“ …cada um recebe… ou bem, ou mal” (2 Co 5.10).
Muitos comentadores renomados têm tido dificuldades
nesta passagem, quando se defrontam com a palavra
“ mal” . Porém, é evidente que, a palavra MAL no presente
texto não significa “ pecado” . Diante deste Tribunal não
haverá nem pecado nem pecador (cf. Lc 20.35,36).
Quando se invoca o sentido profundo da palavra “ pecado”
no original hebraico é “ hattã’th” que traduzida para
o grego clássico é “ Hamartia” . Porém, na passagem citada,
a palavra “ mal” # deve ser depreendida do uso que dela
faz o profeta Isaías. O uso de “ RA” em Isaías 45.7, onde se
diz que Deus cria o “ mal” , fica esclarecido o seu uso no
tempo e no espaço quando vemos que em mais de 450 vezes
que esta palavra se encontra no Antigo Testamento, muito
poucas vezes ela se refere a Deus como a causa da coisa
realizada, e também veremos que em cada um desses casos
o “ mal” mencionado não indica pecado, e, sim, consiste no
castigo justo que Deus impõe sobre aqueles que pecaram.
Não se diz que Deus criou o pecado deles, más se diz
que Ele trouxe a calamidade e o castigo sobre eles. Esta
correção divinamente imposta foi a palavra “ RA” distintamente
declarada como uma experiência do mal vinda de
Deus como penalidade, em contraste com o bem que ele
concederia em outra situação.(־(
a. O apóstolo Paulo retoma isso em seus elementos
doutrinários, quando diz: “ Agora folgo, não porque fostes
contristados, mas porque fostes contristados para 0 arrependimento;
pois fostes contristados segundo Deus… Porque
a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a
salvação, da qual ninguém se arrepende…” (2 Co 7.9,10;
Hb 12.11). Acreditamos, pois, que o “ mal” (rá) em referência
seja apenas uma repreensão da parte do Senhor para
aqueles que usaram material ou doutrina “ espúria” na sua
obra (1 Co 3.13 e ss; 9.17 e ss). Jó entendeu isso muito bem
quando disse para sua esposa: “ …receberemos o bem de
Deus, e não receberíamos 0 mal? (rá)” (Jó 2.10).
b. O galardão. A palavra “ galardão” tem nas Escrituias
diversos sentidos e métodos de aplicação: Para Abraão,
o próprio Deus era o “ …seu grandíssimo galardão” (Gn
15.1). Rute, a moabita, recebeu “ …0 galardão do Senhor
Deus de Israel” (Rt 2.12). No estudo em foco, devemos traduzir
a palavra “ galardão” (misthapodosia) por “ recompensa”
(misthos). Este termo nasceu da vida comercial, e
originalmente denotava o pagamento feito a um trabalhador,
mas desde os tempos helenísticos também se usava
em contextos religiosos.(4־ (Havia, por outro lado, um outro
verbo que expressava 0 significado do pensamento:
“ opsõnion” , que era tirado dos círculos militares, e significava
as rações do soldado e, depois, 0 pagamento pelo serviço
militar e, finalmente, o salário de um oficial do governo.
Porém, como o grego é bastante rico nesse sentido, usava-se
também outra palavra com sentido mais lato: “ kerdos”
; “ kerdos” trazia a idéia de “ lucro” , “ vantagem” ,
“ ganho” , etc.
Para alguns esse “ galardão” ou “ recompensa” , tratase
de “ coroas” que receberemos da parte do Senhor. Os
atletas do passado recebiam após as competições, suas
“ coroas de louro” ou “ coroas da vitória” . Como sinal de
haverem alcançado o “ prêmio” . Paulo fala disso em 1
Coríntios 9.24 e, depois, faz uma exortação: “ …Correi de
tal maneira que o alcanceis” .
c. 0 argumento de Paulo parte do menor para o maior.
Se os homens dão tão elevado valor às honrarias e coroas,
que por si mesmas se revestem de tão pouca importância e
valor, quanto mais devem os cristãos se esforçar e prezar
aquelas coroas espirituais que nunca haverão de perecer,
dotadas de valor infinito, que transcedem a tudo quanto é
terreno e físico!
Se um homem é capaz de treinar tão diligentemente,
de sofrer tantas privações, de agonizar física e mentalmente
para um acontecimento que ocupará um único dia, sabendo
que a competição será intensa e que as chances de
ele sair vencedor não são grandes, quanto mais (diz Paulo)
os cristãos devem dispor-se, deixando de lado todos os prazeres
e ocupações inúteis, a fim de alcançarem a “ incorruptível
coroa de glória” .
Na posição de corredor, ele corria com um alvo definido.
Na qualidade de lutador, tinha um oponente. Em ou42
tras palavras, ele tinha um alvo, uma vitória a conquistar.
Então ele passa agora seu exemplo para seus leitores: “ Sede
meus imitadores, como também eu de Cristo” .
1) A coroa de glória. “ E, quando aparecer (na sua vinda)
0 Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de
glória” (1 Pd 5.4).
2) A coroa incorruptível. “ E todo aquele que luta de
tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível,
nós, porém, uma incorruptível” (1 Co 9.25).
3) A coroa de alegria. “ Portanto, meus amados e mui
queridos irmãos, minha alegria e coroa…” (F1 4.1; 1 Ts
2.19,20).
4) A coroa da justiça: “ Desde agora, a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele
dia (diante do tribunal); e não somente a mim, mas
também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8).
5) A coroa da vida. “ Bem-aventurado o varão que sofre
a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa
da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o
amam” (Tg 1.12; Ap 2.10). Cumpre-se aqui, portanto, o
que diz o profeta Isaías acerca de Jesus: “ …o castigo que
nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras foram
sarados” (Is 53.5b). Isto, aponta claramente para o
Calvário, onde Jesus suportou por nós “ uma coroa de espinhos”
(Jo 19.2) para nos dar o direito de sermos participantes
de “ uma coroa de glória” . Isso é supremo sacrifício!
Jesus, nosso Senhor, morreu com apenas 33 anos de
idade! Depois de ter sofrido “ uma eternidade de dores!”
Seus inimigos aqui na terra o julgaram digno de “ uma coroa
de espinhos” . No Céu, porém, o quadro se inverte. E
Ele está presentemente “ coroado de glória!” (Hb 2.9), etc.
fonte: Ecatologia Severino Pedro da Silva