RETETÉ DE TORONTO

Infelizmente, pastores hoje têm apostatado da fé, dando ouvidos a
espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Tm 4.1). Mas há casos
raros em que eles “desapostatam”, isto é, arrependem-se, reconhecem o seu
erro. Não foi esse o conselho que Jesus deu ao pastor da igreja em Éfeso?
“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras;
quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não
te arrependeres” (Ap 2.5).
O pastor canadense Paul Gowdy, que abraçara várias aberrações na
Igreja Aeroporto de Toronto, arrependeu-se e escreveu, há algum tempo,
uma carta, pela qual discorre sobre o seu retorno às verdades da Palavra de
Deus. Ele menciona uma série de heresias, modismos e manifestações —
chamadas por ele mesmo de demoníacas—que, infelizmente, muitas igrejas
brasileiras estão experimentando. A diferença é a designação. Aqui, elas são
conhecidas como “reteté”, “unção da loucura”, etc.
Mas, na tal carta, publicada em vários sites e blogs norte-americanos
— como www.revivalschool.com e www.discernment-ministries.org —, o
pastor Gowdy diz que não foi nada bom o que ocorreu na Igreja Aeroporto
de Toronto. Ele já começa dizendo que a experiência de Toronto para ele foi
uma mistura de maldição. Segundo a sua descrição, o resultado de todo
aquele “mover” (ou, como diríamos aqui no Brasil, “reteté”) foi que a igreja
praticamente se auto-destruiu, esfacelando-se:
Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas
costas, com divisões, partidarismo, críticas ferrenhas uns dos
outros, etc. Depois de três anos “inundados” orando por
pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo,
rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do
Aeroporto de Toronto, fazendo parte de sua equipe de oração,
liderando o louvor e a adoração naquele local, praticamente
vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes
mais enganados que conheci.
As manifestações dos dons espirituais na Igreja do Aeroporto, a partir
de 1994, deram lugar à tal “bênção de Toronto”.
O povo que ia à igreja deixou de ouvir a exposição da Palavra, receber
libertação e graça vindas do Senhor, para ouvir gritos de “fogo!” e sacudir o
corpo de modo estranho. Gowdy acredita que os líderes da igreja eram
pessoas sérias, que amavam o Senhor, até que caíram no laço do engano.
Ele diz o seguinte dos líderes da Igreja do Aeroporto e de si mesmo:
Não amaram o Senhor o suficiente para guardar os seus
mandamentos. Fracassaram por não obedecer as Escrituras, e se
desviaram porque andavam algo maior e grandioso, mais
empolgante e dinâmico. Eu também cometi este pecado.
Preguei sobre esta renovação na Coréia, no Reino Unido, nos
Estados Unidos e aqui no Canadá, e estou profundamente
arrependido ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês, a
noiva e o corpo de Cristo me perdoem, especialmente os
pentecostais e carismáticos, pois todos fazem parte de minha
família teológica.
Gowdy também pergunta, num trecho da carta: “Como fiquei tão cego
assim?” Ele diz isso, ao descrever como pessoas imitavam cachorros, faziam
de conta que urinavam nas colunas da igreja, latiam, rugiam, cacarejavam,
“voavam” e se comportavam como bêbadas. Hoje, ele não tem dúvidas de
que tudo aquilo era algo irreverente e blasfemo ao Espírito Santo.
Ele diz que ficou perturbado com uma profecia que veio através da
esposa de um dos líderes. Dizendo ter sido arrebatada à presença do Senhor
Jesus, ela afirmou que o que experimentou foi muito melhor que sexo!
“Como alguém pode comparar o amor de Deus ao sexo?”, pensou o pastor
Gowdy.
Mas o que mais impressiona em sua narrativa é o fato de ele
reconhecer que os demônios agiam livremente em meio a todo aquele reteté,
por assim dizer:
Quando começamos a suspeitar de que os demônios estavam à
vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que devíamos
nos perguntar se eles estavam chegando ou saindo. Se está
saindo deles, está bem! John defendia o caos afirmando que não
devíamos ter medo de sermos enganados, pois se havíamos
