1833

O sermão Apostasia nacional, de John Keble, dá início ao Movimento de Oxford

O metodismo tentou trazer nova vida à Igreja Anglicana, mas terminou por formar uma denominação separada. No final da década de 1820, a freqüência à Igreja da Inglaterra caíra drasticamente. Enquanto a Igreja Metodista vicejava, a igreja da qual ela se originara es-tava seca e vazia.

O homem que ficou preocupado com a situação da Igreja Anglicana era um clérigo egresso de Oxford, plenamente anglicano, mas com um coração evangélico. John Keble sentia que sua igreja perdera sua força porque se afastara da rica tradição da liturgia e dos escritos dos pais da igreja. A não ser que a Igreja da Inglaterra percebesse sua herança referente à sucessão apostólica, Keble acreditava que ela perderia espaço tanto para os dissidentes protestantes quanto para a Igreja Católica, e por fim desapareceria.

Keble publicou uma coleção de poemas devocionais que refletia a liturgia, com suas festas e dias santos. Os belos poemas da obra O Ano Cristão mostravam o fervor normalmente associado aos metodistas e a outros grupos dissidentes, mas, no entanto, mantinha a tradição anglicana.

Em 14 de julho de 1833, Keble pregou na Oriel College. Seu sermão intitulado Apostasia nacional atacava o Parlamento por reduzir o número de bispos da igreja da Irlanda, dizendo que o ato fora exemplo da interferência do Estado na igreja. A igreja, originada por um ato divino, não deveria estar sujeita à legislação secular.

As palavras de Keble deram início ao Movimento de Oxford (também conhecido por “tratadismo”), que buscava a renovação da Igreja Anglicana por meio de um retorno às crenças e às práticas da igreja primitiva. Dentre os partidários do Movimento de Oxford encontramos os discípulos de Keble, Richard Froude, John Henry Newman e Edward Pusey.

Newman publicou o Tratado dos tempos. Keble e Froude escreveram noventa tratados entre 1833 e 1841. As pequenas brochuras de quatro páginas, vendidas a preço simbólico cada, foram publicadas de maneira anônima, e Newman caminhava pela região de Oxford vendendo-as ao clero.

Alguns dos folhetos, ou tratados, [o que deu origem ao nome “tratadismo”] encorajavam a Igreja da Inglaterra a voltar ao aprisco católico. Embora a Igreja Anglicana não fosse exatamente reformada, ela temia um retorno ao catolicismo, especialmente diante da revogação, ocorrida em 1828, de leis que tiravam dos católicos o direito de realizar cultos públicos — direito lhes fora negado desde o ato promulgado em 1673. As críticas ao Movimento de Oxford atingiram seu auge em 184 1, quando Newman escreveu um folheto dizendo que o batismo e a Ceia não eram os únicos sacramentos. Além disso, ele defendia a crença no purgatório, na presença real de Cristo na eucaristia e na invocação dos santos. O bispo de Oxford respondeu a essa manifestação, ao ordenar o fim da série de tratados.

Alguns clérigos anglicanos — entre eles o próprio Newman — realmente voltaram ao catolicismo, mas a maioria dos que simpatizavam com os tratadistas permaneceu na Igreja da Inglaterra. Embora os que permaneceram apreciassem as tradições da igreja, inclusive os ornamentos e as vestes, a genuflexão, o incenso, a confissão ao sacerdote, a celebração freqüente da Ceia e até mesmo o mo-misticismo, muitos eram, na verdade, anticatólicos. Eles queriam uma religião que apelasse aos cinco sentidos, mas não pretendiam exatamente uma associação com o papa ou com sua hierarquia mundial.

Depois que Newman deixou o Movimento de Oxford em 1845, o movimento procurou se apegar ao que de melhor havia no ritual, na arquitetura e na música, evitando, ao mesmo tempo, outros aspectos do catolicismo. Edward Pusev tornou-se, a seguir, o mais eloqüente porta-voz do movimento.

Muitos evangélicos estavam perturbados pelas práticas desses anglicanos católicos. Em 1846, eles formaram a Aliança Evangélica. Contudo, aquilo que começou como um movimento antitratadismo tornou-se uma maneira de atrair os evangélicos para uma comunhão nacional. A despeito de suas objeções ao ritualismo do Movimento de Oxford, os evangélicos não podiam negar que ele teve influência positiva sobre a Igreja Anglicana. Em vez de verem a si mesmos como servidores públicos ingleses, os clérigos anglicanos que deram apoio ao Movimento de Oxford passaram a levar a sério a tradição apostólica. Em vez de simplesmente moralizar os cultos de adoração, começaram a desenvolver um senso de reverência. Essas mudanças de percepção resultaram no ressurgimento do termo antigo “Alta Igreja”. Muitos clérigos e freiras anglicanos começaram a trabalhar com os pobres nas cidades cada vez mais industrializadas.

Além disso, o Movimento de Oxford nos proporcionou vários compositores de hinos. Os primeiros, anteriores a eles, vieram das fileiras dissidentes. Naquele momento, o próprio Keble, Frederick W. Faber e John Mason Neale, que traduziram para o inglês alguns hinos gregos e latinos que estavam perdidos, juntaram-se a eles.

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