INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IGREJA
Prefácio:
Um dos graves “pecados” da igreja protestante especificamente a chamada ala “evangélica”, pentecostal e neo-pentescostal é que se esquece do passado que nos formou. A história da igreja produz um certo pavor aos evangélicos, pois descobre nela alguns eventos que aos olhos do leitor não parecem “bíblicos”, mas esquecem de que aqueles foram nossos “irmãos de fé”. Esperamos ajudar com este esboço até o período do monacato, a entusiasmar e incentivar a leitura da historia da igreja cristã
A Importância do Estudo da História e Especialmente a História Eclesiás-tica:
Ajuda a evitar as mesmas falhas. Assim serve de ajuda para trazer um novo amanhã sem repetir os mesmo erros mais aprendendo também com os acertos
Verifica porque as nossas denominações crêem e praticam o que fazem. ‘E através da história que os costumes e doutrinas tomaram formas.
Conhecer mais profundamente o corpo de Cristo. Seu desenvolvimento
Entender porque algumas igrejas crescem mais e outras menos. Descobre-se os métodos usados através da história para este crescimento e como se leva em consideração o contexto social-político e cultural onde a igreja estava inserida.
Observa-se o dedo de Deus guiando a humanidade aos fins já antes traçados por Ele Oferece farto material ilustrativo para as pregações.
VISÃO GERAL DA HISTÓRIA DO ANTIGO POVO:
O Período no Antigo Testamento:
Israel viveu no meio das nações onde foi posto para ser uma benção e um testemunho.
Cf. Ez:5:5-8. Ele tinha uma missão a ser cumprida. Este era o propósito de Deus. Ao sul de Israel estava o Egito, ao leste a Babilônia e a Assíria a ao norte a Síria e os heteus.
Nos movimentos econômicos-guerreiros dessas nações, sempre passavam por Israel.
Devido à desobediência, as 10 tribos do norte foram levados em cativeiro por Sargom II em 721. Mais de 100 anos depois Nabucodonosor tomou Jerusalém em 586.
O Período Intertestamentário:
A queda da Babilônia diante dos persas abriu a porta para restabelecer em 536 o antigo povo de Deus em sua própria terra, Ed:1. Mesmo assim, o movimento de retorno foi muito lento. Somente 100 anos mais tarde, Neemias conseguiu reconstruir Jerusalém.
Alexandre Magno conquistou o mundo em 331. Após sua morte em 323, Judá permaneceu sob o controle dos Ptolomeus do Egito até ser conquistado por Antíoco III (o Grande) em 198.
Foi a tentativa de Antíoco IV (Epifania) de forçar os judeus a conformar com a religião dele criando problemas insuperáveis. Em 168 devastou Jerusalém e profanou o templo.
Resultou na revolta dos Macabeus e a independência de 167 a 63.
O Período Romano:
Os romanos, sob Pompeu, conquistaram a Palestina em 63 a.C. Israel ficou debaixo o controle romano, mesmo após a revolta malsucedida em 70 .As esperanças políticas dos judeus morreram quando a cidade de Jerusalém foi aplanada após a rebelião de Bar Cochba em 130.
O Novo Povo de Deus:
Surgiu dentro do antigo povo e como cumprimento das profecias do Antigo Testamento.
Ao princípio a igreja é considerada como uma seita do judaísmo. At:24:5; 28:22. Há um sobrepor dum sobre o outro. A igreja é formada dentro do ventre de Israel. Embora nasce a Igreja em At:2, ela já está em formação desde o nascimento de Jesus 33 anos antes. Assim os dois tem vida própria e cedo distinguem-se um do outro, embora ambos são chamados “o povo de Deus”.
A igreja distingue-se de Israel de várias maneiras, mesmo que estas características estão prefiguradas no Antigo Testamento: Ela é o corpo de Jesus Cristo neste Mundo. Seus símbolos (batismo e ceia) são baseados no evento realizado uma vez para sempre na morte de Jesus. Ela é universal, sem nenhuma base em raça ou cultura
O AMBIENTE NO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO
A Influência do Meio Ambiente:
A revelação, tanto do Antigo como do Novo Testamento, foi dada dentro de realidades concretas da história. Assim temos que a forma e o conteúdo da revelação, e assim da religião, estão intimamente ligados à realidade então existente. Por isso, para compreender o cristianismo é necessário vê-lo dentro do mundo em que apareceu e desenvolveu-se.
O mundo religioso que imprimiu suas marcas na nova “seita” judaica era composta de judaísmo, helenismo e religião oficial romana, bem como das religiões de mistério.
A situação sócio-econômica da época também foi importante quanto à formação e expansão da igreja primi-tiva.
O Mundo Pagão no Primeiro Século da Era Cristã:
O helenismo começa a fazer-se sentir muito cedo na Igreja, desde o dia de Pentecostes quando os helenistas se converteram. Logo o grupo tornou-se minoria importante e exigiu atenção especial (At:6). Primeiro Estevão e depois Paulo foram seus grandes líderes. E Antioquia da Síria um grande centro.
O mundo helênico era aquele dos grandes filósofos gregos (Platão, Aristóteles, Epicuro, etc.), mais o da mentalidade antiga grega.
Alexandre Magno não só conquistou o mundo no IV século a.C., mas também tentou implantar o helenismo em todos os países conquistados. No Egito fundou a cidade grega Alexandria. N Palestina implantou 10 cidades na região leste do Mar da Galiléia (Decapólis). A civilização grega trazia em seu bojo não só a linguagem que se tornou universal, mas também sua literatura, arte filosofia e ciência.
O pensamento grego contra o qual os escritores do NT investem é as vezes platônico/gnóstico. Outras vezes é o estoicismo. Lutam também contra a tendência sincretista, tendência esta que assimilaria elementos estranhos dessas mentalidades ao evangelho. Alguns desses elementos são: A matéria em si é portadora do mau. Há um conhecimento esotérico só para os iniciados. Dualismo metafísico. Jesus era das emanações divinas a mais inferior. Antinomismo.
No fim do primeiro século veio uma curta mas grande perseguição na Ásia Menor, devido ao fato que os cristãos recusaram queimar incenso a César. O Pastor de Hermas (escrito patrístico), que data do segundo século, procura resolver o que a Igreja deve fazer com os “lapsos”, isto é, os que queimaram incenso mas querem agora voltar à Igreja.
O Mundo Judaico
O mundo judaico em que Jesus viveu e o cristianismo nasceu era uma sociedade complexa, cheia de tradições que vinham desde os tempos da volta do cativeiro e, especialmente, desde o período dos Macabeus.
Os partidos político-religiosos dividiram entre si a lealdade dos judeus de então. Temos: os saduceus, sacerdotes, basearam-se só em Moisés. Colaboraram com os poderes estrangeiros para manter o controle do poder Os fariseus., peritos nas Escrituras e dirigentes do ensino religioso no pais, aceitaram o AT todo. Sendo descendentes do movimento macabeu tendiam para o xenofobismo. Os zelotas surgiram duma ala deste partido. Os herodianos eram aqueles “camaleões” que mudavam de partido em partido para manterem-se na graça do poder político da hora. Os essênios formavam uma comunidade monocata que retiravam-se da vida judaica e procurava viver conforme as regras do “Mestre de Justiça”. Desses, foram os fariseus e essênios que deixaram maior marca no cristianismo.
Embora os apóstolos adoravam constantemente no templo nos anos logo após a crucificação de Jesus, foi da sinagoga que tiraram o formato para a organização da igreja local, bem como para seu culto. Até hoje os cultos mantêm elementos que vieram direto do culto realizado na sinagoga.
A sinagoga era o lugar principal dos judeus adorarem a Deus e serem ensinados na lei e nos ensinos do judaísmo. Havia uma abertura para o helenismo nas sinagogas da diáspora, que por sua vez teve seu reflexo nas igrejas fundadas por Paulo.
A Situação Socio-religiosa no mundo romano:
Ao redor do Mar Mediterrâneo vivia uma população de 100 milhões de habitantes.
Paz Augusta:
Restauração da república salva e sã sobre suas fundações, foi o ideal de Augustus. Foi uma tentativa para solucionar os problemas de sua época em termos consistentes com o pensamento e aspirações da antigüidade clássica. Procurava associar a noção de poder com a de serviço e assim justificar a ascendência de Roma sobre o mundo mediterrâneo e dos césares em Roma. O principado, com todos seus defeitos, foi dedicado a restabelecer o bem comum. Os césares foram compelidos a manter uma política de paz, um resistir da tentação de adquirir novos territórios. O primeiro aspecto da tarefa foi a manutenção e extensão dos direitos civis individuais. Com esta paz surgiram estradas e o crescimento do comércio internacional. Era possível viajar com bastante segurança. Estava aberto o caminho para a disseminação de idéias e religiões.
Mas o próprio Império, para incluir todos os povos, contribuía para a decadência das religiões nacionais.
Socialmente, a aquisição do Império transformou os agricultores romanos num bloco de magnatas proprietários em confronto com uma massa submergida de proletários, súditos e escravos. Na conquista do mundo os romanos prepararam uma virtual servidão para todos, menos alguns poucos em cujas mãos estavam os meios de explorar o controle do poder econômico-político.
Entre a população o circo tomou o lugar dos banquetes dos ricos. No tempo de Cato , o “tigre” romano adquiriu seu gosto pelo sangue. A Ambição política se esforçou para descobrir meios de satisfazer um apetite voraz e depravado. A solução tomou a forma de espetáculos cada vez mais elaborados e sangrentos.
Em toda parte do Império Romano predominavam uma férrea escravidão, em que a vida e bens do escravo estavam totalmente dependentes de seus senhores. Também calcula-se o número dos mendigos na cidade de Roma como sendo cerca de 200 mil no período Neotestamentário. Foi em parte para apaziguar estes que os césares deram cada vez mais ênfase aos espetáculos do coliseu.
