ALGUNS MÉTODOS USADOS POR JESUS

Não se pode afirmar que Jesus tivesse consciência do estudo de certos
métodos ou do seu emprego nas lições que dava. Tudo parece indicar que não,
notadamente no sentido em que o fazemos hoje em dia. Contudo, da maneira
habilidosa por que os empregou, depreendemos que ele foi verdadeiro mestre no
uso de métodos. Certamente aqueles métodos lhe eram coisa natural, e não fruto
de deliberados estudos e planificações, e brotavam da ocasião e da necessidade.
Não obstante, os resultados eram essencialmente os mesmos. Jesus é
incomparável no uso de métodos, e ensinou como nenhum outro. Praticamente
tudo aquilo que hoje é mui comum nas atividades educacionais foi usado por
Jesus, ao menos cm embrião. Vamos ver, ainda que ligeiramente, alguns desses
métodos.

1. Uso de Objetos ou Coisas

Ainda que nem sempre, é fato que Jesus ensinou por meio de lições
objetivas. Ele buscou fazer da verdade uma coisa concreta e viva, e este método
naturalmente deu resultado. Ele se utilizou do seu princípio geral, duma forma ou
doutra, mais que de sua prática específica. Temos, porém, vários casos bem
definidos e interessantes do emprego que Jesus fez de objetos.

1) A natureza e o valor dos objetos

Ordinariamente, quando se fala em lições objetivas, pensamos logo no uso
de coisas que simbolizam ou sugerem a verdade a ser ensinada. Isso inclui
modelos, quadros, desenhos, mapas e outros materiais semelhantes. Um modelo
da arca de Noé, ou do tabernáculo, ou do conjunto duma missão estrangeira é
valiosa ajuda para aclarar e avivar a cena a ser discutida. Também o uso de bons
quadros ou de desenhos no quadro-negro ajuda bastante a apresentação de
cenas bíblicas ou missionárias, como de outras verdades. O planetário numa escola
pública, mostrando a posição relativa do sol e da terra, torna muito mais
clara a razão da mudança das estações do que uma definição abstrata ou uma
explicação como esta: “A mudança das estações deve-se à inclinação do eixo da
terra para o plano da eclíptica, ao mesmo tempo que a terra rodeia o sol.” Notese,
porém, que objetos simbólicos, como um bocado de pão para representar que
Cristo é o Pão da Vida, cu clarear um copo de água escura ou turva por meio de
elementos químicos para mostrar cemo a regeneração limpa o coração do pecador,
são métodos não muito recomendáveis porque as crianças podem tomar o
figurado pelo real.

O valor dos objetos está no apelo à vista, aos olhos, e no modo definido e
prático pelo qual representa aquilo que se descreve. Por meio de coisas que os
alunos podem ver, conseguimos de modo eficaz prender o pensamento, a atenção e o interesse deles, bem mais do que por palavras que lhes dirigimos;
tanto que alguns afirmam que 80% de nossos conhecimentos nos vêm pelos
olhos. Quase que invariavelmente lembramos bem mais aquilo que vemos do
que aquilo que ouvimos. Um dos professores mais fracos que este escritor
conheceu ensinou uma das lições mais profundas que ele aprendeu na vida,
quando desenhou no quadro-negro uma escada mais larga no topo do que no
pé, para com aquilo ilustrar que, quanto mais subimos no terreno da educação,
maiores são as oportunidades que temos na vida. Os professores Í3rão muito
bem em buscar usar desembaraçadamente o quadro-negro.

Eduardo Leigh Pell diz: “Falamos de princípios gerais, quando devíamos
mostrar coisas concretas. Não poucos mestres gastam meia hora, tentando
explicar uma coisa com palavras de sua boca, quando um lápis, um pedaço de
papel e duas ou três linhas retas ou curvas tornariam em dois minutos aquilo tão
claro como a luz meridiana.” E acrescenta: Se o católico romano se mostra mais
afeiçoado à sua Igreja do que o protestante, é em grande parte porque àquele se
deixa ver e manusear as coisas ao passo que ao protestante se exige que as
alcance com a imaginação.”

