OUTROS MÉTODOS DE QUE JESUS LANÇOU MÃO

Jesus nunca se limitou a um único método de ensino. Nem exaltou um
método como melhor que os outros, embora careça ter ele usado a parábola ou
as histórias mais frequentemente que outras coisas. Se ele empregou vários
métodos, é claro que considerava a todos como legítimos e proveitosos, e achava
que o melhor era aquele que desse melhor resultado cm certas circunstâncias.

A idade do grupo a ser ensinado, a espécie de lição a ser dada, bem como a
inclinação do professor, são os fatores que devem determinar a qualquer tempo a
escolha do método a ser usado. Com toda a probabilidade usaremos de todos eles
alguns, ou ao menos passaremos de um para outro.

1. Preleções

O método de preleções é o de discursar na apresentação duma lição, falando
o professor diretamente à classe. O professor, então, faz tudo, ou praticamente
tudo, falando só ele. Supõe-se que seja uma apresentação sistemática e
compreensiva; mas também pode não ser. Pode incluir ou não o uso do quadronegro
e doutros materiais. Woodrow Wilson certa , vez disse que o uso de
preleções é “o método literário na sala de aula”. Também tem recebido o nome de
“discurso didático”.

1) Valor e fraqueza deste método

É certo que nenhum outro método de ensino tem sido mais usado e mais
criticado que o de preleções. Tem-se dado então o fato de muita gente fazer
preleções para combater o uso de preleções! De fato, o método tem pontos fortes
e fracos, e o julgaremos por seus méritos. Há várias vantagens no uso dele. É de
grande valor quando se tem que ensinar uma classe muito grande e o professor
só pode usar um pequeno número de alunos para discutir a lição na classe. Não
deveríamos ter classes muito grandes, mas, havendo-as, o professor se vê
obrigado a usar o método de preleção. Também é de valor este método quando a
maioria dos alunos não está acostumada à discussão da lição, ou não tem
desembaraço para isso.

É também de grande valor para o estudo de certas doutrinas e de algumas
passagens difíceis do Velho Testamento. Além disso, concede ao aluno o
benefício dos ricos recursos dum bom professor. Basta pensarmos na gloriosa
oportunidade de receber lições dum Mullins, dum Sampey, dum Robertson ou
dum Tidwell! Também possibilita ao professor apresentar a lição dum modo mais
compreensivo do que por meio de perguntas e discussões, havendo menor perigo de desvios e digressões. Possibilita ainda levar a lição ao clímax de
inspiração, que doutra forma não seria fácil, coisa que vale muito.

Por outro lado, há vários pontos fracos neste método. Talvez o maior seja o
fato de os alunos não estudarem a lição. Sabendo de antemão que não terão que
responder a nada, às vezes nem sequer lêem a lição, e nada fazem por saber
alguma coisa dela. Isto se dá até com acadêmicos de teologia. Quem escreve
estas linhas ensinou certa vez uma classe de Escola Bíblica Dominical
constituída de homens, reunida num teatro do centro da cidade, e descobriu que
somente um dos sessenta e três presentes tinha lido a lição! É claro que a mente
deles não estava preparada para a lição do dia.

Também o professor quase não tem jeito de ver se suas lições estão sendo
entendidas ou não, não tendo, assim, a oportunidade de corrigir erros. Fazendo
exame, certa vez um professor obteve três respostas diferentes para uma
pergunta, sendo uma certa e duas erradas. Tinha sido mal compreendido, e
nunca havia notado isso durante a preleção. Acontece que o aluno não aprende
sem atividade mental, e é certo que quase sempre esta é reduzida ao mínimo
na ocasião duma preleção. A miúdo, os alunos simplesmente “sentam-se
calados, enquanto o professor vai instilando”. Assim, tem este método desvantagens
e vantagens.

2) Discursos de Jesus

Jesus usou o método de preleção, ou discurso didático, muitas vezes,
especialmente durante o primeiro período de seu ministério, quando lidou
bastante com as multidões. Alguns discursos foram dirigidos a grandes
multidões e outros a pequenas reuniões. Algumas vezes só estavam presentes
os discípulos, e, noutras, as massas ou uma mistura deles todos. “O púlpito de
Jesus era uma encosta ou um barco atracado à margem dum lago. Seu salão
de conferências era o pálio azulado do firmamento; seu auditório, a multidão
reunida a seu redor, de olhos erguidos para ele, com viva atenção, que os ligava
à vida dele… Chamavam-no “o mestre vindo de Deus”.

