Evangelhos Apócrifos
José e Asenath
Capítulo 1
Asenath
1 No quinto dia do segundo mês, no primeiro ano dos sete anos gordos, o Faraó ordenou a José que fizesse um giro por toda a terra do Egito. Assim, no décimo oitavo dia do quarto mês do primeiro ano José chegou à região de Heliópolis, a fim de recolher o trigo todo da terra, a qual se assemelhava às areias do mar.
2 Havia um homem naquela cidade por nome Pentephres. Era sacerdote em Heliópolis e sátrapa do Faraó, o principal dentre todos os seus príncipes e sátrapas. Esse homem era incomensuravelmente rico, prudente e manso de coração. Conselheiro do Faraó, era o mais sábio de todos os seus príncipes.
3 Pentephres tinha uma filha, chamada Asenath, virgem de dezoito anos, esbelta e viçosa, que sobrepujava em beleza todas as jovens do país. Efetivamente, Asenath não se parecia em nada com as moças egípcias; parecia-se muito mais comas filhas dos hebreus. Era tão esbelta quanto Sara, tinha o frescor de Rebeca e a beleza de Rachel.
4 A fama de sua beleza percorreu toda a terra, até os confins do mundo. Todos os filhos dos grandes e dos sátrapas, e até os filhos dos reis soberanos, queriam pedi-la em casamento. Todos jovens e vigorosos, entre eles nasceu logo grande porfia por” causa dela e até já se hostilizavam entre si.
5 Também o filho primogênito do Faraó ouviu falai” de Asenath e pediu ao pai que ela lhe fosse dada em casamento, falando-lhe assim: “Meu pai! Dá-me por esposa Asenath, a filha de Pentephres, o homem mais importante de Heliópolis!” Respondeu-lhe então o Faraó: “Por que procuras tu uma mulher que está abaixo da tua condição, se vais ser o rei de todo este pais? Por acaso a filha de Joachim, rei de Moab, não é tua noiva? Ela será efetivamente uma rainha, e é bela acima de toda medida. A ela, pois, escolhe por tua esposa!”
Capítulo 2
Adornos e morada de Asenath
1 Asenath, porém, era avessa a todos os homens e os repudiava. inacessível no seu orgulho, homem algum chegava sequer a vê-la. Na mansão de Pentephres havia uma torre, muito grande e muito alta, em cuja parte superior havia um solar constituído de dez cômodos.
2 O primeiro aposento era sobremodo grande e bonito, marchetado de pedras purpúreas, com paredes em pedras nobres, de variada cor; e o forro era de ouro, inúmeras divindades egípcias, de ouro e prata, estavam reunidos nesse quarto. E Asenath a todas adorava, com grande reverência, oferecendo-lhes sacrifícios todos os dias.
3 No segundo aposento recolhiam-se todos os adornos de Asenath, bem como todos os seus pertences. Nele se depositavam muito ouro e muita prata, numerosos vestidos bordados com ouro, pedras preciosas raras e vestes de linho, a par de todos os demais enfeites de uma jovem. O quarto de provisões de Asenath constituía o terceiro compartimento e continha todos os melhores gêneros da terra.
4 Nos restantes sete quartos moravam sete jovens virgens, cada qual em seu quarto,para servirem a Asenath. Eram todas da mesma idade e nascidas como Asenath numa mesma noite. Ela as amava muito; eram maravilhosamente belas, comparáveis às estrelas do céu. Nem homem nem jovem jamais lhes dirigiu a palavra.
5 Havia três janelas no aposento maior, onde a donzela Asenath Cultivava e embalava a sua virgindade. A primeira janela era muito ampla e dava para o pátio, na face leste; a segunda dava para o sul e a terceira, para a rua.
6 Uma cama de ouro ocupava o quarto, do lado do nascente. O leito tinha cobertas de púrpura com arremates de ouro, tecidas em escarlate e de finíssimo pano de linho. Nessa cama Asenath dormia sozinha. Jamais se deitara nela um homem, nem outra mulher, mas tão-somente Asenath.
7 A casa era circundada de um amplo pátio cercado de altos muros, construídos com grandes blocos de pedra. O pátio tinha quatro portões forte-mente guarnecidos de ferro. Neles montavam guarda dezoito soldados armados, jovens e vigorosos. Junto ao muro, na parte interna do pátio, cresciam árvores frutíferas de espécies variadas e preciosas, carregadas de frutos maduros da estação.
8 No lado direito do pátio havia uma rica fonte de água, e abaixo dela um tanque de considerável proporção que recolhia as águas da fonte. A partir dele, semelhantemente a um córrego, as águas fluíam no pátio todo e irrigavam suas plantas.
Capítulo 3
Chegada de José
1 No dia vinte e oito do quarto mês, no primeiro dos sete anos gordos, José chegou à região de Heliópolis para recolher o trigo daquela terra. Ao aproximar-se da cidade, destacou doze homens para que fossem à sua frente levai-a Pentephres, sacerdote de Heliópolis, a seguinte mensagem: “Chegarei hoje à tua casa, pois se faz meio-dia e é hora de refeição; também grande é o calor do sol; por isso aprazer-me-á refrigerar-se sob o teto da tua casa”.
2 Quando Pentephres ouviu essas palavras, alegrou-se grandemente e falou: “Louvado seja o Senhor, o Deus de José! Meu Senhor! José me julga digno!” Então Pentephres mandou vir o administrador da casa e falou-lhe: “Por depressa minha casa em ordem e prepara um almoço festivo, porque hoje José, o herói de Deus, chegará à nossa morada.
3 Asenath, ao perceber que o pai e a mãe acabavam de voltar para casa, vindos da sua propriedade rural, disse com toda alegria: “Eu vou e quero ver o pai e a mãe, que voltam do campo”. Era o tempo da colheita.
4 Ela correu ao quarto onde guardava as suas roupas, vestiu um finíssimo vestido de linho, debruado em escarlate e ouro, cingiu-se com um cinto dourado, colocou braceletes nos braços e correntes de ouro nus tornozelos. No pescoço pôs um colar valiosíssimo de pedras preciosas polidas de todos os lados e levando inscritos os nomes dos deuses egípcios, que também estavam gravados nos braceletes e nas demais jóias. Colocou o turbante na cabeça, aplicou um diadema às têmporas e cobriu a cabeça com um véu.
Capítulo 4
Asenath e seus tais
1 Asenath saiu do solar, desceu rapidamente as escadas, aproximou-se do pai e da mãe e os saudou. Pentephres e sua mulher alegraram-se profundamente com a presença da filha e por vê-la assim tão enfeitada e radiosa, como uma noiva divina.
2 Tomaram dos gêneros que haviam trazido da sua propriedade e os ofereceram à filha. E Asenath ficou encantada com esses bens: frutas, como uvas, tâmaras, romãs e figos, todas maduras e apetitosas. Nesse momento, Pentephres chamou Asenath: “O filha”. Ela respondeu: “Sim, meu Senhor”. Disse-lhe ele: “Senta-te aqui, entre teu pai e tua mãe! Desejo dizer-te o que vai no meu pensamento”.
3 Ela sentou-se entre eles. Pentephres estendeu sua mão direita, tomou a mão direita dela, beijou-a e disse: “Filhinha querida!” Ela retrucou: “Sim, meu senhor e pai”.
4 Pentephres continuou: “José, o herói de Deus, chegará hoje à nossa casa. Ele é o príncipe soberano de toda a terra do Egito. O rei Faraó constituiu-o administrador de todo o nosso pais, a toda esta terra ele distribui alimentos para salvá-la da fome que [lá de vir. José é um homem temente a Deus, virgem, como és tu hoje, homem forte em sabedoria e conhecimentos; o espírito de Deus está com ele e a graça do Senhor” nele habita. Vem, pois, filha querida! Vou oferecer-te a ele como esposa, e tu serás sua esposa, e ele será o teu esposo para todo sempre”.
5 Ao ouvir tais palavras do seu pai, o rosto de Asenath cobriu-se de suor. Tomada de grande indignação, olhou de soslaio para o pai e falou: “Por que me falas tais coisas, meu senhor e pai? Queres entregar-me como prisioneira a um homem estranho, que foi um fugitivo, a um homem que, além de tudo, foi vendido? Por acaso não é ele o filho de um pastor de Canaã? Não foi, enfim, por ele repudiado? Não é aquele que, tendo deitado com sua ama, foi lançado por seu patrão numa prisão escura, de onde o Faraó o fez libertar por haver ele interpretado os seus sonhos, como fazem as velhas feiticeiras do Egito? Não! Prefiro casar-me com o filho primogênito do Faraó, pois este será o rei de todo o país”.
6 Tudo o entusiasmo de Pentephres para continuar a falar com sua filha Asenath sobre José esmoreceu, pois ela acabava de responder-lhe com muita ira e grande orgulho.
Capítulo 5
A visita de José
1 Nesse momento entrou a correr um jovem serviçal e falou assim a Pentephres: “José já está às portas do pátio”. Ao ouvir estas palavras, Asenath fugiu da presença do seu pai e da mãe, subiu as escadas do solai”, entrou no seu quarto e postou-se à grande janela que dava para o nascente, para poder ver José quando entrasse na casa paterna.
2 Então Pentephres e sua mulher saíram a saudar José, acompanhados de todos os parentes e dos serviçais. Ao ser aberto o portão do pátio que dava para o oriente, José fez sua entrada. Viajava no segundo carro do Faraó, rica carruagem acabada em ouro puro e puxada por quatro cavalos brancos como a neve, com bridas douradas.
3 José vestia uma maravilhosa túnica branca e se cobria com um manto de púrpura, de um fino linho bordado a ouro. Sobre a cabeça, uma coroa de ouro com doze pedras preciosas que coruscavam em reverberações douradas. Na mão direita portava um cetro real e um ramo de oliva carregado de frutos.