pedido ao Espírito Santo para nos encher; como Satanás poderia
nos enganar? (…)
Tais palavras eram convincentes, mas totalmente contrárias às
Escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro e João alertaram-nos sobre
o poder dos espíritos enganadores, especialmente nos últimos
dias. Mesmo assim, não devotamos amor a Deus para lhe
obedecer a Palavra, e, Como conseqüência, abrimo-nos à ação
de espíritos mentirosos (…)
…eu rolava pelo chão, certa noite, “bêbado no Espírito”, como
costumávamos dizer, e ali, cantando e rolando no chão, comecei
a cantar uma canção de ninar: “Maria tinha um cordeiro e seu
pêlo era mais alvo que a neve”. Cantei esta música infantil de
maneira debochada e imediatamente alguma coisa em meu
coração sussurrou que aquilo era um demônio…
Após essa triste experiência, Gowdy se arrependeu. “Como um
demônio entrou em mim? Eu não amava a Deus? Não era zeloso pelas coisas
de Deus? Não era totalmente apaixonado por Jesus?”, questiona. Mas hoje
ele não tem dúvidas de que espíritos imundos se manifestaram através de sua
vida. E, por isso, se afastou da Igreja do Aeroporto e resolveu, anos depois,
denunciar as experiências que ali viveu.
Ele também conta que pessoas de sua ex-igreja lhe perguntara m se já
havia recebido a espada dourada do Senhor. E então lhes perguntou de que
se tratava, pensando ser uma palavra profética relacionada com as Escrituras.
Mas ouviu deles a seguinte resposta:
Não, não é a Bíblia; é uma espada invisível que somente os
verdadeiramente puros poderão receber. Se for tomada de
maneira errada, então será morto pelo Senhor. Mas, se você for
santo o suficiente para recebê-la, então poderá desembainhá-la,
pois ela cura aids, câncer, etc. e produz salvação. A pessoa deve
fazer gestos de ataque, imaginando ter em suas mãos esta
espada invisível, avançando sobre as pessoas enquanto está em
oração!
“O que é isso, desenho animado?”, alguém poderá perguntar. De fato,
a descrição de Gowdy seria cômica se não fosse trágica. E, infelizmente, a
realidade brasileira não é diferente. Muitos crentes empunham espadas
douradas em vez da espada do Espírito (Ef 6.17); e calçam sapatos de fogo
em vez dos calçados da preparação do evangelho da paz (Ef 6.15).
Paul Gowdy menciona outras manifestações e heresias — que
abordarei em outros capítulos desta obra — e conclui a carta, arrependido
por ter ensinado “coisas que não são bíblicas”. Diz ele: “Eu não testei os
espíritos quando a Palavra ordena que assim seja feito. Todos os que
estavam ali quando estas coisas começaram a acontecer sabem que o que
escrevo é a verdade”.
Destaco agora algumas das últimas palavras contidas na carta:
… temos muitas contas a prestar; o Senhor lhes abrirá os olhos
qualquer dia desses. Imagino que quando esta carta for
publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados…
Bem, o Senhor conhece meu coração e por sua graça haverá de
me guiar a toda verdade, pois quero conhecer a Jesus Cristo o
crucificado (…)
Creio que somos como a igreja de Laodicéia; pensamos que
somos ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e, no entanto
não percebemos que estamos cegos e nus. Precisamos levar a
sério o conselho de Jesus comprando ouro refinado no fogo
(que fala do sofrimento e não de espíritos enganadores),
vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio para os
olhos para poder ver outra vez. O Senhor nos chama ao
arrependimento, e graças ao Senhor pelo que ele é, pois nos
conduzirá e nos restaurará ao Pai.
Ora, o que adianta os crentes rirem e rolarem pelo chão dentro dos
templos, se as almas continuam perdidas do lado de fora?
Diante do exposto, cito ainda o que está escrito em 1 Coríntios 15.1,2:
“Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o
qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também
sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que
crestes em vão”.

 

fonte: Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar – Ciro Sanches Zibordi

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