No aspecto religioso, as religiões eram nacionais e muito pouco havia de decisão ou ligação pessoal. Por isso as religiões de mistério e o cristianismo exerceram grande atração. Os mitos religiosos da história greco-romana haviam perdidos quase toda sua vitalidade embora a forma de culto ainda era mantida. O culto imperial surgiu como público reconhecimento oficial das qualidades superiores encarnadas na mente e coração da cidade e seu governante. Exprimiu-se em veneração do imperador vivo e deificação do imperador morto. O culto de Júlio César deificado foi devidamente autorizado pelo senado em 42 a.C. após a vitória dele na guerra civil. As religiões aprovadas pelo colégio pontífico correspondiam só a uma norma: a manutenção da paz dos deuses. E para isto qualquer um serviria enquanto é sentido ser politicamente expediente, isto é, preservava a ordem social.
As religiões de mistério, de origem grega, exerceram grande atração nas massas: orfismo, mitraismo, culto de Isis, etc. Elas tinham semelhança superficial com o cristianismo.
O Mundo Preparado:
Jesus nasceu dentro deste contexto e que biblicamente se conhece como “plenitude dos tempos” Gl:4:4-5. A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu rapidamente conquistar o Império.
Recomendamos a leitura de Gonzales, Justo. A Era dos Mártires. S.Paulo. Vida Nova. p.1-30. Cairns, Earl; O Cristianismo Através dos Séculos. S. Paulo. Vida Nova, p29-44.
EXPANSÃO DO CRISTIA-NISMO NOS PRIMEIROS TRÊS SÉCULOS
Os dados quanto `a expansão do cristianismo nos primeiros séculos são precários. As vezes tem que ser deduzidos de outros. Por exemplo, deduz-se o tamanho da igreja em determinada localidade do número de bispos (ou viuvas) que ali estavam. Há uma série de razões que explicam esta falta de dados. Vejamos algumas: A igreja primitiva se interessava em ganhar pessoas para Cristo, não em contá-las. Embora Atos fale de 3.000 e de 5.000 (2:41; 4:4), em geral fala de “grande número”, “multidão” ou outros termos indefinidos. Também como era considerada uma “religião illícita” os crentes de então procuravam não aparecer e assim chamar atenção a si mesmos. Além do mais, o historiador Lucas, como cronista da expansão da Igreja, tem seu interesse limitado pela visão da chegada do Evangelho em Roma. Assim abandonou a historia de Pedro em 12:17 e a de Paulo logo que este chegou lá. Dos demais movimentos de crescimento só relata no que tocam a este objetivo (e.g.8:4; 11:19). Ainda temos o fator de perda de quaisquer documentos que porventura existiram devido a precariedade da vida desta comunidade primitiva.
Primeira Expansão da Igreja
Devido à natureza fragmentária dos dados, é possível darmos peso demais às viagens missionárias de Paulo e da expansão que as acompanhou (Ásia Menor, Grécia, etc.).
Não temos, por exemplo, conhecimento de como ou por quem o evangelho chegou a Alexandria ou a Roma. Também vemos um congregação em Damasco antes da conversão de Paulo (At:9:1-19), que certo historiador batista, sugere ter surgido apartir de contatos com os discípulos na Galiléia. Alguns pensam que a missão paulina tenha desabado logo após da sua morte.
Os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente foram os convertidos do dia de Pentecostes (At:2:9-11) que levaram o evangelho consigo quando voltaram para casa. AS regiões alistadas no texto já indicam a larga gama de países do mundo de então.
Uma segunda leva de “missionários” foram aqueles que foram espalhados por toda parte na perseguição que seguiu o martírio de Estevão At:8:4. Estes foram pregando na Fenícia, no Chipre e na Antioquia, mas sempre aos helenistas. Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregaram aos helenos (gregos) em Antioquia.
Como resultado da evangelização do eunuco por Filipe surgiu a Igreja na Etiópia: At:8:26-39.
Parece ser evidente que Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da palestina.
Além das viagens de Barnabé e Marcos (At:15:39), há referência a outros em Rm:15:19-20.
No período apostólico de expansão do evangelho, o NT relata a presença de crentes nos seguintes lugares sem nos indicar quem o levou ou como ouviram: Roma, Bitínia, Mísia, Pontus, Capadócia (1aPe1:1), Tiro, Sidom, Puteoli (perto de Nápoles). Tudo isso parte da obra missionária paulina.
Expansão no Império Romano Leste
Nos dados fragmentários que temos podem ser observado algumas regiões. Na Fenícia a fé cedo parece ter sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável que aqui, como em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano, desenvolvendo-se especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuía uma igreja muito forte.
Na Síria se desenvolveu duas comunidades cristãs: a de fala grega que teve seu início em Antioquia e que se expandiu nas comerciais às cidades de fala grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngüe desde cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao leste na cidade de Edessa. Foi de aqui que expandiu o cristianismo siríaco. A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos seus no Concílio de Nicéia em 325.
Na Ásia Menor, foi área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e João, o cristianismo tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra região grande do Império até o fim do III século. Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local estava desintegrando-se diante do impacto da cultura que chegava a greco-romana. Nas cidades helênicas era menor e nas cidades onde a educação helenista era desconhecida era quase inexistente.. A carta de Plínio ao imperador Trajano na segunda década do II século atesta a larga expansão do cristianismo nas cidades e até no quadro rural de Bitinia.
Apesar da obra missionária de Paulo o número de cristãos na Grécia e nas Balcãs parece ter permanecido minoria até a ascensão de Constantino Os dados da época apostólica até o período de Marco Aurélio os dados são extremamente.
Expansão no Império Romano Africano
Quanto ao Egito a tradição faz de Marcos o missionário que lá plantou o evangelho.
Sabemos que Apolo era de Alexandria, mas não sabemos se converteu-se lá ou se voltou para lá após sua conversão. Até o fim do segundo século a igreja já estava forte. Já incluía várias linhas teológicas, das quais uma das mais fortes foi o gnosticismo. Em Alexandria se desenvolveu mui cedo a famosa escola catequética em que teve entre seus professores Clemente e Orígenes. Já neste período traduções de porções das Escrituras foram feitas em línguas indígenas dando condições para o desenvolvimento da Igreja Copta.
A costa do norte da África o cristianismo se alastrou cedo especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia, e Algeria. O progresso do cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no III século. É de aqui que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja parece ter sido mais forte nas cidades e entre a população que falava latin.
Expansão no Império Romano Europeu
Na Itália. O evangelho chegou a Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que resultou na expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo “Chrestus. Cf. At:18:1-3. Até 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000 membros; outros acham que foram muito mais. Até meados do III século na Itália havia cerca de 100 bispos. Com a expansão rápida do cristianismo que ocorreu nas últimas décadas daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no centro-sul e na Sicília tinham um núcleo de cristãos. A penetração do norte da Itália foi bem mais lenta e veio da Dalmacia e regiões ao leste.
A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em receber o Evangelho. Cedo no III século o cristianismo parece firmemente estabelecido no sul, nas cidades costeiras.
Avanço do Cristianismo ao Leste A-lém dos Limites do Império Ro-mano
A tradição indica que Tomé foi aos Partos e a Índia; Mateus a Etiópia; Bartolomeu a Índia e André aos citos.
Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre as montanhas da Armênia ao norte e os desertos da Síria ao sul. Até o fim do II século estava fora do império romano e dentro da esfera da influência dos Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro de cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco. No início do III século poucas cidades continham mais crentes que Edessa. Até o fim do século parece que ela estava predominantemente cristã. Edessa parece ter sido o ponto donde o evangelho penetrou mais na Mesopotâmia e até os limites da Pérsia.
As antigas religiões da Babilônia e da Assíria estavam em desintegração e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu principalmente do zoroastrismo que mais tarde se tornou a religião do Estado persa (meados do III século).
Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100 a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século havia mais de 20 dioceses na Mesopotâmia.
No leste o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que conseguiu no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto possivelmente se deva a três razões: A política religiosa dos Sassanidas (dinastia persa) que favoreceu o zoroastrismo.
A forte hierarquia de este com o apoio da monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o próprio êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a religião do inimigo principal dos persas. E por último, a forma herética em que o cristianismo foi pregado.
PERSEGUIÇÃO DA IGREJA NOS SÉCULOS I A III
A política dos imperadores romanos era tolerar as religiões das nações que eram vencidas nas guerras. As religiões nacionais faziam parte da cultura local. Assim o judaísmo, embora proselitista por natureza, foi tolerado como religião lícita. Mesmo assim o povo não gostava dos judeus por diversas razões. O cristianismo foi tolerado ao princípio bem como participou do desgosto popular como seita do judaísmo. Quando perceberam que não era uma seita do judaísmo foi proscrito.
Para os romanos o Estado era o principal. Assim a religião era promovida apenas quando servia aos objetivos do Estado. Logo o Cristianismo foi proscrito por duas razões: Primeiro, entrava em competição com o Estado, pois ambos pretendiam a lealdade universal. Segundo, não contribuía para promover o Estado uma vez que podia ser manipulado para ajudar controlar qualquer país conquistado pelos romanos.
As fontes que possuímos a respeito das perseguições, além das Escrituras, são conhecidas como “atas dos mártires”, que consistem em descrições mais ou menos detalhadas das condições sob as quais se produziram os martírios, as prisões, encarceramento e julgamento do mártir ou mártires em questão, e por fim sua morte Outras noticias chegam através de outros documentos escritos por cristãos que de algum modo se relacionam com o martírio e a perseguição. O exemplo mais valioso desta classe de documentos é a coleção de sete cartas escritas por Inácio de Antioquia a caminho do martírio. Também existem algumas correspondência onde se apresenta algumas atitudes dos pagãos diante dos cristãos, especialmente a atitude de governantes.
Razões das Perseguições da Igreja
Ao longo dos primeiros três séculos do cristianismo havia tanto competição entre as religiões como o espírito de tolerância. Embora nunca tomaram recursos de armas para se defenderem, os cristãos foram o único elemento social perseguido por período prolongado
A falta de participar em festas e ritos idolatras dos templos bem como sua hostilidade a outras religiões levou o mundo da época consideram os cristãos de ateus e inimigos dos deuses. Também os cristãos passaram a se reunir de noite e em segredo e começaram a mostrar afeição uns pelos outros. Ao mesmo tempo celebravam a ceia do Senhor (comer o sangue e o corpo de Jesus) deu margem às acusações de antropofagia ou canibalismo.
Assim durante década foi lhes atribuído as seguintes acusações: ateísmo, licenciosidade e canibalismo.
