1646
A Confissão de fé de Westminster
Nem todos na Inglaterra aprovavam a igreja estatal. Desde o início muitas pessoas viam o anglicanismo como um sistema que não penetrara profundamente nas doutrinas reformadas. A rainha Elisabete I aprovara Os trinta e nove artigos de religião em 1563, estabelecendo uma igreja episcopal inglesa. Desde o início, os puritanos estavam tentando impor a forma presbiteriana de governo e de cultos menos ritualísticos, mas seus pedidos foram totalmente ignorados.
Os reis da casa de Stuart — Tiago I e seu filho, Carlos I — procuraram aumentar o poder do sistema episcopal. Carlos, que queria a uniformidade tanto na Escócia quanto na Inglaterra, tentou impingir o anglicanismo sobre os escoceses presbiterianos. Essa situação volátil, tratada de maneira desajeitada, levou ao início da guerra civil inglesa.
Carlos ι teve uma longa história de batalhas com o Parlamento. Na primavera de 1640, convocou um parlamento que se opôs vigorosamente a ele, levando-o a dissolvê-lo rapidamente, apenas para convocar outro no outono do mesmo ano. O Parlamento Longo, outrora puritano, seria o motivo de sua queda.
Dois anos depois, diante do mesmo parlamento, o rei tentou prender alguns membros da Câmara dos Comuns que se opunham a ele. Sua acusação de que aqueles homens tinham cometido traição foi a fagulha que deu início à guerra, que levou a Inglaterra ao puritanismo por alguns anos.
Logo no início de 1643, o Parlamento aboliu o sistema episcopal. Para colocar uma igreja presbiteriana em seu lugar, uma assembléia foi convocada na abadia de Westminster. Um total de 121 ministros e 30 leigos — alguns dos quais eram escoceses — se reuniu para reconstruir a igreja inglesa.
Durante os seis anos em que a Assembléia de Westminster se reuniu, Oliver Cromwell, o líder do exército do Parlamento, levou os puritanos ao poder. O rei seria decapitado em 1649.
A Assembléia de Westminster criou a Confissão de fé de Westminster (1646), um clássico do pensamento presbiteriano, assim como o Breve catecismo de Westminster (1647) e o Catecismo maior (1648). As crenças propagadas neles eram puramente calvinistas.
A Confissão falava sobre a inspiração das Escrituras, declarando que a Bíblia é a única autoridade da fé cristã. Em suas línguas originais, as Escrituras foram “inspiradas por Deus e […] se mantiveram puras por todas as eras”. A plena certeza da autoridade divina, porém, é “uma obra interior do Espírito Santo”.
A Confissão de fé de Westminster incluiu a doutrina da predestinação, assunto sobre o qual Os trinta e nove artigos de religião se mantiveram em silêncio. A confissão afirmava: “Alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna e outros preorde-nadas para a morte eterna”. Contudo, “nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura”.
Além disso, ele enfatizava o relacionamento de Deus com seu povo por meio da Aliança. A redenção humana é um tipo de equilíbrio entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.
A Confissão defendia o governo dos presbíteros, em vez de deixá-la a cargo de sacerdotes e de bispos, além de não permitir qualquer espaço para a transubstanciação (ao contrário do que fizeram Os trinta e nove artigos). Do mesmo modo, determinava a observância do domingo por parte do crente, um dia estritamente dedicado à adoração pessoal e pública.
O puritanismo da Inglaterra, porém, não durou muito. Em 1658, com a morte de Oliver Cromwell, nenhum líder forte se levantou do lado puritano. Embora tivesse assumido o lugar de seu pai como Protetor da Inglaterra, Richard, o filho de Cromwell, não tinha as habilidades de liderança de seu pai. Richard afastou-se de maneira digna, e a Inglaterra voltou à monarquia sob o reinado de Carlos II, filho de Carlos I.
O novo rei conseguiu restaurar de maneira bem-sucedida o episcopado na Inglaterra. Os escoceses, no entanto, se apegaram à Confissão de fé de Westminster, fazendo com que ela se vinculasse à Igreja da Escócia. Por intermédio da Escócia, a palavra Westminster se transformou em sinônimo de “calvinismo histórico”.