4 Quando José entrou no pátio, os portões foram fechados e todas as pessoas estranhas, homens e mulheres, tiveram de permanecer do lado de fora. Apresentam-se então Pentephres e sua mulher, e todos os parentes, menos a filha Asenath. Prostraram-se no chão diante de José. Então José desceu do carro e, com um aperto de rirão, a todos saudou.
Capítulo 6
Asenath impressiona-se com José
1 Tendo Asenath visto José, ficou fortemente perturbada no seu íntimo. Seu coração palpitava e seus joelhos vacilaram. Todo o seu corpo tremia e uma grande angústia apossou-se dela. Com fortes suspiros, assim falou em seu coração: “Para onde eu, desgraçada, deverei fugir agora? Onde esconder-me da sua face? Como poderá José, esse filho de Deus, volver os seus olhos para mim, eu que tanto mal falei dele?
2 “Ai de mim, desafortunada! Aonde irei esconder-me? Pois ele vê tudo o que está escondido, sabe todas as coisas e nada do que está oculto lhe escapa, por causa da grande luz que traz dentro de si. Seja neste momento o Deus de José clemente comigo, pois sem saber pronunciei coisas tão graves contra ele! Que devo fazer, ó mísera de mim?
3 “Por acaso eu não disse que ele é filho de um pastor de Canaã? Agora vem ele a nós, semelhante a um sol divino, em seu carro, dando entrada em nossa casa e iluminando-a como a luz que ilumina toda a terra. Eu, porém, fui tão tola e atrevida, a ponto de proferir contra ele coisas graves, sem saber que José é um filho de Deus.
4 “Pois que homem sobre a terra pôde gerar tamanha beleza, e que ventre materno pôde dar à luz tamanho esplendor? Como fui infeliz e tola, respondendo ao meu pai com palavras tão perversas! ó pai, entrega-me a José como sua serva, melhor ainda, como sua escrava! Sim, desejo ser sua escrava para sempre.”
Capítulo 7
Entrada de José na casa dos pais
1 E José entrou na casa de Pentephres e assentou-se sobre um trono. Lavaram-lhe os pés e prepararam-lhe uma mesa em separado, porque José não comia com os egípcios: isso significava para ele abominação. Nisso, José, levantando os olhos, viu Asenath; notou como ela o espiava furtivamente, e então falou a Pentephres: “Quem é essa mulher postada à janela do solar? Quero que saia desta moradia!” José pensava, e temia, que ela quisesse importuná-lo.
2 Acontecia que todas as mulheres e filhas dos príncipes e sátrapas do Egito lhe eram incômodas, por causa da insistência em se manterem junto dele. E não havia mulher egípcia, casada ou solteira, que não se apaixonasse por José por causa da sua beleza. Aos mensageiros que as mulheres enviavam a ele com presentes valiosos, de ouro e prata, José expulsava com indignação e ameaças, fiel ao seu princípio: “Jamais haverei de pecar contra Deus, o Senhor, nem contra a face do meu pai, Israel”.
3 José realmente tinha Deus sempre diante dos olhos, e constantemente lembrava as advertências de seu pai. Muitas vezes Jacó disse a José e inculcou em seu coração e no de todos os seus outros filhos: “Filhos, guardai-vos das mulheres estrangeiras! Nunca deixeis que elas vos envolvam! A relação com elas é desgraça e perdição”. Foi por isso que José falou: “Que esta mulher se retire desta casa!”
4 Ao que Pentephres retrucou: “Meu Senhor! Aquela que vês postada no solar não é uma estranha; ela é nossa filha, que tem desprezado todos os homens. Ela nunca viu outro homem até hoje, a não ser tu. Se for do teu agrado, Senhor, ela se apresentará e te dirigirá a palavra, pois nossa filha é como se fosse tua irmã”.
5 Essas palavras alegravam o coração de José. Sabendo pelo próprio Pentephres que ela era virgem, e mais, que desconhecia e desprezava os homens, José disse a Pentephres e sua mulher: “Se essa é vossa filha e é virgem, que venha pois até aqui. Nesse caso, ela é minha irmã, e a partir deste momento, eu a amarei como tal”.
Capítulo 8
Encontro de José com Asenath
1 Ao ouvir essas palavras, a esposa de Pentephres subiu ao solar e conduziu Asenath até José. Pentephres disse a ela: “Saúda o teu irmão! Ele é virgem, como tu também o és hoje, e ele se aborrece com toda mulher estranha assim como tu também te aborreces com todos os homens estranhos”.
2 Então Asenath falou a José: “Sejas bem-vindo, Senhor, o abençoado do Deus altíssimo!” E José assim respondeu: “Jovem! Que te abençoe Deus, que a todas as coisas dá a vida!” Pentephres disse então à sua filha Asenath: “Vamos. Beija o teu irmão!”
3 Quando Asenath se dispunha a beijar José, este a reteve com um gesto da mão direita, que colocou sobre o peito. E disse: “Não convém a um homem temente a Deus, que com sua boca louva o Deus vivo e come o sagrado pão da vida, e bebe a bebida sagrada da imortalidade, beijar uma mulher estranha, a qual com a boca louva deuses mortos e mudos, que da sua mesa come alimentos sufocados, que das suas bebidas rituais bebe o cálice da impostura, e que se unge com a unção da desgraça.
4 “O homem temente a Deus, muito mais há de beijar sua mãe e sua irmã, filha de sua mãe, e sua irmã da mesma linhagem e sua esposa, que compartilha seu leito e que com sua boca louva o Deus vivo. Da mesma forma, não convém a uma mulher temente a Deus beijar um homem estranho, pois isso, diante de Deus, o Senhor, é uma abominação.”
5 Quando Asenath ouviu de José tais palavras, ficou muito perturbada e sua respiração se acelerou. E como José a encarasse com olhar aberto e firme, os seus olhos encheram-se de lágrimas. Ao ver José que ela assim chorava, compadeceu-se dela profundamente, pois percebeu a sua doçura e bondade e o seu temor a Deus.
6 Colocou então a mão direita sobre a cabeça da jovem e disse: “Senhor Deus dos pais de Israel! O tu, altíssimo e forte Deus, que a tudo conferes a vida, que a tudo tiras das trevas e trazes à luz, que tudo conduzes do erro para a verdade, da morte para a vida. Ah, abençoa também esta jovem! Dá-lhe a vida, renova-a pela força do teu espírito santo, permite-lhe provar do teu pão da vida e beber do cálice da tua bênção, e conta-a entre o teu povo, que tu escolheste, antes que tudo fosse criado! Conduze-a à morada da tua paz, que preparas-te para os teus eleitos! Permite-lhe viver para sempre no seio da tua vida eterna!”
Capítulo 9
Partida de José
1 Asenath alegrou-se profundamente com a bênção de José. A toda pressa subiu ao solar e, exausta, atirou-se sobre a cama. No seu intimo reinavam ao mesmo tempo a alegria, a tristeza e a angústia. Ainda ecoavam em seus ouvidos aquelas palavras de José falando lhe em nome do Deus altíssimo. Prorrompeu então num choro alto e amargo e, cheia de arrependimento, aborreceu os seus deuses, que adorava, e as imagens dos seus ídolos, que já começava a maldizer, e assim permaneceu até o cair da noite.
2 José comeu e bebeu e a seguir ordenou aos seus servos que atrelassem os cavalos ao seu carro, a fim de continuar a percorrer a região. Falou então Pentephres a José: “Permanece hoje aqui, meu Senhor! Segue amanhã o teu caminho”. Mas José lhe respondeu: “Não, eu irei hoje; pois este é o dia em que o Senhor iniciou a criação de todas as coisas. No oitavo dia eu voltarei, e então permanecerei convosco”.
Capítulo 10
Arrependimento de Asenath
1 Quando José partiu, Pentephres dirigiu-se para o campo, acompanhado de todos os seus. Só Asenath e as suas sete virgens permaneceram em casa. Mas Asenath ficou alheia a tudo e debulhada em lágrimas, até o pôr-do-sol. Não comeu pão nem bebeu água; e quando todos já estavam mergulhados no sono, só ela permanecia acordada, derramando lágrimas e batendo repetidamente no peito.
2 Em dado momento levantou-se e desceu as escadas do solar. Junto à porta de entrada encontrou a guardiã adormecida nas suas dependências, juntamente com as suas crianças. Então habilmente desprendeu o cortinado da porta, encheu-o de cinzas, carregou-o até o solar e, chorando e suspirando, espalhou as cinzas pelo chão.
3 Aquela jovem, que era a que mais amava Asenath, percebeu os seus suspiros. Levantou-se mais que depressa e foi postar-se à porta, após ter acordado também as outras virgens; mas Asenath havia trancado a porta e corrido o ferrolho. Ouvindo que não cessavam os suspiros e as lamentações de Asenath, chamou-a do lado de fora, dizendo: “O que está acontecendo, minha senhora? O que tanto te entristece? O que assim te atormenta? Abre a porta, para que possamos ver-te”.
4 De dentro, Asenath respondeu: “Um sofrimento muito grande e muito pesado abateu-se sobre mim; estou estirada sobre meu leito e não consigo levantar-me para abrir-vos a porta, pois doem-me todos os membros. Que todas voltem para seus quartos, descansem e me deixem em paz!”
5 Quando as jovens tornaram a recolher-se, Asenath levantou-se, abriu silenciosa-mente a porta do seu aposento Jose, dirigiu-se até o segundo compartimento, onde se guardavam os seus adornos, e abriu os baús. Apanhou um vestido preto e sombrio que vestira por ocasião da morte do seu irmãozinho mais velho, levou-o ao seu quarto e cerrou e novo cuidadosamente a porta, correndo a tranca de ferro.