O cristianismo chocou as sensibilidades dos filósofos e mais educados justamente pelo entusiasmo de seus adeptos. Pior, entraram em conflito com os vendedores de ídolos e os comerciantes da idolatria. Trouxe assim contra eles a má vontade duma classe poderosa.
Uma Breve Visão das Perseguições
Um histórico das perseguições demonstrará que ao princípio forma locais e limitadas. As perseguições universais só apareceram após 250 quando a Igreja já estava mostrando ser forte em todo o império.
As perseguições locais começaram com Nervo em 64 e se estenderam com pouca freqüência até 250. A perseguição iniciada por Nero foi feroz e se restringiu aos limites da capital do império. Depois da destruição de Roma 7/64 por fogo, Nero precisava de um bode expiatório e usou os cristãos para desviar a culpa dele mesmo.
Domiciano (81-96)
Promoveu uma perseguição muito severa em Roma e na Ásia Menor, as duas onde o cristianismo parece ter se expandido mais até então. Esta perseguição parece ter acontecido um pouco antes da sua morte. Envolveu a morte do cônsul Flávio Clemente e sua esposa Flávia Domitila.
Trajano (98-117)
Proibiu as sociedades secretas, inclusive o cristianismo.
Adriano (117-138) e Antônio Pio (138-161)
Seguiram a mesma política de Trajano, a saber, não procurar os cristãos para condená-los, mas julga-los se forem apresentados.
Aliás parece que Antônio promulgou um edito protegendo os cristãos contra violência das multidões.
Marcus Aurelius (161-180),
O cristianismo se tornou um elemento importante da sociedade e as perseguições tiveram a finalidade de restaurar o paganismo em declínio.
Embora homem culto e estóico, os cristãos sofreram mais sob Marcus do que qualquer imperador até então. Deu fora redobrada à lei. Mesmo assim a perseguição não foi universal A perseguição feroz aconteceu em Lyon e Viena no sul da França. Foi nesta Justino foi martirizado em Roma em 165.
Comodus (180-193)
Foi o imperador mais favorável aos cristãos que todos os anteriores.
Sétimo Severo (193-211)
No princípio foi favorável ao cristianismo. Em 202 promulgou uma lei proibindo conversões ao judaísmo e cristianismo. A perseguição surge no Egito e em Cartago.
As perseguições universais surgiram logo após 248 em que foi celebrado o 1.000 aniversário do império romano.
Décio (249-251)
Decretou uma perseguição em todo o império em 250. Durou intermitentemente até o ano 260 quando Valério (253-260) seu companheiro morreu. A lista de mártires é muito grande. Muitos cristãos não conseguiram manter a fé.
Galenius (260-268)
Não houve mais perseguições até o período de Dioclesiano.
Dioclesiano (284-316)
Foi contra os cristãos desde o início. Em 295 exigiu que todos os soldados fizeram culto ao imperador. Em 303 acusou os cristãos de ter incendiado o palácio dele. Publicou um edito que privou os cristãos de liberdade e forçados a cultuar o imperador em 303. Também quis destruir as Escrituras. Esta última perseguição durou até o edito de tolerância de Constantino.
Os resultados das Perseguições da I-greja
As perseguições locais por serem limitadas no temo e no espaço não trouxeram grande número de mártires. O número de cristãos que negaram sua fé também não foi grande.
Não entanto era suficiente para criar o problema dos lapsos (aqueles que caíram). Por outro lado, o fato de serem de curta duração criou as condições pelas quais “o sangue dos mártires foi a semente da Igreja” As perseguições universais, mostraram que a igreja estava “gorda” nestes séculos, a perseguição intensa, universal e demorada arrasou a Igreja. Muitos negaram a fé, outros tantos forma exilados do império. Mesmo assim a lista daqueles que deram sua vida pela fé nas perseguições de Décio a Dioclesiano foi muito grande. A Igreja conseguiu sobreviver e crescer ainda mais devido à relativa paz de 40 anos entra as duas perseguições e o Edito de Milão.
O problema dos “lapsos” (caídos) foi muito agudo nos séculos II e III. Hermas (O Pastor) e Cipriano (De Lapsis) escreveram tratados sobre a questão. O que se deve fazer com os que negaram a fé e queimaram incenso a efígie de César? A Igreja elaborou algumas respostas: A igreja de Roma em geral foi indulgente com os lapsos, recebendo-os de volta com a simples confissão de seu pecado. Existia um rigor contra os lapsos, eles não teriam mais direito de fazer parte da Igreja. Hermas ( que escreveu o livro O Pastor) representa uma posição mediadora que aceita uma única queda. Os lapsos seriam aceito de volta, mas não mais para o lugar de líderes. Os lapsos seriam membros de “segunda classe” na Igreja. Embora Cipriano é muito duro com os lapsos, ele os chama a um abundante arrependimento para demostrar sua tristeza e aflição, sem desesperar da misericórdia de Deus. Apenas estes seriam recebidos de novo na Igreja.
OS PAIS APOSTÓLICOS
O nome de “pais apostólicos” foi dado no século XVIII, entendendo que estes escritores da igreja primitiva haviam vivido e escrito no I século da era cristã. Acontece que estudos posteriores mostraram que grande número destes escritos são do II século. A organização deste período é relacionado com o concílio de Nicéia, são: antenicenos, os nicenos e os pós-nicenos. Os ante-nicenos são divididos por sua vez entre apostólicos, apologéticos, polemicistas e científicos. O período dourado da patrística foi no período pós-niceno.
A importância desta literatura podem ser vista em 4 considerações: Primeiro, sua inferioridade aos livros do NT confirma nossa crença na inspiração e conservação do NT. Em segundo lugar, é nossa única fonte quanto à maneira em que o cristianismo apostólico foi transformado na doutrina, piedade, culto e instituições do IV século. Em terceiro lugar, é também nossa única fonte quanto ao uso e interpretação do NT pelas igrejas da época. Em último lugar, é um verdadeiro espelho das formas diversificadas tomadas pelo cristianismo ao enfrentar-se com o mundo pagão e judeu.
O período dos pais apostólicos (fins do I e início do II séculos) foi de um crescimento obscuro e quieto. Havia poucos homens “de letras” na Igreja para defende-la contra os filósofos e políticos. Este período pode ser chamado de “edificatório”, uma vez que não há sistematização da fé cristã e não se mostra em contato com a filosofia pagã.
Reverenciaram o AT como a Bíblia da Igreja, mas também citam o NT como sendo importante para a substância de doutrina e acima de seus próprios escritos
O Conteúdo dos Escritos dos Pais Apostólicos.
I Coríntios. O seu autor foi Clemente que escreveu de Roma no ano 96. Foi possivelmente o mesmo Clemente de Fl:4:3. Sua carta mostra como o evangelho se alastrou no palácio imperial. Aparentemente Roma não tinha bispo nesta época. o motivo da carta nos faz lembra das cartas de Paulo aos coríntios. Embora não as cita, o autor se mostra familiar com elas. Haviam disputas e um espírito de cisma entre os coríntios. Os jovens tiveram ciúme dos velhos. Clemente procura trazer de volta a harmonia à Igreja usando o argumento da criação, da providência, da preexistência do Salvador. O conceito de “sucessão apostólica” aparece em Clemente, ele escreve: “os apóstolos nomearam os bispos e mais tarde providenciaram uma continuação que, se estes fossem adormecer, outros homens aprovados tomariam o seu lugar”
O didaquê. É datado entre 70 e 150 . Ele consta de 3 partes: o documento dos 2 caminhos (1-6) que se encontra também na epístola de Barnabé; instruções litúrgicas (7-10) em que fala do batismo, a distinção entre cristãos e hipócritas e a ceia (seja refeição ou comunhão); e uma espécie de manual de disciplina (11-15). Depois uma conclusão (16). O didaquê revela um período de transição em termos hierárquicos. Distingue os bispos de diáconos permanentes e dos profetas que são carismáticos e itinerantes.
Inácio de Antioquia. Escreveu sete cartas na sua ida ao martírio em Roma. Elas nos mostram a realidade das Igrejas na Ásia Menor em princípios do II século. A carta aos romanos indica que havia irmão lá que se prepararam para libertá-lo do martírio. Pede que não façam isto (Rm3:2-4:3). Parece que nesta época somente Roma tinha bispo.
Não se pode esperar numa hora de tantas pressões que Inácio desse um quadro geral de seu pensamento. Duas ênfases entretanto aparecem: combate os que negam a vida física de Jesus e combate uns judaizantes que fazem de Jesus um simples rabi dentro do judaísmo. Quanto a interpretação da obra de Jesus, Inácio se aproxima mais de João (revelador) do que Paulo (libertador).
A carta de Policarpo de Esmirna aos Filipenses. Policarpo discípulo de João foi martirizado em 156. Embora não tão profundo como João ou Inácio, Policarpo destacou a humanidade de Cristo no centro de sua doutrina da salvação. 8:1; 9:2
A Epístola de Barnabé. Ela divide-se em 2 partes: a primeira (1-17) é de caráter doutrinário; a segunda (18-22) caráter prático. A parte doutrinária é uma interpretação alegórica do AT. Usa a alegoria para salvaguardar o AT para a igreja, despojando-o assim de mandamentos que chocavam os cristãos. Assim não comer carne de porco significaria não se ajuntar a homens porcos, 10:3. Mesmo assim, não coloca duvidas a historicidade das narrativas históricas do AT. Aceita-se como tipos a serem cumpridos em Jesus. A parte prática repete o documento dos 2 caminhos que se encontram no princípio do didaquê. É provável que os 2 usaram um III documento que não chegou até nós.
O pastor de Hermas. Escrito na primeira metade do II século, é obra de caráter apocalíptico, cheia divisões e símbolos, bem como de suas interpretações. ‘E o documento mais comprido desta coleção e, como I Coríntios, foi aceita como Escritura durante algum tempo na Igreja primitiva. Os dois foram incluídos como apêndices nos MSS A. Hermas tenta responder ao problema do que vai acontecer aqueles que negaram a fé nas perseguições. A este problema dedica 5 visões, 2 mandamentos e 10 parábolas. O centro desta parte é a III visão, a da Torre. Para Hermas o cristianismo parece ser, antes de mais nada, uma série de mandamentos que devemos seguir. A obra é um estudo ético (prático) de como deve ser a vida cristã.