Horne nos dá uma lista de cerca de sessenta discursos, dirigidos somente
a multidões, à multidão e os discípulos, e só aos discípulos. Foram
pronunciados no Templo e nas sinagogas, em cidades e no campo, em
montanhas e junto a lagos. Os assuntos são mui variados, e tratam da riqueza,
do divórcio, do sábado, das missões e doutros muitos assuntos. João afirmou
que no mundo não caberiam todas as coisas que Jesus disse, e é certo que não
foram registrados todos os discursos dele, e nem mesmo tudo dos discursos
mencionados.

Três dos discursos de Jesus ocupam mais de um capítulo e são
provavelmente os mais notáveis. Um trata do julgamento final e abrange dois
capítulos (Mat. caps. 24 e 25), e nele Jesus nos fala das condições reinantes no
tempo de sua segunda vinda, do caráter repentino dessa vinda c do julgamento
que então se seguirá. Estão incluídas aí as histórias da figueira estéril, dos
talentos, e das virgens sensatas e insensatas. Outro discurso é o Ensino do
Monte que ocupa três capítulos e parece ser o mais conhecido de todos os
discursos do Mestre (Mat. caps. 5, 6 e 7). Aqui Jesus apresenta a superioridade
do seu ensino em comparação com a Lei e os profetas, as qualidades que fazem
o bom cidadão do Reino, e o modo de agir do cristão. O discurso mais longo de
Jesus é a fala de despedida, que ocupa quatro capítulos do Evangelho segundo
João (João caps. 14, 15, 16 e 17). É uma mensagem de conforto, tratando da
vinda do Espírito Santo, da relação da videira e as varas, de problemas que
surgiriam para os discípulos e do triunfo final. Termina este discurso com a
oração sacerdotal de Jesus em favor dos seus.

Todas as preleções de Jesus provocam o pensamento, sondam o coração e
são mui práticas e vitais. Tratam de toda uma série de assuntos, e revelam
pensamento profundo e muita preparação. Variam tanto de estilo como de
método. Atraíam a atenção e estimulavam o interesse a ponto de “as multidões
ficarem admiradas do seu ensino” (Mat. 7:28). Até mesmo aqueles que não
simpatizavam com o Mestre voltavam dizendo: “Nunca homem algum falou como
este homem!” (João 7:46). Sentiam-se comovidos com suas mensagens. Quando
o Mestre prelecionava, o povo ouvia e aprendia, recebia informes, e se sentia
incitado e inspirado, e suas vidas eram enriquecidas. Suas preleções incitavam a
inteligência, os sentimentos e a vontade dos ouvintes. Para ele o método corria
paralelamente à história. De fato, as histórias constituem parte bem considerável
duma preleção.

2. Perguntas

O método catequético ou de perguntas c respostas é dos métodos de ensino
um dos mais antigos e também um dos mais empregados. Sócrates se tornou
famoso por tê-lo usado. Este método era muito usado tanto, nos dias do Velho
como do Novo Testamento, e vem sendo empregado quase sempre. Hoje é
ainda um dos métodos de ensino mais usados. Como veremos, Jesus fez uso
constante de perguntas em seu ensino.

1) Propósito e caracteres das perguntas

O significado do verbo catequizar é sondar, assim como o marujo lança a
sonda para ver qual a profundidade da água em que navega. Pode ser uma
coisa ao acaso, com perguntas feitas a esmo, ou pode o professor obedecer a uma série ordenada de perguntas para extrair as verdades da lição. Sócrates
usava sistematicamente este método para obter do aluno informes, pois admitia
que o conhecimento é coisa natural, inata. Este método é tão velho como a raça
humana, é quase tão universal como o próprio ensino e se adapta a grupos de
todas as idades, particularmente aos departamentos de juniores e adolescentes.
Sempre o encontraremos por toda parte.

Usam-se perguntas para muitos fins. Servem para chamar e prender a
atenção. O aluno que luta com o sono, ou deixa sua mente vagar durante a
preleção, certo se alertará com perguntas, pois não sabe quando o professor lhe
vai perguntar alguma coisa. Entra neste método o elemento da surpresa. Serve
também para provocar pensamentos. Se forem boas e feitas como devem ser,
as perguntas levarão o aluno a pensar.E isto é coisa indispensável no ensino,
pois que nada se aprende, sem se pensar nelas, não aproveita quase nada ao
aluno.