2) O uso que Jesus fez de objetos

Um dos exemplos mais fortes do uso de lições objetivas pelo Mestre é
aquele que nos fala de quando ele tomou um menino e o pôs no meio dos
discípulos, para ensinar qual a atitude que devemos tomar para com o Reino de
Deus (Mat. 18:1-4). Os discípulos pensavam que o Reino era algo com escalas e
ordens hierárquicas, e, portanto, com promoções e distinções especiais. Assim,
ambições e egoísmos ocupavam seus corações, e já discutiam qual deles seria o
maior. Daí Cristo perguntou: “Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?”
(v. 1). Ao que parece, sem qualquer outra palavra de explicação ou de discussão,
chamou uma criança e a pôs no meio deles. Vendo eles a modéstia, o
desinteresse e a humildade exemplificados na criança, Jesus lhes disse que
deviam tomar a atitude da criança para poderem entrar no Reino. E, daí, acrescentou:
“Quem, pois, se tornar humilde como este menino, esse será o maior no
reino dos céus” (v. 4). Era a maior lição sobre a modéstia e contra o mal do
orgulho que a humanidade recebia naquela hora.

Temos também exemplo de Jesus lavando os pés a seus discípulos (João
13:1-15). Os povos orientais usavam sandálias. Caminhando por estradas
poeirentas, os pés sujavam-se muito. Entrando numa casa, para uma visita ou
uma festa, era costume o criado da casa tomar uma bacia de água e uma toalha
para lavar e enxugar os pés dos visitantes. Parece que na hora não estava
nenhum dos da casa, e Jesus foi fazer o papel de criado. Assim lavou e enxugou
os pés dos discípulos. Fez aquilo de modo mui natural e normal, para atender a
uma necessidade. Assim agindo, o Mestre mostrou a dignidade e grandeza do
serviço humilde. Era uma demonstração do que qualquer pessoa deve fazer em semelhantes circunstâncias. Era também outra lição sobre a humildade e uma
das mais expressivas lições que Jesus deu em sua vida. Terminou aquilo,
dizendo: “Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós
deveis lavar os pés uns aos outros. Porque vos dei exemplo, a fim de que, como
eu fiz, assim façais vós também” (vv. 14 e 15).

Noutra ocasião vieram tentá-lo representantes dos fariseus e dos
herodianos, e lhe perguntaram se era lícito ou não pagar tributo a César. Sem
argumentar, Jesus lhes pediu que mostrassem uma moeda de tributo, e lhe
trouxeram um denário. Daí, exibindo-lhes o denário, o Mestre perguntou: “De
quem é esta efígie e inscrição?” Responderam: “De César.” Então o Mestre lhes
disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mat.
22:15-22). Jesus fez pelo menos duas coisas, ao usar aquele objeto. Por um
lado chamou a atenção, pois que não se falha nunca ao empregar este método.
Doutro lado, usou-o como instrumento para ensinar o dever de se pagar tributos,
mesmo que fosse a César, e também nosso dever de dar ao Senhor, visto que
aquilo que possuímos pertence a ele. Mui provavelmente nenhuma outra afirmativa
de Jesus tem sido mais citada do que esta, no decorrer dos séculos.

Outros exemplos incluem a instrução dada pelo Mestre, quando disse aos
do e que sacudissem o pó de seus pés, quando, agindo como missionários dele,
deixassem uma casa ou cidade que não os recebesse bem (Mat. 10:14). Isso
simbolizava que haviam cumprido seu dever para com a comunidade e que já o
sangue deles não cairia sobre os discípulos. Também o caso do paralítico trazido
por quatro amigos proporcionou ao Mestre uma demonstração objetiva do seu
poder de perdoar os pecados dos homens, quando os escribas o acusaram de
blasfêmia, dizendo que só Deus podia perdoar pecados (Mat. 2:6-12). Se ele
podia curar a paralisia, também podia perdoar pecados, pois que isto não era
mais difícil que aquilo, igualmente o Mestre provou sua divindade, dando vista ao
cego, fazendo andar o coxo, dando ouvidos ao surdo, quando João Batista,
assaltado pela dúvida, enviou os mensageiros para lhe perguntar se ele era
mesmo o Cristo (Mat. 11:2-6).