6 Então tirou suas vestimentas reais e vestiu o vestido de luto. Desprendeu o cinto de ouro e cingiu-se com uma corda tirou o turbante, o diadema, os braceletes e as fitas de ouro e amontoou tudo isso no chão. Então agarrou o seu vestido de luxo, bem como o cinto de ouro, o turbante e o diadema, e atirou tudo aos pobres pela janela que dava para o norte.
7 Depois, reuniu o grande número das estátuas de seus deuses leitos de ouro e prata, que se encontravam no quarto, quebrou-os em mil pedaços e atirou-os pela janela, aos mendigos e necessitados. Em seguida, Asenath tomou suas provisões reais, carnes gordas, peixe e assados de vitela, bem como todas as oferendas dos seus deuses, também os utensílios e as reservas de vinho, e atirou tudo aos cachorros pela janela que dava para o norte.
8 Feito isso, tomou o cortinado com as cinzas e esvaziou-o completamente pelo chão. Tomou uma roupa de penitência, envolveu com ela os rins, soltou as tranças dos cabelos e espalhou cinzas sobre a cabeça. Como havia esparzido as cinzas pelo chão, sentou-se no meio delas, batendo-se no peito repetidamente com os punhos cerrados; chorou e suspirou amargamente pelo resto da noite, até o amanhecer.
9 Quando, pela manhã, Asenath se deu conta, viu que as cinzas do chão haviam-se convertido em lodo, tantas as lágrimas derramadas. Então, mais uma vez, atirou-se com a face por terra, e assim permaneceu até o pôr-do-sol. Assim procedeu durante sete dias, não se alimentando de uma migalha sequei”.
Capítulo 11
Conversão de Asenath
1 No oitavo dia, ao alvorecer, quando os passarinhos começavam a cantar e os cachorros a latir para os transeuntes, Asenath soergueu-se um pouco do monte de cinzas em que se assentava. Esgotada pelo prolongado jejum, sentiu os membros entorpecidos e fracos e aniquiladas sua energia e suas forças. Recostou-se então contra a parede, sob a janela onde estava sentada, do lado do nascente, deixou pender a cabeça, em penitência, e colocou os dedos da mão direita sobre o joelho direito. Sua boca permanecia fechada; nenhuma vez a abrira nos sete dias e sete noites do seu jejum. E no seu íntimo ela falou, sem entreabrir a boca: “Que deverei fazer, ó pobre de mim? Aonde irei? Junto a quem refutar-me-ei? Com quem poderei falar agora, desamparada, solitária, por todos abandonada e virgem desprezada?
2 “Ninguém mais terá consideração por mim, nem meu pai, nem minha mãe, porque repudiei os seus deuses, fi-los em pedaços e os dei aos pobres como objeto de destruição. Assim dirão meu pai e minha mãe: `Esta não é a nossa filha Asenath’. Também me odiarão todos os parentes e as demais pessoas, porque destruí os deuses deles.
3 “Por acaso também eu não desprezei todos os homens e todos os meus pretendentes? Assim agora eu também, neste meu estado de fraqueza, serei simplesmente desprezada; todos se alegrarão com o meu infortúnio. O Senhor e Deus do herói José, porém, aborrece todos os adoradores de deuses falsos, pois Ele é, segundo ouvi dizer, um Deus colérico e terrível para com todos aqueles que veneram divindades estranhas.
4 “Também a mim Ele odiou, porque adorei e louvei estátuas de deuses mortos e mudos. Agora eu repudiei os seus sacrifícios e a minha boca absteve-se da sua mesa. Contudo, não tenho a coragem de invocar o Senhor, o Deus do céu, o Altíssimo, o poderoso Deus do herói José, porque minha boca esteve contaminada pelas oferendas dos falsos deuses.
5 “Mas muito ouvi falar que o Deus dos hebreus é um Deus verdadeiro, um Deus vivo, um Deus misericordioso, compassivo, indulgente, remitente, suave, que não leva em conta os pecados de quem agiu principalmente por ignorância, e que não exige satisfação pela culpa de uma pessoa em grande aflição e necessidade. Agora também eu, ó pobre de mim, me aventuro a voltar-me para Ele, e nele refugiar-me, e diante dEle reconhecer todos os meus pecados e derramar todas as minhas súplicas; Ele terá compaixão da minha profunda indigência.
6 “Vendo-me agora tão humilhada, tão solitária em minha alma, quem sabe Ele terá piedade de mim? Quem sabe agora, vendo a virgem abandonada que sou, de tudo carente, Ele me protegerá, pois, como ouço dizer, Ele é o pai dos órfãos, o consolador dos aflitos, o refúgio dos perseguidos. Sim, ousarei, eu pobre, clamar por Ele.”
7 Então Asenath ergueu-se de junto à parede em que esteve recostada, pôs-se sobre os joelhos na direção do nascente, olhou para o céu, abriu a boca e falou a Deus.
Capítulo 12
Oração de Asenath
1 Prece e confissão de Asenath: “ó Senhor, Deus dos justos, Tu que criaste os mundos e que a tudo desta vida, que concedeste o espírito da vida a todo o criado, que trouxeste à luz o invisível; Tu, que a tudo deste origem, que desvelaste o que era oculto, que és o autor dos altos céus, que firmaste a terra sobre as águas, que deste fundamentação às grandes rochas nas profundezas do mar, a fim de que não desapareçam nos abismos, mas, ao contrário, cumpram a tua vontade até o fim dos séculos, porque Tu ordenaste, e tudo foi criado — a tua palavra, ó Senhor, é vida para todas as tuas criaturas.
2 “Junto de ti agora me refugio, senhor meu Deus: doravante eu clamo a Ti, Senhor, na tua presença reconheço os meus pecados, derramo as minhas súplicas, ó Senhor,e manifesto as minhas culpas e pecados. Poupa-me, Senhor! Peço perdão! Porque muito contra Ti pequei e transgredi tuas leis, comportei-me impiamente e falei coisas abomináveis diante da tua face.
3 “Minha boca está imunda, Senhor, das oferendas aos falsos deuses egípcios, das suas refeições sacrificiais. Eu pequei, Senhor, na tua presença; agi de modo profano, tanto consciente quanto inconscientemente, pois invoquei imagens de ídolos mortos e mudos. Não sou digna, Senhor, de abrir a boca na tua presença, pobre de mim, Asenath, a filha do sacerdote Pentephres, virgem e rainha, eu que já fui cheia de orgulho e suficiência, que pela minha riqueza paterna era mais feliz do que ninguém, mas que agora estou sozinha e deserdada, completa-mente abandonada de todos.
4 “Em Ti me refugio, Senhor; a Ti apresento a minha súplica e clamo: salva-me dos perseguidores, o Senhor, antes que eles me agarrem! Tal como uma criança que de alguém tem medo e recorre ao pai e à mãe, e o pai lhe estende as mãos e a aperta contra o seu peito, assim também Tu, Senhor, abre os teus braços puros e poderosos para mim, como um pai que ama os seus filhos, e arranca-me da mão do inimigo do meu espírito!
5 “Pois vê: o velho leão rude e selvagem me persegue, porque ele é o pai dos deuses egípcios, e os descendentes dele são os deuses dos possuídos por divindades falsas. Eu porém os destruí e odiei, porque são filhos do leão. Dessa forma, eu repudiei todos os deuses dos egípcios, e os reduzi a pedaços. O leão, porém, cujo pai é o demônio, ronda cheio de ira por mim e procura devorar-me. Mas Tu, Senhor, livra-me das suas garras, arranca-me das suas fauces, para não ser por” ele estraçalhada, para que eu não seja lançada ao fogo ardente, para que o fogo não me arrebate ao furacão, e o furacão não me arremesse às trevas, e eu não seja precipitada nas profundezas do mar; que eu não seja, enfim, tragada pelo grande e velho monstro e fique perdida para todo o sempre!
6 “Salva-me, Senhor, antes que tudo isso me aconteça. Salva uma pobre, solitária e desprotegida, pois meu pai e minha mãe já me renegaram. Eles disseram: ‘Esta não é a nossa filha Asenath’, pois eu quebrei e aniquilei os seus deuses e os repudiei completamente. Neste momento, sou totalmente órfã e abandonada. Outra esperança não me resta a não ser Tu, meu Senhor, e nenhum outro refúgio senão a tua piedade, ó Tu, o verdadeiro amigo dos homens. Apenas Tu és o pai dos órfãos, o protetor dos perseguidos, o auxilio dos torturados.
7 “tem pois piedade de mim, Senhor! Protege a virgem pura que se encontra na orfandade e no abandono! Só Tu, Senhor, és um pai doce, bom e suave. Quem, além de Ti Senhor, seda um pai tão doce e bom? Todos os presentes do meu pai Pentephres, que me foram dados como propriedade, são temporários e transitórios; porém, os dons da tua herança, ó Senhor, são duráveis e eternos.
Capítulo 13
Ainda a oração de Asenath
1 “Olha, Senhor, a minha indigência! Tem piedade desta órfã! Tem compaixão de mim, profundamente humilhada! Vê, Senhor, eu de todos fugi e refugiei-me em Ti, único amigo dos homens. Abandonei todos os bens terrenos e junto a Ti procuro abrigo, em saco e cinza, nua e só.
2 “Rejeitei as minhas roupas reais feitas de linho finíssimo e escarlate, bordadas de ouro, e cobri-me com uma escura veste de luto. Desprendi o meu cinto de ouro e atirei-o longe, e cingi-me com uma corda em sinal de penitência. Arranquei da minha cabeça o diadema e o turbante, e cobre-me de cinzas.
