1095 O papa Urbano II lança a primeira Cruzada

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O papa Urbano II lança a primeira Cruzada

Embora a maior parte da Europa do século XI fosse nominalmente cristã — todas as crianças eram batizadas; existia uma estrutura eclesiástica que que colocava cada cristão sob cuidado pastoral; os casamentos aconteciam na igreja; os que morriam recebiam os últimos ritos da igreja —, a Europa não se parecia muito com o Reino de Deus. Existiam conflitos constantes entre príncipes cristãos, e as guerras dos nobres desejos por mais terras causavam dificuldades às pessoas comuns.

A partir de 1088, um francês, que passou a ser conhecido por Urbano II, assumiu o cargo máximo da igreja. Seu papado foi marcado por disputas com o rei alemão Henrique IV — uma continuação, infrutífera, das políticas reformista de Gregorio VII novo papa não estava plenamente disposto a continuar essa batalha. Em vez disso, queria unir toda a cristandade. Quando o imperador Aleixo de Constantinopla apelou ao papa, pedindo ajuda para lutar contra os turcos muçulmanos, Urbano percebeu que um inimigo comum poderia ajudar a alcançar seu objetivo.

Pouco importava que o papa tivesse excomungado o patriarca de Constantinopla e que os católicos e os ortodoxos do Oriente não fizessem parte de uma única igreja. Urbano buscava obter o controle sobre o Oriente, enquanto encontrava distração para os príncipes briguentos do Ocidente.

Em 1095, Urbano convocou o Concilio de Clermont. Ali, ele pregou um sermão inspirador: “Uma horrível notícia está sendo propagada […] uma raça amaldiçoada e totalmente alienada de Deus […] invadiu as terras dos cristãos e os expulsou por meio da espada, da pilhagem e do fogo”. Ele fez o seguinte apelo: “Devemos retomar as terras dessa raça ímpia, subjugando-a a nós”.

“Deus vultl Deus vult!” [“Deus deseja isso!”], gritava a multidão. Ε esse se tornou o grito de guerra das Cruzadas.

A medida que os representantes do papa atravessavam a Europa, recrutando cavaleiros para ir à Palestina, recebiam entusiásticas reações dos guerreiros franceses e dos italianos. Muitos foram motivados por objetivos religiosos, mas, sem dúvida, outros se engajaram em função do ganho econômico e da aventura de recapturar os locais de peregrinação da Palestina, que haviam caído nas mãos dos muçulmanos.

Ε provável que os guerreiros se sentissem virtuosos ao assassinar um inimigo não-cristão. A matança dos infiéis que tomaram a Terra Santa cristã poderia parecer um ato de serviço a Deus.

Para encorajar as Cruzadas, Urbano e os outros papas, os que vieram depois dele, enfatizaram os “benefícios” espirituais da guerra contra os muçulmanos. Arrancando uma página do Alcorão, Urbano assegurou que os guerreiros que experimentassem essa penitência entrariam no céu diretamente — ou, pelo menos, teriam uma redução no tempo que passariam no purgatório.

Em seu caminho para a Terra Santa, os cruzados pararam em Constan-tinopla. O tempo que passaram ali mostrou uma coisa: a união entre o Oriente e o Ocidente continuava improvável. O imperador via os guerreiros vestidos de malhas de ferro como ameaça a seu trono. Quando os cruzados descobriram que Aleixo fizera tratados com os turcos, sentiram que esse “traidor” negara a primeira parte de sua missão: expulsar os turcos de Constantinopla.

Com provisões fornecidas pelo imperador, o exército se encaminhou para o sul e para o leste, capturando as cidades de Antioquia e Jerusalém. Depois da vitória na Terra Santa, houve um banho de sangue. “Não faça prisioneiro algum”, era a tática que os cruzados usavam. Um observador apaixonado escreveu que os soldados “cavalgavam com sangue chegando até a altura de suas rédeas”.

Depois de estabelecer o Reino Latino de Jerusalém e indicar Godofredo de Bouillon como seu governador, eles saíram da ofensiva para a defensiva. Começaram a construir novos castelos, alguns dos quais permanecem até hoje.

Nos anos que se seguiram, novas ordens religiosas com características militares e monásticas, foram formadas. A mais famosa foi a dos Cavaleiros Templarios e a dos Cavaleiros Hospitalarios. Embora essas ordens tivessem sido criadas originariamente para ajudar os cruzados, elas se tornaram organizações militares poderosas que agiam de maneira independente.

A primeira Cruzada seria a mais bem-sucedida. Embora esses esforços militares tivessem sido dramáticos e pitorescos, não conseguiram manter os muçulmanos à distância. Em 1291, as tropas muçulmanas capturaram a cidade de Acre, pondo um fim definitivo às Cruzadas.

Em muitos aspectos, as Cruzadas deixaram um legado negativo. Elas ameaçaram as relações entre as igrejas do Ocidente e do Oriente, e a brutalidade dos cruzados somente contribuiu para que seus inimigos se tornassem ainda mais fanáticos. Além disso, as lições que os cruzados aprenderam nos campos de batalha tornaram-se parte das estratégias para guerras futuras, promovidas contra outros cristãos.

A resposta ao chamado de Urbano incrementou grandemente o poder do papado. Ele conseguiu reunir um grande número de soldados que estavam dispostos a morrer por sua fé, um feito que nenhum príncipe poderia ignorar.

A luta pelo poder entre a igreja e o Estado ainda não havia acabado.

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