Assim, temos abundantes provas de que Jesus usou lições objetivas para
tornar seu ensino mais atrativo, mais claro e mais impressionante. Alguns dos
seus ensinamentos mais lembrados foram assim apresentados. Podemos usar o
mesmo método, se desejarmos. C. H. Woolston foi pastor da Igreja Batista do
Leste de Filadélfia mais de quarenta anos, em grande parte por ter centralizado
seu ministério nas crianças c desenvolvido um elaborado sistema de lições
objetivas na apresentação de suas mensagens. Podemos usar, com grande
proveito, o qua-dro-negro, cartazes e gravuras, bem como reproduções d: quadros
notáveis.

2. A Dramatização

Cristo lançou mão também do método de dramatização ao ensinar o povo, e
o empregou tanto de modo formal como informal. E os mestres de religião estão
ultimamente usando também cada vez mais as dramatizações. Bom número de livros
tem aparecido sobre isso e não poucas igrejas estão arranjando
equipamento especial e treinando professores no emprego deste método. De
fato, é ótimo auxiliar na pedagogia religiosa.

1) Significado e escopo da dramatização

A dramatização traz consigo a ideia da reconstituição duma cena. Ela é a
reprodução dum acontecimento histórico ou a representação duma atividade ou
fato de nossos dias. Noutras palavras, é o esforço que se faz para representar de
maneira mais precisa, num ambiente apropriado, numa situação histórica ou a
vida de nossos dias. A dramatização, portanto, é primeiramente uma atividade de
imitação ou de reprodução. Contudo, o termo é empregado com significação mais
larga, chegando a abranger tanto a apresentação de verdades como a reprodução
de fatos. Assim, podemos concebê-la com a representação duma
verdade ou lição, sem se levar em conta se o fato tem ou não base definida. As
atividades dramáticas podem incluir incidentes bíblicos, feitos de missionários,
lições de temperança e outros mais eventos a ser apresentados, bem como
lições a serem ensinadas. Um elemento de dramatização pode entrar em
qualquer lição.

Este método é de grande valor não só para aqueles que tomam parte na
dramatização, como também para os demais membros da classe. Os que vão
representar devem estudar cuidadosamente suas partes e sentir bem o papel ou
a pessoa que vão representar. Devem entrar em ação: o pensamento, a
imaginação, o sentimento e a vontade. Devem ser estimuladas as simpatias e
também o interesse geral. Utiliza-se, então, o princípio de se aprender fazendo, o
que é muito mais eficiente do que o de dar simplesmente uma lição ou o de ouvir
uma preleção. “O faz-de-conta” é bom modo de se aprender. E também quem vê
a dramatização aprende mais facilmente do que por meio de, métodos de dar
lição e prelecionar. Uma vez que a dramatização utiliza os olhos e os ouvidos, e
apresenta movimento, trajes característicos e colorido, vê-se claro que é um meio
bem mais eficaz de se apresentar qualquer verdade. A dramatização fala fundo a
pessoas de todas as idades. “Ela quase que desata as pernas da criancinha. É
alegre e boa companheira dos tempos escolares. E ainda quase que se esquece
de respeitar os cabelos brancos e as juntas endurecidas.”

O ensino por meio de dramatizações pode ser feito de vários modos. Podese
realizá-lo por meio de planos previamente ajustados, assim como quando uma
classe se propõe a apresentar a Parábola do Bom Samaritano. Pode ser feita a dramatização sem preparo prévio, também distribuindo o professor os papéis
quando os alunos já estiverem cm classe, passando a dramatizar a lição como
este escritor certa vez teve a oportunidade de ver numa escola paroquial católica
romana. Pode a dramatização ser feita após os necessários preparativos; pode
ser de sombras projetadas sobre uma tela, de quadros vivos ou mesmo uma
pantomima. Podem ser usados também bonecos ou títeres, desenhos simples e
prendedores de roupa. A Parábola do Bom Samaritano pode ser representada
muito bem por meio de bonecos ou títeres. Pode ser representada na classe ou
na reunião do departamento. O que escreve estas linhas sempre se lembra de
certa dramatização duma lição de Escola Bíblica Dominical, feita por alunos do
Departamento de Adolescentes. O próprio professor pode dramatizar uma lição,
como Billy Sunday tantas vezes fazia em suas prédicas. Podemos apresentar em
forma dramática tanto histórias, como biografias feitas de missionários,
condições sociais e morais, e outras mais lições. Desperta-se o interesse,
prende-se a atenção, adquire-se informações, e mais se aprofundam as
experiências quando a dramatização é bem feita.

