1910 – 1915
Publicação da obra Os fundamentos lança o movimento fundamentalista
Lyman Stewart tinha um sonho. Ele também possuía muito dinheiro. O presidente da Union Oil Company estava preocupado com o crescimento do modernismo nas igrejas americanas. Alguma coisa deveria ser feita com relação a isso. As pessoas precisavam ser alertadas. O cristão comum tinha de ficar consciente da ameaça à fé tradicional. Talvez um livro, uma série de livros, um esforço maciço de informação. Stewart, entretanto, sabia que ele não era um erudito.
Certo dia, quando estava sentado na igreja, ouviu a mensagem de A. C. Dixon, pastor da Igreja Moody de Chicago. Esse era o homem que ele precisava. Depois do culto, Stewart conversou com Dixon sobre as idéias que nutria. “Isto é do Senhor”, disse Dixon. “Vamos orar a respeito.”
Esse foi o início de um empreendimento de publicações que deu o nome ao movimento fundamentalista, como também, talvez, tenha dado o seu foco. Dixon reuniu em torno de si um conjunto impressionante de líderes cristãos, formando a editora Tes-timony Publishing Company. Lyman Stewart obteve ajuda financeira de seu irmão, Milton. Juntos, eles investiram 300 mil dólares no projeto. Expositores bíblicos de destaque foram procurados para escrever artigos para uma série de livros de 125 páginas. Os artigos cobriam doutrinas básicas assim como questões do dia-a-dia, como o socialismo, a evolução e as finanças. Dixon editou os cinco primeiros livros e, depois, mudou-se para Londres. Louis Meyer editou os cinco seguintes antes de morrer. R. A. Torrey editou os dois últimos. Os irmãos Stewart não tiveram seus nomes mencionados nos doze livretos, pois se autodenominavam “dois cristãos leigos”.
Ao todo, foram publicados cerca de três milhões de exemplares em um espaço de seis anos, que foram distribuídos “a todos os pastores, evangelistas, missionários, alunos de teologia, superintendentes de escola dominical ou secretários das associações cristãs de moças e de moços” que eles pudessem encontrar. Um terço desses livretos foi enviado para fora do país, a maioria deles para a Inglaterra.
Não fica claro qual foi o impacto dos livros. Os fundamentos, como as apologias mais primitivas da igreja, provavelmente, contribuíram mais para unir e educar os que já concordavam com ele do que para convencer e converter seu público-alvo. O termo “fundamentalista” foi cunhado em 1920 por Curtis Lee Laws, editor batista, quando se referiu aos batistas conservadores que se apegavam aos “fundamentos” da fé.
Em retrospectiva, parece que o movimento fundamentalista sintetizava algumas tendências anteriores da igreja americana e se opunha fortemente a várias tendências da sociedade e da erudição liberal. É difícil ter uma idéia precisa sobre isso. O movimento foi social e teológico, alarmista e evangelístico, triunfalista e desesperador.
Comece com a tradição do avivamento, mais claramente exemplificada por Dwight L. Moody. Ela ensinava que os pontos principais da teologia não eram importantes, comparados à conversão das almas para o Reino de Deus.
Adicione a tradição Holiness, preocupada com a santidade e com fortes raízes no campo metodista, que se propagou, no final do século XIX, pelas Conferências Keswick. A retidão pessoal era considerada um resultado essencial de uma vida íntima com Jesus Cristo.
Junte a tudo isso um crescente sentimento milenarista. Com a aproximação do século XX, o sentimento de que o mundo poderia acabar rapidamente era cada vez maior. O passo rápido da revolução industrial fez com que muitas pessoas pensassem quais seriam as conseqüências de tudo aquilo que acontecia. As conferências proféticas foram abundantes no final do século XIX. Alguns cristãos, olhando de forma otimista para os feitos humanos, prediziam que o século XX seria o “século cristão”. Os pós-milenaristas sustentavam que os cristãos promoveriam uma era de justiça e de paz. No entanto, os levantes sociais da época também fomentavam o pré-milenarismo, especialmente visto da perspectiva do dispensacionalismo de J. N. Darby. Muitos adotaram a idéia de que o mundo ficaria cada vez pior até que Cristo viesse para pôr fim a tudo.
A revolução industrial pode ter misturado todos esses ingredientes, mas o verdadeiro catalisador foi o “modernismo”. Seu principal componente foi a teoria da evolução de Charles Darwin. Por toda a história da ciência, pelo menos desde a Inquisição, sempre houve uma espécie de acordo de cavalheiros entre a igreja e os laboratórios. Todos assumiam que a verdade científica seria compatível à verdade religiosa. Agora, de repente, Darwin publicara descrições sobre a evolução das espécies e, portanto, da origem da humanidade, de uma maneira que não estava de acordo com os ensinamentos da igreja. Além do mais, essas idéias obtinham aceitação no mundo acadêmico.
