1865
William Booth funda o Exército de Salvação
Com o crescimento da indústria, cresceram também os abusos contra a classe trabalhadora.
A Inglaterra saía de um estilo de vida agrícola e iniciava uma vida centrada nas fábricas, o que fez com que as favelas de Londres crescessem. Milhares de pessoas chegavam à cidade, vindas do interior, à busca de trabalho, mas, com freqüência, trabalhavam e moravam nas piores condições possíveis.
A igreja deveria ser a primeira a aliviar o sofrimento dessa gente, mas ela estava perdida. Como toda a Inglaterra, Londres fora dividida em paróquias, em distritos que não mudavam havia séculos. A despeito da crescente população da cidade, a Igreja da Inglaterra não tinha provisões para novas igrejas e novos clérigos. Para criar uma nova paróquia era preciso que houvesse a aprovação do Parlamento, o que era um processo vagaroso.
A Igreja Metodista, denominação que atendia a classe média, também não foi capaz de atingir de maneira eficiente a classe trabalhadora. Os metodistas fizeram esforços para alcançar os que haviam abandonado a Igreja da Inglaterra, mas os pobres que moravam nos becos permaneciam distantes do Evangelho.
Preocupado com o clamor dos pobres, William Booth e sua esposa, Catherine, fundaram em 1865 uma missão aos pobres, localizada em uma área periférica de Londres, o East End. Aquele começo em uma humilde tenda deu início ao ministério do Exército de Salvação.
Ao redor do casal de evangelistas estavam lares superlotados, nos quais havia violência familiar, bebedeira, prostituição e desemprego. A prosperidade, marca da classe média vitoriana, não se estendia à região de East End.
Os esforços legais pareciam não resolver o problema, e William acreditava que a situação só mudaria quando o coração das pessoas fosse transformado. Uma vez conhecendo Jesus Cristo, o comportamento das pessoas poderia melhorai; além de suas condições de vida.
Isso não significava que os Booths ignoravam os problemas ao seu redor. Eles criaram estabelecimentos comerciais chamados de Comida para os Milhões, oferecendo refeições baratas. Se a pessoa estivesse de estômago cheio, seria mais fácil ouvir a mensagem da salvação de Cristo.
Embora Booth seguisse muitas das idéias organizacionais da Igreja Metodista, que abandonara, ele foi além, terminando por criar uma organização que seguia as linhas militares. Um de seus seguidores fez a propaganda de uma reunião chamando-a de “o exército de aleluias lutando para Deus”. O forte controle que Booth exercia sobre sua organização levou algumas pessoas a chamá-lo de general. Em 1878, o grupo assumiu o nome de Exército de Salvação. Seu general, cônscio de sua atitude, já o havia organizado com uniformes, oficiais, bandas marciais e uma revista chamada O Brado da Guerra (publicada até hoje).
Alguns cristãos sentiram-se ofendidos pelo Exército. Além do mais, as bandas que marchavam pela cidade não tinham a dignidade da música anglicana. Será que o Diabo estaria usando o Exército de Salvação para fazer com que o cristianismo parecesse uma coisa ridícula? O Exército, no entanto, fazia sucesso. As bandas podiam ser ouvidas por todas as ruas da cidade e tocavam músicas seculares, de apelo popular, com letras cristãs. “Por que o Diabo ficaria com todas as melhores músicas?”, perguntava Booth.
Além disso, a vida familiar melhorou por causa da influência do Exército de Salvação. Abordava-se efetivamente os problemas da fome e da falta de habitação, e o Evangelho era pregado a muitos que nunca haviam colocado os pés em uma igreja.
Contudo, se os cristãos tinham objeções ao Exército de Salvação, alguns não-cristãos tinham reações ainda mais fortes. A medida que a classe trabalhadora se convertia a Cristo, levava adiante a política de abstinência do Exército. Isso influenciou o mercado dos fabricantes de bebidas, que se tornou particularmente hostil ao Exército de Salvação. Durante as últimas duas décadas do século xix, os oficiais do Exército foram assaltados, e seus imóveis eram depredados.
Porém, até mesmo os piores zom-badores tinham de admitir que o Exército fizera um bom trabalho ao transformar devassos e exploradores de crianças em pais estáveis e bons trabalhadores.
Catherine, esposa de Booth, a-poiou de maneira hábil os esforços de seu marido, e a missão do casal foi levada adiante por sua numerosa prole. O Exército de Salvação espalhou-se não apenas por toda a Inglaterra, mas chegou a todos os cantos do mundo.
William viajou cerca de 8 milhões de quilômetros, pregou aproximadamente 60 mil sermões e alistou cerca de 16 mil oficiais para trabalhar com ele. Seu livro mais famoso, intitulado In darkest England and the way out [A Inglaterra mais torpe e a solução para o problema] mostrou a muitos vitorianos que eles não precisavam se engajar nas missões estrangeiras para descobrir “pobres ímpios” que precisavam de Jesus Cristo. Booth fundou agências que cuidavam das necessidades físicas e sociais das pessoas, além de pregarem o Evangelho. Em toda a sua carreira, ele desenvolveu técnicas de comunicação às massas e de como compartilhar a mensagem de Cristo. Cerca de 40 mil pessoas compareceram ao seu funeral, em 1912.
Enquanto levava sua mensagem aos pobres da Inglaterra, o Exército de Salvação representava o trabalho incansável daquele que havia ministrado aos pescadores, às meretrizes e aos leprosos.