2) A ênfase dada por Jesus à dramatização

O Mestre estava em boa companhia quando lançou mão do método de
dramatização em seu ensino. Os judeus antes dele já haviam feito isto. As
festas deles eram notadamente dramáticas, visto que o povo, observando a
festa da Páscoa, reconstituía as cenas ligadas ao livramento dos primogênitos
no Egito. Dramatizavam igualmente, por ocasião da festa dos Tabernáculos, às
experiências da habitação cm tendas quando saíram do Egito. As cerimônias do
tabernáculo e do Templo também eram dramáticas, notadamente aquelas que se
referiam à’ purificação dos fiéis e à escolha, matança e oferecimento de animais
ligados aos vários sacrifícios então em voga. Mesmo as cortinas e os demais
pertences e arranjos daquelas instituições tinham significado todo especial. Os
próprios profetas usavam dramatizações, pois vemos que Isaías andou descalço
pelas ruas de Jerusalém para mostrar ao povo a pobreza e a miséria que lhes
sobreviriam. Quando Jeremias passou a usar um jugo de, madeira no pescoço
queria de modo dramático anunciar ao povo seu próximo cativeiro; e
Ezequiel fez um modelo de Jerusalém e lhe pôs cerco, assim prenunciando
sua queda.

Jesus não lançou mão propriamente de programas dramáticos, mas se
utilizou do seu grande principio. Talvez empregasse mais salientemente este
método quando instituiu o Batismo e a Santa Ceia. Estes sacramentas são os
sucessores neo-testamentários das festas do Velho Testamento. Não são meras
ordenanças, ou cerimônias, nem atividades de companheirismo, mas, sim,
métodos de ensino. Em forma dramática reconstituem as mais significativas
experiências e ensinos da vida de Cristo. A Ceia do Senhor representa seu corpo
quebrado e seu sangue vertido para a redenção da humanidade, e também
nossa participação nos benefícios dessa experiência quando aceitamos a  Jesus. O Batismo representa a ressurreição de Cristo dentre os mortos (o sinal
que ele prometera, como Filho de Deus), nossa morte para o pecado e nossa
ressurreição “para andarmos em novidade de vida” (a maior e mais singular
experiência humana), c a ressurreição final dos mortos (a esperança da
imortalidade). Estas são as verdades fundamentais do cristianismo. É como J. F.
Fove disse: “Com a voz os homens pregam o evangelho para o ouvido, è com as
ordenanças o pregam para es olhos.”

Este conceito eleva tais atividades do plano inferior das cerimônias vazias
para o alto nível tias mais eficazes práticas didáticas que o homem conhece —
o de ver a verdade reconstituída e não o de meramente ler algo a respeito
dela ou o de ouvir falar nela. Dá novos valores a velhas práticas, e justifica a
posição batista através das idades no que respeita a cerimônias
comemorativas. Não somos pessoas antiquadas, mas pedagogos dos
tempos modernos. Os modernos métodos de educação justificam plenamente
nossa posição. Assim, os que deles participam podem considerar unia honra
esse privilégio de proclamar assim ao mundo os pontos essenciais do evangelho
do modo mais impressionante possível. Este conceito igualmente nos afasta da
ideia de que a Ceia do Senhor é um negócio de companheirismo, e fecha duma
vez para sempre a secular questão que trata do sujeito e tio medo do batismo.
É também provavelmente o argumento mais forte contra “a estranha imersão’,
porque, se a imersão de alguém se dá numa atmosfera que impossibilita a
proclamação da verdade inclusa, já perde o seu significado.