As perguntas também ajudam a aclarar e aprofundar as impressões.
Quando o aluno responde a perguntas, não só foi levado a pensar, mas também
a se expressar, e, por esses meios, a verdade é implantada, visto que o
pensamento e as impressões ajudam a aprofundá-la. Perguntas sugestivas e interessantes
impressionam muito. O método de perguntas também ajuda o
professor a ver se o aluno está entendendo ou retendo aquilo que ele está
ensinando. Desse modo ele pode verificar seu ensino, torná-lo mais claro, se
preciso, e realizar., assim, obra mais eficiente.

Para que dê bom resultado, devemos notar que as per guntas e o perguntar
devem apresentar certas características mui importantes. Devem ser claras. Isto
quer dizer: devem ser simples, curtas e apropositadas. Assim, o aluno deve
saber bem o que se lhe está perguntando. As perguntas não devem ser como a
daquele pastor — pergunta que continha 222 palavras — nem como a daquele
professor de Escola Bíblica Dominical, que assim perguntou: “Quem correu atrás
daquele que estava perto dos muros deles?”

As perguntas devem também provocar o pensamento. Perguntas
simplesmente formais não bastam, porque o aluno poderá respondê-las
mecanicamente, como fez um aluno que não comparecera no último domingo.
Quando o professor lhe perguntou onde estivera no domingo, respondeu em
consonância com a primeira pergunta sobre o local em que se dera o fato da
lição do dia: “A doze quilômetros a nordeste de Jerusalém.” As perguntas devem
ser feitas de modo a prender a atenção de toda a classe. Como regra, isto
implica em primeiro fazer a pergunta, para depois dizer o nome de quem deve
respondê-la; não repetir a pergunta, se o aluno não estiver prestando atenção;
perguntar ao mesmo aluno mais de uma vez durante o tempo de aula; e fazer
perguntas que interessem a toda a classe.

2) Exemplos de Jesus

Um dos primeiros quadros que temos do Mestre, após seu nascimento c
infância, nos mostra Jesus fazendo perguntas. Com doze anos, tendo ficado na
cidade de Jerusalém longe dos pais, que já estavam de volta, foi achado no
Templo “sentado no meio de professores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas”
(Luc. 2:46, tradução de Moffatt). Essa tendência parece ter acompanhado Jesus
durante a sua vida. O Sunday School Times afirma que Jesus fez 154 perguntas.
Outros dizem que se acham nos quatro Evangelhos mais de cem perguntas
diferentes.

Grande porção de registros escritos é constituída de perguntas e respostas,
e o conteúdo certamente mudaria muito de significação se elas fossem omitidas.
Jesus empregou muito este método. W. P. Merril diz: “Ele veio não tanto para
responder a perguntas, mas para fazê-las; não tanto para acomodar as almas
dos homens, mas para provocá-las; não para tornar fácil a vida, mas para tornála
mais educativa.” E Marquis acrescenta: “Nosso Senhor tinha o hábito de fazer
aqui e ali perguntas que quebravam a serenidade de sua classe, e assim fazia os
discípulos ficar em pé e pensar.”

Ao iniciar uma lição Jesus fazia perguntas para atrair a atenção, estabelecer
um ponto de contato, e preparar a mente para aquilo que ia dizer. Temos bom
exemplo disto na pergunta que fez a seus discípulos: “Quem dizeis que eu sou?”
(Mat. 16:13-15). Isto chamava a atenção deles para Jesus, fazia-os pensar, e
preparava o caminho para que se revelasse como o Filho de Deus.

Igualmente, quando Tiago e João pediram o privilégio -de se sentarem um à
direita e outro à esquerda do Mestre, iniciou ele sua lição perguntando-lhes:
“Podeis beber o cálice que eu bebo, cu ser batizados com o batismo com que
sou batizado?” (Mar. 10:3 5-40). Assim ele os preparou para a resposta que ia
dar, e quase Fez com que eles próprios respondessem ao pedido que fizeram.
Quando Jesus perguntou ao moço rico que o consultara a respeito do caminho
da vida: “Por que me chamas bom?” (Mar. 10:18), claramente estava preparando
a mente daquele jovem para a penetrante resposta que lhe ia dar acerca daquilo
que faz a vida ser boa.