Enquanto isso, entre os filósofos e os teólogos, principalmente na Alemanha, novas idéias sobre Deus e a Bíblia fervilhavam. Essas teorias minavam a posição absolutista que a igreja assumira por vários séculos.
Elas questionavam a autoridade da Bíblia e a identidade de Cristo, aceitas até aquele momento. Além disso, essas idéias estavam sendo aceitas por alguns seminários, o que era bem alarmante.
Esses acadêmicos e clérigos ensinavam às pessoas comuns que era tolice acreditar na Bíblia e que era aceitável crer na evolução. Os cristãos conservadores lançaram um contragolpe. Em 1895, a Conferência Bíblica do Niágara reafirmou cinco pontos “essenciais” da fé cristã: 1) a inerrância das Escrituras; 2) o nascimento virginal e a deidade de Cristo; 3) a morte viçaria de Cristo; 4) a ressurreição física de Cristo; e 5) o retorno corpóreo de Cristo. Essas verdades foram amplamente aceitas nas igrejas conservadoras.
Entretanto, ainda havia pouca coesão em torno do fundamentalismo. Você poderia reunir alguma oposição à teoria de Darwin, mas quando começava a bombardear as idéias de Immanuel Kant e de Friedrich Schleiermacher, certamente perderia alguns partidários. Alguns imaginavam que essas teorias simplesmente desapareceriam. Outros pensavam que era melhor concentrar-se no evangelismo e em missões (a igreja ainda estava em meio ao apogeu da consciência missionária).
Os fundamentalistas entraram em ação só depois da Primeira Guerra Mundial. Antes de os EUA entrarem na guerra, a maioria dos cristãos, assim como a maioria dos americanos, era contrária a ela. Na verdade, em seus primeiros estágios, os cristãos conservadores foram acusados verbalmente pelos cristãos liberais de não serem patriotas, pois não apoiavam os esforços de guerra. (A oposição de alguns desses conservadores veio do pacifismo bíblico, e a de outros, do desejo de se “separar” do mundo.)
Contudo, à medida que as atrocidades dos alemães eram noticiadas — e, provavelmente, exageradas —, os pregadores fundamentalistas se aproveitaram da conexão óbvia: a Alemanha era o berço da filosofia modernista! Portanto, essa filosofia só levaria a isso: brutalidade, barbarismo e destruição.
De repente, o futuro do mundo estava em jogo. O movimento fundamentalista começou, realmente, a caminhar depois da guerra. A Associação Fundamentalista Cristã Mundial, liderada por William B. Riley, foi formada em 1919 com o objetivo de advertir sobre como o modernismo era perigoso para a sociedade americana. Pregadores como Billy Sunday e John Roach Straton começaram a denunciar publicamente as calamidades sociais que estavam em alta na sociedade pós-guerra. Trabalhando como reavivalistas, propagaram a tradição da santidade. Afirmavam que aquela grande nação descambaria para o barbarismo, a não ser que o povo se voltasse para as verdades de Deus.
Os fundamentalistas ganharam terreno nos cinco anos seguintes. Nas principais denominações protestantes, especialmente entre os batistas e os presbiterianos do norte, as forças fundamentalistas tentaram voltar às bases cristãs elementares. Credos, afirmações doutrinárias, requisitos para os missionários e investigações de seminários faziam parte de sua agenda. Eles tiveram pouco sucesso. Na maioria dos casos, o resultado foi a divisão denominacional.
A batalha épica ocorreu não em uma convenção eclesiástica, mas no tribunal da cidade de Dayton, no Tennessee, no famoso julgamento de Scopes. Os olhos da nação americana se voltaram para dois advogados célebres: William Jennings Bryan a favor dos fundamentalistas e Clarence Darrow a favor do professor evolucionista. Bryan ganhou a batalha, mas perdeu a guerra. Scopes foi considerado culpado — apesar de posteriormente o veredicto ser revertido —, mas Darrow deixou Bryan com má fama. E possível que a opinião pública já tivesse se voltado contra os fundamentalistas, mas isso terminou por selar sua posição. Eles ficaram conhecidos como os zelotes, matutos fanáticos e ignorantes, e todos zombavam deles.
Depois de 1925, o fundamentalismo recuou, e fechou-se, separou-se do mundo aguardando a volta de Cristo, como também passou a estudar a Palavra de Deus inerrante. Sobreviveu como subcultura isolada, dando crescimento ao movimento evangélico de 1940 e produzindo o ressurgimento do neofundamentalismo por volta de 1980.