Dentre outras atividades dramáticas que caracterizaram
o ministério do Mestre encontra-se o caso de expulsão dos mercadores do
Templo (Mat. 21:12-16). Jesus viu que os judeus estavam abusando do
privilégio de vender animais e aves
para os sacrifícios àqueles que não os tinham, e estavam fazendo aquilo mais
para se locupletarem do que para servir
ao povo. Assim tomou um chicote de cordéis e expulsou os
mercadores, espalhando as aves e os animais, derribando as
moedas no chão, e dizendo: “Minha casa será chamada casa
de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões” (v. 13). Dessa forma
Jesus proclamou dramaticamente a santidade do
Templo e do culto a Deus. “A purificação do templo não foi
tanto por causa do próprio edifício, e, sim, mais para ensinar
ao povo a grande lição da reverência.”

Igualmente de modo dramático o Mestre entrou triunfante em Jerusalém,
montado num jumentinho, e passou por ruas cobertas de ramos de árvores e de
capas dos que o saudavam e aplaudiam. Era assim que os heróis voltavam
vitoriosos a seus lares; só que Jesus montava um jumentinho e não um carro de
guerra, e era escoltado por adoradores e não por soldados, mostrando,assim, que seu reino era de caráter espiritual, e não material ou político (Mat.
21:7-11). Foi, na verdade, um ato notável e dramático, mesmo um dos mais
impressionantes de todo o seu ministério. Vemos, pois, que Jesus de vários
modos empregou em seus ensinos o método de dramatização.

3 . Histórias ou Parábolas

Sem dúvida, o método mais usado pelo Mestre foi o de histórias ou
parábolas. Ê o método que toma o primeiro lugar em seus ensinos. Jesus o
usou tanto que julgamos ser isso o que mais o caracterizou como Mestre; e as
histórias que ele contou são sempre mais lembradas que outros ensinos dele.
Inquestionavelmente Jesus foi o maior contador de histórias que o mundo já
teve.

1) A importância de Justarias e seu uso

O termo parábola significa literalmente projetado ao lado de alguma coisa. É
uma. história ou ilustração tirada de algum caso conhecido ou comum da vida,
para lançar luz sobre outro caso não muita conhecido. É uma apresentação viva
é colorida da verdade. William Sanday diz: “São cenas, ou histórias curtas,
tiradas da natureza ou da vida de cada dia, que apresentam algum pensamento
ou princípio capital que pode ser levado e aplicado ao alto nível espiritual da vida
humana.” H. H. Horne acrescenta: “Parábola é uma comparação de fatos
familiares com verdades espirituais.” Como método de ensino é praticamente
idêntico à história, conquanto seja bem mais curta, para ter mais a natureza da
comparação que da história. As comparações têm sido caracterizadas como
parábolas em embrião.

O método de histórias é de grande valor no ensino. É coisa concreta, apela
à imaginação, tem estilo fácil e livre, assaz eficiente c interessante. É mesmo o
método que “com beleza e remate incomparáveis, sobrepaira como supremo e
sem rival nos anais da literatura humana”. Os que detestam fatos e argumentos,
de bom grado ouvem histórias. E, não só isso: lembram-nas facilmente e são
influenciados por elas. Acadêmicos de teologia que fogem de ouvir uma série de
preleções de grandes eruditos correm apressados a ouvi-los contar histórias por
horas seguidas. As histórias são aplicáveis e apropriadas tanto para crianças
como para adultos. Conquanto tenha falecido há alguns anos, raro é a reunião de
batistas do sul em que não seja lembrada uma ou outra história contada per J.
B. Gambrell. O romance A Cabana do Pai Tomás contribuiu imenso para a
abolição da escravatura. As novelas “influenciam a conduta bem mais do que
livros de moral”. G. Stanley Hall diz: “Deixai-me contar histórias, e já não
desejarei saber quem escreveu os manuais.”

