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Beda, o Venerável, conclui sua História eclesiástica da Inglaterra

Em uma época que não se destacou por sua erudição, Beda se sobressai como guia. O fato de ele ter sido chamado de “Venerável” testifica grande conhecimento e a estima que desfrutava.

Embora a confusão política tivesse efetivamente destruído muito da cultura, os mosteiros permaneciam como centros medievais de educação. Naqueles locais, rapazes aprendiam literatura, os amanuenses copiavam manuscritos antigos e homens estudiosos como Beda se entregavam aos textos. Os monges preservaram viva a sabedoria da Grécia e de Roma, com as obras dos pais da igreja. A vida caminhava a passos lentos nas dependências dos monasterios.

Além de ter sido um dos mais brilhantes pesquisadores de sua era, Beda também foi muito devoto. Em uma autobiografia bastante breve, narra seu nascimento nas vizinhanças dos mosteiros de Wearmouth e Jarrow, no norte da Inglaterra, no ano de 635. Aos sete anos, ele passou a ser tutelado pelo abade daquela região e viveu o restante de sua vida no mosteiro, jamais se aventurando fora de seus limites.

Embora a idade mínima comum para a ordenação ao diaconato fosse de 25 anos, Beda recebeu essa ordem aos 19, sem dúvida recomendado por sua piedade. Aos 30 anos, tornou-se sacerdote e passou o restante da sua vida escrevendo comentários bíblicos e outra obra ligadas à religião. Sua biografia parece mais um catálogo de seus livros que um relato de seus feitos.

A grande contribuição de Beda à igreja foi sua obra História eclesiástica da Inglaterra, que abrangia a história da Inglaterra desde os dias de Júlio César até os dias de Beda. Embora fosse, em muitos aspectos, uma história de propósito geral, o foco principal do livro era a cristianização da Inglaterra e a maneira pela qual o paganismo gradualmente dera lugar à nova religião.

O livro de Beda estava repleto de histórias de missionários valorosos e de chefes tribais e pagaos que finalmente viram a luz da verdade, embora o autor mantivesse um ceticismo saudável. Ε claro que, em uma era pré-científica, ele pode ter incluído qualquer tipo de história e poucos poderiam refutar seus relatos. Contudo, preocupado com a verdade histórica, Beda cita cuidadosamente suas fontes ao se referir a alguma testemunha confiável. Embora ele não tivesse dificuldades para acreditar em milagres, desejava registrar os que fossem verdadeiros, afastando-se das lendas de fundo puramente piedoso.

Ε que histórias ele conta! Júlio César e Cláudio, o papa Gregorio e o missionário Agostinho, a invasão das tribos dos anglos, dos saxões e dos jutos, tudo isso povoa suas páginas. Por intermédio dessa obra, conhecemos histórias maravilhosas como a de Gregorio, o Grande, que, ao ver meninos escravos de cabelos claros à venda em Roma, ficou tão tocado por sua beleza que nunca se esqueceu de seu desejo de evangelizar sua terra natal. Lemos também sobre o rei pagão Edwin, cujo conselheiro contou uma parábola comparando a vida a um pardal voando em um enorme refeitório e saindo rumo à escuridão. Ele, portanto, aconselhou o rei a se converter ao cristianismo, uma vez que dava alguma esperança de vida além do “vôo breve sobre a sala de banquete”.

A História de Beda contém algumas passagens singulares como esta: “Nenhuma cobra pode existir ali [na Irlanda], pois apesar de serem, com freqüência, trazidas da Bretanha, tão logo o navio se aproxima da terra, elas respiram o perfume de seu ar e morrem. Na verdade, quase todas as coisas desta ilha concedem imunidade ao veneno”.

Porém, até mesmo os historiadores seculares não duvidam do cuidado de Beda como relator, pois continuam a observar que seus fatos estão corretos em praticamente todos os detalhes.

Antes de História eclesiástica da Inglaterra, as várias tribos inglesas tinham suas histórias, principalmente na forma de poesia paga, as quais eram muitas vezes recitadas por bardos. Mas Beda apresenta a história pelas lentes do cristianismo, mostrando que um grupo de diversas tribos se transformou em uma nação com uma única religião.

Em vez de destemidos heróis guerreiros como Beowulf, os heróis de Beda são santos, pessoas que dependem da graça de Deus. Com todos os outros historiadores medievais, ele deu à história um novo arcabouço: ela precisava ser a mais exata possível, mas também inspiradora.

Sem Beda, muitas dessas histórias teriam desaparecido com o passar dos tempos. A Inglaterra pode agradecer a esse venerável monge o fato de ter consciência de sua identidade como nação e de seu lugar como país cristão.

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