3 “O piso do meu quarto, revestido de pedras purpúreas e matizadas, o qual era tratado a óleo e polido com linho fino, está umidificado de minhas lágrimas, coberto de cinzas, imundo. As cinzas e as minhas lágrimas, ó Senhor, converteram meu aposento em lugar sórdido, como se fosse uma rua pública.
4 “Meu Senhor! Dei meus alimentos reais e minhas iguarias aos cachorros. Senhor! Estou em jejum há sete dias e sete noites, não comi pão, nem bebi água; minha boca está seca como um tambor, minha língua é como um chifre e meus lábios são como cacos de vidro; tenho o rosto completamente desfigurado e os teus olhos estão exauridos de tanto chorar.
5 “Senhor, meu Deus, livra-me das minhas inumeráveis culpas! Perdoa à virgem inexperiente, que tantos erros cometeu! Reconheci agora que todos aqueles deuses, que antes inocentemente eu adorava, não passam de ídolos mudos e mortos. Então a todos despedacei, embora de ouro e prata, para que fossem pisados pelos homens e roubados pelos ladrões. Junto de Ti, Senhor Deus, eu tire abriguei, pois Tu és o único e compassivo amigo dos homens.
6 “Perdoa-me, Senhor, por tanto haver pecado contra Ti, inconscientemente, e por haver falado coisas nefandas contra José. Coitada de mim, eu não sabia que ele é teu filho. Pessoas malignas e cheias de inveja disseram-me que José é um filho de pastores, procedente de Canaã. E eu, coitada, neles acreditei; deixei-me enganar e pouco caso fiz dele; falei muito mal a seu respeito, não sabendo de forma alguma que ele era teu filho.
7 “Quem dentre os homens pôde trazer ao mundo tamanha beleza? Quem poderia tê-la produzido? Que outro homem é tão sábio e poderoso como esse José maravilhosamente belo? Eu confesso, meu Senhor, eu o amo mais do que à minha própria alma. Conserva-o na sabedoria da tua graça, e entrega-me a ele como sua serva e escrava, para que eu possa lavar-lhe os pés, preparar-lhe a cama, e em tudo servi-lo com submissa atenção, como sua escrava, nada mais que escrava, por todos os dias da minha vida.”
Capítulo 14
Visita do Arcanjo Miguel
1 Quando Asenath chegou ao término da sua confissão diante do Senhor, levantava-se do céu, no lado do nascente, a estrela da manhã. Asenath olhou para ela e sentiu grande alegria. E assim falou: “Terá Deus, o Senhor, ouvido a minha súplica, uma vez que essa estrela é arauto e mensageiro da luz do grande dia?”
2 Nesse momento, o céu fendeu-se junto à estrela da manhã e apareceu uma luz imensa e indizível. Ao vê-la, Asenath caiu com sua face sobre as cinzas. No mesmo instante, aproximou-se um homem do céu que emitia raios de luz e postou-se junto dela.
3 Como ela ainda estava prostrada sobre a face, o mensageiro do céu dirigiu-lhe a palavra: “Levanta-te, Asenath”. Mas ela respondeu: “Quem é esse que me dirige a palavra, pois que está firmemente fechada a porta do meu quarto e a torre é muito alta? Como pode pois alguém peneirar no meu quarto?” Então o mensageiro chamou-a mais uma vez: “Asenath, Asenath!”
4 Ela falou: “Sim, Senhor! Mas permite-me saber quem és tu”. Então ele respondeu: “Eu sou o príncipe do Senhor Deus, o chefe das legiões do Altíssimo. Levanta-te e põe-te sobre os teus pés! Quero dirigir-te a palavra”.
5 Ela então ergueu o rosto e olhou. Aí estava um homem, em tudo parecido com José, tanto pela sua vestimenta como pela sua coroa e pelo cetro real; só que o seu rosto era como o relâmpago, os seus olhos tinham o brilho do sol, seus cabelos eram como um facho aceso e as suas mãos e os seus pés eram como o ferro em brasa e emitiam faíscas.
6 Quando Asenath viu isso, caiu mais uma vez sobre a face, presa de grande temor, sem poder ter-se em pé. Todos os seus membros tremiam de imenso pavor. Então o homem falou-lhe deste modo: “tem coragem, Asenath, e nada receies. Levanta-te e fica de pé, para que eu possa transmitir-te a minha mensagem!”
7 Encorajada, Asenath ergueu-se e colocou-se em posição ereta. Então o Anjo falou-lhe assim: “Vai agora mesmo ao teu segundo quarto, desveste a roupa de luto com que te cobriste e tira dos teus quadris a veste de penitência! Remove as cinzas de tua cabeça! Lava as mãos e o rosto com água pura e veste uma roupa branca e intacta! Cinge os teus rins com o cinto puro e duplo da virgindade! Depois volta para junto de mim, para que eu possa transmitir-te a mensagem pela qual o Senhor me enviou a ti!”
8 Asenath dirigiu-se a toda pressa ao seu segundo quarto, repositório dos seus adornos, abriu a arca, retirou dela um vestido branco, fino e imaculado, e vestiu-o, depois de se desfazer da vestimenta preta e arrancar a corda e os andrajos de penitência que lhe envolviam os flancos. Depois colocou seu cinto duplo da virgindade, um nos quadris, outro no peito.
9 Isso feito, sacudiu as cinzas da cabeça, lavou as mãos e o rosto com água limpa, tomou também um véu fino e belíssimo e cobriu com ele a cabeça.
Capítulo 15
Palavras de Miguel
1 Asenath voltou então à presença do príncipe dos céus. E o Anjo do Senhor lhe disse: “Retira o véu da cabeça, porque tu és hoje unta virgem pura e tua cabeça é uma cabeça de criança”. Asenath obedeceu e de novo falou-lhe o mensageiro de Deus: “tem coragem, Asenath, virgem pura! O Senhor Deus escutou a tua confissão e a tua súplica.
2 “Ele viu também a tua humilhação e a tua indigência nos sete dias do teu jejum, quando as tuas lágrimas sobre as cinzas provocaram grande imundície ao teu redor. Alegra-te e anima-te, ó tu, virgem pura Asenath! Teu nome foi inscrito no livro da vida e dele não será nunca mais cancelado.
3 “A partir de hoje renascerás e de novo serás plasmada, dotada de vida nova; comerás o pão abençoado da vida e beberás do cálice transbordante da imortalidade e com óleo santo da incorruptibilidade serás ungida. Anima-te, Asenath, virgem pura! No dia de hoje o Senhor te deu a José como sua noiva; ele será o teu esposo para sempre.
4 “Também, de hoje em diante, não te chamarás mais Asenath; teu nome será agora cidade do refúgio, pois muitos povos recorrerão a ti e encontrarão descanso sob tua égide, e muitos encontrarão em ti proteção. Dentro dos teus muros sentir-se-ão seguros todos aqueles que, arrependidos, se volvem para o Deus Altíssimo, e isso abrandará sempre o coração de Deus, tanto em relação a ti quanto em relação a todos aqueles que se dispõem a fazer penitência. E dEle que procede a graça da conversão. A penitência é a coroa e o amparo de todas as virgens. Ela é intima de vós todas e é vossa intercessora junto ao Altíssimo, intercessora também de todos os contritos de coração. Ela assegura uma morada de paz no céu e renova a vida dos homens arrependidos.
5 “A penitência é uma coisa muito bela; ela é virgem, pura, suave e delicada. Por isso, amara o Deus Altíssimo e todos os anjos prezam-na profundamente. Também eu a amo profundamente, porque é minha irmã, e por ela amar a vós todas, virgens, assim a todas vós eu amo. Vou logo ter com José e tudo isso lhe direi a teu respeito. Ele virá ainda hoje para junto de ti e alegrar-se-á com a tua aparência, e será possuído de amor por ti. Ele será teu esposo e tu serás sua esposa para todo o sempre.
6 “Agora escuta bem, Asenath! Veste o teu vestido nupcial, o Primeiro e o mais antigo, que há muito tempo está guardado no teu quarto! Enfeita-te com os teus mais seletos adornos! Prepara-te como uma verdadeira noiva e estejas pronta para recebê-lo! Ele virá ainda hoje em pessoa ao teu encontro e ficará maravilhado com a tua imagem.”
7 Quando o anjo do Senhor, em forma humana, concluiu as suas palavras dirigidas a Asenath, ela encheu-se de alegria com tudo o que ouvira, e prostrou-se uma vez mais com a face no chão, beijou os pés do Anjo, e assim falou: “Louvado seja o Senhor, teu Deus, que te enviou para salvar-me das trevas e conduzir-me do mais profundo abismo para a luz! Louvado seja igualmente o teu nome para sempre. Se eu encontrei graça, meu Senhor, diante dos teus olhos, e se posso acreditar que todas as tuas palavras que diante de mim pronunciaste irão cumprir-se verdadeiramente, então a tua serva gostaria de dirigir-te uma palavra”.
8 Disse-lhe então o Anjo: “Pois fala!” E ela falou: “Eu te peço, Senhor, senta-te um pouco sobre esta cama! Esta cama é pura e imaculada, pois nunca um homem ou outra mulher nela repousou. Vou preparar-te uma mesa com pão, para dar-te de comer. Trarei para ti também um vinho velho e bom, cujo perfume se exala ao céu. Bebe dele, pois! E em seguida segue o teu caminho!” E ele respondeu: “Anda logo, e traze isso sem demora”.
Capítulo 16
A refeição admirável
1 Então Asenath arranjou a toda pressa uma mesa vazia e colocou-a diante dele. Mas quando se dispunha a buscar o pão, disse-lhe o anjo do Senhor: “traze-me também um favo de mel!” Ela ficou paralisada, embaraçada e triste, porque não havia favo de mel na câmara das suas provisões. Falou-lhe então o anjo de Deus: “Por que ficaste aí parada?”