Explicações das Sentenças do Senhor. Esta é uma obra de Papias que ocupava 5 volumes. Nos resta apenas fragmentos em outros autores, tais como Eusêbio e Irineu.
A Epístola a Diogneto. O seu autor desconhecido. Embora alguns historiadores tratam esta epístola nos pais apologéticos e outros neste período. O escritor apresenta uma defesa racional do cristianismo ao demonstrar a loucura da idolatria (1-2), a inadequação do judaísmo (3-4), e a superioridade do cristianismo por suas crenças, seus resultados e benefícios que oferece ao convertido (5-12). Ele compara o papel dos cristãos no mundo ao papel da alma no corpo numa série interessante de comparações (6).
Ao se estudarem estes escritos dos pais apostólicos, já começam aparecer sinais das grandes “escolas” em que o cristianismo será desenvolvido posteriormente. Temos a escola da Ásia Menor e da Síria que tem seus representantes em João, Inácio, Policarpo, Papias. O cristianismo aqui não é acima de tudo uma doutrina moral, pelo contrário, é a união com o Salvador mediante o qual se alcança a imortalidade. Assim que a realidade histórica de este Cristo é imprescindível à fé. Por outra parte vem sobre esta escola a influência gnóstica, dos mistérios e do judaísmo essênico. A escola de Roma e mui distinta. Temos representantes como Clemente e Hermas. O cristianismo tende para o lado ético e prático que pode levar ao moralismo. Sofre a influência do estoicismo e do espírito pragmático romano. Por último temos a escola alexandrina que se desenvolveu sob a influência neo-platônica e deu ênfase à interpretação alegórica das Escrituras. Sob esta escola vem a influência particular do helenismo judaico. Na Epístola de Barnabé temos o primeiro escrito desta escola.
MOVIMENTOS “REFOR-MADORES” NOS II E III SÉCULOS
Vimos nos pais apostólicos os primeiros traços de três grandes escolas que mais tarde vão interpretar o cristianismo de maneiras diferentes. Mesmo assim permaneceram dentro da ortodoxia. Os movimentos reformadores que serão analisados foram taxados de “hereges” por ultrapassar os limites da ortodoxia católica. Deve ser lembrado que o cristianismo absorveu os seus convertidos de duas grandes fontes: judeus e pagãos. E dessas duas fontes surgiram tipos do cristianismo antagônicos, uma vez que os convertidos trouxeram consigo elementos de mentalidades estranhos a fé cristã. Não de admirar então que heresias e movimentos reformadores surgissem logo nos primeiros séculos da era cristã.
Os Ebionitas ou judaizantes.
Desde o início havia uma seita que queria impor o judaísmo aos conversos gentios.
Cristãos de cunho judaico persistiram em pequeno número na Palestina até o início do IV século. O termo “ebion” significa pobre. Algumas crenças do ebionismo original: mantinham que o verdadeiro Deus é o criador do mundo e autor da lei de Moisés. Cria que Jesus foi o Messias, mas não era divino por natureza. Rejeitou Paulo e acatou Tiago e Pedro. Foram ascético e exaltou a castidade no começo (Tiago). Mais tarde exaltou o casamento acima da castidade (Pedro)
O Gnosticismo
Havia várias correntes de gnosticismo que floresceu no II século na Síria, Egito e Ásia Menor. A base filosófica do gnostilcismo foi a ligação do mal à matéria. Uma vez que o mundo estava repleto de imperfeição, o Supremo Ser não podia ser o criador do mundo. o AT. indica que Jeová (ou Elohim) criou o mundo. Logo, Jeová não pode ser o Ser supremo As características do gnosticismo: Dualismo entre espírito (bom) e a matéria (má).
Docetismo, o messias não podia ter um corpo físico (problema do mal). Emanações, uma série de “aions” que emanaram do Ser Supremo. O mais degradante desta criou o mundo. Hostilidade ao judaismo como diabólico e, em particular, a Jeová como sendo o maligno. Rejeitaram todo o AT. e todo o NT., a não ser as cartas de Paulo e algumas partes dos evangelhos. Fatalismo, o homem está em sua condição devido à maneira de sua criação. Mesmo assim abraça a idéia da redenção em Cristo para livrar o mundo do domínio do mal.
Marcion
Nativo de Porto, foi a Roma perto de 138 e se tornou membro da Igreja de Roma. Não conseguiu leva a igreja a aceitar seu ponto de vista, assim que organizou os seus seguidores numa igreja cismática e expandiu a obra até ter congregações em quase todas as províncias. Embora talvez não seja correto chamar Marcion de gnóstico, ele compartilhou vários de seus pontos de vista: judaísmo é mau. Jeová não é o mesmo Deus do NT. Baseou-se quase que exclusivamente em Paulo. Contrastou a imoralidade e crueldade do AT., com a espiritualidade, misericórdia, bondade e alta moral do NT.
Embora conceba o nascimento, vida e morte de Jesus como apenas aparente, Marcion insiste na obra redentora de Cristo como necessária para a salvação dos homens. O marcionismo achou fácil aceitação na Mesopotâmia e na Pérsia e sobreviveu lá durante alguns séculos.
Os Maniqueus
Reduziram os elementos cristãos ao mínimo e aumentaram os elementos do zoroastrismo. Enfim, o maniqueismo é dualismo metafísico vestido de cristianismo.
Mani, cerca de 238, tentou sincretizar o dualismo oriental com o cristianismo. Neste dualismo absoluto, cada reino (seja da luz, seja das trevas) parte duma unidade que se desenvolve em multiformidade. A vitória final será eventualmente do reino da luz embora ou outro reino tem muitas vitórias ao longo da história.
Montanismo
É uma reação às inovações que foram introduzidas nas igrejas pelo gnosticismo e paganismo em geral às custas da fé e da moral. Foi organizado na Frígia entre 135 e 160 por Montano com Priscila e Maximinia (profetizas do movimento) em resposta a uma iluminação do Paracletos, para proclamar o estabelecimento do reino de Cristo e pregar contra o mundanismo das igrejas. Algumas das doutrinas desenvolvidas ( e pelas quais foram rejeitados) tornaram-se ensino básico da Igreja católica 2 séculos depois: exaltação da castidade e viuvez; divisão dos pecados em mortal e venial, exaltação do martírio.
Tornou-se o precursor do cristianisno ascético. Suas doutrinas em geral eram as mesmas do cristianismo católico. Reivindicaram ter recebido revelações divinas enquanto em estado de êxtase. O espírito lhes dava a interpretação ascética de certas passagens bíblicas. O montanismo é uma explosão de profetismo, dando importância especial a visões e revelações. Tem caráter essencialmente escatológico. Para eles o período do Parácletos (Espírito Santo) se iniciou com Montano. A nova Jerusalém será inaugurada para o reino de 1.000 anos. Assim que é necessário viver em continência e prepara-se para tanto. Nenhum dos que escreveram contra o montanismo vê neles uma heresia. Ao contrário vê nele “tendências arcaicas”
O Novacionismo
Foi o montanismo reaparecendo numa outra época, sem as reivindicações proféticas que desapareceram. Novaciano foi condenado em 251 por um concílio romano que reunia 60 bispos. Após a perseguição de Décio, quando muitos negaram a fé, Novaciano liderou os que queriam muito rigor para os que cairam. Este movimento cismático encontrou muita recepção na África e na Ásia Menor, onde absorveu o que restou dos montanistas. Sua doutrina era igual à das igrejas católicas. Foi apenas a questão de disciplina que questionavam: condições para ser membro da igreja e perdão de certos pecados específicos. Enquanto Cipriano admitia a reconciliação dos caídos “após uma penitência severa e prolongada: . Novaciano considerava que “reconciliação alguma lhe pode ser concedida” Para Novaciano a igreja se identificava com um pequeno grupo de espirituais que estava em conflito obrigatório com a cidade terrena. Crendo que as igrejas católicas eram apóstatas, os novacianos rejeitaram as ordenanças delas. A crença na regeneração batismal era quase universal nesta época. Os novacianos deram tanta importância à necessidade do batismo ser ministrado por pessoa devidamente qualificada que rebatizavam os que vieram das igrejas católicas.
Os Donatistas
Como os montanistas e novacionistas, estavam preocupados principalmente com questões de disciplina. O movimento surgiu após a perseguição de Diocleciano e especificamente em relação ao que entregaram as Escrituras as autoridades. Os donatistas insistiram numa disciplina eclesiástica rigorosa e numa membresia pura.
Rejeitaram ministros indignos (os “lapsi”traidores). O donatismo não trata dos caídos em geral e sim apenas da sorte dos bispos que teriam consentido na entrega das Escrituras imposta pelo primeiro edito de Dioclesiano. O simples fato de estar em comunhão com um dos culpados bastava para contrair mancha e tornar-se traídos, apóstata. Todos os sacramentos administrados ou recebido pelos “traditores”eram considerados nulos. Quanto a regeneração batismal, foram além dos católicos, crendo que a natureza humana de Cristo também precisava ser purificada pelo batismo. Naturalmente rebatizaram os católicos que vieram a eles como condição de comunhão
OS PAIS APOLOGÉTICOS ORIEN TAIS (GREGOS) E OCIDENTAIS (LATINOS)
No II e início do III século a Igreja cresceu tanto que chama a atenção dos pensadores pagãos que começam a atacá-la. Surgem dentro da própria Igreja elementos treinados em filosofia que conseguem responder a estes ataques e apresentar uma declaração positiva do que a Igreja é e o que ensina. Estes autores mostram um conhecimento de cultura e dialética que faltava aos pais apostólicos. Assim os primeiros apologistas procuravam defender o direito do cristão existir como cristão. Este intelectuais procuram defender o cristianismo contra 4 acusações básicas: Ateísmo, foram acusados de ateísmo por não adorar os deuses pagãos, coisa que os politeístas não podiam compreender.
Paixão lasciva e incestuosa: suas reuniões nocturnas e secretas foram interpretadas como para dar oportunidade à carne. Canibalismo: ou malícia ou mal-entendido quanto ao comer o corpo e beber o sangue do Senhor. Ignorância: os mestres cristãos eram incultos.