Jesus fez muitas perguntas ao desenvolver seus temas e lições. De fato,
sempre lançava mão de perguntas. Eram elas de várias espécies. Às vezes
perguntava para obter informes, como perguntou a Tiago e a João quando lhe
pediam um favor: “Que quereis que eu vos faça?” (Mar. 10:36). ÀS vezes era para
ajudar o perguntador a pensar e ruminar sua própria dificuldade. Assim Jesus
perguntou aos que estavam presentes na sinagoga, por ter curado um homem
no dia de sábado: “É lícito nos sábados fazer o bem ou o mal, salvar a vida ou tirá-la?” (Mar. 3:1-5). Ele fazia perguntas para aclarar e mesmo para ilustrar seu
ensino. Quando os fariseus censuraram seus discípulos por terem num sábado
colhido e comido espigas, o Mestre citou na forma de pergunta o exemplo de
Davi e seus companheiros que entraram no Templo e comeram ilegalmente “os
pães da proposição” (Mar. 2:23-28).

O Mestre também usou de perguntas como argumentos. Um dos exemplos
clássicos é este: “Pois, se Deus assim veste a erva do campo que hoje existe, e
amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?” (Mat.
6:30). É um argumento do menor para o maior. Também Jesus fez perguntas,
apresentando dilemas, para frisar o que estava ensinando. Assim, quando os
principais dos sacerdotes e os anciãos do povo puseram em dúvida sua
autoridade de ensinar, o Mestre lhes perguntou: “Donde era o batismo de João?
Do céu ou dos homens?” (Mat. 21:25). Eles silenciaram, porque perceberam
que, se respondessem duma forma ou doutra, ficariam entalados.

Difícil é separar as perguntas feitas para enfatizar e argumentar das que
foram feitas para aplicar verdade e exortar o povo; mas nos parece que Jesus fez
algumas delas especialmente para enfatizar seu ensino. Quando finalizou a
história do Bom Samaritano, o Mestre perguntou ao negaceador doutor da lei:
“Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos
salteadores?” (Luc. 10:36). Vemos que esta pergunta era tanto exortatória quanto
informativa

Igualmente a pergunta feita aos discípulos, que não exigia resposta: “Pois
que aproveita a um homem, se ganhar o mundo inteiro, mas perder-se ou causar
dano a si mesmo?” (Luc. 9:25). Nenhuma sentença seria tão enfática como esta
pergunta. Da mesma ordem, é, de algum modo, a tríplice pergunta que Jesus fez
a Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?” (João 21:15-17).
Jesus estava buscando aprofundar a exortação “apascenta as minhas ovelhas”.
Vemos, portanto, que as perguntas, na verdade, “faziam parte do cerne dos
métodos de ensino de Jesus”, e, como o diz McCoy, elas sempre eram mui
práticas e nada teóricas.

3. Discussões ou Debates

Um dos métodos mais falados de nossos dias, especialmente para adultos,
é o da discussão* ou debate. Parece mesmo particularmente próprio para
estudantes universitários. Tal método também foi usado pelo Mestre dos mestres
em suas atividades educativas. Como vemos em seu ensino tal método não
apresenta todas as características duma discussão formal como temos hoje, mas
os princípios essenciais estão aí presentes.

1) Natureza e valor do debate

O método de discussão, ou debate, é uma reação contra os métodos
formais de contar histórias e de preleção nos quais só o professor fala, e também
contra o método de recitação no qual o aluno simplesmente repete como
papagaio aquilo que decorou. Por estes métodos o aluno pode não entender
nada da lição que confiou à memória. Alguém já definiu o método do debate
como “o processo pelo qual se chega a uma conclusão geral e firme, mediante
todo um grupo a pensar”, e que, portanto, compreende a posse da verdade. É
coisa bem diversa de qualquer palestra a esmo, pois no debate há plano e
propósito. A classe assim vai progressivamente para a frente. Difere também da
mera propaganda, porque no debate se procura a verdade, em vez de
simplesmente proclamar. Este método exige mente inquiridora, e não é
propriamente uma discussão em que se faça força para depreciar o ponto de
vista dos outros, mas que nos leva a aquilatá-lo e aproveitá-lo quanto possível.
Quando o ponto de vista apresentado por este ou aquele é certo, verdadeiro e
exato, deve ser aceito. É, portanto, um esforço conjunto em busca da verdade,
trabalhando e cooperando professores e alunos.

