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Durante o tempo do Papa Benedito XIV, por um decreto da Cong.
do Index, de 13 de julho de 1757, a Bíblia foi reconhecida como útil para
robustecer a fé dos crentes pelas cerebrinas anotações. Esta nova atitude da
Igreja Católica Romana deu um impulso à tradução da Bíblia, tomando-se
a Vulgata como base. Entre os redatores mais fervorosos estava Antônio
Pereira de Figueiredo, nascido em Tomar, perto de Lisboa, em 1725, que
se tornou um padre secular, e morreu num convento em Lisboa, em 1797,
onde tinha estado por doze anos.
Afamado como latinista, historiador e, sobretudo, como teólogo
com idéias liberais, ele estava habilitado para a tarefa da tradução. A sua
versão da Bíblia foi feita da Vulgata, com referência aos textos gregos
originais. Por dezoito anos ele se ocupou com esta obra, a qual foi
submetida a duas revisões cuidadosas antes de ser publicada. A primeira
edição saiu em 1781 pelo Novo Testamento, em seis volumes, de cerca de
400 páginas, com este título: «O Novo Testamento de Jesus Cristo,
traduzido em português segundo a Vulgata, com várias anotações
históricas, dogmáticas e morais, e apontadas as diferenças mais notáveis
do original grego. Por Antônio Pereira de Figueiredo, deputado ordinário
da Real Mesa Censória.»
Em 1782, foi publicada a tradução do Saltério, com uma nota
assinada pelo tradutor, que se acha no fim do segundo volume, dando a
data em que ele começou a obra, nestas palavras: «Comecei a tradução do
Saltério a 22 de outubro de 1779 e acabei-a a 12 de janeiro de 1780. Seja
Deus bendito para sempre.»
O Velho Testamento de Figueiredo foi publicado em dezessete
tomos seguidamente desde 1783 a 1790, com o seguinte título:
«Testamento Velho, traduzido em português, segundo a Vulgata latina,
ilustrado de prefações, notas e lições variantes. Por Antônio Pereira de
Figueiredo, deputado ordinário da Real Mesa Censória.
«Contém, este Velho Testamento, além dos livros canônicos,
geralmente recebidos, todos os livros apócrifos, de que foi esta a primeira
impressão regular em língua portuguesa. Cada livro é precedido de uma
prefação, em que o talento e a erudição do autor se manifestam a cada
passo.»
A edição de sete volumes, completada em 1819, é considerada o
padrão das versões de Figueiredo e inclui uma prefação importante. 0
primeiro volume traz o retrato de D. João, príncipe do Brasil, que se tornou
D. João VI, rei de Portugal em 1799. Eis o seu título:
«A Bíblia Sagrada, traduzida em português segundo a Vulgata
latina. Ilustrada com prefações, notas, lições variantes. Dedicada ao príncipe
Nosso Senhor, por Antônio Pereira Figueiredo, deputado da Real Mesa
da Comissão Geral sobre o exame e censura dos livros. Edição nova, pelo
texto latino que se ajuntou e pelos muitos lugares que vão retocados na
tradução e notas.»
A Bíblia de Figueiredo em um só volume foi publicada pela
primeira vez em 1821, com o seguinte título:
«A Santa Bíblia, contendo o Velho e o Novo Testamentos.
Traduzidos em português pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo —
Londres: impresso na oficina de B. Bensley, em Bolt-Coult, Fleet-Street.
1821.»
Há duas coisas notáveis na edição de 1828, que foi preparada por
Bagster, o grande editor inglês de Bíblias, a saber: ela não contém os
Livros Apócrifos e foi aprovada em 1842 pela rainha D. Maria II, com a
consulta do patriarca arcebispo eleito de Lisboa. Em 1840, uma cópia
desta Bíblia foi oferecida ao governador de Terceira, uma ilha dos Açores,
pelo vice-cônsul britânico, em nome da Sociedade Bíblica Britânica, junto
com um pedido para uma licença de distribuir cópias similares a esta entre
os pobres. Este pedido foi transmitido ao governo central em Lisboa.
Consequentemente uma ordem real foi obtida para os oficiais da
Alfândega do porto de Angra do Heroísmo, para deixar entrar, livre de
impostos, a remessa das Bíblias, e que, antes de distribuí-las, um exemplar
fosse enviado a Lisboa para um exame oficial. Conforme esta ordem, uma
cópia da Bíblia foi remetida a Lisboa em 1842, a qual foi submetida ao
patriarca arcebispo eleito de Lisboa, Francisco de S. Luiz (mais tarde
Cardeal Saraiva), que deu um parecer favorável sobre o livro, com o
resultado que em outubro do mesmo ano uma ordem real foi enviada à
Terceira, exprimindo a aprovação do livro pela rainha de Portugal, baseada
sobre a sanção do patriarca e licenciando a distribuição gratuita, que se
tornou efetiva antes do fim do mesmo ano com o auxílio dos oficiais e para
a satisfação geral da população. A distribuição foi feita aos professores da
instrução primária e secundária, uma para cada professor e duas para dois
dos seus educandos dos mais pobres, e um apelo foi feito ao vice-cônsul
britânico para que ele empregasse os seus esforços para que fosse entregue
mais uma remessa de Bíblias. Devido a esta ordem real, a Sociedade
Bíblica Britânica tem publicado, no frontispício da Bíblia de Figueiredo,
desde 1890, estas palavras: «Da edição aprovada em 1842 pela rainha D.
Maria II, com a consulta do patriarca arcebispo eleito de Lisboa.» Esta
frase se encontra nas edições atuais.
Fonte: A Bíblia E Como Chegou Até Nós