Ao invés de aceitar que o cristianismo seja uma religião nova, os apologistas baseiam sua antiguidade sobre o próprio AT. O cristianismo é apresentado como sendo o cumprimento das profecias mosaicas. Como Filo, eles procuram mostrar que Socrátes e Platão tomaram suas idéias do Deus de Moisés. Para os apologistas Cristo veio para cumprir as profecias do AT. Eles põem grande ênfases sobre a profecia como a principal evidência da verdade do cristianismo. Ao mesmo tempo a pureza da vida e dos ensinos de Jesus, bem como o poder transformador do cristianismo são constantemente destacados.
As primeiras Apologias (Apologistas gregos)
Aristides. Eloquente filósofo em Atenas, dirigiu sua apologia ao imperador Adriano (antes de 138). Faz uma pequena introdução quanto à natureza de Deus (primeiro motor) e do mundo. Divide a humanidade entre bárbaros, gregos, judeus e cristãos.
Mostra que os primeiros três, partiram da religião da reta razão. Só os cristãos acharam a verdade. Distinguem-se como povo que participa da divindade e pelo amor uns pelos outros. O mundo será julgado por Jesus.
Flávio Justino foi o mais importante destes do II século. Filósofo por vocação, foi o primeiro dos pais que pode ser chamado de “teólogo”. Tentou mostrar que o cristianismo é a verdadeira filosofia. Foi martirizado em Roma em 166. Seu Diálogo com Trifon discute as relações entre o AT e o NT (em seus 142 capítulos). É uma vindicaçào do cristianismo a partir de Moisés e os profetas contra as objeções dos judeus. Nas 2 apologias: a primeira (com 68 capítulos) argumenta que é razoável abandonar as tradições que são más e seguir a verdade. Daí passa a fazer uma exposição da relação dos cristãos ao império e contrastar seus bons costumes com os maus dos pagãos.. A segunda (com 25 caps.) continua o argumento, dando atenção especial as relações entre o cristianismo e a filosofia pagã. Justino forma a transição entre os pais apostólicos e os patrísticos propria-mente dito.
Taciano. Vindo do oriente (talvez da Assíria), converteu-se em Roma sob a influência de Justino. Posteriormente fundo uma escola herética na Síria. Escreveu um Discurso aos Gregos e o Diatesseron, este último sendo uma harmonia dos 4 evangelhos. O Discurso… é uma ataque à civilização e a religião helênica em que Taciano expõe o cristianismo.
Atenágoras. Contemporâneo de Taciano, deixou 2 escritos: Súplica a Favor dos Cristãos e Sobre a Ressurreição dos Mortos. A súplica, escrito em 177, procura rebater as acusações principais ao cristianismo: ateísmo, incesto e antropofagismo. A Ressurreição… procura mostrar que a ressurreição é necessária para ter uma ideia adequada de Deus e da natureza humana.
Teofilo, bispo de Antioquia. Escreveu Três Livros a Autólico (180) para mostra a este seu amigo a verdade do cristianismo. O primeiro trata de Deus, o segundo contrasta os poetas e o AT., e o terceiro mostra a excelência moral do cristianismo.
Clemente (150-220). Escreveu o Protreptikos, onde exorta o leitor a abandonar seus costumes pagãos e tomar o caminho da salvação. Seus 12 capítulos atacam os erros pagãos sem negar os valores da cultura helenista. O Pedagogo é uma obra que se propõe guiar o crente na conduta cristã. O Stromateis, é uma série de apontamentos onde expõe o mais profundo do pensamento de Clemente. Procura desenvolver a relação entre a filosofia e a teologia. A filosofia foi dada aos gregos com o mesmo intúito da lei aos judeus: ser um aio a Cristo.
Orígenes (185-253), A obra literária foi imensa, embora a grande parte foi perdida. Há 800 títulos conhecidos das suas obras. Contra Celso, é uma obra apologética, foi escrito para refutar, argumento por argumento, um livro deste filósofo pagão contra os cristãos. Embora Orígenes cria firmemente na inspiração da Bíblia sua interpretação foi “espiritual”e não ao pé-da-letra. Falou que qualquer texto bíblico tem 3 sentidos: um literal ou corporal, um moral ou psíquico e um intelectual ou espiritual. Este último pode ser alegórico ou tipológico.
Os Apologéticos Latinos
Irineu. Nasceu entre 130-135. Foi discípulo de Policarpo. Foi muito estudioso. Citou quase todos os clássicos gregos, conhecia bem tanto o AT, e o NT, citou quase todos os escritores cristãos de que temos conhecimento e conhecia bem a literatura herética de seu tempo e dos tempos anteriores. Homem piedoso e zeloso pela fé, foi missionário na região de Leão. Quando Potino, o pastor da igreja de Leão, foi martirizado em 177, Ireneu aceitou este posto perigoso. No período de seu pastorado a perseguição diminuiu sensivelmente. No seu lugar surgiu uma expansão rápida do gnosticismo e outras heresias. Irineu escreveu seus cinco livros Contra Heresias (Adv.Haer.) em torno de 185. Nestes 5 livros Adv. Haer. (Contra as Heresias) temos: no primeiro livro dá um relato histórico das seitas gnósticas e apresenta como contrapeso a declaração de fé da Igreja Católica, talvez a primeira em forma de proposições. No segundo livro, é uma ataque filosófico as doutrinas gnósticas. Rejeita a espiritualização do texto sagrado. O terceiro livro procurou refutar o gnosticismo apartir das Escrituras. O quarto livro, apartir das palavras de Cristo; e o quinto, procurou vindicar a doutrina da ressurreição. No último manteve a vera humanidade e a vera divindade de Cristo, para depois demonstrar que o corpo é passível de salvação. Também escreveu : Exposição da pregação Apostólica. Tem caráter catequético, edificatório e indiretamente polêmico. A primeira parte é teológica (monarquia, trindade, batismo); a segunda cristológica (Jesus, o Senhor, o Filho de Davi, o esplendor da cruz, o reino de Deus). Irineu, concebeu a Igreja como uma unidade orgânica transmitida através duma sucessão de presbíteros. Deus ênfase à liberdade e autonomia de cada igreja como princípio básico da constituição eclesiástica.
Hipólito. Escritor grego em Roma em princípios do III século. Possivelmente discípulo de Ireneu, foi homem ambicioso e rigorista. Escreveu sua Refutação de Todas as Heresias, em 222. Consiste de 10 livros. A primeira parte (I-IV) procura mostrar que os hereges haviam tomado sua doutrina da ciência dos pagãos e não da revelação cristã. A segunda parte (V-IX) contêm uma exposição de 33 sistemas gnósticos.
Tertuliano. Natural de Cartago, foi educado em direito romano e retórica. Alcançou iminência antes de se converter. Estudou grego e escreveu umas obras nesta língua. Foi grandemente influenciado pelo estoicismo posterior. A influência do direito romano e da filosofia estóica são claramente visíveis nos seus escritos. Seus escritos latinos são volumosos e hábeis. Deitaram os alicerces para a teologia latina, inclusive a toda a terminologia teológica. Os seus livros podem ser divididos em: Apologéticos: (Contra Naçòes, Apologeticum, Adv. Judaeos); Dogmáticos e Polêmicos (De Praescriptions Haereticorum, Adv. Marcionem, De Carnis Ressurretione, De Baptismo, De Anima) e Ascético e Prático (17 livros).
Cipriano (200-258). Foi um brilhante professor de retórica antes de sua conversão.
Pouco depois da sua conversão se tornou bispo da igreja de Cartago em 248. Seu episcopado durou 9 anos. O ataque de Décio em meados do III século foi dirigido especialmente aos líderes das igrejas. Sendo assim Cipriano fugiu e se escondeu para não deixar a igreja de Cartago acéfala. Este ato foi muito criticado e, por uns, foi considerado apostasia. Escreveu dois livros para tornar conhecida sua posição quanto à eclesiologia e o tratamento dos “caídos” (lapsi): Dos caídos e o outro Da unidade da Igreja. Na questão dos lapsi, tomou uma posição medianeira: mais rigoroso do que Roma, mas não tanto quanto os novacianos. Realizou um concílio em 255 que tomou uma posição mais rigorosa quanto à validade do batismo herético. Foi Cipriano que mais fez nesse período para o desenvolvimento de pontos de vista e princípios hierárquicos. Estabelece distinção nítida entre bispos e presbíteros, bem como a supremacia da igreja de Roma como cátedra de Pedro e centro de unidade da Igreja Universal. Para Cipriano a Igreja é a arca (como a de Noé) da salvação. Ele cunho a frase: “fora da Igreja não há salvação”.
Acrescentou outra: “quem não tem a Igreja por mãe, não pode ter Deus por Pai”. Para ele a unidade da igreja está no episcopado sobre o qual ela é constituida.
CONTROVÉRSIAS TRINI-TÁRIAS E CRISTOLOGICAS
No fim do II Século e no III começam aparecer divergências de interpretação dentro da própria Igreja. As três grande linhas de interpretação posterior (Ásia Menor, Roma e Alexandria) já começaram aparecer nos pais apostólicos. Movimentos gnósticos estão presentes em toda a Igreja no fim do II e início do III século. Só foi possível contorná-los após a exclusão de seus grandes líderes. Com a ascensão de Constantino, conhecido como o “imperador cristão”, o palco estava pronto para uma série de conflitos teológicos que duraria do IV até o VIII século. Estas controvérsias começaram como discussão da relação de Jesus Cristo a Deus Pai e terminaram tentando explicar a relação entre as duas naturezas de Cristo. As primeiras são chamadas de “trinitárias”; as últimas, “cristológicas”.
O Concílio de Níceia
Este concílio reuniu 318 bispos por um período de 3 meses para resolver as diferenças entre Alexandre e Ário. Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O Logos, o Cristo pre-existente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo existiria num tempo anterior à nossa existência temporal, mas não era eterno. Por outro lado estavam Alexandre e o jovem Atanásio que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus.
Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.
A cristologia de Ário foi rejeitada pelo concílio de Nicéia afirmando que a igreja acreditava em: “um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual , por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e encarnou e foi feito homem” “todos os que dizem que houve um tempo que ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica”.
