob o governo da irmã de Maria. Elisabete, a segunda filha de Henrique, levou a Inglaterra de volta à Reforma.