1675

Philip Jacob Spener publica Pia desideria

Na parte final do século xvn, a Igreja Luterana abandonara de certo modo sua ênfase na fé pessoal, para enfatizar o anseio pela doutrina correta. Um pastor desafiaria essa situação com um pequeno livro que mudou o protestantismo.

Em seus estudos na universidade de Estrasburgo, Philip Jacob Spener aprendeu as línguas bíblicas, doutrina e história, disciplinas que geralmente faziam parte do curso normal requerido para o ministério. Porém, seus professores também colocaram na mente daquele jovem o anseio pelo renascimento espiritual e pela ética cristã. Spener descobriu a necessidade de aplicar a erudição à experiência pessoal. Nenhuma religião formal terá qualquer conseqüência a não ser que a pessoa nasça de novo.

O novo ministro enfrentou muita controvérsia por pregar contra o ócio e a imoralidade, assim como por tentar fazer com que sua congregação praticasse o cristianismo pessoal. O clero da Igreja Luterana via a si mesmo como o centro da igreja e sentiu-se ameaçado com a mudança rumo ao individualismo que essa pregação incentivava.

Spener passou a promover reuniões devocionais, conhecidas como collegia pietatis, que viriam a formar a base do movimento do pietismo.

Esse pastor luterano escreveu suas idéias sobre a Reforma, além de pregar em seu púlpito, em Frankfurt, e de formar os grupos locais. Em 1675, publicou a Pia desideria [Desejos piedosos], obra que apresentava seu plano de seis pontos.

Primeiramente, ele queria que os cristãos tivessem compreensão das Escrituras que fosse mais profunda e que afetasse mais a vida comum. Para alcançar esse objetivo, ele sugeriu a implementação de reuniões de pequenos grupos nas casas. Os clérigos do século XVII achavam que isso era utópico e que se tratava de uma idéia potencialmente ameaçadora.

Spener queria que a igreja levasse a sério o sacerdócio de todos crentes, de modo que sugeriu que os leigos assumissem certas responsabilidades dentro dos collegia pietatis. Embora o pastor fosse importante, não deveria ser o único responsável por carregar o fardo do alimento espiritual.

Opondo-se ao temor de sua época, ou seja, de que o individualismo poderia trazer problemas, Spener defendia que a igreja deveria enfatizar a experiência pessoal. Ele percebeu que ter apenas a doutrina correta levaria a uma fé morta.

Aprendendo com a Guerra dos Trinta Anos, que já provara os perigos das controvérsias religiosas, Spener buscou evitar o conflito teológico. Se fossem inevitáveis, os debates deveriam ser promovidos em um espírito de amor, mas insistia em que as pessoas se restringissem às questões essenciais da fé e não causassem confusão devido aos itens de menor importância. Ele dizia que era melhor orar pela pessoa que estava no erro do que gritar com ela.

Spener dizia que os pastores deveriam não apenas aprender sobre a Bíblia e a teologia, mas também deveriam saber como lidar com os leigos. O pastor que não pudesse expressar uma vida de devoção não poderia liderar sua congregação rumo a esse objetivo.

Ele também encorajou os pastores a proferir sermões que aplicassem as Escrituras à vida cotidiana. Eles deveriam inspirar e informar, ser inteligíveis e promover a elevação espiritual. Em vez de simplesmente fazer um discurso, os pastores precisavam inspirar o povo de Deus.

Devido ao grande furor que as idéias de Spener causaram, ele teve de mudar-se de Frankfurt para Dresden e depois para Berlim. Em 1694, já em Berlim, ele e August Francke fundaram a Universidade de Halle. Sob a liderança de Francke, a universidade se tornou um centro de evan-gelismo e de missões. Muitos anos depois de a Igreja Católica ter levado missionários para a Ásia e a América, as missões protestantes começaram em Halle, com um centro de estudos para que as línguas orientais e tradução da Bíblia fossem estudadas.

Embora o clero visse apenas grandes ameaças no programa de Spener quanto à reforma, ele trouxe alegria aos leigos. Nas igrejas que adotaram seus ensinamentos, a vida familiar foi melhorada, os padrões morais foram elevados e as pessoas aprenderam que o cristianismo significava muito mais do que simplesmente concordar com um catecismo. As reuniões de pequenos grupos encorajavam um sentimento familiar na congregação e a Bíblia se transformou em algo cheio de vida para os crentes.

Lutero enfatizara a importância do canto congregacional, mas seu uso estava enfraquecido. O pietismo deu um grande impulso à hinologia, e compositores como Paul Gerhardt, Joachim Neander e Gerhardt Tersteegen produziram hinos que, mais tarde, seriam traduzidos e incorporados’ aos binarios metodistas de língua inglesa.

Influenciadas pelo fervor do pietismo, muitas igrejas desenvolveram o estudo bíblico e os grupos de oração, ultrapassando o que seu fundador idealizara. Os aspectos práticos do pietismo — a ênfase no sentimento e na propagação do cristianismo — tiveram conseqüências de grande projeção e foram particularmente influentes no desenvolvimento do cristianismo americano.

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