2 Ela respondeu: “Meu Senhor! Mandarei agora mesmo uma das jovens à periferia da cidade, onde se encontra a propriedade rural dos meus pais. Ela estará bem depressa de volta com o favo, e então eu to apresentarei”. Mas o anjo do Senhor lhe disse: “Vai simples-mente ao teu compartimento de provisões e sobre a mesa encontrarás um favo de mel. Toma-o e traze-o aqui!”
3 Ela disse: “Senhor, no meu quarto de provisões não há favo de mel!” Ele respondeu: Vai tranqüila! Tu o encontrarás”.
4 Asenath então dirigiu-se à sua cela de provisões e efetiva-mente encontrou sobre a mesa um favo de mel. O favo era grande e branco como a neve, cheio de mel, e esse mel era como o orvalho do céu, e o seu perfume era como o perfume da vida. Diante disso, Asenath falou consigo, cheia de estupefação: “Será que este favo procederia da boca daquele homem?”
5 Tomou o favo e foi colocá-lo sobre a mesa. Então o Anjo lhe disse: “Dizias há pouco `no meu quarto não há favo de mel’ e agora trazes-me aqui um favo desse tamanho”? Ela então disse: “Senhor! Nunca eu trouxe para o meu quarto um favo de mel; contudo, só ao falares sobre ele, ele apareceu. Por acaso não saiu ele da tua boca, pois que o seu perfume se assemelha ao perfume do bálsamo?”
6 Então o homem sorriu, por causa da perspicácia da mulher. Chamou-a para junto de si e quando ela se aproximou ele estendeu a mão direita, tomou a sua cabeça e moveu-a suave-mente. Mas Asenath sentiu medo da mão do Anjo, pois dela procediam radiações como as do ferro em brasa. Assim, ela fitava a mão do anjo o tempo todo ansiosa e trêmula.
“‘7 Ele, porém, sorria, e falou assim: “Oh, feliz de ti, Asenath, pois segredos inefáveis de Deus te foram desvelados. Bem-aventurados são todos aqueles que, pela penitência, se aproximam do Senhor Deus, pois eles haverão de comer desse favo! Esse favo é na realidade o espírito da vida, e foi preparado pelas abelhas do paraíso das delícias, extraído do orvalho e das rosas da vida do paraíso de Deus, bem como de todas as suas outras florações. Dele se alimentam também os anjos e todos os escolhidos de Deus, e todos os que são seus filhos. Aquele que dele comer não morrerá para todo o sempre”.
8 Então o anjo de Deus estendeu a sua mão, tomou uma pequena porção do favo e comeu. Com a própria mão tomou outra parte e chegou-a à boca de Asenath, dizendo: “Come tu também!” E ela comeu.
9 Então o Anjo pronunciou as seguintes palavras: “Agora comeste o alimento da vida e bebeste a bebida da imortalidade, e foste também ungida com o óleo da incorruptibilidade. Tua carne, doravante, graças ao renascimento por meio do Altíssimo, fará brotar flores de vida, e teus ossos produzirão cedros comparáveis aos do paraíso de delicias de Deus, e bem assim serás robustecida por forças novas. Além disso, tua juventude não conhecerá velhice e tua beleza nunca murchará. Serás para todos uma cidade, grandemente fortificada”.
10 Então o Anjo aproximou sua mão do favo, e muitas abelhas apareceram nos seus alvéolos; os alvéolos eram inumeráveis, dez mil, cem mil. As abelhas eram brancas como a neve, e suas asas tinham a cor da púrpura e do escarlate, como o carmesim; elas possuíam ferrões afiados, mas a ninguém ofendiam.
11 Todas as abelhas pousaram sobre Asenath, desde a cabeça até os pés, e outras abelhas maiores, parecidas com suas rainhas, saíram do favo, pousaram na sua face e nos seus lábios, e prepararam na sua boca e nos seus lábios um favo parecido com o que se encontrava diante do Anjo. E todas aquelas abelhas alimentavam-se do favo preparado na boca de Asenath. Então o Anjo falou às abelhas: “Voltai agora ao vosso lugar!”
12 Então todas elas levantaram vôo e voltaram para o céu. Aquelas, porém, que quiseram ofender Asenath caíram todas mortas no chão. O Anjo estendeu o seu cetro sobre essas abelhas mortas e falou-lhes: “Levantai-vos e ide também vós ao vosso lugar!” Então todas aquelas abelhas mortas se avivaram e voaram para o pátio da casa de Asenath e pousaram sobre as árvores frutíferas.
13 Então o Anjo estendeu a mão e, com o dedo indicador, tocou o canto do favo do lado do nascente; e a linha deixada pelo seu dedo tomou a cor do sangue. Então pela segunda vez ele estendeu a mão, tocou o favo no seu lado voltado para o norte; e mais uma vez a linha do dedo tomou a cor do sangue. E Asenath postada à esquerda do Anjo, e viu tudo quanto ele realizou.
Capítulo 17
A benção de Miguel
1 Então o Anjo assim falou a Asenath: “Presenciaste tudo isso?” E ela disse: “Sim, meu Senhor, eu vi tudo perfeitamente”. Falou-lhe a seguir o anjo de Deus: “Assim acontecerá com todas as minhas palavras que hoje te dirigi”. Pela terceira vez o anjo do Senhor estendeu a mão direita e tocou um dos cantos do favo. Então da mesa rompeu uma chama rápida que consumiu todo o favo, sem danificar a mesa.
2 Do fogo do favo desprendeu-se um odor doce e bom, que encheu todo o quarto. Então Asenath falou ao anjo de Deus: “Tenho sete virgens, Senhor, criadas comigo desde a minha infância, nascidas como eu numa mesma noite; elas me servem, e a todas amo como minhas irmãs. Eu gostaria de chamá-las agora, para que as abençoasses como a mim abençoaste”. Então disse o Anjo: “Sim, podes chamá-las!”
3 Asenath chamou as sete virgens e apresentou-as ao Anjo. O Anjo dirigiu-se a elas com as seguintes palavras: “Abençoe-as, ó Senhor, Deus altíssimo; havereis de ser sete colunas de amparo em sete cidades, e todos aqueles eleitos que nelas habitarem encontrarão em vós a paz por toda a eternidade!” O anjo de Deus em seguida falou a Asenath: “Podes agora levar embora esta mesa!”
4 E quando Asenath voltou-se para retirar a mesa ele desapareceu rapidamente dos seus olhos. Asenath apenas observou que algo parecido com um carro puxado por quatro cavalos subia para o céu. O carro, porém, era como chama de fogo, e os cavalos pareciam-se raios, e o Anjo andava sobre aquele carro.
5 Então Asenath como que despertou, dizendo: “Como fui tola e parva, eu, pobrezinha, ao pronunciar-me como se aquele fosse apenas um homem superior que tivesse entrado no meu quarto. Na realidade, eu não percebi que aqui dera entrada um ser divino. Agora ele torna ao seu lugar, o céu. Falou então consigo mesma: “Tem piedade da tua escrava, Senhor! Poupa tua serva que, sem saber, pronunciou palavras temerárias na tua presença.
Capítulo 18
Noivado de José e Asenath
1 Enquanto Asenath se entretinha com tais pensamentos, havia chegado um jovem da comitiva de José, anunciando: “Hoje chegará até vós José, o herói de Deus”. Asenath então mandou chamar depressa o administrador da casa e falou-lhe do seguinte modo: “Enfeita rapidamente a minha casa e prepara um lauto banquete! Pois hoje José, o herói de Deus, virá à nossa casa”.
2 O administrador então olhou para a sua face — a face dela estava muito abatida pela carência, pelas lágrimas e pelo jejum de sete dias. Ele suspirou preocupado, tomou sua mão direita, beijou-a e disse: “Mas o que te aconteceu, minha senhora? O teu rosto está tão abatido!” Ela disse: “Muitas preocupações assaltaram o meu pensamento e o sono fugiu dos meus olhos”.
3 O administrador afastou-se então e foi preparar a casa e a mesa. Asenath, entretanto, lembrando-se das palavras e das recomendações do Anjo, dirigiu-se depressa à sua segunda câmara, que continha o repositório dos seus adornos, e abriu a grande arca. Dela retirou o seu vestido primeiro, que era de um brilho fulgurante, e vestiu-o.
4 Cingiu-se com um cinto imaculado, de realeza, confeccionado em ouro e pedras preciosas. Colocou braceletes de ouro nos braços e fitas douradas nos tornozelos, no pescoço, enfeites preciosos, na cabeça, um diadema, igualmente de ouro. No diadema que circundava sua fronte estava incrustada uma grande safira e ao redor da safira havia seis pedras de raro valor; e cobriu a cabeça com um véu magnífico.
5 Nesse momento, Asenath lembrou-se das palavras do administrador: dissera ele que a sua fisionomia estava muito abatida. Ela então suspirou, cheia de preocupação, e disse: “Ai de mim, infeliz, com esta face tão horrível! Se José me vir assim, serei por ele desprezada”. Falou então à sua governanta: “Traze-me água limpa da cisterna!”
6 E ela trouxe. Asenath derramou-a numa bacia e curvou-se sobre ela para lavar o rosto. Nesse momento, ela viu a sua própria imagem, luminosa como o sol, seus olhos eram como a estrela da manhã ao nascer e suas faces como as estrelas do céu. Seus lábios assemelhavam-se a rosas vermelhas; os cabelos eram como a parreira que no paraíso de Deus crescia farta de frutos; o pescoço parecia lavor talhado em cipreste.
7 Quando Asenath viu tudo isso, ficou muito surpresa com o esplendor da sua aparência e sentiu o coração encher-se de grande felicidade. Desistiu de lavar o rosto, considerando que a ablução da água poderia apagar uma beleza tão extraordinária e maravilhosa.
