1536
João Calvino publica As institutas da religião cristã
“Cada folha de grama e cada cor no mundo foram criadas com o objetivo de nos alegrar”, escreveu um homem acusado, muitas vezes, de promover um cristianismo sem alegria. Aqueles que o conheciam bem respeitavam sua piedade e não teriam ficado surpresos com essas palavras que foram escritas de próprio punho.
Certamente, João Calvino era bastante disciplinado e, após tomar uma decisão, permanecia firme naquela direção. Seus estudos na área de Direito desenvolveram seu talento para o pensamento lógico, o que ele transpôs para seus estudos na área de Teologia.
Em uma “breve conversa” ocorrida em algum momento do ano 1533, “Deus me conquistou e levou meu coração à mansidão”, disse Calvino. Aparentemente, ele teve contato com os textos de Lutero. Calvino rompeu com o catolicismo, saiu de sua terra natal, a França, e estabeleceu seu exílio na Suíça.
Em 1536, aos 27 anos, Calvino publicou a primeira edição das Institutas da religião cristã, uma teologia sistemática que claramente defendia os ensinamentos da Reforma. Impressionado com os escritos de Calvino, Cuilherme Farei, reformador genebrino, persuadiu-o a vir e a ajudar na implantação da Reforma naquele país. Ali, Calvino assumiu pesada carga de trabalho. Pastoreou a igreja de St. Pierre e pregava em três cultos por dia. Produziu comentários sobre quase todos os livros da Bíblia, e escreveu panfletos devocionais e doutrinários. Enquanto desenvolvia essas atividades, lutou com diversas enfermidades, entre elas dores de cabeça provocadas por enxaquecas.
Calvino tinha muito a fazer para alcançar seu objetivo de transformar Genebra no Reino de Deus na terra.
O povo daquela cidade, notório por sua moral relaxada, levantou grande oposição quando ele tentou mudar seu estilo de vida. Apesar disso, a influência de Calvino se espalhou por toda a Genebra. Sua influência era bastante grande nas escolas. Ninguém podia evitar suas reformas, pois Calvino tentava excomungar quem não se aproximasse dos padrões das Escrituras e, assim, todos os cidadãos de Genebra tiveram de aderir à confissão de fé de Calvino.
Enquanto alguns se opunham às mudanças, outros as aplaudiam. A cidade se tornou um ímã, atraindo exilados de toda a Europa. John Knox chamou a cidade governada por Calvino de “a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos”. A autoridade moral de Calvino reformou Genebra. Seus trabalhos escritos tanto em latim quanto em francês concederam um vigor singular ao protestantismo.
Em As institutas, sua maior obra, Calvino afirma claramente as crenças do protestantismo. Em um volume, o reformador aborda as crenças principais. No entanto, ele continuou a adicionar material ao seu livro ao longo de toda a sua vida.
Ele começou com o Credo apostólico, destacando quatro pontos: “Creio em Deus Pai […] Jesus Cristo […] o Espírito Santo […] e na santa igreja católica” — que correspondem às quatro sessões do livro. Em cada uma, Calvino buscava não apenas afirmar uma teologia, mas procurava aplicá-la à vida cristã.
O Livro πι das Institutas, que contém a doutrina da predestinação, recebeu muita atenção. Por mais insólito que pareça, o conceito não era apenas dele, embora Calvino o tenha explicitado. Lutero e a maioria dos outros reformadores acreditava nele. O modo vigoroso de afirmar esse conceito fez com que uma conexão entre esse ensinamento e o nome de Calvino fosse estabelecida.
Calvino concentrou-se de forma veemente na soberania de Deus. Ele rejeitava o fato de a Igreja Católica ter mudado para uma teologia de salvação pelas obras. O reformador repetia constantemente: “Você não pode manipular Deus ou torná-lo seu devedor. Ele é quem o salva; pois você não pode fazer isso por si mesmo”.
Deus decide salvar algumas pessoas e somente ele pode saber quem é eleito, ensinava o reformador. A vida moral pode mostrar que há grande possibilidade de uma pessoa ter sido escolhida por Deus. Contudo, Calvino, homem extremamente moralista e muito enérgico, insistia em que seus seguidores deveriam mostrar sua salvação por meio de atitudes. Ele enfatizou que os cristãos deveriam agir de maneira a transformar o mundo pecaminoso, uma idéia que foi passada adiante pelo calvinismo.
No Livro iv das Instituías, Calvi-no criou uma ordem eclesiástica baseada no que ele observava nas Escrituras. A congregação deveria eleger homens de boa moral — os presbíteros ou anciãos — que seriam os responsáveis por guiar a igreja. Ele também abordou a questão dos pastores, doutores (mestres) e diáconos.
As doutrinas e a política reformada, que criou, espalharam-se pela Escócia, Polônia, Holanda e América.