Várias coisas são necessárias para se ter uma atmosfera que conduza a um
trabalho ideal mediante o debate. O grupo deve constituir-se de pessoas de
experiências, interesses e preparo mais ou menos iguais. Em geral, uma classe
composta de acadêmicos ou de universitários é o ideal. Devem os do grupo ter
algo em comum, não só no que respeita ao nível de educação, mas também
quanto a interesses comuns, pois que normalmente o tópico para discussão é
assunto de caráter pessoal, social ou religioso, e interessa ao grupo todo. Devese
também ter mente e coração abertos para se receber a verdade, venha donde
vier, para pesá-la sem parcialismo e para se admitir aquilo que realmente é de
valor. Naturalmente, é mui importante ter à mão dados ou informes que indiquem
as fontes de materiais a serem usados ou consultados para a formulação das
conclusões. Pode-se também empregar este método de forma um tanto
modificada e assaz satisfatória, mesmo abrindo-se mão das condições acima
referidas.

Levando avante a discussão, o mestre desempenha mais o papel de
inspirador e guia do que propriamente de instrutor. Ele passa a ser a força atrás
da cena e não tanto o ator principal. Ele não apresenta só seus pontos de vista,
mas também se reporta à opinião de algum escritor, ou de escritores, guiando a
classe para que por si mesma chegue à conclusão. Assim, o papel do professor
é ajudar a classe a selecionar do material da lição um problema de vital interesse
e a localizar as fontes de informação, dirigir o colecionamento e apresentação
desse material ao grupo, assistir a discussão e avaliação dos argumentos
apresentados, tornar viva e interessante á discussão, não deixando que se saia
do assunto, e por fim diligenciar para que se chegue a uma conclusão.
Naturalmente, isso tudo exige bastante habilidade e treino, para se fazer tudo apropriadamente. Pressupõe isso de fato mais do que a condição ideal que em
geral encontramos em classes comuns, de modo que às vezes esbarramos com
certas limitações.

Do que se afirmou acima, vemos que o método de discussão ou debate tem
bom número de valores bem distintos. Ele exige atividade, como nenhum outro.
Tal atividade abrange a escolha do assunto, a busca e avaliação do material, e
contribui grandemente para o aprendizado. Também abrange iniciativa e espírito
criador, e estas coisas são de grande valor no processo da aprendizagem e no
desenvolvimento do caráter. Estas coisas estabelecem claramente a diferença
entre a educação criadora e a educação transmissora. Incentiva o motivo social,
pois cada aluno sente que tem unia parte no programa e uma contribuição a
fazer, já que se trata dum processo de cooperação intelectual. Mantém-se assim
de modo maravilhoso o esforço e o interesse. Exige ele investigação e avaliação,
e desenvolve o pensamento e a apreciação. Não obstante, este método tem
suas falhas pelo fato de não se adaptar a todas as idades ou condições, nem a
todos os tipos de lição, e nem a todas as espécies de professor. Mas é ele quase
perfeito, e no final de contas talvez seja o método de maiores resultados para
estudantes amadurecidos.

2) Ilustrações de Jesus

Do modo completo e formal, como vimos de definir o método, é certo que
não podemos dizer que Jesus o usasse em seus ensinos. Na verdade, Jesus
nunca usou este ou aquele método assim formalmente, à risca, como
costumamos fazer. No entanto, em princípio e em seus elementos essenciais, o
Mestre empregou o método da discussão ou debate. Vemos que em seu modo
de ensinar este método transparece muitas vezes aqui e ali. Note-se, contudo,
que o Mestre o usou mais no trato com indivíduos do que propriamente na lida
com grupos. E, quando o usou cm grupo, foi em forma bastante simplificada.
Talvez o exemplo mais frisante seja o de sua lida com u mulher samaritana junto
ao poço de Jacó, caso que já discutimos atrás. Em toda a conversa com a
samaritana, Jesus buscou fazer com que ela pensasse por si, reunisse suas
próprias idéias, embora lhe expressasse o Mestre suas ideias; ajudou-a para que
visse e apreciasse a verdade que ele lhe apresentava, auxiliando-a ainda a
concluir e responder por si mesma. É um precioso exemplo do método de
conversação, que nada mais é que a discussão limitada a uma pessoa.

Outra boa ilustração é a lição do Mestre a Nicodemos (João 3:1-21). Ele era
um fariseu, doutor da lei e professor. Raimundo Calkins compara-o a um
“professor de universidade, a um juiz da corte suprema e a um bispo de igreja”.
Isto dava a Nicodemos uma posição legalista, cultural e mais ou menos
profissional. Por qualquer razão ele procurou o Mestre de noite, aproximando-se
dele com suma cortesia e cautela.