Há três coisas que podemos alcançar por meio de histórias no ensino. A
primeira delas é em prendera a atenção do aluno. Este é o recurso de que
lançam mão diariamente os repórteres de jornais e revistas. Começam a
reportagem com a parte mais sensacional de sua história e daí descem aos
fatos, pormenorizando-os. Também os locutores e professores devem fazer isso.
Margarida Slattery quase que invariavelmente começava uma alocução ou um
livro com uma história empolgante. A outra coisa é usar histórias para lançar luz
sobre algum princípio ou verdade abstrata já enunciada. Pregadores e outros
oradores usam bastante histórias ou ilustrações para tornar claros os
três pontos õ.o sermão ou discurso. É isto de grande valor especialmente na
aplicação da verdade. A terceira coisa é usá-las para a apresentação da lição
toda. Isto caracteriza a fábula, e é o modo pelo qual frequentemente hoje se dão
lições, especialmente às crianças. Tem este processo o mérito de deixar que o
aluno tire por si mesmo a conclusão.

2) Exemplos de Jesus

Interessante é notar que o Mestre dos mestres usou bastante histórias ou
parábolas em seus ensinos. De fato, elas foram mesmo chamadas “a
consumação de sua arte”. Cerca de um quarto das palavras de Jesus
registradas por Marcos, e cerca de metade das registradas por Lucas têm a
forma de parábolas. O vocábulo parábola aparece cinqüenta vezes em o Novo
Testamento. Se colocarmos sob este título as máximas ou parábolas em
embrião, as alegorias e outras mais ilustrações, teremos, é certo, um cento.
Elas se referem a pessoas, animais, plantas e à vida inanimada. Horne nos dá
uma lista total de sessenta e uma; delas, trinta e quatro tratam de pessoas,
como a do ‘bom samaritano”, quatro, de animais, como da “ovelha perdida”;
sete, de plantas, como a da “semente de mostarda”; e dezesseis de coisas,
como as quatro qualidades de terra. Se dos ensinos de Jesus tirássemos as
parábolas, muito desse ensino se perderia. E, se ele não houvesse lançado
mão desse método, não teria encontrado nada tão eficiente como as
parábolas.

Um exemplo de ter ele iniciado uma lição com uma história ou parábola é
aquele em que nos fala de quatro qualidades de terra e da resposta que a terra
semeada deu ao lavrador (Mat. 13:1-9). Ele nos descreve o lavrador lançando a
semente à terra, tendo uma parte caído à beira da estrada em solo duro e
impenetrável, e os pássaros a comeram. Outra parte caiu entre pedras, onde a
terra era rasa, rapidamente aquecida, e a semente brotou logo, mas sem raízes
fortes para sustentar o caule. Outra parte caiu entre espinhos e foi sufocada pelo
rápido crescimento deles. A quarta parte, porém, caiu em terra boa e fértil, criou
raízes fortes e produziu trinta, sessenta e cem por um. Isto foi tudo quanto Jesus
disse, além de estender aos ouvintes um aviso com este remate: “Quem tem
ouvidos ouça.”

Mais tarde, quando os discípulos pediram, o Mestre esclareceu a lição
baseada na parábola. A terra à beira da estrada representa o ouvinte preocupado
ou desatento, do qual a verdade saltita como saraiva no telhado. A terra cheia de
pedras representa a pessoa superficial e emotiva que responde prontamente,
mas sem convicções firmes, e que, por isso, abandona a verdade, quando esta o
leva para caminhos difíceis. A terra de espinhos representa o individuo
preocupado que deixa que o serviço e as diversões o empolguem por completo,
deixando-o sem frutos espirituais. A terra boa representa aqueles que ouvem a
verdade, e a recebem de todo o coração, e a praticam sempre. Ninguém por
certo esquecerá esta história, nem o seu profundo significado.