Controvérsia Cristológica
A questão do relacionamento entre o Filho e o Pai foi resolvida em Nicéia. Porém isto gerou novos questionamentos, agora em torno do relacionamento entre as naturezas humanas e divina de Cristo. Em geral os teólogos ligados a Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os relacionados a Antioquia, a sua humanidade, às expensas de Sua deidade. A controvérsia se iniciou no ensino de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou monarquismo dinâmico. Jesus era um homem “energizado”pelo Espírito no batismo e assim exaltado à dignidade divina. Apolinário de Laodicéia foi o primeiro a negar formalmente que Jesus teve uma alma racional. No seu lugar estava o divino Logos.
O Concílio de Calcedônia (451) definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: “perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a humanidade, semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo a divindade…”
OS PATRÍSTICOS PÓS-NICENOS
A influência dos pais sobre a Igreja posterior até a reforma é determinativa. As grandes catedrais quando não faziam outro ensino teológico, tiveram suas cópias, feitas à mão, dos escritos patrísticos. Estes foram lido, estudados e até pregados. Naturalmente uns tiveram mais influência que outros. Para alguns a influência teológica maior foi a de Agostinho, mas parece que é possível que a influência de Jerônimo tenha sido mais duradoura do que a de Agostinho.
Jerônimo não foi um pensador como Agostinho, mas sua presença se tornou onipresente no oeste por duas obras dele: a tradução vulgata da Bíblia e a introdução do monaquismo.
Os Historiadores da Igreja
Eusébio de Cesaréia (260-340). Escreveu sua História Eclesiástica onde apresenta a história da Igreja desde seu início até 324. A sua Crônica começa com Abraão e vai a 323. Deu estrutura cronológica para toda a história medieval. Escreveu a Vida de Constantino onde louva o imperador. Foi acusado de ser semi-ariano.
Socrates. Nasce em Constantinopla e escreveu a história da Igreja de 305 até 439. É um autor não crítico, ignorava a Igreja no oeste. Ele apresenta uma coleção inestimável de dados e documentos.
Sozomen. Foi criado em Gaza mas viveu em Constantinopla após 406. Apresenta a história de 323 a 439. Foi educado para ser monge. Dá destaque ao monaquismo em detrimento de outros dados como a verdadeira filosofia cristã. A biografia é a principal força de sua história.
Os “Teólogos” da Igreja
Atanásio(298-373) Assistiu o Concílio de Nicéia, mas aparentemente não foi um grande luminário lá.
Após a morte de Cirilo, Atanásio foi eleito bispo de Alexandria em 328. Durante seu bispado foi exilado 5 vezes por Constantino e seus sucessores. Sua força se tornou tão grande, que os últimos dois mandatos do exílio não podiam ser cumpridos. Nesse período a ortodoxia nicena já havia triunfado sobre o arianismo. Sua vida pode ser dividida em 3 etapas: Antes de Nicéia até 325; luta contra o arianismo 325-361 e período de vitória da ortodoxia, 361-373
João Crisóstomo (345-407). foi um grande expositor e orador. Ao princípio advogou segundo seu treino em direito. Após seu batismo em 368 se tronou monge. Com a morte da sua mãe em 374 seguiu uma vida extremamente ascética até 380. foi ordenado em 386 e se tornou patriarca de Constantinopla em 398. Foi banido em 404 por ter denunciado as vestimenta extravagantes da imperatriz, bem como a colocação de uma estatueta dela em prata na Igreja ao lado de Santa Sofia. Morreu no exílio em 407. Ainda existem 604 dos seus sermões. A leitura destes sermões mostra a força da sua pregação sem o acréscimo da personalidade de seu autor. A grande maioria destes sermões versam sobre as epístolas de Paulo.
Procurava levar em consideração o contexto e aplicar aos dias dele o sentido literal do texto.
Teodoro de Mopsuéstia (350-428). Foi príncipe dos exegetas da antiguidade. em contraste com os alexandrinos, ele com Crisóstomo procuravam proclamar o sentido natural do texto. Foi defensor, pelo menos em parte, de Nestório. Defendeu insistentemente a integridade da humanidade de Cristo.
Basílio de Cesaréia (329-379) foi instalado na sé de Cesareia em 370. Logo em seguida começou uma série de negociações teológicas, primeiro com Atanásio e depois com o papa Dâmaso para promover a reunião das igrejas cismadas pela controvérsia sobre a Trindade. Graças a sua obra de organizador e legislador criou uma nova concepção da instituição monástica. Colocou como ideal o quadro dos cristãos em Jerusalém (At:2-4) e destacou daí a obediência ao superior.
Gregório de Nissa (331-395). Irmão mais novo de Basílio, foi um estudante da Bíblia e de Orígenes. Foi eleito bispo em 371. Tornou-se o defensor mais avançado do credo de Nicéia. Foi o primeiro a procurar estabelecer por considerações racionais a totalidade das doutrinas ortodoxas. A filosofia se tornou uma auxiliadora da teologia. Embora divergiu de Orígenes, especialmente em cosmologia, na maior parte aceitou o ensino deste no que podia acomodá-lo à fé explícita da Igreja.
Gregório de Nazianso (330-390). Foi eleito bispo em 372, junto com os dois anteriores, procurou reconciliar as 2 proposições de Atanásio: a identidade de essência entre Pai e Filho com a distinção de pessoalidade entre Pai e Filho. Os 2 Gregório também procuravam salvar a reputação de Orígenes para a ortodoxia. Assim adotaram a doutrina de Orígenes que rezava que o Logos uniu-se com a natureza sensível pela mediação de uma alma humana racional. Acrescentaram que o Logos tomou todas as partes da natureza humana em comunhão consigo e as permeava.
Jerônimo (347-419). Foi o autor da Vulgata que ele insistiu traduzir do grego (NT) e hebraico (AT), salvo os Salmos que já foram traduzidos da Setuaginta (LXX). Jerônimo introduziu dois outros elementos à Igreja ocidental que tiveram grandes repercussões lá. Introduziu a vida ascética a Europa ocidental. A importância disto só pode ser avaliada à luz da forma que a Igreja toma na Europa medieval. Introduziu também Orígenes ao Oeste. Por causa de uma tradução tendenciosa por parte de Rufino, Jerônimo fez uma tradução ao pé da letra de Orígenes. Mais tarde ficou embaraçado de ter seu nome ligado a Orígenes. Condenou a doutrina deste, mas sempre admirou seu estilo de escritor. Além de suas traduções da Bíblia e de Orígenes, Jerônimo é famoso por seus comentários nas Escrituras. Seu primeiro (388) comentário foi sobre Eclesiástes, seguido no mesmo ano por Gálatas, Efésios e Tito. Três anos depois publicou um sobre 5 dos profetas menores. De 397 até 419 completou os profetas menores, bem como Jonas, Daniel, Isaias, Ezequiel e Jeremias. E do NT apenas Mateus.
Ambrósio de Milão (340-397). Foi um grande administrador eclesiástico; pregador e teólogo. Foi a pregação de Ambrósio que trouxe Agostinho ao evangelho. Era governador imperial da área ao redor de Milão quando o bispo da cidade morreu em 374. O povo unanimemente queria que Ambrósio aceitasse ser bispo. Crendo ser isto a vontade de Deus, renunciou ao seu cargo político, distribuiu seus bens aos pobres e, após sua eleição, iniciou um estudo intensivo das Escrituras. Foi um grande pregador apesar de sua exposição ser desfigurada pela interpretação alegórica das Escrituras. Resistiu ao imperador Teodósio, não permitindo-o participar da Ceia até que humilde e publicamente se arrependesse do massacre dos tessalonicenses. Aparentemente foi Ambrósio que introduziu o cantar de hinos na Igreja Ocidental.
O que se pode dizer em relação ao período patrístico, é que foi extremamente frutífero em termos de pensadores que analisara, a fundo a fé cristã. Foi seguido este período, pela escuridão intelectual denominada a Idade Média. Antes de cair a cortina, a fé cristã foi iluminada por estes grandes homens a quem tanto devemos.
AURÉLIO AGOSTINHO (354-430)
Fora do círculo apostólico, difícil é achar um homem de maior estatura que Agostinho. Bispo, místico, santo, pregador, administrador, estudioso, teólogo, polemista, filósofo, historiador, epistolário, comentador, mestre e autor. Entre seus muitos livros, talvez estes 3 sejam os livros mais importantes; A Cidade de Deus, As Confissões, Sobre a Doutrina Cristã (Todos existem em português). É o pai do misticismo medieval, o monaquismo e o escolasticismo. dominou a teologia da Idade Média como autoridade maior. Calvino disse que poderia ter escrito a teologia dele dos livros de Agostinho. Além de intelectual, foi também místico. Confissões, orações e adoração faziam parte do seu regime diário. ‘E considerado o fundador da filosofia moderna porque lutou com conceitos como: o eu cônscio, a personalidade, o tempo, a história, o livre arbítrio, a verdade subjetiva. Por sua vez Agostinho foi muito influenciado por Platão.
A Odisséia Intelectual de Agostinho
Antes de tornar-se cristão (354-386), foi acordado para o amor à filosofia pela leitura de Hortesius de Cícero. Este livro trouxe 2 aspectos polares ao pensamento de Agostinho: a idéia de Deus como fonte do ser e da inteligência, e a idéia da alma como uma natureza espiritual que pode achar sua realização em Deus. Em Cartago, Agostinho se tornou adepto do maniqueismo,e embora ele talvez não passou de “ouvinte”durante os 9 anos (dos 19 aos 28 anos) que era ligado à heresia. Foi fascinado durante muito anos pela astrologia embora não tenha chegado a praticar adivinhação. após esfriar sua simpatia para com o maniqueismo, Agostinho passou pelo ceticismo e pelas especulações neoplatônicas.
Converteu-se aos 32 anos sob a pregação de Ambrósio de Milão. Tornou-se apologético e usou seus dons intelectuais e espirituais para combater as filosofias que outrora havia seguido. Negou o conceito maniqueu de que há uma união do bem e do mal na alma humana. Contra o ceticismo achou inegável que o homem possui pelo menos uma parte da verdade. Insiste contra os neoplatônicos de que há salvação em Jesus Cristo.