8 Nessa hora, apresentou-se de novo o administrador da casa, para comunicar-lhe: “As suas ordens já foram cumpridas”. Mas quando ele a encarou, foi tomado de grande perturbação, começou a tremer fortemente e caiu aos seus pés, pronunciando as seguintes palavras: “Mas o que é isso, minha Senhora? Que milagre de beleza te envolve, tão fantástico e maravilhoso! Por acaso o Senhor, o Deus dos céus, escolheu-te para ser a noiva de José, o filho de Deus?”
Capítulo 19
Segunda visita de José
1 Enquanto eles ainda nisso se entretinham, veio a correr um serviçal, para anunciar a Asenath: “Vê, José já está às portas do pátio!” Ouvindo isso, Asenath chamou suas sete virgens, e todas desceram rapidamente as escadas do solar para receberem José; e ela mesma postou-se no átrio da sua casa.
2 Tendo José entrado no pátio, foram cerrados os portões, e todas as pessoas estranhas tiveram de permanecer do lado de fora. Asenath desceu ao encontro de José. Este, ao vê-la, ficou pasmado por causa da sua beleza e assim lhe falou: “Quem és tu, ó jovem? Dize-me depressa!”
3 Ela respondeu: “Senhor, eu sou Asenath, tua escrava; afastei de mim todas as imagens dos ídolos, eles não existem mais para mim. Do céu apareceu-me hoje um homem que deu-me a comer o pão da vida; dele comi e também bebi do cálice sagrado. Ele falou-me: `Entreguei-te hoje José como teu noivo, e ele será teu esposo para sempre. E o teu nome não será mais Asenath, mas sim ‘cidade do refúgio’, e Deus, o Senhor, reinará sobre muitos povos, por teu intermédio. E por meio de ti eles encontrarão proteção junto ao Altíssimo’.
4 “E o homem falou-me também: ‘Eu irei ter com José, para sussurrar aos seus ouvidos as palavras que eu disse a teu respeito’. Por acaso senhor, aquele homem te procurou para falar-te a meu respeito?” José então dirigiu a Asenath as seguintes palavras:
“Tu és abençoada do Deus altíssimo, ó mulher. Louvado seja o teu nome para sempre, pois o Senhor Deus fortificou os teus muros, e os filhos do Deus vivo habitam a tua cidade de refúgio, e Deus, o Senhor, reinará sobre eles por todo o tempo futuro.
5 “Sim, eu confirmo que aquele homem veio hoje a mim, procedente do céu; e ele falou-me aquelas palavras a teu respeito. Vem pois para junto de mim, ó tu, virgem pura! Por que permaneces à distante?” José então abriu os braços e ela atirou-se neles, e ambos se abraçaram e beijaram-se longa-mente. Renasceram ambos no seu espírito. E José deu um beijo em Asenath, conferindo-lhe o espírito da Vida. Um segundo beijo, para dar-lhe o espírito da Sabedoria. E beijou-a pela terceira vez suavemente, transmitindo-lhe o espírito da Verdade.
Capítulo 20
O banquete
1 E assim, após longo abraço, de mãos dadas e firmemente seguras, Asenath falou José: “Vamos, senhor, entra em nossa casa! Mandei preparai para ti um grande banquete” Ela tomou-o pela mão direita conduziu-o para dentro de casa e indicou-lhe o trono do seu pai Pentephres para que nele tomasse assento. E para lavar-lhe os pés, mandou que trouxessem água.
2 José disse: “Que venha uma das jovens e me lave o pés!” Mas Asenath retrucou lhe: “Não, meu senhor! Pois ago ra tu és o meu amo e eu a tu serva. Por que propões que um outra jovem te lave os pés? Pois os teus pés já são os meus pé, as tuas mãos, minhas mãos, a tua alma, minha alma. Nenhuma outra, pois, lavar-te-á o pés!” Assim, Asenath lavou o pés de José, contra a vontade dele. Ele então pegou a mão direita dela e beijou-a docemente. Asenath, por sua vez, beijou sua fronte; em seguida, José fila sentar-se à sua direita.
3 Nessa hora, seu pai e sua mãe, e todos os parentes que voltavam do campo viram-na sentada ao lado de José, trajada com vestes núpcias. Todos ficaram maravilhados pela sua formosura, alegraram-se sobre-maneira e louvaram a Deus, que aos mortos torna a dar a vida. E assim, todos comeram e beberam com grande alegria. Falou em seguida Pentephres a José: “Procurarei amanhã todos os potentados e sátrapas da terra do Egito, com vistas aos preparativos do teu casamento. E então tomarás a minha filha Asenath por esposa”.
4 A isso retrucou José: “Eu estarei amanhã com o Faraó, meu pai, que me estabeleceu como príncipe de toda esta terra. Eu lhe falarei de Asenath e pedirei que me conceda Asenath por esposa”. Ao que Pentephres ponderou: “Pois então seja conforme a tua vontade!”
Capítulo 21
Casamento de José e Asenath
1 Naquele dia, José permaneceu na casa de Pentephres, mas não procurou Asenath, pensando consigo: “Não convém a um homem temente a Deus ficar com sua mulher antes do casamento”. No dia seguinte, José levantou-se cedo, dirigiu-se imediatamente ao Faraó e falou-lhe: “Dá-me Asenath, a filha de Pentephres, sacerdote de Heliópolis, como esposa”. Com essas palavras alegrou-se o Faraó, e disse a José: “Por acaso não te estava ela prometida desde toda a eternidade como tua esposa? Pois seja ela agora tua mulher, desde hoje para sempre”.
2 Então o Faraó deu ordens e mandou que fosse chamado Pentephres à sua presença. Este compareceu, levando consigo Asenath, para apresentá-la ao Faraó. Ao vê-la, o Faraó ficou grandemente maravilhado com a beleza da jovem. E assim falou: “Sê abençoada do Senhor e Deus de José, que é meu filho; e que esta tua formosura permaneça para sempre. O Senhor e Deus de José escolheu-te para ser a sua noiva. E eu sei que José se parece com um filho do Altíssimo, e tu serás desde agora e para sempre a sua esposa”.
3 A seguir, o Faraó chamou para junto de si José e Asenath e colocou sobre suas cabeças coroas-diademas de ouro, que se conservavam no palácio desde tempos antiqüíssimos. E colocou Asenath à direita de José. Então o Faraó impôs suas mãos sobre suas cabeças e falou-lhes: “Abençoe-vos o Senhor, Deus altíssimo! Que Ele vos fortaleça, exalte e glorifique por toda a eternidade!”
4 Depois disso, o Faraó fê-los voltarem-se face a face para que aproximassem os seus lábios, e eles se beijaram. Isso consumado, o Faraó mandou preparar as bodas com um grande banquete que duraria sete dias. Convidou todos os príncipes do Egito e todos os reis dos povos vizinhos; e mandou publicar um édito por toda a terra egípcia: “Aquele que trabalhar nos sete dias das bodas de José e Asenath será conde-nado à morte”.
5 Após as comemorações do casamento, e terminados todos os festejos, José procurou Asenath. E Asenath engravidou de José e deu à luz Manassés e seu irmão Ephraim, na casa de José.
Capítulo 22
Asenath junto a Jacó
1 Terminados os sete anos gordos, começaram sete anos de fome. Então Jacó teve notícias do seu filho José. E pouco tempo depois transferiu-se com todo o seu clã para o Egito, no segundo dos anos magros, aos vinte e um dias do segundo mês, e foi estabelecer-se na terra de Gessem.
2 E Asenath falou a José: “Eu gostaria de conhecer o teu pai, pois o teu pai Israel é como se fosse o meu pai e Deus”. José então disse-lhe: “Vem comigo e verás o meu pai”. E José dirigiu-se com Asenath até junto de Jacó, na região de Gessem. E os irmãos de José vieram ao seu encontro e diante deles prostraram-se com a face por terra. Foram então ambos ter com Jacó, e encontraram-no sentado no seu leito; era um ancião de idade avançada.
3 Quando Asenath o viu, surpreendeu-se com a sua beleza, pois a aparência de Jacó era realmente muito bela. Sua velhice era muito mais como a juventude de um homem maduro. Era completamente branca como a neve a sua cabeça, mas os cabelos eram densos e fortes; sua barba era branca e chegava até o peito; seus olhos eram alegres e radiosos; seus músculos, seus ombros e seus braços pareciam os de um Anjo; suas coxas, suas pernas e seus pés eram como os de um gigante.
4 Diante dele Asenath ficou admirada e prostrou-se no chão sobre a sua face. Jacó então disse a José: “É esta minha filha, tua mulher? Seja ela abençoada pelo Deus altíssimo!” Então Jacó chamou-a para junto de si, deu-lhe a bênção e beijou-a. Asenath em seguida abriu os braços, enlaçou o pescoço de Jacó e beijou-o suavemente. Depois disso, comeram e beberam. Terminado o repasto, José e Asenath voltaram para casa.
5 Simão e Levi, filhos de Lia, foram os únicos que os acompanharam; os filhos de Baila e de Zelpha, as escravas de Lia e de Rachel, não fizeram o mesmo, pois tinham-lhes inveja e ódio. Levi colocou-se à direita de Asenath e Simão à sua esquerda.
6 Asenath tomou a mão direita de Levi, porque o estimava mais que a todos os irmãos de José; tinha-o como um vidente e homem temente a Deus; ele era em verdade um homem prudente e profeta do Altíssimo. Também sabia discernir os sinais do céu, lia-os e ensinava-os em segredo a Asenath. Do mesmo modo, Levi também nutria por Asenath uma estima profunda, e via nas alturas do céu a sua morada de paz.
Capítulo 23
Ameaça contra Asenath
1 Quando José e Asenath voltaram da sua viagem de visita a Jacó, foram vistos pelo filho primogênito do Faraó, por sobre os muros do palácio. Quando ele viu Asenath, ficou completamente transtornado pela sua formosura.
2 Mandou então emissários com a ordem de convocar Simão e Levi à sua presença. Quando eles chegaram e se postaram diante dele, assim falou-lhes o primogênito do Faraó: “Tenho pleno conhecimento de que vós sois ainda homens valentes, mais fortes do que todos os homens deste pais. Por vosso braço direito foi outrora arrasada a cidade dos siquemitas; por meio das vossas duas espadas foram exterminados 30 mil guerreiros.
3 “Pois hoje desejo contar-vos entre os meus aliados; dar-vos-ei ouro e muita prata, empregados, servas e casas, bem como extensas propriedades rurais. Basta que aceiteis ficar do meu lado e sejais amistosos comigo. Eu fui tratado com desprezo pelo vosso irmão José, por ter tomado para si como esposa Asenath, aquela que de há muito me estava prometida.
Ficai, portanto, do meu lado! Eu desejo entrar em luta com José, aniquilá-lo com esta minha espada e tomar Asenath por minha esposa. Vós então devereis ser como meus irmãos e fiéis amigos. Caso não concordardes comigo, eu vos matarei com esta minha espada”.
4 Pronunciando essas palavras, arrancou sua espada e brandiu-a diante deles. Simão, homem intrépido e audaz, teve ímpetos de agarrar sua espada e golpear o filho do Faraó, diante de sua proposta inadmissível. Mas Levi percebeu as intenções de Simão, pois era um profeta, e com um toque de pé advertiu-o, dando-lhe a entender que devia abrandar sua ira.
5 E falando com calma a Simão, disse-lhe: “Por que te irritas contra esse homem? Afinal, somos homens tementes a Deus, e não convém retribuir o mal com o mal”. Dito isso, Levi falou ao filho do Faraó, com altivez, mas ao mesmo tempo com mansidão: “Por que, senhor, nos dizes tais coisas? Nós somos homens tementes a Deus, nosso pai é amigo do Deus altíssimo, e nosso irmão se parece com um filho de Deus.
6 “Como poderíamos come-ter tamanha perversidade, pecar contra nosso Deus, contra nosso pai Israel e contra o nosso irmão José? Ouve, pois, minhas palavras: não convém a um homem temente a Deus causar prejuízo a quem quer que seja. Se alguém deseja fazer o mal a um homem temente a Deus, nenhum homem que teme a Deus se colocará do seu lado, e nas suas mãos não haverá espada. Guarda-te pois de falar tais coisas sobre o nosso irmão José. Se insistires no teu plano perverso, nossas espadas serão desembainhadas contra ti.
7 Simão e Levi sacaram então suas espadas, pronunciando as seguintes palavras: “Vês estas espadas? Com estas duas armas o Senhor vingou severamente a prepotência dos siquemitas. Pois Siquém, filho de Emmor, desonrou nossa irmã Dina, ofendendo assim os filhos de Israel”.
8 Assim que o filho do Faraó viu as espadas desembainhadas, assustou-se muito e pôs-se a tremer, pois elas reluziam como chamas de fogo. Seus olhos escureceram e ele tombou com o rosto no chão, aos pés de Simão e Levi.
9 Diante disso, Levi estendeu sua mão e tocou-o, dizendo: “Levanta-te e não tenhas nenhum receio! Guarda-te apenas de dizer outras palavras más a respeito do nosso irmão José!” Com isso, Simão e Levi afastaram-se dele.
Capítulo 24
Conspiração contra o jovem casal
1 O filho do Faraó encheu-se de temor e tristeza, pois tinha medo dos irmãos de José; no entanto, voltaram-lhe de novo os pensamentos torpes por causa da beleza de Asenath, e, assim, consumia-se cada vez mais. Foi quando os seus servos sussurraram-lhe nos ouvidos: “Os filhos de Balla e os filhos de Zelpha, escravas de Lia e de Rachel, mulheres de Jacó, odeiam e abominam José e Asenath; eles estarão prontos a apoiar teus planos”.
2 Ouvindo isso, o filho do Faraó enviou a toda pressa emissários até eles, chamando-os à sua presença. Na primeira hora da noite, eles apareceram e a ele se apresentaram. Ele então disse-lhes: “Ouvi dizer de muitas bocas que vós sois homens corajosos”. A isso responderam-lhe Dan e Gad, os irmãos mais velhos: “Fale o nosso senhor aos seus servos o que deseja, para que os seus servos escutem, e faremos segundo a tua vontade!”
3 Com essa resposta alegrou-se o filho do Faraó, e disse aos seus imediatos: “Retirai-vos por alguns momentos. Desejo ter com estes homens um breve acerto, em particular”. Todos se afastaram. Então o filho do Faraó, usando de mentiras, falou-lhes: “Considerai bem, está em vosso poder a bênção ou a maldição! Escolhei a bênção, ao invés da morte! Sois homens corajosos e não querereis morrer como mulheres. Sede, pois, audaciosos! Vingai-vos dos vossos inimigos!
4 “Escutei pessoalmente, certa vez, quando José, o vosso irmão, disse ao meu pai Faraó: Dan, Gad, Nephtali e Aser não são meus irmãos; eles são muito mais filhos das escravas do meu pai. Espero apenas que aconteça o falecimento do meu pai, para então exterminá-los da face da terra, tanto eles como a sua geração. Eles não terão nunca parte na nossa herança, porque são filhos de escravas! Também, outrora, eles me venderam aos israelitas, e por isso vou responder à prepotência com que me trataram. Para tanto, aguardo só que o meu pai chegue ao seu fim. “Meu pai, então, deu-lhe toda a razão e o louvou, dizendo-lhe: ‘Falaste muito bem, meu filho! Poderás contar com meus homens fortes para castigá-los pelo que contra ti perpetraram. E nisso eu te darei todo o apoio’.”
5 Quando Dan e Gad ouviram isso da boca do filho do Faraó, encheram-se de preocupação e de medo, e disseram-lhe: “Rogamos-te, senhor: dá-nos a tua ajuda! Doravante seremos teus servos e contigo desejamos morrer”. Então disse o filho do Faraó: “Eu serei o vosso protetor, se escutardes as minhas palavras”.
6 Eles então responderam-lhe: “Ordena-nos o que tu desejas! Faremos segundo a tua vontade”. Então falou-lhes o filho do Faraó: “Ainda nesta noite eu matarei o meu pai Faraó, porque ele é como um pai para José, e porque prometeu-lhe ajudá-lo contra vós. A vós caberá matar José; então eu tomarei Asenath para mim como esposa. Vós sereis meus irmãos e juntamente comigo sereis herdeiros de tudo o que possuo. Basta que cumprais a proposta!”
7 Diante disso, responderam-lhe Dan e Gad: “A partir de hoje somos teus servos e faremos tudo o que ordenares. E, a propósito, ouvimos José falar a Asenath: `Vai amanhã à nossa propriedade, pois é tempo de colheita!’ Mandou também que a acompanhassem seiscentos guerreiros e cinqüenta soldados ligeiros. Agora pedimos a tua atenção! Gostaríamos de uma palavra em particular com o nosso amo!” Então, em segredo, combinaram o plano com ele. A seguir, o filho do Faraó destacou quinhentos homens para cada um dos quatro irmãos e constituiu a estes como seus chefes e comandantes.
8 Dan e Gad então disseram a ele: “Somos hoje teus criados e faremos tudo de acordo com as tuas ordens; partiremos ainda estas noite e nos coloca-remos de emboscada junto ao desfiladeiro, escondendo-nos no espesso mato de juncos. Por tua parte, leva contigo flecheiros montados, mais ou menos em números de cinqüenta. E segue a uma boa distância em nossa frente. Quando Asenath se aproximar, ela cairá em nossas mãos. Daremos fim a todos os homens que a acompanham. Ela, porém, poderá fugir para a frente, no seu carro, e assim cairá nas tuas mãos. Então poderás fazer com ela o que o teu coração deseja. Após isso, mataremos também José, que estará a lamentar-se por Asenath. Da mesma forma, mataremos os seus filhos, diante dos seus próprios olhos.” Quando o filho do Faraó ouviu isso tudo,encheu-se de grande satisfação e despachou-os com dois mil guerreiros.
9 Eles chegaram junto ao desfiladeiro e atocaiaram-se no juncai. Dividiram-se em quatro partes, em frente ao desfiladeiro, postando quinhentos homens de cada lado da estrada. Os demais também ficaram nas proximidades e esconderam-se no juncal; também eles, quinhentos de um lado e quinhentos do outro lado da estrada; entre eles passava o caminho, largo e cômodo.
Capítulo 25
Atentado contra o Faraó
1 No correr daquela noite, o filho do Faraó levantou-se e dirigiu-se aos aposentos do seu pai. Tinha a intenção de matá-lo com sua espada. Contudo, os guardas cio seu pai impediram-lhe o acesso e perguntaram: “Que ordenas, senhor?” Falou-lhes o filho do Faraó: “Desejo apenas ver meu pai, pois estou de partida para acompanhar o final da colheita da minha recente plantação de vinhas”.
2 Os guardas, porém, responderam-lhe: “Teu pai não passa bem; esteve insone a noite inteira e só agora conseguiu repousar. Recomendou-nos que a ninguém deixássemos entrar, nem mesmo seu primogênito”.
3 Ao ouvir isso, ele se afastou profundamente irado, convocou às pressas flecheiros montados, em número de cinqüenta, e partiu com eles, da forma como Dan e Gad haviam disposto.
4 Os irmãos mais jovens, Nephtali e Aser, falaram aos mais velhos Dan e Gad: “Mas por que afinal mais uma vez procedem com tanta maldade contra seu pai Israel e contra seu irmão José? A este Deus protege como à pupila dos seus olhos. Já não o venderam uma vez? E não é ele hoje o príncipe de toda a terra do Egito, um salvador e distribuidor de alimentos? Se mais uma vez pretendeis tratá-lo com ignomínia, ele chamará pelo Altíssimo e este mandará o fogo do céu para exterminar-vos, e os seus anjos virão para lutar contra vós”.
5 Os irmãos mais velhos encheram-se de raiva contra eles e disseram: “Pensais então que aceitaremos morrer como mulheres? Jamais!”
Capítulo 26
A Salvação de Asenath
1 Asenath levantou-se bem cedo naquela manhã e falou a José: “Desejo ir até nossa propriedade, como tu disseste; no entanto, sinto muito medo pelo fato de tu não estares comigo”. Mas José tranqüilizou-a: “Tem coragem e nada receies! Vai com alegria e de ninguém tenhas medo! O Senhor está contigo e Ele te protegerá de todo o mal, como a pupila dos seus olhos. Eu irei agora para a minha tarefa de distribuição de trigo, e o darei dos depósitos do Estado a todas as pessoas, para que no Egito ninguém morra de fome.” Asenath então pôs-se a caminho, e José dirigiu-se para o seu trabalho de administração.
2 Entretanto, Asenath e os seiscentos homens de sua escolta já se aproximavam do desfiladeiro quando, de repente, os soldados do filho do Faraó saltaram do seu esconderijo e caíram em cima dos homens de Asenath, golpearam-nos com suas espadas, abatendo um a um, matando a todos os seus soldados ligeiros; e Asenath empreendeu a fuga, no seu carro.
3 Nesse momento, porém, Levi, o filho de Lia, teve uma premunição, pois era um profeta, e falou a seus irmãos sobre o perigo a que Asenath estava exposta. Rapidamente cada um apanhou sua espada, seu escudo e sua lança e partiram em marcha velocíssima atrás de Asenath.
4 Quando Asenath fugia estrada afora, veio-lhe ao encontro o filho do Faraó com os seus cinqüenta cavaleiros. Ao vê-lo, Asenath foi tomada de grande pavor e, estremecendo, invocou o nome do seu Deus e Senhor.
Capítulo 27
A batalha
1 Benjamim ia sentado no carro, à direita de Asenath. Era um jovem vigoroso de dezenove anos, de uma beleza extraordinária e de uma força como a de um leão novo; e era muito temente a Deus. Ele saltou rapidamente do carro, apanhou do riacho um seixo redondo e com a mão arremessou-o contra o filho do Faraó, acertando-o na têmpora esquerda e infligindo-lhe um grave ferimento.
2 Semimorto, o filho do Faraó caiu do cavalo e foi ao chão. Imediatamente, Benjamim subiu a uma rocha e gritou para o cocheiro de Asenath: “Traze-me pedras do riacho!” O cocheiro entregou-lhe cinqüenta seixos. Benjamim, com tiros certeiros, matou os cinqüenta homens da comitiva do filho do Faraó. Todos tiveram as têmporas atravessadas pelas pedras.
3 Nesse meio tempo, os filhos de Lia, Ruben, Simão, Levi, Judá, Isacar e Zabulão, lutavam contra os homens que haviam emboscado Asenath, caindo em cima deles com vigor e abatendo a todos. Assim, apenas seis homens mataram dois mil setecentos e seis. Mas os filhos de Baila e de Zelpha diante deles fugiram, dizendo as seguintes palavras: “Haveremos de perecer pela mão dos nossos irmãos? O filho do Faraó morreu pela mão do jovem Benjamim e todos os que com ele estavam foram também mortos por Benjamim. Vamos, pois! Vamos dar cabo de Asenath e Benjamim, e em seguida desapareceremos no juncai!”
4 Aproximaram-se então de Asenath com suas espadas desembainhadas e manchadas de sangue. E quando Asenath os viu foi tomada de grande medo e invocou o Senhor: “Senhor Deus! Tu me deste a vida e me livraste dos falsos deuses, da ruína mortal e me prometeste que minha alma viveria para sempre. Livra-me agora desses homens maus!”
5 E o Senhor Deus ouviu a voz de Asenath e no mesmo instante as espadas dos seus inimigos caíram de suas mãos ao chão e converteram-se em pó.
Capítulo 28
Magnanimidade de Asenath
1 Quando os filhos de Baila e Zelpha viram esse estranho prodígio, exclamaram, possuídos de pavor: “Agora o Senhor luta do lado de Asenath contra nós”. Então caíram com suas faces por terra e prostraram-se aos pés de Asenath, pronunciando as seguintes palavras: “Tem piedade de nós, teus escravos, pois tu és nossa senhora e nossa rainha! Agimos perversamente contra ti e contra o nosso irmão José. E o Senhor já nos dá a paga pelas nossas obras. Por isso, nós, teus escravos, te suplicamos: tem compaixão de nós, pobres e miseráveis! Protege-nos da mão dos nossos irmãos! Não caiam eles sobre nós como vingadores pela nossa intenção de aniquilar-te! Não queiram voltar as suas espadas contra nós! Nós bem sabemos que os nossos irmãos são homens tementes a Deus, e que a nenhum homem retribuem o mal com o mal. Protege deles os teus escravos, por piedade, ó tu que és senhora nossa!”
2 Asenath então disse-lhes: “Tende coragem e nenhum receio dos vossos irmãos! Eles são realmente homens piedosos e cheios de temor de Deus. Mas desaparecei agora no fundo do juncal até que eu os converta a vosso favor e acalme a sua ira pelo que ousastes fazer contra eles. Entretanto, seja como a Deus aprouver; será Ele o juiz entre mim e vós”.
4 Nisso, Dan e Gad fugiram para o meio do juncai. Mas os seus irmãos, filhos de Lia, já vinham correndo velozes como Cervos, para precipitarem-se contra eles. Asenath, nesse momento, desceu do seu carro coberto e, chorando muito, estendeu para eles a sua mão direita; eles então jogaram-se respeitosamente ao chão, aos pés dela, e prorromperam num choro alto. Perguntaram pelos ir-mãos, filhos das escravas com a intenção de aniquilá-los.
5 Então Asenath falou-lhes: “Eu vos peço: poupai vossos irmãos! Não queirais pagar-lhes o mal com o mal! O próprio Senhor salvou-me deles, Pois Ele destruiu as suas espadas nas suas próprias mãos; elas dissolveram-se e viraram cinzas, como cera diante do fogo; e é suficiente que o próprio Senhor esteja contra eles, a nosso favor. Portanto, poupai vossos irmãos! Eles são afinal vossos irmãos, sangue do vosso pai Israel”
6 Inconformado, retrucou Simão: “Por que nossa ama pronuncia palavras bondosas em favor dos seus inimigos? Não! Preferimos esquartejá-los agora, membro a membro, com as nossas espadas. Eles planejaram algo de gravíssimo contra o nosso irmão José, contra o nosso pai Israel e, hoje, contra ti, nossa rainha.”
7 Então Asenath estendeu a mão direita, tocou a barba de Simão, beijou sua face e disse: “De forma alguma, irmão, deverás retribuir ao teu próximo o mal corri o mal. O Senhor haverá de castigar tamanha presunção. Eles são teus irmãos, geração do teu pai Israel. Além disso, já fugiram para bem longe. Perdoa-os, portanto!”
8 Levi adiantou-se e beijou a mão direita de Asenath. Percebeu que ela desejava salvar os homens da ira deles, seus irmãos, evitar que os matassem; e sabia que os traidores estavam ali por perto, escondidos no espesso caniçal. Mas Levi não revelou o que sabia aos seus irmãos, com receio de que estes, em sua grande ira, os matassem.
Capítulo 29
Fim
1 O filho do Faraó recobrara os sentidos e estava sentado no chão a cuspir o sangue que das têmporas lhe escorria aos lábios. Então Benjamim correu na sua direção e tomou sua espada, decidido a atravessar-lhe o peito com ela, já que não portava nenhuma arma consigo.
2 Levi correu-lhe ao encalço, pegou-o pela mão e disse: “De forma alguma, irmão, tu farás isso; pois somos homens tementes a Deus e não convém a um homem temente a Deus pagar o mal com o mal, nem pisotear um homem derrotado, nem massacrar um inimigo até a morte. Devolve-lhe então a espada! Vem e ajuda! me! Vamos curar o seu ferimento e se ele sobreviver será nosso amigo, e o Faraó, seu pai, será nosso pai.”
3 Então Levi ergueu do chão o filho do Faraó, limpou-lhe o sangue do rosto, cuidou de suas feridas, colocou-o sobre o seu cavalo, conduziu-o de volta ao seu pai Faraó e relatou a este todo o ocorrido. Surpreso, o Faraó ergueu-se do trono e prostrou-se diante de Levi, prestando-lhe homenagem.
4 Passados três dias, o filho do Faraó morreu, em conseqüência da pedrada de Benjamim. E o Faraó lamentou tão profundamente a morte do seu primogênito que, de tristeza, contraiu uma enfermidade e dela veio a falecer, aos 109 anos de idade.
5 Sua coroa passou ao maravilhoso José, que assim se tornou o senhor plenipotenciário do Egito pelo espaço de quarenta e oito anos. Apos esse período, José passou a coroa ao filho mais novo do Faraó, que à época da morte do pai ainda era um lactente. E José, daí em diante, foi como um pai para o jovem filho do Faraó do Egito. E louvou a Deus e glorificou-o até o fim dos seus dias. Fim