Boa ilustração do uso de histórias para aclarar a verdade já previamente
discutida é a Parábola do Bom Samaritano (Luc. 10:25-37). Um atormentado
doutor da lei perguntou ao Mestre o que devia fazer para alcançar a vida eterna,
e responde à sua própria pergunta citando o mandamento do amor a Deus com
todas as forças do coração e do espírito, e ao próximo como a si mesmo. A
seguir, em defesa própria, perguntou: “Quem é o meu próximo?” (v. 29). Jesus
não apresentou nenhum argumento teórico, ou ideologia, não. Passou logo a
aclarar a verdade contando a história dum homem que viajava de Jerusalém para
Jericó e que foi assaltado, espancado, roubado e deixado meio morto na estrada.
Depois de terem passado junto dele um sacerdote e um levita (devendo estes
dois por força de suas profissões ter socorrido o assaltado), passou um
samaritano (de raça desprezada pelos judeus, e que, por isso, podia bem
escusar-se de atender ao assaltado) que prontamente o socorreu, cuidando de
seus ferimentos, levando-o à estalagem mais próxima e deixando dinheiro para
se tratar e cuidar bem do estranho que encontrara semimorto na estrada.
Jeitosamente o Salvador perguntou, então: “Qual destes três… mostrou ter sido o
próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (v. 36). O doutor da lei só
podia dizer que foi o homem que o ajudara. Era este, pois um argumento
irrespondível contra a falta de boa vizinhança do doutor da lei.

Um exemplo extraordinário de lição inteira dada por meio de histórias
encontra-se no capítulo 15 do Evangelho segundo Lucas. Quando os fariseus e
escribas lamentaram o fato de Jesus viver na companhia de publicanos
(coletores de impostos) e pecadores (a ralé social), o Mestre respondeu a tais
críticas não com argumentos ou censura, e, sim, com três histórias — da dracma
perdida, da ovelha perdida e do filho perdido. Todos (dracma, ovelha e filho)
eram de algum valor, mas perdidos, dando assim ocasião à grande tristeza. (No
mesmo caso estavam aqueles publicanos e pecadores, de algum valor ainda,
embora perdidos, e que ainda mereciam alguma atenção e interesse da parte
dos escribas e fariseus.) Todos foram diligentemente procurados e achados; e se
tornaram objetos de grande regozijo. (Igualmente aqueles párias e desviados
deviam ser procurados, novamente recebidos e reintegrados com grande regozijo, em vez de serem desprezados, como de fato o eram, por aqueles
mestres de religião do tempo de Jesus.) Que lindo e inspirador quadro o Mestre
nes dá de regozijo pelo pecador que se arrepende, em contraste com a atitude
desdenhosa daqueles supostos chefes de religião! Já não se fazia necessário
mais nenhum argumento ou explicação. Com a arte do Mestre por excelência,
colocara-se diante daqueles desalmados críticos, e de sua atitude pecaminosa, o
espelho da verdade divina.

Jesus, na verdade, foi Mestre consumado no uso de lições objetivas, bem
como no emprego do método de dramatizações, de histórias e parábolas.
Usando-as, a par de sua maravilhosa personalidade, conseguiu atrair as
multidões a si, fazendo com que essas verdades fossem lembradas e repetidas
através dos séculos. Bem faremos nós estudando os modos e meios de
empregar figuras, comparações e parábolas em nossas lições. Auxílios visuais,
dramáticos e ilustrativos devem secundar o nosso ensino.

Sugestões auxiliares para o ensino do sétimo capítulo

Esboço no Ouadro-negro

1. Objetos
1) Natureza e Valor das Lições por Meio de Objetos
2) Usos Que Jesus Fez de Objetos

2. Dramatizações
1) Significado e Escopo da Dramatização
2) A Ênfase que Jesus Deu a Elas

3. Histórias
1) A Importância e o Uso de Histórias
2) Exemplos Deixados por Jesus

Tópicos para Discussão
1. Qual o perigo no uso de objetos?
2. Mencione a lição objetiva mais notável dada por Jesus.
3. Qual a diferença entre dramatização e lição objetiva?
4. Apresente o valor do batismo como atividade educadora.
5. Explique o significado do vocábulo parábola.
6. Qual a maior história contada por Jesus? Por quê?

Assuntos para Revisão e Exame

1. Dê exemplos do emprego, pelo Mestre, de lições objetivas.
2. Quais as vantagens do método de dramatização?
3. Mostre para que Jesus usou histórias.

Fonte: A PEDAGOGIA DE JESUS 3º edição

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima