é o nome dado a uma coleção de manuscritos (e
alguns fragmentos de manuscritos) muito antigos, escritos em hebraico, aramaico e
grego. Esses pergaminhos foram encontrados em várias cavernas das estéreis colinas do
deserto da Judéia, a oeste do mar Morto e representam a descoberta arqueológica mais
sensacional e importante de nossa época. Mais da terça parte constitui-se de livros do
AT, pelo menos mil anos mais antigos que os primeiros manuscritos do at até agora
conhecidos. Incontáveis livros e milhares de artigos têm sido escritos por especialistas
sobre esses manuscritos guardados em forma de rolo, embora muitos não tenham sido ainda estudados ou traduzidos. A descoberta dos pergaminhos deu-se em 1947, quando
um jovem pastor árabe sentiu falta de uma de suas cabras e foi procurá-la em um dos
escarpados vales dos arredores. Lançando uma pedra dentro de uma das cavernas da
ladeira, ouviu o que lhe pareceu o som de vasilhas de barro se quebrando. O jovem
pastor chamou seu ajudante, e os dois entraram na caverna, onde encontraram alguns
jarros de cerâmica de 63 a 74 cm de altura e aproximadamente 25 cm de largura. Dentro
das vasilhas, encontraram objetos que pareciam múmias em miniatura — que eram na
realidade rolos de couro envolvidos em pedaços quadrados de tela de linho e cobertos
com uma substância resinosa semelhante ao breu, possivelmente procedente do mar
Morto. Com a vaga idéia de que haviam descoberto antikas, algo que poderia renderlhes dinheiro, dividiram entre si o achado e partiram para Belém, onde localizaram um
negociante de antiguidades e lhe ofereceram os rolos por trinta libras esterlinas. O
negociante não quis comprá-los. Então, dirigiram-se a Jerusalém, onde, após regatearem
por várias semanas, venderam quatro rolos a Athanásio Samuel, arcebispo do Mosteiro
Sírio Ortodoxo de São Marcos, e três a E. L. Sukenik, professor de arqueologia da
Universidade Hebraica de Jerusalém. O arcebispo Samuel mostrou os pergaminhos a
várias autoridades, mas ninguém pôde decifrar o conteúdo ou o valor deles. Finalmente,
os pergaminhos foram levados ao dr. John C. Trever, diretor interino das Escolas
Americanas de Investigação Oriental (Jerusalém), que fotografou e estudou alguns
deles, enviando cópias ao dr. W. F. Albright, da Universidade Johns Hopkins. Essa
reconhecida autoridade estimou-lhes a data em “aproximadamente 100 a.C.” e declarou
serem “uma descoberta assombrosa”. Os pastores árabes revelaram a localização da
caverna onde haviam encontrado os pergaminhos, mas a guerra entre árabes e judeus
impossibilitou a investigação científica até fevereiro de 1949, quando o dr. Laukester
Harding, do Departamento Jordaniano de Antiguidades, e Pere R. de Vaux, da Escola
Dominicana da Bíblia, cuidadosamente escavaram o subsolo. No transcurso de três
semanas, encontraram cerca de oitocentos fragmentos pertencentes a 75 diferentes rolos,
aproximadamente. Encontraram também fragmentos de rolos de papiro, porções do
linho que envolvia os rolos, lâmpadas romanas e partes de jarros e cacos de cinqüenta
diferentes cântaros. Tudo indicava que cerca de duzentos rolos haviam sido escondidos
na caverna. Diz-se que Orígenes, pai alexandrino que viveu no século III, utilizou
alguns manuscritos que encontrou dentro “de um cântaro perto de Jericó”. Também
Timóteo, patriarca de Bagdá, escreveu uma carta a Sérgio, arcebispo de Elam, por volta
do ano 800, na qual lhe dizia que certa pessoa de Jerusalém lhe contara acerca do cão de
um caçador que havia entrado em uma caverna perto de Jericó. Como o animal não
regressasse, depois de algum tempo o dono entrou na caverna à sua procura e encontrou
uma pequena “casa na rocha”, na qual havia muitos manuscritos. O caçador informou o
achado a alguns eruditos judeus em Jerusalém, e estes vieram, entraram na caverna e
levaram muitos rolos que, segundo afirmaram, eram livros do AT e outras obras
hebraicas. Enquanto escavavam o solo da caverna, Harding e de Vaux observaram uma
ruína sobre um terraço esbranquiçado nas proximidades, que os árabes chamavam
Khirbet Qumran. Presumindo que havia uma relação entre os rolos e a ruína,
regressaram em 1951 e começaram a escavar. Nas cinco campanhas seguintes,
desenterraram as ruínas de um complexo grupo central de edificações, cujo piso principal ocupava uma superfície de mais de 1400 m2. Era um centro comunitário, ou
mosteiro, com uma sólida torre de defesa, um extenso departamento culinário, um
grande salão de reunião e refeições, uma despensa, uma lavanderia, adegas e amplos
pátios. Havia também um sistema hidráulico impressionante, que trazia água de uma
cascata situada nas colinas ocidentais através de canais lavrados na rocha até grandes e
numerosas cisternas. Perto dali, encontraram estábulos para cavalos, uma oficina de
alvenaria para a comunidade, amplos tanques para banho e para batismo e três
cemitérios, um dos quais continha mais de mil tumbas. O que mais impressionou os
escavadores foi o lugar em que se copiavam os manuscritos — ou sala para escrever —,
de 13 x 4 m. Ali estavam as ruínas de uma mesa estreita de alvenaria de 5 m de
comprimento e duas mesas menores, bem como um banco comprido, aderido à parede.
Nos escombros espalhados pelo piso, havia três tinteiros, dois de terracota e um de
bronze. Um dos tinteiros continha um resíduo de tinta seca, feita de carvão e goma.
Havia também uma bacia dupla para lavar as mãos, possivelmente usada para lavagens
cerimoniais, antes e depois do trabalho com os manuscritos sagrados. Os muitos
achados em Qumran (entre eles, mais de setecentas moedas que representavam uma
seqüência ininterrupta de mais de duzentos anos) tornaram possível a reconstrução do
estilo de vida da semimonástica comunidade judaica que viveu ali desde cerca de 110
a.C. até 68 d.C. O lugar onde copiavam os manuscritos, a fábrica de olaria, um jarro
idêntico ao encontrado em uma das cavernas, os muitos fragmentos de rolos, o estilo da
escritura e o modo de vida não somente vinculavam essa gente aos rolos encontrados na
caverna próxima, como também os identificavam como “as pessoas dos rolos” — os
essênios. Os essênios são o povo que Josefo, Fílon e Plínio, o Velho, descreveram como
os que se haviam separado do judaísmo ortodoxo de Jerusalém e “das maldades e
injustiças que aumentavam nas cidades” para viver em colônias agrícolas nessa região
do país e na direção sul até En-Gedi. Segundo seus escritos, eles consideravam-se
chamados “para ir ao deserto e preparar ali mesmo o caminho do Senhor, de acordo com
o que estava escrito: “No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto
um caminho reto para o nosso Deus”. Eram pessoas tranqüilas, de vida extremamente
simples e casta. Oravam a cada manhã ao nascer do sol e trabalhavam até a hora quinta.
Em seguida, banhavam-se com água fria, vestiam roupas brancas e tomavam uma
refeição em comunidade, precedida e seguida por ações de graças. Depois, colocavam a
roupa de trabalho e trabalhavam ou exerciam seus talentos (entre eles a escritura, a
elaboração dos manuscritos) até a noite. Regressavam à ceia do mesmo modo. Nas
horas da noite, dedicavam-se à oração e ao estudo de suas leis, principalmente os livros
do AT e os apócrifos.A vida na comunidade de Qumran foi interrompida por um
terremoto que, segundo Flávio Josefo, sacudiu a Judéia na primavera de 31 a.C. Depois
da catástrofe, o lugar ficou despovoado mais de trinta anos. Por volta de 4 a.C., a
comunidade regressou. Os edifícios foram reparados, e a torre e as debilitadas paredes,
reforçadas. Edificaram-se novas habitações, e novos fornos industriais foram
construídos. Dali em diante, a vida retirada de oração e estudo em Qumran foi retomada
em escala ainda maior. Sua fé, seu propósito e sua missão na vida devem ter recebido
grande estímulo, ainda que em pequena medida de confirmação, com a pregação de João Batista e o advento de Jesus Cristo. Eles
ensinavam o arrependimento como requisito para receber o batismo, da mesma forma
que João. Seu Manual de disciplina dizia: “Eles não se apartarão de nenhum conselho
da Lei […] até que venha um profeta e o Messias de Arão e Israel”. Eram constantes no
ensino de que a “época da consumação” se aproximava, que Deus estava pronto para
atuar e que o Messias estava prestes a aparecer, “trazendo uma espada”. Todavia, não
sabemos quantos essênios teriam seguido João e subseqüentemente a Jesus. Nem João
nem Jesus, pelo que se sabe, portavam espada. Os essênios acreditavam que a salvação
era somente para os membros de sua seita, que eram os eleitos de Deus. Eram
governados “classe sobre classe”, até culminar em uma hierarquia genuína. Portanto, a
comunidade não chegou a ser cristã. A comunidade seguiu sua rotina disciplinada e
chegou a um final abrupto em 68 d.C., quando Qumran foi destruída e incendiada pela
10.a Legião romana, que viera à Palestina com a missão de sitiar Jerusalém e conter a
primeira revolta judaica. Na véspera do assalto, os membros da comunidade fugiram,
deixando a maioria de seus preciosos manuscritos escondidos nas cavernas existentes
nas imediações. O pelotão de soldados romanos que acampou sobre os escombros
aplainados dividiu os quartos arruinados maiores em quartéis e construiu um tosco
aqueduto em substituição ao complicado sistema de água dos essênios. Depois de certo
tempo, os soldados romanos partiram, e o lugar permaneceu desocupado até a segunda
revolta judaica (132-135 d.C.), quando as ruínas foram usadas temporariamente como
fortaleza ou como esconderijo. Mais tarde, o deserto tomou posse do lugar — até o
pastor árabe encontrar os primeiros rolos e os arqueólogos resgatarem os tesouros
literários. Foram inspecionadas 37 cavernas de Qumran em 1952, as quais continham
vasilhas de barro. Onze delas continham também material manuscrito. Na caverna II,
foram encontrados fragmentos bíblicos e apócrifos, entre eles uma porção do Livro dos
jubileus e um documento em aramaico que descrevia a nova Jerusalém. Na caverna III,
foram encontradas 274 porções de manuscritos e dois rolos de cobre, originariamente
confeccionados de três tiras de cobre unidas com rebite, medindo quase 3 m de
comprimento. Na caverna IV, foram encontrados mais de quatrocentos manuscritos e
quase 100 mil fragmentos, que variavam em tamanho desde o de uma unha do polegar
até o de uma folha de papel ofício. Em conjunto, foram encontrados nessas onze covas
os restos de mais de quinhentos diferentes manuscritos, grandes porções e milhares de
fragmentos. Quase um terço dos manuscritos constituem-se de livros do AT. Os demais
são comentários de alguns livros do AT, livros apócrifos, livros sapienciais, hinos e
salmos, liturgias, obras teológicas e obras relacionadas com as pessoas que viveram em
Qumran e copiaram os rolos. Há manuscritos e fragmentos de todos os livros do AT,
exceto Ester. Deduz-se pela quantidade de cópias encontradas de cada livro que os mais
populares eram Isaías, Salmos, Deuteronômio e Gênesis. Esses livros estavam escritos
em rolos de couro cuidadosamente marcados com raias para guiar os escribas. Alguns
foram escritos em papiro, e um deles em cobre. Os manuscritos mais importantes e mais
bem preservados foram os encontrados pelos jovens pastores na caverna I.
Os quatro adquiridos pelo Mosteiro de São Marcos foram:
1. O Rolo de Isaías, conhecido como o Rolo de Isaías de São Marcos, escrito em
dezessete folhas de pergaminho unidas mediante costura em seus extremos, formando
um rolo de 7,5 m de comprimento por 26 cm de altura. É o maior e mais bem
conservado de todos os rolos. Foi escrito com caracteres quadrados primitivos, o que,
segundo o dr. Albright, o situa no século II a.C. Esse detalhe torna-o o manuscrito
hebraico completo mais antigo que qualquer outro livro bíblico e está de acordo, em
quase todos os sentidos, com os textos hebraicos tradicionais.
2. O Manual de disciplina, escrito em cinco folhas de couro de cor creme cosidas umas
às outras, formando um rolo de 1,82 m de comprimento por 24 cm de altura. Contém
não somente regras detalhadas acerca de todos os procedimentos e cerimoniais da seita,
como também descreve de maneira extensa “os dois caminhos” — o bem e o mal, a luz
e a escuridão — que Deus coloca diante do homem.
3. O Comentário de Habacuque, escrito em duas folhas de couro castanho cosidas uma a
outra, formando um rolo de 1,5 m de comprimento por menos de 20 cm de altura. É o
texto hebraico do livro de Habacuque, cujos dois primeiros capítulos apresentam um
comentário. O rolo fala do “espírito da verdade e do espírito do erro”, e no comentário
sobre Habacuque 1:13 diz: “Na mão de seu escolhido, Deus entregará o julgamento de
todas as nações”.