Imediatamente Jesus levantou o problema da experiência pessoal, dizendo
ao culto chefe que ele precisava “nascer de novo”, se quisesse um dia ver o
Reino de Deus. Isto era coisa estranha à sua religião formalista e pensou que o
Mestre estava falando do nascimento natural. Então Jesus lhe disse que ele
precisava nascer tanto naturalmente (“da água”) como espiritualmente (“do
Espírito”), dizendo-lhe: “O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do
Espírito, é espírito (v. 6).

O Salvador suavemente censurou a Nicodemos por ser mestre e não
entender o que dizia, e passou a desenvolver sua ideia, enfatizando o fato de
Deus se dar a si mesmo “para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas
tenha a vida eterna” (v. 16). Outros registros revelam que Nicodemos foi
influenciado por Jesus, mais tarde o defendendo perante o sinédrio, e que,
depois da morte do Mestre, trouxe peças de linho e aromas para ajudar o seu
enterro.

Outro exemplo de conversa-discussão de Jesus é o caso do moço rico (Mar.
10:17-22). O jovem houvera sido educado na lei judaica, tinha muitas
propriedades, era membro da sinagoga, e, com isso tudo, não estava ainda
satisfeito. Então, encentrou-se com Jesus na estrada, ajoelhou-se aos pés do
Mestre, e lhe perguntou o que devia fazer para herdar a vida eterna. O problema
estava claro. O Mestre experimentou o moço, dizendo-lhe que guardasse os
Mandamentos de Deus. Ele respondeu que vinha fazendo aquilo desde sua
adolescência. Então, descobrindo o cerne da dificuldade do moço (sua avareza),
disse-lhe: “Vende tudo o que tens e dá-o aos pobres… e vem, e segue-me” (v.
21). Contudo, o sentimento do valor de suas posses era mais forte do que o
sentimento da necessidade que tinha de Jesus; e, assim, “retirou-se, triste”. Era
a grande e terrível opção. E o Mestre deixou que o moço escolhesse por si
mesmo. Assim, quer se tratasse duma decaída, dum avarento ou dum chefe
religioso de justiça própria, o método de discussão ocupou lugar proeminente
nos ensinos de Jesus.

Poderíamos citar aqui outros métodos, além dos já apresentados, conquanto
não sejam tão definidos e notáveis na obra educativa de Jesus. Como dissemos
atrás, o Mestre usou também o método da observação ou demonstração quando
ajudou João Batista a vencer suas dúvidas quanto ao fato de Jesus ser ou não o
Messias prometido (Mat. 11:2-19). De fato, um escritor chega a colocar sob esse
título grande porção de casos em que Jesus empregou objetos e dramatizações.
Jesus usou igualmente o princípio de planeamento, de se aprender fazendo,
quando enviou seus discípulos para dar testemunho e curar (Mat. 10:1-42), e
também quando, mais tarde, enviou os setenta em missão semelhante, e depois
ouviu o relatório deles (Luc. 10:1-12,17). Assim os discípulos, como verdadeiros
aprendizes, aprenderam, tanto por meio de observação como da prática, a
pregar, ensinar e curar.

Um elemento do método de esboço podemos encontrar na boa ordem com
que foi planejado e apresentado o Ensino do Monte e outros mais discursos
didáticos de Jesus. Portanto, no ministério didático do Mestre temos em embrião,
quando não inteiramente desenvolvidos,’praticamente todos os métodos usados
hoje cm dia. Ele foi Mestre de tudo e o maior de todos. “Atrás das palavras, dos
gestos, dos métodos, estava o próprio Jesus.”

Sugestões auxiliares para o ensino do oitavo capítulo

Esboço no Quadro-negro

1. Preleções
1) Pontos Fracos e Pontos Fortes das Preleções
2) Discursos de Jesus

2. Perguntas
1) Propósito e Caráter das Perguntas
2) Exemplos de Jesus

3. Discussões ou Debates
1) Natureza e Valor da Discussão
2) Ilustrações de Jesus

T ópicos para Discussão
1. Por que o método de preleção se tornou impopular?
2. Qual o maior discurso de Jesus? Por quê?
3. Quais alguns dos perigos do método de perguntas?
4. Cite a primeira pergunta do Mestre que foi registrada.
5. Mencione outras discussões ou debates além dos que foram aqui tratados.
6. Jesus usou algum outro método não mencionado aqui?

Perguntas para Revisão e Exame
1. Diga dois pontos fortes c dois fracos do método de preleção.
2. Mostre como o Mestre fazia uso de perguntas em seu ensino.
3. Dè três exemplos do emprego de discussões ou debates pelo Mestre.

Fonte: A PEDAGOGIA DE JESUS 3º edição

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