Correspondência entre Pôncio Pilatos e Herodes – Apócrifo

Evangelhos Apócrifos

Correspondência entre Pôncio Pilatos e Herodes

 

ESSA correspondência, que chegou a nós, é constituída de duas cartas trocadas entre ambos, das quais foram encontradas duas versões no século VI: uma em siríaco, outra grego. Nada se sabe sobre os originais.

Segundo esse texto, Pilatos arrependeu-se de seus atos. Dá testemunho da pregação de Cristo, depois da Ressurreição, na Galiléia. Consegue atirar a culpa da condenação de Cristo em Herodes, que o teria pressionado.

O centurião citado, Longinos, foi o que abriu o flanco de Cristo com sua lança. Também este converteu-se, segundo o autor.

Em resposta, Herodes relata-lhe suas misérias e crê que seus sofrimentos são justificados. Acha até que mereceria o dobro.

Cartas de Pilatos a Herodes

 

 

PILATOS, GOVERNADOR de Jerusalém, saúda o tetrarca Herodes. Não foi nada bom o que fiz sob a tua orientação, naquele dia em que os judeus apresentaram-me Jesus”, o chamado Cristo. Pois da mesma maneira que foi crucificado, assim também estou no terceiro dia de entre os mortos, como alguns acabam de anunciar-me dentre eles o centurião. Eu próprio decidi enviar uma expedição até a Galiléia e todos testemunham havê-lo visto em seu próprio corpo conservando o mesmo semblante. Chegou a deixar-se ver por mais de quinhentas pessoas, com a mesma voz e com idênticos ensina-mentos. Estes indivíduos têm andado por aí dando testemunho disso e, longe de vacilar, têm pregado a sua ressurreição como um extraordinário fenômeno e anunciado um reino eterno, a ponto de os céus e a terra parecerem alegrar-se com seus santos ensinamentos.

E saberás que Procla, minha mulher, dando crédito às aparições que teve d’Ele, quando eu estava quase mandando crucificá-lo devido à tua instigação, deixou-me sozinho e foi-se com dez soldados e Longinos, o fiel centurião, para contemplar o seu semblante, como se tratasse de um grande espetáculo. E viram-nO sentado numa plantação, rodeado de grande turba e ensinando as magnificências do Pai; de forma que estavam todos fora de si e cheios de admiração, pensando se aquele que havia padecido o tormento da crucificação havia ressuscitado de entre os mortos.

E, enquanto todos O estavam observando com grande atenção, Ele divisou Procla e Longinos e dirigiu -se até eles nos seguintes termos: “Ainda não acreditais em mim? Por ventura não foste tu que fizeste a guarda durante a minha paixão e vigiaste meu sepulcro? E tu, mulher, não é aquela que enviaste ao teu esposo uma carta sobre mim? […] o testamento de Deus que o Pai dispôs. Então, eu que fui crucificado e sofri muitas coisas, vivificarei através da minha morte, tão vossa conhecida, toda a carne que pereceu. Agora, então, saberás que todo aquele que acreditou em Deus Pai e em mim não perecerá, pois eu fiz desaparecer as dores da morte e atravessei o dragão de muitas cabeças. E, por ocasião da minha futura vinda, cada um ressuscitará com o mesmo corpo e alma que tem agora e abençoará o meu Pai, o Pai daquele que foi crucificado na época de Pôncio Pilatos”.

Ao ouvir dizer tais coisas, tanto minha mulher, Procla.

Como o centurião que teve a seu encargo a execução de Jesus, bem como os soldados que haviam ido em sua companhia, puseram-se a chorar, cheios de aflição, e vieram até minha presença contar-me essas coisas. Eu, de minha parte, depois de ouvi-las, relatei-as aos meus grandes comissários e companheiros de milícia; estes, cheios de aflição e ponderando o mal que haviam feito contra Jesus, puseram-se a chorar; e mesmo assim eu, compartilhando a dor da minha mulher, estou entregue ao jejum e durmo sobre a terra. […] e nesse instante veio o Senhor e levantou-nos do chão a mim e à minha mulher; então fixei meus olhos nEle e vi que seu corpo ainda conservava as equimoses. E Ele colocou suas mãos sobre os meus ombros, dizendo: “Bem-aventurado chamar-te-ão todas as gerações e povos, porque na tua época morreu e ressuscitou o Filho do Homem e agora subirá aos céus e sentar-se-á acima de tudo. E todas as tribos da terra dar-se-ão conta de que eu sou aquele que julgará os vivos e os mortos no último dia”. Fim

 

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