325 O Concilio de Nicéia

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O Concilio de Nicéia

Embora Tertuliano tivesse outorgado à igreja a idéia de que Deus é uma única substância e três pessoas, de maneira alguma isso serviu para que o mundo tivesse compreensão adequada da Trindade. O fato é que essa doutrina confundia até os maiores teólogos.

Logo no início do século IV, Ario, pastor de Alexandria, no Egito, afirmava ser cristão, porém, também aceitava a teologia grega, que ensinava que Deus é um só e não pode ser conhecido. De acordo com esse pensamento, Deus é tão radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra coisa: somente Deus pode ser Deus. Na obra intitulada Thalia, Ario proclamou que Jesus era divino, mas não era Deus. De acordo com Ario, somente Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus.

Muitos ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ario, pois, assim, podiam preservar a idéia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis humanos-divinos da mitologia grega.

Por ser um eloqüente pregador, Ario sabia extrair o máximo de sua capacidade de persuação e até mesmo chegou a colocar algumas de suas idéias em canções populares, que o povo costumava cantar.

“Por que alguém faria tanto estardalhaço com relação às idéias de Ario?”, muitas pessoas ponderavam. Porém, Alexandre, bispo de Ario, entendia que para que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser verdadeiramente Deus. Alexandre conseguiu que Ario fosse condenado por um sínodo, mas esse pastor, muito popular, tinha muitos adeptos. Logo surgiram vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ario.

Em função desses distúrbios, o imperador Constantino não podia se dar ao luxo de ver o episódio simplesmente como uma “questão religiosa”. Essa “questão religiosa” ameaçava a segurança de seu império. Assim, para lidar com o problema, Constantino convocou um concilio que abrangia todo o império, a ser realizado na cidade de Nicéia, na Ásia Menor.

Vestido com roupas cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Constantino abriu o concilio. Ele disse aos mais de trezentos bispos que compareceram àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da igreja, disse, era pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna.

O imperador deixou que os bispos debatessem. Convocado diante dos bispos, Ario proclamou abertamente que o Filho de Deus era um ser criado e, por ser diferente do Pai, passível de mudança.

A assembléia denunciou e condenou a afirmação de Ario, mas eles precisavam ir além disso. Era necessário elaborar um credo que proclamasse sua própria visão.

Assim, formularam algumas afirmações sobre Deus Pai e Deus Filho. Nessas declarações, descreviam o Filho como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai com o Pai”.

A palavra “consubstancial” era muito importante. A palavra grega usada pelos conciliares foi homoousios. Homo quer dizer “igual”; ousios significa “substância”. O partido de Ario queria acrescentar uma letra a mais àquela palavra: homoiousios, cujo significado passaria a ser “de substância similar”.

Com exceção de dois bispos, todos os outros assinaram a declaração de fé. Esses dois, com Ario, foram expulsos. Constantino parecia satisfeito com o resultado de sua obra, mas isso não durou muito tempo.

Embora Ário tivesse ficado temporariamente fora do cenário, sua teologia permaneceria por décadas. Um diácono de Alexandria chamado Atanásio tornou-se um dos maiores opositores do arianismo. Em 328, Atanásio tornou-se bispo de Alexandria e continuou a lutar contra aquela facção.

No entanto, a guerra continuou na igreja do Oriente até que outro concilio, realizado em Constantinopla, no ano 381, reafirmou o Concilio de Nicéia. Ainda assim, traços dos pensamentos de Ario permaneceram na igreja.

O Concilio de Nicéia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado. A sabedoria coletiva dos bispos foi consultada nos anos que se seguiram, quando questões espinhosas surgiram na igreja. Constantino deu início à prática de unir o império e a igreja no processo decisorio. Muitas conseqüências perniciosas seriam colhidas nos séculos futuros dessa união.

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