Da conversão ao episcopado, (386-396). Escreveu 3 livros em 6 meses para se preparar para o batismo: Contra os Acadêmicos; Vida Alegre e Providência Divina. Ao morrer seu filho Adeodatus em 389 escreveu A vera Religião, o Professor, e Música. Foi consagrado sacerdote em 391 e bispo em 395, ambos em Hipona.
Seu episcopado, (396-430). Iniciou suas Confissões em 397 e terminou-as em 399. Iniciou-se seu longo conflito com os donatistas em 398; e em 412 com os pelagianos. Mesmo rejeitando o donatismo, Agostinho adotou a hermenêutica de Ticônio, um dos seus líderes. Em seus últimos anos Agostinho se dedicou ao problema da relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana. Graça de Cristo e o Pecado Original (418), A Predestinação dos Santos e o Dom da Perseverança (429)
A controvérsia donatista foi sobre a santidade da Igreja. Os donatistas estavam preocupados principalmente com questões de disciplina. Não podiam separa o caráter apóstata do bispo e do valor dos atos litúrgicos celebrados por ele. Assim o caráter imoral ou indigno do oficiante destruia a santidade e assim o efeito divino do sacramento. Agostinho rejeitou a ligação donatista entre a santidade da Igreja e a santidade empírica do clero. Escreveu 7 livros sobre batismo contra os donatistas, bem como 3 outros para responder 2 cartas de Petiliano. No fim Agostinho se ajuntou aos que usariam a força para trazer os donatistas de volta ao arraial católico.
A controvérsia contra o pelagianismo. Também ocupou bastante a vida de Agostinho, usou 3 volumes na coleção de seus ensinos. O monge Pelágio acusou Agostinho de heresia. O Problema focalizado foi o da relação entre o poder divino para salvar e a vontade humana para responder ao poder salvador. Agostinho admitia alguma liberdade humana, mas insistia que tanto o poder salvador como a resposta humana vem de Deus. O ensino de Pelágio era que Adão foi criado mortal. Ele teria morrido mesmo sem a queda. O pecado de Adão feriu apenas Adão. Cada um nasce inocente, mas de fato cai no pecado.
Assim que haviam homens sem pecado antes de Cristo. Para Pelágio, ao nascer a criança tem vida eterna, mesmo sem o batismo. Perde-a ao praticar pecado concreto ao chegar à idade da razão (perto dos 7 anos). O batismo não regenera. O mal, por sua vez, é comunicado pelo mau exemplo dos homens. Assim tanto Adão como Cristo influenciam a raça. Assim que a graça é necessária para redimir do pecado. Deus dá a regeneração bem como a habilidade de agir. A lei tem o efeito de trazer os perdidos a Cristo.
O ensino de Agostinho. Para ele, o pecado de Adão é transmitido a todos os homens pela semente humana, rm:5:12. também ensina que Adão foi nosso representante. distinguiu entre “voluntas”(vontade com capacidade de agir) e “velleitas”(desejo sem liberdade para agir). Os eleitos tem “voluntas”; os perdidos “velleitas. A graça que liberta o homem é preveniente e irresistível. Não há em Agostinho o conceito de dupla predestinaçào. Rejeita o dualismo maniqueu. O mal é ausência do bem. A criação tende a voltar ao não-ser donde surgiu.
Desde o seu retiro a Cassiciacum para se preparar para o batismo, Agostinho viveu nas Escrituras. Acima de tudo era um estudante da Bíblia. Todos os seus sermões tem por base as Escrituras: ou o texto do calendário ou outro por ele escolhido. Seu vocabulário e estilo são permeados com a maneira antiga e rude das antigas traduções latinas da Bíblia. Começou com a interpretação alegórica de Ambrósio (a Bíblia falava do mundo das idéias eternas). Mas o estudo o levou a ser preocupado com os eventos históricos. A sua interpretação continua influenciando os teólogos de hoje.
ORIGEM E DESENVOLVI-MENTO DO PAPADO
A autoridade monárquica do papa, hoje muito patente sobre a Igreja Católica Romana, é fruto de um longo processo. De um bispo igual aos outros, o de Roma passa a ser o primeiro entre os demais e finalmente cabeça incontestável da Igreja. Sem dúvidas que uma série de elementos contribuiram para este desenvolvimento. Para citar alguns dos mais óbvios temos: Uma linha contínua de bispos ortodoxos, com poucas excessões, nos séculos de formação e expansão e poder. Vários papas de grande envergadura, dos quais devemos citar: Inocêncio (402-417); Celestino (422-432); Leão I (440-461); e Gregório I (590-604). Também ajudou a situação caótica da administração do Império no oeste, dando oportunidade aos papas não só escaparem da tutela do imperador, como também serem elevados ao nível de representantes deste. Ajudou também o uso, devido ou não, dos escritos de Irineu e Cipriano que destacavam a primazia de Roma. Mais tarde seriam acrescentados os documentos falso, tais como a “Doação de Constantino”e os “Decretos de Isidoro”. Ao mesmo tempo construiram sobre o conceito agostiniano da Cidade de Deus, sendo esta dirigida da nova Jerusalém, Roma. E por último, a conversão do povos quer posteriormente formariam a Inglaterra, França, Alemanha e o norte da Italia foi estritamente ligada ao apostolado da Igreja de Roma.
Até Constantino
Os antigos autores católicos tenham insistido que a Igreja de Roma foi fundada por Pedro e que tenha tido uma linha de papas, vigários de Cristo, desde então. Oscar Cullmann, teólogo protestante, examina detalhadamente a questão de Pedro ter estado em Roma. Conclui que estava lá e lá foi martirizado. Nega entretanto que tenha fundado a Igreja ou passado seus direitos aos bispos subsequentes.. Também temos que Inácio, em princípios do II século, escreveu aos cristãos em Roma. Endereçou a carta à Igreja e não a seu bispo. Todas as outras cartas de Inácio são endereçadas aos bispos das Igrejas. A diferença é significativa.
A lista dos primeiros bispos consta destes nomes: Lino, Cleto ou Anacleto, Clemente (91-100), Evaristo, Alexandre(109-119), Sixto I (119-127), Telesforo (127-138), Higino (139-142), Pio I (142-157), Aniceto (157-168), Soter (168-177), Eleutero (177-193). Estas datas são aproximadas e temos poucas informações do seu pontificado.
Vitor (193–202). Parece ser o primeiro a procurar estabelecer a autoridade papal além das fronteira de sua igreja.
Cipriano. Bispo em Cartago durante o pontificado de Cornêlio e Estevão, contribuiu bastante para fortalecer a autoridade do bispo de Roma. Defendeu as reivindicações petrinas (Mt:16:18) sem entretanto colocar o papa sobre os demais bispos.
Estevão (253-257). Procurou forçar as demais igrejas a seguir o costume romano quanto ao cálculo da data da páscoa.
Um outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma neste período foi a crescente prática das igrejas rurais ou de pequenas cidades serem relacionadas a alguma igreja em cidade grande ou incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no II século como resultado do sistema missionário das igrejas mães.
De Constantino a Gregório Magno
A oficialização da Igreja trouxe em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. O declínio do Império e sua queda no oeste acelerou ainda mais este processo, particularmente em relação as igrejas ocidentais.
Constantino se considerava bispo e até bispo dos bispos em coisas formais e até doutrinárias. Sem sua permissão não se pode reunir um sínodo. sua atuação preparou o caminho para o bispo de Roma se tornar “a episcoporum”, como o foi a remoção do governo à Constantinopla.
Roma surge como árbitro entre as igrejas. No conflito entre os arianos e Atanásio, este contribuiu para fortalecer Júlio por ter recorrido ao bispo de Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e outras questões entre as igrejas do leste e da África foram exploradas pelos papas para fortalecer suas próprias posições. Logo que Damasso foi eleito papa (366), Valentinian e Gratian promulgaram um edito que versava que o bispo de Roma deve ouvir e resolver disputas entre outros bispos. Assim questões religiosas seriam resolvidas pelo “sumo-pontífice”de religião e não pelos magistrados civis.
Siricius (354-398). Conseguiu que um concílio realizado em Roma decretasse que nenhum bispo deve ser consagrado sem o conhecimento e consentimento do bispo de Roma. Mesmo que seja um decreto falso, é muito antigo e exerceu grande influência.
Inocêncio I (402-417). Demonstrou grande ousadia em explorar as reivindicações de Roma, exigindo submissão universal a sua autoridade. Nomeou Rufo bispo de Tessalônica. É a primeira vez que um bispo de Roma nomeia bispo para Iliricum. Insistia que era a obrigação de todas as igrejas ocidentais se conformarem aos costumes de Roma. Afirmava que todas as questões eclesiásticas no mundo devem ser, por direito divino, remetidas à sé apostólica para lá serem decididas. Esta nova reivindicação foi imediatamente rejeitada pelas igrejas da África. Mesmo assim , é a Inocêncio I que a eventual grandeza da Sé de Roma é devida.
Celestino (422-432). durante o exercício do seu papado foi resolvido a mui agitada questão do direito de apelar a Roma decisões nas províncias. Celestino manipulou as questões de uma maneira que sempre saia ganhando o prestígio de Roma, até o ponto de dispensar os cânones de um concílio geral (questão da transferência de bispos de uma sé a outra).
Leão I (440)-461). Homem humilde, insistia que era sucessor de Pedro e que não se pode infringir a autoridade deste. Conseguiu do jovem e fraco imperador Valentino III um edito em que este reconhece a primazia da sé de Pedro e insiste que ninguém pode agir sem a permissão desta sé. No Concilio de Calcedônia (451) os delegados de Leão condenaram um bispo em nome dele, como se fosse por autoridade dele. A este mesmo concílio Leão reclamou bastante porque em um dos seus cânone Constantinopla é elevada ao nível de Roma em direitos e privilégios. A estatura de Leão foi bastante fortificada quando conseguiu interceder com o inimigo e assim salvar Roma em 455 de ser destruída pelos vândalos.
Gregório I (589-604). Possivelmente o maior papa deste período. filho de um senador, adotou o costume monástico. Pretendia ser missionário aos ingleses quando foi consagrado papa aos 49 anos de idade.
