Em 2011, estive na cidade portuguesa de Évora, situada na região
Alentejo, a pouco mais de cem quilómetros de Lisboa. Duas
coisas sempre despertaram o meu interesse por essa cidade-museu:
as ruínas do Império Romano e a Capela dos Ossos. Seu centro
histórico está muito bem preservado. Desde 1986, é Património
Mundial pela Unesco.
Gostei muito das ruínas romanas, especialmente as de um belo
templo, apelidado de Templo de Diana. Também apreciei o museu,
onde estão peças raríssimas dos primeiros séculos. Mas o lugar
que mais me impressionou foi a Capela dos Ossos, situada dentro
Igreja de São Francisco, um dos mais conhecidos monumentos
de Évora. Ela foi construída no século XVII por iniciativa de três
monges, que utilizaram 5.000 crânios, além de outras partes de esqueletos
humanos (tíbias, vértebras, fémures, etc), na “decoração”
das paredes e dos oito pilares. Mórbido, não acha?
Segundo a História, os monges franciscanos pretendiam transmitir
a mensagem da transitoriedade da vida e, por isso, à entrada
da capela, puseram o seguinte aviso: “Nós ossos que aqui estamos
pelos vossos esperamos”. Os ossos foram retirados dos cemitérios,
situados em igrejas e conventos da cidade.
Muitos pensamentos vieram à minha mente, enquanto admirava
surpreso aquele assombroso monumento. “Quem foram essas
pessoas?”, pensei. “Cada crânio representa uma pessoa, que nasceu,
cresceu, teve uma família, uma história. Onde estarão as suas
almas?” Outro pensamento que me veio à mente foi a respeito da
ressurreição, por ocasião do Arrebatamento da Igreja. A Palavra
de Deus assevera que os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro
(1 Ts 4.16,17). E a ressurreição consiste na reunião entre as partes
imaterial e material.
N Isso significa que, se houver crânios de salvos ali, haverá um
reboliço similar ao da visão de Ezequiel a respeito do vale de ossos
secos! Ainda que os ossos tenham sido retirados de 42 cemitérios
monásticos, é possível que haja esqueletos de salvos na Capela
dos Ossos. Afinal, ela foi erigida no auge da Contra-Reforma, mediante
a qual o romanismo castigou e executou muitos ex-monges
convertidos ao protestantismo.
O Arrebatamento é apenas o primeiro grande evento
escato-lógico. Ele desencadeará uma série de acontecimentos,
bons para os salvos, ruins para os ímpios. Faz parte do Rapto da
Igreja a ressurreição dos mortos em Cristo, os quais — juntamente
com os salvos que estiverem vivos — subirão, já com corpos
transformados (1 Co 15.51,52), ao encontro do Senhor Jesus, nos
ares (1 Ts 4.16,17). E isso ocorrerá antes da Grande Tribulação,
visto que a Igreja não passará por esse terrível período (1 Ts
1.10).
É importante dizer que a ressurreição dos santos é chamada de
a primeira ressurreição, pois haverá uma segunda. Quando Jesus
voltar, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, incorruptíveis.
Observe que apenas “os que morreram em Cristo” ressuscitarão
antes do Arrebatamento. Os que não tiverem morrido “em Cristo”
farão parte da segunda ressurreição, que se dará antes do Juízo
Final. Ela é destinada somente aos ímpios e pecadores.
Teólogos pós-milenaristas têm afirmado que a expressão bíblica
“primeira ressurreição” é simbólica e alude a uma ressurreição
espiritual. Segundo o pensamento deles, Jesus teria previsto
uma única ressurreição do corpo, para justos e injustos. De fato, o
novo nascimento é comparado a uma ressurreição: os salvos morrem
para o pecado e ressurgem para uma nova vida (Rm 6.8-12).
Entretanto, além da ressurreição simbólica e espiritual, ocorrerão
duas outras reais: a da vida e a da condenação.
Em 1 Coríntios 15.53, está escrito: “Porque convém que isto [o
corpo] que é corruptível se revista de incorruptibilidade e que isto
[o corpo] que é mortal se revista de imortalidade”. Ao dizer essas
palavras, Paulo — que já havia ressuscitado, espiritualmente, com
Cristo, como ele mesmo revelou (Cl 3.1,2) — enfatizou a esperança
que tinha em “outra ressurreição” (Fp 3.11), que ele chamou de
redenção do nosso corpo (Rm 8.23).
A primeira ressurreição é a da vida (Jo 5.29a) e se dará em
algumas etapas. Primeiro: Cristo, as primícias dos que dormem (1
Co 15.20,23a). Depois, os santos que saíram dos sepulcros após a
ressurreição de Cristo (Mt 27.52,53). É claro que essa ressurreição
está envolva em mistério. Ela pode ter sido o prenúncio profético
de que a obra vicária de Cristo garante a nossa ressurreição gloriosa
na sua vinda. Ou seja, a ressurreição de Cristo representou a
derrota da morte.
Mas a primeira ressurreição contempla, ainda, os que são de
Cristo, no momento do Arrebatamento (1 Co 15.23b; 1 Ts 4.16),
bem como as duas testemunhas, que morrerão e ressuscitarão na
Grande Tribulação (Ap 11.11), e os mártires daquele período, que
ressurgirão antes do Milénio, como lemos em Apocalipse 20.4-6: “vi
as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus,
[…] e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. […] Esta
é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem
parte na primeira ressurreição”. Observe: primeira, e não única.
A expressão “ressurreição dos [dentre os] mortos” (gr. ek ton
nekron), contida também em Lucas 20.35 e Filipenses 3.11, denota
que, no Arrebatamento da Igreja, os salvos em Cristo ressuscitarão
“dentre todos os mortos”. Ou seja, os justos, santos, fiéis em Cristo,
farão parte da primeira ressurreição, reservada tão-somente a eles,
enquanto os ímpios não reviverão. Por quê? Porque aos ímpios está
reservada a segunda ressurreição.
De acordo com a Palavra de Deus, as ressurreições de salvos
e perdidos ocorrerão em ocasiões bem diferentes, embora sejam
mencionadas juntas em algumas passagens (Dn 12.2; Jo 5.28,29).
Novamente a passagem de Apocalipse 20.5,6 é bastante esclarecedora
acerca dessas duas ressurreições, separadas por um espaço
de mil anos: “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil
anos se acabaram. […J Bem-aventurado e santo aquele que tem
parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda
morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com
ele mil anos” (grifo meu).
Portanto, a segunda ressurreição é a da condenação (Jo 5.29b) e
Acorrerá depois do Milénio e antes do Juízo Final. Os mortos que
“não reviveram, até que os mil anos se acabaram” (Ap 20.5) ressuscitarão
para o julgamento do Trono Branco: “E deu o mar os mortos
que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles
havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras” (v.13).
fonte: Erros Escatológicos que os Pregadores Devem Evitar