4. O Gênesis apócrifo, rolo de couro de quase 3 m de comprimento por 30 cm de altura.
Trata-se de uma versão em aramaico de vários capítulos de Gênesis, com histórias
adicionais de Lameque, Enoque, Noé e Abraão. Os três rolos da caverna I, adquiridos
pelo professor E. L. Sukenik para a Universidade Hebraica, são:
1. Um segundo rolo do livro de Isaías, do qual os 37 primeiros capítulos estão
gravemente desintegrados, mas os capítulos de 38 a 66 estão em condições aceitáveis.
2. A Guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas,que contém dezenove colunas
de escritura e mede 3 m de comprimento por 15 cm de altura. Trata-se de um manual
militar com instruções para a condução de uma guerra santa entre os “filhos da luz” e os
inimigos que tentarão oprimir o povo de Deus nos últimos tempos.
3. Os Salmos de ação de graças, hinos compostos e reunidos pela comunidade dos
essênios. Era seu hinário oficial. O governo israelense, por meio do general Yigael
Yadin, comprou os quatro rolos do Mosteiro de São Marcos diretamente do arcebispo
Samuel por 250 mil dólares e construiu uma sala especial na Universidade Hebraica de
Jerusalém, a qual chamaram Altar do Livro. A sala agora contém os sete rolos originais
da caverna I, que o governo israelense considera “os maiores tesouros históricos do
mundo”. Os outros rolos, com algumas das jarras originais da mesma caverna, as
vasilhas de barro da escavação de Qumran e os milhares de fragmentos de rolos, estão
conservados no Museu Arqueológico da Palestina, em Jerusalém. Uma comissão
internacional de eruditos limpou e restaurou as vasilhas de barro, uniu os pedaços e
traduziu os fragmentos, reunindo também os outros objetos encontrados durante as
escavações nas cavernas de Qumran. Achados na área do uádi Murabbáat
Em 1952, árabes da tribo Táamireh informaram acerca de fecundas cavernas na área do
uádi Murabbáat, 18 km ao sul de Qumran e 3 km a oeste do mar Morto. As escavações
que se seguiram (de 21 de janeiro a 3 de março de 1952) revelaram que as quatro
cavernas, lavradas até a profundidade de 46 m no lado norte do precipício, haviam sido
utilizadas por refugiados e bandos de guerrilheiros muito antes de Davi e seus homens
acamparem ali ou em cavernas semelhantes, quando fugiam de Saul, há 3 mil anos. Em
duas das covas, foi encontrada boa quantidade de material escrito, destacando-se uma
tabuinha de pergaminho que continha uma lista de nomes e números escritos em
caracteres manuscritos hebraicos do século VII ou VIII a.C., fragmentos de quatro rolos
de couro: um de Gênesis, dois de Êxodo e um de Deuteronômio, um “magnífico rolo”
dos profetas menores e algumas cartas e contratos em hebraico que correspondiam ao
período em que as cavernas estavam ocupadas por um posto avançado do exército de
Bar Kokhba, líder da segunda revolta judaica contra Roma (132-135 d.C.). Duas das
cartas estavam assinadas por Bar Kokhba, “o príncipe de Israel”, e as outras eram
dirigidas a ele. Em 1959, o dr. Yigael Yadin organizou uma expedição arqueológica que
viajou em helicópteros sobre o território israelita mais ao sul, ao longo da costa
ocidental do mar Morto. Eles localizaram e exploraram outras cavernas usadas por
contingentes do exército de Bar Kokhba. Encontraram moedas e documentos escritos,
entre eles um fragmento do rolo de Êxodo (13:1-16) e outro que continha partes do
salmo 15. Achados em Khirbet MirdEm 1950, alguns membros da tribo de beduínos
Táamireh acharam material manuscrito de grande interesse em Khirbet Mird, mosteiro
cristão em ruínas sobre o cume cônico localizado 4 km a noroeste do mar de Sabá. Uma
expedição belga realizou buscas posteriores em fevereiro e março de 1953. Na
totalidade, os achados incluem fragmentos de papiro de cartas confidenciais em árabe,
um fragmento da Andrômaca de Eurípides e vários textos bíblicos em grego e siríaco.
Os textos gregos incluem fragmentos de Marcos, João e Atos dos Apóstolos. Entre os
escritos em siríaco estão fragmentos de Josué, Lucas, João, Atos dos Apóstolos e
Colossenses. Todos datam dos séculos VII e VIII da era cristã.
Ver tb: Js 12:3, Js 15:2, Js 15:5, Js 18:19
fonte: BIBLIA THOMPSON