Reclamou que Máximo foi eleito patriarca de Constantinopla no lugar de seu candidato e suspendeu todos os bispos que o consagraram sob pena de anátema de Deus e do apóstolo Pedro. Repreendeu o patriarca de Constantinopla por ter assumido o título de bispo ecumênico. Eventualmente Máximo foi humilhado pela pressão de Gregório e teve que submeter-se a Gregório.
ORIGEM E FORMAS DE MONACATO
O monacato desempenhou importante trabalho eclesiástico na Idade Média. Embora s Igrejas protestantes tenham rejeitado o ideal monaquista, até hoje os religiosos são instrumentos essencial na Igreja Católica Romana.
O Surgimento do Monaquismo
Desde o inicio se levantam as questões quanto à vida cristã perfeita: o que é?; como poder viver esta vida?; envolve transformação de toda a sociedade?; é necessário fugir da sociedade não cristã para não ser contaminado por ela? pode se viver em grupo ou apenas individualmente? No I e II séculos os cristãos eram um número muito pequeno na sociedade. Em meados do III século milhares ingressaram na igreja.
Até o fim do V século a vasta maioria dos cidadão do império romano professou ser cristão. Nesse último período ( apartir de Constantino) a disciplina relaxou e a lacuna entre o ideal cristão e a realidade da cristandade se tornou muito grande. Então, o monaquismo surgiu em parte como reação contra a frouxidão espiritual,e em parte como resultado das insatisfação gerada pelo próprio ensino de Jesus. O primeiro eremita cristão conhecido é Paulo de Tebes (alto Egito). Aos 22 anos na perseguição deciana (250), se retirou para uma caverna onde viveu, segundo a lenda, 90 anos sem ser visto, sem comunhão, sem igreja ou Bíblia, sem participar em culto ou eucaristia.
O Monacato Oriental
O monacato apareceu primeiro no Egito no III século. Tentativas tem sido feitas para encontrar as origens deste movimento dentro do hinduismo e nas religiões grego-egípcias. Após examinar os resultados, o historiador K. Latourette acha que o evangelho é causa suficiente embora não descarta outras influências. Orígenes deu um exemplo de extremo ascetismo em auto-mutilação e em austeridade de comida, bebida, dormir e confortos do corpo. teve uma influência profunda sobre a Igreja no Egito.
Antônio (250-356). Ao visitar Paulo de Tebes se sentiu pequenino. Antônio já era monge, mas seguiu o exemplo ascético de Paulo. Sua biografia, escrita por Atánasio, foi bastante divulgada e serviu para estimular muito a expansão do monaquismo. Para alguns: “este é patriarca do monges, um pai sem filhos que teve uma prole inumerável”. Antônio foi o verdadeiro fundador da vida eremita. Viveu no princípio numa sepultura e depois nas ruinas de um castelo. Sua comida consistia de pão, sal e água. As vezes comia tâmaras. Comia uma vez por dia e isto após o por do sol. Os conflitos com o diabo e suas hostes foi uma parte preeminente de sua vida. O diabo aparecia-lhe de todas as formas. Sua vestimenta consistia de uma camisa de tecido de crina (cilício), uma pele de carneiro e um cinto. Quase nunca saiu da solidão.
Em 311, sob a perseguição de Maximinio, apareceu em Alexandria para encorajar os confessores e, se possível ganhar a coroa do martírio. Ninguém ousou tocá-lo. Em 351, aos cem anos de idade, voltou a Alexandria, para testificar a favor de Atanásio e da fé ortodoxa. O seu exemplo agiu como magia sobre sua geração. Sua biografia escrita por Atanásio se tornou um best-seller. Crisóstomo recomendou sua leitura. Agostinho foi levado por ela a renunciar ao mundo. Dentro da própria vida de Antônio o deserto foi povoado por eremitas. O monaquismo se tornou o meio mais rápido para ser famoso na terra e garantir recompensa eterna ao céu..
Simão Stilites (459) e os santos dos pilares. A vida dos eremitas era semelhantes no mínimos detalhes.
Com Simeão no V século algo novo foi acrescentado. simeão e os seus imitadores gastaram longos anos de dia e noite, verão e inverno em pé sobre altos pilares em oração e penitência. simeão comia apenas uma vez por semana e passava 40 dias da quaresma em jejum. Passou 26 quaresma em jejum. Os últimos 20 anos vivia sobre um pilar quase de 18 metros de altura, cujo topo media menos de um metro de diâmetro. Deste seu púlpito Simeão pregava arrependimento 2 vezes ao dia, resolvia controvérsias, vindicava a fé ortodoxa, curava os doentes e convertia milhares do islamismo.
Pacômio. Foi o fundador do monaquismo social (cenobita). Fundou uma sociedade de monges em 325.
Antes de sua morte (348) esta sociedade contava com 8 ou 9 mosteiros com 3 a 7 mil membros. Cem anos depois o movimento contava com 50.000 membros. Pacômio, após a sua conversão, nunca comeu uma refeição inteira e durante 15 anos dormiu assentado numa pedra. A irmã de Pacômio, fundou um mosteiro para mulheres sob o controle do superior geral pacomiano.
O Monacato Ocidental
O monaquismo no ocidente não produziu santos de pilares, nem tampouco os outros excessos de heroismo ascético. Era mais prático e se tronou importante instrumento para cultivar o solo, espalhar o cristianismo e civilizar os bárbaros. Contemplação exclusiva foi trocada por uma alternação entre contemplação e trabalho. Atanásio espantou Roma, trazendo consigo dois representantes rudes do monaquismo egípcio. Depois os nobres romanos, especialmente as mulheres, passaram a imitá-los. A influência cresceu quando a “Vida de Antônio ” foi traduzida para o latim. Jerônimo também contribuiu com a tradução da Regra de Pacômio. Embora a teologia agostiniana da graça de Deus fosse inconsistente com o monaquismo, Agostinho junto com os seus sacerdotes viveu uma vida monacal (pobreza e celibato). Ele a tinha como a mais nobre vida, uma vida de abnegação a Deus e de preocupação com coisas espirituais.
Martim de Tours. Foi pioneiro no oeste, especialmente na Gália. embora foi levado a ser bispo de Tours, permaneceu em sua vida rude e simples.
Jerônimo. Foi outro pioneiro no oeste. Um estudante diligente e grande escritor e tradutor, foi um elemento advogado da vida monástica. Mesmo quando secretário ao papa Damasso (382-384), Jerônimo usou o vestido e seguiu a disciplina dos eremitas. Após deixar Roma construiu um mosteiro em Belém. foi acompanhado de Roma por uma discípula, Paula, que construiu um convento e hospício para peregrinos.
Jerônimo foi o elo entre a erudição e a religião, entre o leste e oeste. foi o primeiro teólogo erudito que abraçou a vida monacal.
Benedito de Núrsia (480-543). No meio da iniquidade, escuridão e desmoralização da época, Benedito fundou em Monte Cassino a ordem dos Beneditinos. Aos mosteiros espalhados já existentes deu unidade e uma regra geral. Aumentou seu número e incrementou sua eficiência. Multidões correram para entrar nos mosteiros pelas mais diversas razões. A grande obra que lhes era proposta foi a construção da Europa.
Para isto cultivavam a mente e o solo. Criaram centros de vida religiosa e atividades beneficientes. Dentro do possível patrocinaram a aprendizagem e preservaram livros.
Benedito de Núrsia e Cassiodoro, contemporâneos do VI século, estabeleceram mosteiro que, embora semelhante, são diferentes. O de Benedito em Monte Cassino era uma escola para o serviço do Senhor mais nada. O de Cassidoro em Vivarium objetivava as Escrituras e escritos seculares, salvação da alma e aprendizagem secular. É difícil determinar presentemente a influência de Cassidoro. As principais fontes literárias para a cultura monástica podem ser reduzidas a três: Escrituras Sagrada, a tradição patrística e a literatura clássica.
A Vida Monacal
Iniciou-se no Egito como vida solitária. O eremita vivia numa cela, numa caverna ou num casebre. Posteriormente foi inventado o viver em cima de colunas. Com o decorrer do tempo desenvolveu-se a “laura”. A “laura” era vida solitária em conjunto. Quer dizer, cada monge vivia só, mas viviam bastante perto uns dos outros para permitir comunhão.
Antônio foi eremita, mas mais tarde seus discípulos viviam suficientemente perto dele para tornar a comunhão possível. Cenobita é a forma social ou comunitária inventada por Pacômio. Viveram num mosteiro governado por um monge líder e por uma Regra.
Ao princípio cada mosteiro desenvolveu sua própria regra.
As regras do monacato cenobita, embora tendo diferenças de um mosteiro para outro, geralmente contavam dos seguintes elementos: vestimenta simples, oração em conjunto em determinadas horas, celebração de eucaristia 2 vezes por semana, estudo e memorização da Bíblia, trabalho manual, 2 refeições por dia (sem carne ou vinho), jejum 2 vezes por semana e obediência absoluta aos superiores, bem como pobreza e castidade. A conversação deveria ser limitada a assuntos espirituais.
Bendito de Nursia deu ao monaquismo ocidental forma fixa e permanente. Desta maneira superou as tentativas imperfeitas de organização no leste. sua Regra rapidamente superou todas as demais e se tornou o código imortal dos beneditinos e a base de toda a vida monástica da Igreja Católica. A Regra consiste de um prefácio e uma série de ordenanças morais, sociais, litúrgicas e penais em um total de 73 capítulos. A Regra combina conhecimento profundo da natureza humana com a sabedoria prática de Roma e uma adaptação a costumes romanos. Após um ano de noviciado, o candidato fazia um voto irrevogável em 3 partes: “stabilitas” ( aderência perpétua); “conversio morum” (pobreza voluntária, castidade) e “obedientia coram Deo et Sactis ejus ( obediência absoluta ao abade como representante de Cristo) Segundo a Regra “uma das principais ocupações do monge e a “lectio divina”, que inclui meditação: “meditari e legere”. Consequentemente o monge precisa possuir livros, saber escrever e ler. Ora o “ler”na antiguidade era diferente de hoje. Consistia num ler principalmente com os lábios, pronunciando o que viram e escutando com seus ouvidos “as vozes das páginas”. “Meditari”significa ao mesmo tempo pensar, refletir e afinidade com o prático ou moral.