1811 Os Campbells dão início aos Discípulos de Cristo

1811

Os Campbells dão início aos Discípulos de Cristo

Thomas Campbell dava boas-vindas a todas as pessoas que viessem cultuar em sua igreja. Ele pastoreava uma congregação na parte ocidental da Pen-silvânia que pertencia à Igreja Presbiteriana Separatista, uma denominação dissidente, cujas raízes eram escocesas. Triste em razão das divisões mesquinhas que as doutrinas de homens acarretavam, Campbell estava disposto a receber qualquer presbiteriano que viesse até sua igreja, assim como permitia que membros de outras igrejas participassem da comunhão, quer fossem separatistas, quer não.

Porém, o presbiterio não gostou disso, pois o regimento proibia essa prática. Eles promoveram uma investigação oficial sobre o assunto e condenaram Campbell.

Em resposta, Campbell escreveu ao Sínodo. Ele explicou seus princípios que, na verdade, eram idéias que, em breve, o levariam a formar uma nova denominação. A igreja precisava de unidade e deveria romper com formulações teológicas humanas, para seguir os claros ensinamentos das Escrituras. Ele venceu esse caso. O Sínodo reverteu a condenação do presbiterio, mas um sentimento de amargura permaneceu entre os pastores amigos de Campbell. Assim, ele decidiu sair e começar sua própria igreja.

Thomas Campbell fora pastor por muitos anos no norte da Irlanda, mas mudara-se para os EUA por razões de saúde. Deixou a igreja e a escola que conduzia na Irlanda nas mãos de seu filho, Alexander, um jovem muito capacitado para o cargo.

Os EUA ainda eram o Novo Mundo. Suas fronteiras começavam nos Apalaches e estendiam-se a oeste. Em termos religiosos, a onda do avivamen-to estava terminando. O avivamento começou com Whitefield e Edwards na costa leste e rumou para o oeste. Os avivamentos das reuniões ao ar livre (camp meetings) começaram no Estado de Kentucky por volta do ano 1800 e ainda havia lampejos dele ao longo da fronteira.

Ironicamente, porém, os avivamentos podem causar divisão. O despertamiento no oeste foi bastante diferente daquele que ocorreu na costa leste. O leste, por exemplo, ouvia o erudito Jonathan Edwards arrazoando cuidadosamente sobre a ira de Deus e a necessidade de reconciliação. O oeste tinha um bando de pregadores das partes mais remotas, com pouco treinamento teológico, que se colocavam em pé atrás de uma carroça para persuadir os pecadores a ficar de bem com Deus. Era uma diferença não apenas de estilo, mas também de teologia. O avivamento da costa leste era mais presbiteriano, e o do oeste, mais metodista; o leste era mais calvinista, e o oeste, mais arminiano; o leste era mais eclesiástico, e o oeste, mais individualista.

Desse modo, existiram várias dissidências no início do século xix: o Presbiterio de Cumberland, os shakers, o movimento da Nova Luz de Barton Stone e, agora, o grupo de Thomas Campbell.

Campbell fazia reuniões em qualquer lugar em que possível: em celeiros, em casas e nos campos, atraindo um grande número de seguidores. Chamava o grupo Associação Cristã de Washington (na comarca de Washington, Pensilvânia) e escreveu a Declaração e Alocução, que serviu como documento de fundação do movimento. Como outros fundadores da igreja, ele não tinha desejo genuíno de romper com a igreja oficial, mas foi compelido pela necessidade de caminhar em certa direção, já que nenhuma igreja parecia propensa a trilhar esse caminho. Para Campbell, a direção era bíblica e simples. Seu mote foi: “Onde as Escrituras falam, nós falamos; onde as Escrituras se calam, nós nos calamos”.

O filho de Thomas, Alexander Campbell, chegou da Irlanda em 1809 e imediatamente embarcou com seu pai nesse empreendimento. Ele tinha apenas 23 anos, mas era extremamente talentoso, pois era um bom orador e um debatedor arguto. Juntos, fundaram a Igreja de Brush Run em 1811 (depois de a entrada na Igreja Presbiteriana lhes ter sido negada). Estudando as Escrituras, os Campbells chegaram à conclusão que o batismo de crentes por imersão era o correto, ao contrário do batismo infantil que praticavam, de modo que começaram a rebatizar os membros da igreja.

Nesse aspecto, eram essencialmente batistas, de modo que se filiaram à Associação Batista de Redstone em 1812. Alexander Campbell tornou-se figura importante na Igreja Batista, fazendo várias palestras e publicando um periódico chamado The Christian Baptist [O Cristão Batista]. Também fundou um seminário em Bethany, no oeste da Virgínia. Campbell estava sempre tentando levar a igreja de volta ao Novo Testamento, outra vez ao que ele julgava ser o caminho bíblico. Escreveu uma série de artigos em seu jornal sob o título “A restauração da antiga ordem das coisas”.

Nem todos os batistas gostaram disso. Campbell achava que muitos ensinamentos batistas eram muito calvinistas e os atacava com freqüência. Discordava também da compreensão que os batistas tinham do batismo. Os batistas consideravam esse ato uma ordenança que apenas representava a salvação que já ocorrera anteriormente. Campbell, porém, baseou-se em diversas passagens do Novo Testamento, que traziam a expressão “arrepender e ser batizado”, para argumentar que o batismo era uma condição necessária para o perdão. Campbell também rejeitava as tentativas de ir além das Escrituras na explicação da Trindade.

No final de 1820, as tensões chegavam a um ponto insuportável. Os seguidores de Campbell deixaram a Associação Batista e, em 1832, uniram-se à Igreja Cristã de Barton Stone. (Tanto Campbell quanto Stone queriam nomes simples e bíblicos para seus grupos, abstendo-se do denomi-nacionalismo. A partir disso, “Cristãos” e “Discípulos de Cristo” foram nomes usados indistintamente pelos dois movimentos que se uniram.) Nesse momento, o grupo era formado por cerca de 25 mil membros.

O movimento continuou a crescer, parcialmente devido à preeminencia pessoal de Alexander Campbell, que atuou como delegado na convenção constitucional da Virgínia em 1829. Tiago Madison, seu colega na delegação, disse o seguinte sobre ele: “Eu o considero como o mais hábil e mais original expositor das Escrituras que já ouvi”.

A ampliação do movimento também se deveu em parte à expansão da fronteira ocidental. Os discípulos tinham um evangelho simples para um momento simples. Alexander Campbell era anti-escravagista desde o início, mas não foi um abolicionista veemente. Portanto, a igreja não se dividiu durante a Guerra Civil. Na virada para o século XX, havia cerca de um milhão de discípulos de Cristo.

A importância dos Campbells reside não apenas na fundação de uma denominação importante, mas na adoção de uma fé bíblica bastante simples.

A história da igreja está repleta de histórias de tensão entre a religião formal e a fé simples. Os Cam-pbells protegeram muitas pessoas da opressão da formalidade, levando-as a uma fé mais pessoal. Gerados e nutridos nas partes mais distantes de uma nação emergente, os discípulos se tornaram um grande exemplo do cristianismo americano daquela época. Eles ajudaram a preparar o terreno para os movimentos reavivai istas e para os fundamentalistas.

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